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domingo, 6 de setembro de 2015

As aparências enganam...

Qual é o tamanho do seu preconceito? Você consegue afirmar categoricamente que não padece desse "desvio" moral? Analisando-se agora é bem provável que esteja dizendo: "não, não padeço dessa inumanidade, tenho até vários amigos entre os que discutem as questões de gênero! Ora, quem em sã consciência vai assumir que é preconceituoso, ainda que o discurso esteja encharcado dele? Ficamos na superfície, no aparente e nos apressamos em soltar um: "não, eu não sou preconceituoso, basta observar as minhas atitudes, a forma como eu trato as mulheres, mesmo aquelas desprovidas de beleza!" Lembrei-me agora de um dos muitos dias vividos no período da graduação, na "velha" e querida UFBA; estando numa roda de amigos, uma querida muito simpática, ao ver minha tatoo estampada no braço, vociferou: "eu não faria de modo algum uma tatuagem! Não deixaria meu corpo marcado com algo tão..." não conseguiu concluir o que seria o "algo tão"! 
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Sinceramente, não percebi nenhum desdém em sua voz, quiçá um certo despeito pela minha "ousadia", eu era calouro! Perguntei-lhe se era preconceituosa, sem pestanejar respondeu: "claro que não!" Minha compreensão, naquele momento, era que esse "marcar" nada mais era que sujar sua pele. "Sem contar o risco que você corre." De forma sarcástica lhe perguntei: "esse 'você' sou eu ou você?" "Estou me referindo a você, não que seja preconceituosa, como já disse antes, porém se imagine numa rua deserta vindo alguém, em sua direção, além de ser negra, com uma tatuagem, você não ficaria com receio de passar por perto? Acho que atitudes como a sua só reforçam o estereótipo, entende?"

Pelo que entendi, ser preto e tatuado era algo inconcebível, agindo assim não ajudava em nada a "causa" dos negros, deveria extirpar a tatoo e, quem sabe, tornar-me um pouco menos preto, assim não correria nenhum risco de ser confundido numa rua deserta!? Fiquei me perguntando quantos de nós pensam de forma exatamente igual a essa figura, mas que negam em alto e bom som que não têm qualquer tipo de preconceito? Inclua aí aqueles que dizem que não faz qualquer tipo de discriminação, tanto assim que têm amigos gays, gordos, baixos, feios, pretos!?
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Essas questões me vieram de forma inocente, na verdade, caminhava meio disperso pela rua, indo fazer mais uma sessão de minha "maori" quando, de repente, uma "amiga" me saudou de forma calorosa: "como vai, corredor?" Aliás, às vezes, passo pelas pessoas frente a frente e não as vejo, razão pela qual, muitas me adjetivam de marrento, tirado ou outros qualificativos menos nobres, não finjo que não as vejo, mas ninguém acredita. Bem, é preciso dizer que há ocasiões que finjo mesmo! Voltando a amiga corredora, a inesperada saudação me assustou um pouco, mesmo porque depois de mais de um mês sem correr já não sabia se aquele substantivo/adjetivo me pertencia! Ela me perguntou por que nunca mais tinha me visto correndo. Expliquei a razão que me afastara das ruas por mais de um mês. Mostrou certo pesar sincero pelo meu sofrimento; estar sem correr é insuportável, ainda que esteja suportando a duras penas a privação dessa droga. Jurara que tudo ia dar certo e que muito em breve estaria de novo correndo, oxalá, disse eu, como diriam os gregos!

Quando foi embora, fiquei pensando como as aparências nos enganam; no meio da conversa, na tentativa de levantar minha autoestima, ela dissera que era visível que deixara de fazer minha corrida diária, notava-se que estava "um pouquinho mais gordo!" Que coisa interessante, não? Ainda que seja lugar comum as pessoas acharem que engordamos ou emagrecemos quando ficam algum tempo sem nos ver, porém fazer associação direta com a falta de atividade física é que me chamou mais atenção, isso é típico daqueles que se autodenominam "educadores físicos." Pela fama que a corrida tem no emagrecimento, é óbvio que sua ausência acarreta um aumento na massa corpórea, não é mesmo? Contudo neste período de sedentarismo forçado e aborrecido, por estranha ironia, perdi 3 quilos! É isso mesmo, estou mais magro, mesmo sem estar fazendo qualquer atividade física sistematizada, vejam como algo tão simples traz à tona nossos mais arraigados estereótipos, é assim com os nossos preconceitos, as aparências enganam e muito...  

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Esperando o futuro...


"Depois da chuva" viver da forma mais intensa cada segundo, valorizar cada momento da minha existência! Há uma questão que de forma recorrente "flutua" na minha cabeça: por que estamos sempre nos preparando para um tempo que só existe nas nossas cabeças, o futuro? Estamos sempre voltados para o amanhã!
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Hoje já encurtamos o tempo e a distância, queremos chegar naquele lugar que não sabemos bem onde; apressados, vivemos o cotidiano com ferramentas à mão que vibram, tocam; vivemos uma vida monitorada! O celular é o companheiro no bolso, na pasta, na blusa, em todos os lugares possíveis, até na "hora" de fazer amor esse senhor clama por atenção! Recentemente em um programa de TV, vi a força que esse aparelhinho tem quando tocou no ar e o entrevistado atendeu...em outro momento, ambos, entrevistado e entrevistador não conseguiam lembrar o nome de um grupo de teatro argentino, de novo ele foi usado no ar para "lembrar"!
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Elaborei a "teoria" do pernilongo, nesta usei a "perspectiva" do inseto para dizer que nada faz além de cumprir a sentença que a natureza lhe impôs, qual seja, sugar o sangue nada mais do que isso, enquanto nós, seres pensantes, nos armamos de penduricalhos e estabelecemos sentido para a vida, que é viver, tal e qual o inseto, sem grande pretensões, contudo cada um de nós, envolvido em seu sonho, vai vivendo para o futuro, vai se preparando para algo que está lá na curva daquela colina...a criança vai aprender a ler, depois vem o vestibular, vai cursar a faculdade, se isso for possível, por fim, diploma-se, quiçá arranjar um bom emprego, ganhar dinheiro, ganhar dinheiro, ganhar dinheiro...acumular! Para que no futuro tenha uma velhice digna, longe, bem longe, das filas do SUS!
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E o hoje como é que fica? Estamos sempre nos preparando para o tempo que está lá na frente. Quando vamos pensar no agora? Saborear as imagens do cotidiano; estamos engolindo o café da manhã, quando paramos para isso; não temos hora para o almoço, engolimos qualquer coisa; o jantar também não é diferente dessa roda viva, não sentimos o gosto das coisas; fazemos amor: acelerado! Neste momento, a "teoria" se materializa, o que temos? O inseto, mesmo escravo do instinto, segue sua sina bebendo gota a gota do nosso sangue, sem a preocupação de guardá-lo para ocasião vindoura, "o futuro", diz o inseto, "já chegou!" Mas nós respondemos: "Não!" No futuro vou estar fazendo aquilo que quero...vivemos nos preparando para um futuro, sempre futuro que desembocará na casa da felicidade suprema! Perdemos o controle, o piloto sumiu e lá na frente, bem lá na frente, o futuro nos acena sorrindo!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Era dia de Índio...

Mas eles estão tão diferentes que podem ser confundidos com suas caricaturas...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Tudo será cinza...

No futuro, tudo será em preto e branco e todos os automóveis serão cinza/prata...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Vida de cachorro...

Florianópolis não deixa de ser uma cidade "modelo" para aqueles que estão fora dos seus muros! Trata-se de um grande cartão postal, o melhor IDH do Brasil! São paisagens deslumbrantes, paradisíacas que deixam qualquer um boquiaberto diante de tanta beleza, principalmente quando o velho sol se derrama sobre elas. Nada mais óbvio, resmungariam aqueles que a conhecem de fora ou como turista! Quem está longe só percebe o que o cartão postal pode mostrar e o turista não pode ver o que os que vivem por cá vêem, sob o risco de não mais voltar; por esse e outros motivos, as mazelas são escondidas para que o visitante não perceba a irrealidade que o cerca! Pergunte aos manezinhos que moram nos morros que circundam a cidade para saber o que acham dessa visão idílica que os outros têm da cidade que eles moram! O fato é que quem vem morar aqui, como é o meu caso, em pouco tempo, descobre que existe o REAL e a imagem que é vendida para consumo externo, não nos esqueçamos que a propaganda ainda é a alma do negócio!
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Como é uma cidade para "inglês admirar", à primeira vista, não há mendigos em suas cercanias! Mas se por um infeliz acaso, aparece algum, mas que rapidamente desaparece como num "passe de mágica", todavia como mágica é ilusionismo, sabe lá Deus o que fazem com os indigentes que insistem em se tornar visíveis! Dias desses, eu e uma amiga caminhávamos numa das ruas do centro, quando vimos um sujeito cercado por caixas de papelão e mais alguns trecos! Ficamos surpreendidos por ele se encontrar justamente onde os que zelam pela imagem da cidade não desejam, um morador de rua em plena área nobre, pois se eles não "existem" em espaços menos visitados, imagina justamente onde o cartão postal é mais visto! Acho que é necessário fazer um esclarecimento. Como estamos vivendo em tempos de pasteurização da vida, o eufemismo foi incorporado ao discurso cotidiano, o que antes era indigente e/ou mendigo, palavras nada sonoras, hoje é morador de rua. Fala a verdade, como pode alguém morar na rua? Entendo que isso não passa de uma suavização da miséria. Você pode me perguntar: "é possível suavizá-la?" Neste contexto, acrescente as temperaturas que ocorrem neste período do ano. Momentos em que a previsão era de 10º, mas a sensação térmica beirava os 3º! É insano afirmar que alguém mora na rua sob tais condições meteorológicas, na verdade, pessoas morrem na rua! Mas o fato é que, por uma falha no sistema, lá estava, maculando a paisagem, um indigente sob os céus de Florianópolis!
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Em uma de suas canções, Zeca Baleiro diz que "há mais solidão num aeroporto do que num quarto de hotel barato." Os humanos mesmo tão próximos, estão cada dia mais afastados uns dos outros! Nesta solidão nossa de cada dia, entra em cena o melhor amigo dos humanos, o cachorro, que em conseqüência disso, passou a ter uma vida melhor do que a daquele morador de rua, citado no parágrafo anterior. Como somos seres solitários, os idosos mais ainda, o cão é o companheiro de todas as horas, ter um cão é ter companhia e ponto! É certo que com a mudança de status do cachorro, há toda uma indústria à sua disposição o que deve causar uma inveja danada ao mendigo herói dessa narrativa. Existe uma gama de profissionais que se dedicam 24 horas por dia para o bem-estar do cão, sob todos os pontos de vista. Há que se ter cuidado com seus problemas afetivo-emocionais, depressão, seu cansaço, isso e mais aquilo! Ele precisa passear, estar vestido adequadamente, vejam aonde chegamos, até roupa específica para cachorro existe, como também, hotel para cachorro! É isso mesmo que você está pensando: desumanizamos os humanos, secundarizamos sua importância e humanizamos os cães, tudo o que alguns humanos não têm, incluindo aí aquele indigente catarinense, os cachorros têm em excesso! Antes que associação protetora dos animais resolva me processar, quero dizer que não sou contra esse tratamento VIP dado aos animaizinhos de estimação. Vai dizer que vocês não acham que eles ficam bonitinhos dentro daquelas roupas ridículas? O que me causa estranhamento é que não dispensamos tratamento igual aos nossos iguais, tal e qual nosso herói indigente, morador entre caixas de papelão, sob baixas temperaturas! Pessoas como o sujeito visto entre caixas de papelão, numa esquina da cidade, estragam a magia do lugar! Uma coisa é certa, nosso herói mendigo não vai ter dinheiro, embora tenha vestido a camisa dos Teixeiras e Nuzmans, para ver a copa do mundo em 2014 e nem a Olimpíada em 2016, afinal, ele não tem pedigree, na hierarquia dos cachorros, não passa de um cão vira-latas pobre e miserável, cheio de pulgas, mas que ainda assim torceu desesperadamente para que o Rio de Janeiro fosse a cidade escolhida para sediar os jogos olímpicos, cantando a plenos pulmões: "cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Amigos...

Essa semana, quase sem querer, relembrei das canções de Roberto Carlos. É que o amigo Lauro Xavier Neto* sensibilizado com o deslizar das baleias, sob seus olhos, no mar de abrolhos, "parafraseou": "não é possível que você suporte barra." E olha que não somos contemporâneos, o fato é que o artista conseguiu atravessar gerações. Cresci embalado por essas "emoções", mas não posso negar que, passado tanto tempo, considero Roberto Carlos o Pedro Demo da música. Assim como o sociólogo escreve sobre tudo, nada lhe escapando, Roberto também não fica atrás. O caminhoneiro, a mulher de 40, as gordinhas, as baleias, os amigos, entre outros, foram por ele "homenageados!" Com a temática do amigo, há duas, uma que ele 'fez' para o parceiro de todas as horas, Erasmo Carlos, e uma outra que, na realidade, é a que me leva a refletir sobre esses tempos em que tudo é volátil, tudo é descartável, aquela em que ele queria ter "um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar." Acho que essa música é a "materialização" do ORKUT e dessas amizades tão impessoais que estamos vivendo.* http://lauroxavierneto.blogspot.com
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Hoje a sinalização da empatia de cada um é medida pela quantidade de amigos que vamos arrebanhando para os nossos profiles. Há alguns que têm tantos amigos que precisam mais que um 'orkut', estão tão cheio de 'amigos' que precisam outro, outro e mais outro para preencher os "vazios"! Por que tudo isso, você pode estar se perguntando. É que está se aproximando o meu aniversário (coisa que meus 'amigos' já sabem, afinal, o orkut já avisou!) e todas as vezes que isso acontece, a canção do 'milhão' me vem à memória. Não, meu caro, não tenho um milhão de amigos! Lá no meu "orkut" existem umas 66 a 68 pessoas, posso afirmar que muitas não são amigas, no sentido literal da palavra, se é que você me entende? Há algumas que nunca vi na vida, que sequer conheço ou troquei algum cumprimento pessoal! Contudo é bem provável que alguns daqueles que lá se encontram, no dia do meu aniversário, coloquem "scraps" me felicitando por mais uma "primavera", por mais um ano vivido! José Saramago refletindo sobre o twitter, o microblog da moda, disse algo que deveria inquietar, mas deve passar em brancas nuvens. Incomodado com o número de caracteres permitidos, 140, bradou mais ou menos assim: "estamos caminhando para o monossílabo nas conversas!" Os que compactuam com esses tempos de "silêncios", de poucas palavras, discordaram, afirmando que 140 caracteres é uma quantidade razoável para que as pessoas se comuniquem!
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Pensando no que acontece no orkut, se Saramago ficou constrangido com os 140 caracteres do twitter, o que diria ao 'ler' as felicitações de aniversário que grassam nos profiles orkutianos? Geralmente não ultrapassam três a quatro palavras, que vão se repetindo ad nauseam! Fico pensando se não houvesse aquele mecanismo que lembra o aniversário do "amigo" o que ACONTECERIA! O que pensariam os nossos amigos se esquecêssemos deles?! Há aqueles que têm tantos amigos, quase um milhão, que para não esquecer nenhum daqueles que lhe desejaram feliz aniversário, colocam uma mensagem de agradecimento coletiva, do tipo: "valeu galera, vocês moram no meu coração!" Dessa forma, além de nem precisar agradecer individualmente pelo "abraço", economizam tempo e não precisam digitar mais que algumas palavras! O que diria Saramago?! Você pode, então, me perguntar: "sim, e daí? O que fazer já que não podemos abraçar a todos os nossos amigos, sem contar que eles não reclamam dessa relação fria que construimos?" Bem, a resposta não é para você, é para mim, viu? Como meu aniversário está se aproximando, estou te isentando de colocar esses "scraps" aligeirados em meu profile, mesmo porque, não vou nem te agradecer, mas cá comigo, vou tentar, apesar da distância que nos impuseram, lembrar da sua voz e daqueles momentos que juntos rimos, brincamos, brigamos, choramos?, bebemos, torcemos contra e a favor, em suma, que estávamos juntos, sem a intermediação de teclados, mouses e periféricos, saiba, meu amigo, que vou me sentir plenamente abraçado pelas nossas memórias, sem a necessidade de um caractere sequer do ORKUT...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Caminhando com Maiakovski ...

Somos "vítimas" das armadilhas que nos impõe o cotidiano. Em certa medida, aceitamos as coisas como superiores às nossas forças! Neste caso, diríamos que a criatura se apoderou do criador. Isso não significa que apenas o senso comum manifesta essa sensação de impotência. Vejo os mais diversificados segmentos, em algum momento, sentenciando: "é assim mesmo, não tem jeito, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance!" É como se tudo se naturalizasse, e o mais cruel é que a resposta não se altera: "não podemos fazer nada ou já fizemos tudo o que foi possível!" Se alinhavarmos uma série de situações e, calmamente, pensarmos sobre elas, veremos que estamos deixando que as ações mais comuns se "naturalizem". É como se a expressão "o errado é que está certo" se insurgisse e nos tornássemos seus reféns!
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Querem ver como o que estou dizendo vai se tornando comum? Vamos usar um exemplo corriqueiro! Temos a notícia que o preço da merenda escolar foi super faturado em determinados municípios, uma verdadeira falcatrua! "Eles são denunciados e no final ninguém vai preso, caso alguns deles sejam detidos, logo serão liberados, nem vale à pena brigar para que a justiça seja feita." É dessa forma que estamos reagindo. Essa é a nossa resposta à situação! Com a naturalização de tudo, ficamos impotentes, nada podemos fazer com o que nos aflige. A solução encontrada por alguns é se trancar em casa cheia de grades, instalar cerca elétrica, câmeras em todos os pontos, alarmes para se proteger! Como não podemos fazer nada, buscamos medidas paliativas! Rezamos para que as coisas ruins aconteçam com o outro, dizendo: "ufa, ainda bem que meu filho não estava lá e a bala perdida encontrou outra pessoa!" Morre um punhado de gente, todos os dias, nos morros cariocas e nos mais diversos cantos do Brasil, na sua maioria pobres miseráveis, contudo se for alguém com alguma grana, bem, aí temos a mídia para transformar a tragédia em espetáculo, temos uma comoção nacional, sabemos então que devemos ficar indignados!
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Penso que a poesia de Eduardo Alves da Costa, “No caminho, com Maiakovski", é a materialização dessa naturalização. Ele consegue captar esse movimento, essa apatia nossa de cada dia. Você poderia me perguntar: o que foi mesmo que ele disse? Eis a "voz" do poeta: "Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói, assim me aproximo de ti, Maiakovski. Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético. Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história. Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror. Os humildes baixam a cerviz; e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras. Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne aparecer no balcão. Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio. Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo. Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós. Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo, por temor aceito a condição de falso democrata e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores. Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA."
As condições objetivas estão escancaradas, quando será que as subjetivas estarão?...

domingo, 14 de setembro de 2008

Mercadoria...

Passeava pelo centro da cidade, sinceramente, não era bem um passeio, fora comprar um teclado para o laptop de um amigo. O certo é que não ficamos apenas no que tínhamos planejado, outros apetrechos se incorporaram à lista de necessidades básicas, roupas para o frio, por exemplo! Era a primeira vez que transitava naquele espaço, depois do recesso das aulas. Era o início de mais uma "etapa" na difícil caminhada ao pináculo da Montanha Gelada, meu corpo já dava sinais de cansaço, mas aparentemente estava feliz no meio daquele burburinho. Observava as lojas, as vitrines, em suma, o movimento daquela cidade cosmopolita! Naquele dia, havia mais um elemento que tornava aquele quadro mais bonito: o sol, havia luz!
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Em todas as cidades, parece-me, existem aquelas pessoas que vendem sua força de trabalho distribuindo folhetos de propaganda, conhecidos como santinhos! Na Montanha Gelada não é diferente! O curioso é que não há limite: são oferecidas as mais "estranhas" mercadorias, naqueles pequenos pedaços de papel! Vende-se de tudo, até corpo! Este deve ser, depois da tv, o "meio" mais manuseado, a mídia de maior audiência! Tenho por hábito não recusar nenhum deles. Na maioria das vezes, leio, em outras, guardo nos bolsos, mas nunca recuso. Houve uma vez que me arrancaram um das mãos, jogando-o fora como se isso fosse a coisa mais natural do mundo! Nem sempre os limites são respeitados, nem sempre são perceptíveis para quem os transgridem, não é assim?
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Já presenciara em outra cidade a oferta de prazer por essa "midia". Todos sabem que para sobreviver nesta Formação Social, as pessoas fazem as coisas mais estranhas, exemplo? Que tal alguém sair pela cidade com um alto falante na cabeça, tendo os decibéis acima do suportável para vender coisas? São as alternativas encontradas para se ganhar algum trocado. O que me deixou surpreendido foi a oferta ser feita numa das praças mais famosa da Montanha Gelada. Um trabalhador de rua, leia-se entregador de santinhos, deu-me, sem nenhuma cerimônia ou pudor, um santinho com os seguintes dizeres: "Sabrina, corpo de modelo, pura tentação, sex, carinhosa e safadinha! adora brincar - para você que procura prazer de verdade". Além dessa sucessão de adjetivos, havia também os números do celular e do fixo! É bem provável que você ache isso é normal, afinal, tudo nesta formação social pode se transformar em mercadoria, portanto, pode ser posto à venda, é só ter dinheiro para comprar! Nada fora do comum! Há diretor de hospital vendendo lugar na fila de espera de transplantes, por que se ruborizar com a venda de parte do corpo para o prazer? Essa não é a mais velha das profissões? Além disso, as pessoas precisam sobreviver e para isso não importa qual seja o trabalho! Será mesmo? E se Sabrina Safadinha fosse sua mãe? Irmã? Filha? Será que digo isso apenas para causar impacto? Não é isso! Estamos deixando de nos indignar com as coisas mais atrozes, elas estão se tornando normais! O que tem de errado alguém vender o corpo no meio da praça? Por que não podemos nos vilipendiar para sobreviver nesta formação social? O Poeta Russo, 'há tempos', dizia, "até chegar o dia em que tentamos ter demais, vendendo fácil o que não tinha preço ", pois é, não somos pessoas, mercadoria é o que somos...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Inserção digital e cortadores de cana...

Eis que com certo incômodo, descobri duas coisas que ainda não tinha prestado a devida atenção, embora não desconhecesse que existissem! A primeira é que a Internet no Brasil já chegou a casa dos surpreendentes 45 milhões de usuários! Não podemos perder de vista que dados numéricos carecem de reflexão mais aprofundada, o número não basta por si mesmo, embora alguns façam dele um deus! Contudo, não podemos perder de vista que 45 milhões de pessoas é gente que não acaba mais! Pelo tamanho da população, cerca de 183.987.291, aferida no último censo, 45 milhões não representa nem um terço da população, entretanto esse número é bastante significativo, porque representa não só a população da Argentina, como também a da Espanha! Representa um comércio de muitos milhões de reais e o que deve ter de gente de olho neste mercado, porque é muito computador "navegando por mares nunca dantes navegados"!
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A segunda coisa que me causou incômodo, é saber que cada vez mais o Brasil é um país de grandes contrastes. Se por um lado existe um projeto para a implantação da banda larga nas escolas públicas para promover a inserção digital, temos um grupo de brasileiros que além de não fazer idéia do que seja banda larga, computador, Internet, mercado virtual, ganham valores que pelo desgaste por que passam, são suficientes apenas para "sobreviverem", talvez da forma mais cruel que se possa imaginar! Trata-se daqueles trabalhadores que cortam cana nos canaviais da vida para que sejamos auto-suficientes em combustível! Sim, os cortadores de cana vivem em condições tão desumanas que muitos sequer imaginam o que isso representa. Fala-se tanto na sociedade do conhecimento, que o acesso à tecnologia representa a emancipação dos indivíduos, que a força bruta já não é mais necessária, a falácia de que o trabalhador moderno só precisa apertar botão, aqui, neste caso, não passa de um grande engôdo! O cortador de cana ganha $ 20,00 por dia, por oito horas de trabalho, grande parte delas, sob sol ou chuva, pois que não existe "tempo bom" para esses brasileiros, são escravos livres!
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O último censo acusou que já superamos a casa dos cento e oitenta milhões de habitantes, o país já tem cerca de 45 milhões de pessoas com acesso à Internet, não obstante temos trabalhadores que ganham um sub salário para que veículos automotivos tenham combustíveis e possamos dormir tranquilos, porque há álcool na bomba e estamos inserindo mais e mais pessoas na manipulação das máquinas, mas não estamos atentos para as "máquinas" humanas que gastam sua energia para gerar energia! Estes "brasileiros" que produzem Etanol, sequer conseguem ter acesso ao mínimo necessário à sua sobrevivência, ganham, se trabalharem todos os dias, incluindo os domingos, seiscentos reais! Sim, meus camaradas, já somos auto-suficientes no que se refere ao combustível, mas não conseguimos olhar os cidadãos que no campo "morrem" para que o motor viva! Thomas Morus, o autor de Utopia analisando o que a produção de causou aos camponeses que foram expulsos de suas terras a ferro e fogo, metaforizou: "os carneiros comeram os homens". Se fizermos uma paráfrase perversa, podemos dizer: a cana está comendo os homens para que os motores possam funcionar e 45 milhões possam navegar, porque navegar é preciso...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Q. I. de Baiano...

Nem ia me manifestar sobre a polêmica do q.i. levantada pelo professor de medicina da ufba; tentar justificar certas bobagens, só as valorizam mais ainda. No entanto, parece que sua fala (nem vou citar seu nome para não valorizar ainda mais esse nazista) mexeu com os brios de alguns amigos e solidários; ouvi coisa do tipo: "você soube o que falaram sobre nosso Q.I.? Até o Jô Soares, do alto da sua mediocridade, levou uma baiana, meio folclórica, questionando o fato. Começou o programa citando baianos ilustres para dizer, e nos convencer, que também estava indignado com tamanha iniquidade. Um amigo, que não é baiano, disse-me que tenho escrito muito em torno do conteúdo midiático, ele tem certa razão, embora entenda que os temas abordados não pertencem a ela, mas tamanha é sua força, que até das nossas conversas mais comezinhas tem se apropriado! Tudo isso para fazer um intróito sobre o tal do Q.I., essa discussão gerou tanta raiva entre os baianos que uma amiga, muito querida, afirmou que se tivesse um título de doutor ou mestre processaria o tal sujeito!
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O fato é que vivemos em pleno século XXI, sei que isso é óbvio, mas pensamos como se estivéssemos no século XIX. Como sou professor, a grande maioria dos meus camaradas são professores e eles sabem que essa coisa de q.i. é tão preconceituosa quanto a questão da cor da pele, da mulher, da homossexualidade! Quem trabalha com formação de professores sabe muito bem que não é possível medir inteligência! Não existem instrumentos que mensurem o quanto o indivíduo é inteligente ou não, sem que não se caia no preconceito! E tem mais: sem que se valorize esse ou aquele conhecimento! Digo isso porque é óbvio que quem vai medir, mede a partir do que uma casta de sábios estabeleçe! Um exemplo? Quem sabe mais sobre as questões relativas à lei da relatividade? Se o teste de medição de
q.i. usar esse conhecimento como referência é claro que Einstein terá uma pontuação altíssima! Agora pegue o mesmo sujeito faça questões relativas às artes, nestas é muito provável que ele zere e Picasso tenha uma pontuação fabulosa! A pergunta pode ser: por que pegar cadáveres para fazer a analogia? Por que não sujeitos vivos para que se possa ter uma idéia mais precisa?
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Tudo bem, basta dar uma olhada nas fotos das pessoas que emolduram essa conversa, todas baianas, todas são brilhantes (para fugir desse negócio de quociente de inteligência), que foram ou são muito, mas muito boas naquilo que fazem ou fizeram! As poesias de Castro Alves, as interpretações de Maria Bethania, as composições de Caetano Veloso, os livros de João Ubaldo Ribeiro, as atuações do grande jurista Ruy Barbosa e todos aqueles que não são tão "famosos", mas são geniais! Quem é mais inteligente Gilberto Gil ou Castro Alves? Se comparados teremos "medidas" fora de contexto! Por que tantos ficaram aborrecidos quando o "sábio" afirmou que os estudantes de medicina da ufba tinham um Q.I. baixo? Na verdade, muitos ficaram aborrecidos porque ele fez o que o senso comum costuma fazer ou, usando de uma linguagem científica, os que usam a indução como referência! A partir de um caso se generaliza para o todo! Ele tendo a medicina como referência chamou todos os baianos de imbecis, não com essa palavra, mas pôs em xeque a competência dos baianos! Foi preconceituoso duas vezes! Primeiro com os estudantes de medicina, já que pelos assuntos ou assuntos usados não se tem nenhum instrumento para afirmar o que ele disse. Vamos imaginar que a pergunta, bem terra a terra, fosse: onde se localiza o fêmur? Mesmo que o estudante errasse, como provar que o q.i., ou seja lá o que eles usem, é baixo ou alto? Ou o exemplo infeliz usando o berimbau? A segunda, quando a partir daquele caso da ufba generalizou para todos os baianos e aí tudo o que eu disse lá atrás serve como argumento. Se é difícil medir a inteligência de uns poucos imaginem de um povo inteiro!
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Todas as vezes que se quer enfatizar a questão do preconceito, sobre a idéia de seres superiores uns aos outros,
Hitler e sua megalomania servem como exemplo, afinal, ele queria provar que o alemão era o protótipo do ser humano, é neste momento, que se usa Jesse Owens, aquele corredor negro, como contraponto. A tristeza maior é que estamos cercados de fascistas, eles estão ao nosso redor e, às vezes, nem os notamos, porque não se manifestam abertamente, são uns dissimulados, uns farsantes! Em alguns momentos, caem em contradição e dizem: "e não é que aquele ali, mesmo sendo baiano, pernambucano, paraibano é inteligente?" Quantos estudantes de Educação Física, considerados inteligentes, já não ouviram: "você poderia fazer direito, medicina ou outro curso de "ponta"? Quantos desses estudantes não foram considerados de "q.i." baixo porque disseram que faziam esse curso? Temos muitos "Hitlers dissimulados, entre nós, pensando com a mesma lógica daquele professor da ufba, o que não podemos esquecer é que somos responsáveis pela formação de inúmeras crianças e adolescentes que frequentam as escolas públicas e não podemos, em hipótese alguma, repetir, sub-repticiamente, o que o fascista da ufba fez, ele não representa perigo, o perigo é fazer o mesmo e sair por aí matando, no nascedouro, os sonhos e desejos de conhecimento de um número infinito de crianças baianas, sergipanas, cearenses, cariocas, paranaenses, portuguesas, africanas...por considerá-las com o "Q.I." baixo...

sexta-feira, 14 de março de 2008

Silva de Luís Inácio Lula...

O processo de alienação a que somos submetidos, cotidianamente, nos faz acreditar que nesta formação social é possível qualquer indivíduo chegar aos mais altos postos de direção sem que a classe social em que está inserido seja um empecilho. A velha máxima repetida à exaustão diz que no modo de produção capitalista cada um pode escolher o que vai ser quando "crescer", basta desejar e ter força de vontade! A bem da verdade, o que serve de parâmetro é exatamente o modo de produção anterior (o Feudalismo) para efeito de comparação. Lá não era possível o sonho de chegar onde quer que se desejasse, afinal, cada um já nascia com seu destino definido: o filho do servo, seria invariavelmente servo, jamais chegaria a senhor feudal! Nesta perspectiva, a utopia de mudar de lugar na pirâmide social era impossível! "Quem nasceu para tatu, vai morrer cavando...". Castas e estamentos definiam desde o nascimento qual seria o futuro do indivíduo!
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Por outro lado, na formação social capitalista, com boa vontade e perseverança, "nós podemos tudo, nós podemos mais"! Claro que ainda temos os cínicos que dizem que o trabalho dignifica o homem! Passar todos os dias da vida sentindo o cheiro do chorume (o líquido escuro, turvo e malcheiroso proveniente do armazenamento e tratamento do lixo) dignifica alguém ? "Querer é poder"! Essa é a falácia mais repetida por aqueles que se deram bem na vida, saindo de uma situação de miséria; o nosso personagem repercute muito bem isso. Aqueles que conseguem, de alguma forma, "burlar" o sistema dirão que as chances são iguais para todos, os esforços é que são diferentes! Os exemplos estão ao derredor, não é preciso ir muito longe para perceber as vitórias daqueles que mesmo com toda a adversidade conseguiram o seu lugar ao sol! Basta não ser "radical", certamente dirão os "ingênuos" ou falsos bobos! O que surpreende é que esses exemplos são tão convincentes que conseguem garantir a "pax capitalista". Ora, se um camelô conseguiu, vendendo babilaques nas ruas, construir uma rede de televisão tão próspera, e se tornar o "sorriso" mais chato do país, por que Zé Ninguém não poderia ser o próximo eleito? Isso só é possível no capitalismo, dirão os apologetas desse modo de produção!
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Nos últimos dias, o mais "famoso" representante da família Silva, na atualidade, um sujeito que em algum momento da sua trajetória, como esquecer das greves do ABC, já se disse socialista, definitivamente, negou sua história ao se usar como exemplo de superação e sucesso! Disse o Silva presidente que se uma pessoa que sequer tinha o primário completo, conseguiu chegar a PRESIDENTE, por que aqueles pobres diabos (os diabos ele não disse) também não conseguiriam? Naquele momento, fiquei me perguntando como poderia falar tão convicto de algo tão insano, tão perverso para a maioria dos Silvas? Ele deve saber que, jamais em tempo algum, aqueles indivíduos chegarão à presidência na condição em que se encontram! Sim, neste modo de produção querer não é poder mesmo! Muito pelo contrário, existem milhares de Lulas espalhados por aí e apesar de todo esforço, nunca chegarão aonde o nosso Lula da Silva chegou! Mas por que, então, um cara que andou em "caminhão pau de arara" faz uma afirmação tão leviana, tão desproposital assim? O que o presidente não "sabe" é que tanto lá (no feudalismo) quanto cá (no capitalismo) o jogo jogado é de cartas marcadas! Vivemos numa sociedade de classes, coisa que o presidente finge não saber. Enquanto uma vive do trabalho, a outra explora o trabalhador, alienando-o daquilo que produz! Nesta luta de classes, pessoas que estão na parte de baixo da pirâmide tendem, "naturalmente" a permanecerem lá, já aqueles que nascem em "berço esplêndido", são preparados para o comando social, por exemplo, o Grupo Pão de Açúcar terá no seu controle alguém do Clã dos Diniz numa linha sucessória interminável! Exceção como a do presidente quase analfabeto serve para confirmar a regra desse jogo sujo em que João da Silva será sempre zÉ nINGuÉm...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Cenas Cotidianas...

Cena 1 - Existem pessoas que não fazem outra coisa a não ser reforçar estereótipos. vivem em um mundo idealizado, têm o espelho como ponto de partida e também de chegada. Essas pessoas precisam, e muito, atrair a atenção, são "celebridades". Neste caso, estou me referindo àqueles sujeitos cheios de "músculos". Em frente onde moro, há uma "academia" a céu aberto, onde os "musculosos" se exercitam cotidianamente, tendo seus cachorros a tiracolo, cuja raça não é necessário dizer, não é mesmo? Anabolizantes e pitbull parecem que são irmãos siameses! Neste dia, um gato desatencioso resolveu utilizar a mesma via em que o dono e o cão se encontravam! O "grandão" não "conseguiu" segurar seu animal e este saiu em disparada no encalço do gato; este se bateu nas grades de um portão ali perto, mas por causa do desespero voltou para a rua, no que o pitbull seguiu-o. Por sorte, se é que posso dizer isso, não havia nenhuma criança por perto na hora, o que não é comum. O gato conseguiu fugir, pelo menos é o que parece; o "grandão" pegou seu animal e, como se nada tivesse acontecido, voltou para a "academia", sem pensar que por bem pouco não teria sido o causador de uma tragédia!
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Cena 2 - A condição social, numa sociedade dividida em classes, é determinante para a apropriação dos bens produzidos. Como estamos divididos em uma classe que trabalha e outra que se apropria do excedente produzido, é comum termos pobres e miseráveis, faz parte da lógica do sistema! Neste sentido, muitas pessoas utilizam o espaço em que ocupam na hierarquia social para colocar os que não fazem parte do seu círculo de poder, em seu devido lugar. Quando ainda era estudante da graduação, fazia questão de dizer onde morava, ou seja, que era oriundo da periferia de Salvador. Havia um colega que dizia que morava no Stiep, embora a sua casa estivesse na Brejal, localizada num bairro periférico da cidade! Estou dizendo tudo isso porque muitos dos que hoje têm uma condição "melhorzinha", a um certo tempo, eram pobres e que, por um "golpe do destino", foram alçados à condição de classe "média" (baixíssima, vivem presos às contas do cartão de crédito e do cheque especial), em um país onde o salário mínimo não chega a R$ 400,00, quem ganha cinco vezes isso, já começa a ficar se "sentindo". O discurso do opressor é de tal ordem que aquele "pobre miserável" de antes, não quer acabar com a pobreza, o que ele deseja é sair dela! Contudo ao sair, começa a fazer com os pobre e miseráveis o que o opressor fazia com ele! Usa os mesmos termos usado pelo opressor, do tipo: "aquele sujeito é gentinha". Utiliza o lugar que o sujeito mora para diminui-lo: "ele mora na favela, num barraco horroso". Como se morar na favela e no barraco desqualificasse a pessoa, como o "grandão" da cena -1, atira seu "pitbull" em cima dos gatos vira-latas!
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Cena 3 - Não existe sentimento mais "comovente" que o sentimento das pessoas em relação à doença e à morte! Dizia Nelson Rodrigues que só nestes momentos o brasileiro é solidário! A morte dilacera, pois o sentimento de perda é insuportável. Saber que não mais veremos aquela pessoa desequilibra. Na última quinta-feira (17/01/08), morreu um professor da UESB e a universidade decretou 3 dias de luto, com a paralisação de todas as atividades no primeiro dia. Uma justa, embora pequena, homenagem. Tudo voltaria à sua santa tranquilidade, na manhã seguinte! Um grupo de professores havia organizado uma "festinha" para comemorar a aprovação em estudos de pós-graduação. Porém o professor foi morrer logo neste dia! O que fazer? Não. Essa questão não tem nenhuma vinculação com aquela de Lênin! A questão que "incomodava" aqueles professores era: como realizar a tal festa, sem "desrespeitar" o luto? Um dos professores encontrou a solução "salomônica"! Dissera ele: "vamos manter a celebração pois o professsor era apenas colega de trabalho". Os professores, como o "grandão" da cena 1, saltaram seus "cachorros", seguindo à risca os preceitos do modo de produção capitalista que nos ensina que a festa não pode parar!
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Cena 4 - No dia seguinte à morte do professor, havia um evento organizado pelos estudantes, cuja proposta era assistir e discutir aquele documentário que mostra o golpe de Estado perpetrado pelos meios de comunicação da Venezuela em 2002 contra Hugo Chávez, com a cumplicidade da mídia global, não esqueçam que estamos vivendo em rede! Afora uma professora substituta, não havia mais nenhum professor no evento! Há professores que nunca leram uma linha sequer de "O capital" de Karl Marx, mas que se arvoram em falar sobre a perspectiva do Alemão! Afirmam cheios de razão, aquele lugar comum repetido à exaustão, por todos aqueles que nunca leram a obra: "Não seria equívoco dizer que a perspectiva econômica é a mais importante?" Obviamente são leitores do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos! Não entendem nada de economia, mas repetem, como "papagaios de pirata", o aforismo da economia que julgam que está no livro de Marx, que, ironicamente, nunca leram! O estranho nesta história é a ausência daqueles que supostamente vão formar os estudantes! Mas estes estavam lá, preocupados com a situação da América Latina e com a humanidade! Naquela sexta-feira, aqueles estudantes recitaram o verbo "solidariedade", mas não essa solidariedade burguesa que decreta dias de luto e alguns vão para a festa. Tal e qual o "grandão" da cena 1, estão mais preocupados com seus cachorros! A solidariedade que os estudantes estavam propondo, naquela noite, vai para além da festa, afinal "a gente não quer só comida"...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Em tempos de George Orwell...

Estava no banco, sofrendo em uma fila que durou quase três horas, quando a TV (não sei por que os diversos espaços sociais: consultórios médicos e/ou odontológicos, bancos etc., quando têm um televisor na sala de espera, está sempre ligado na emissora dos "Marinhos"), anunciou que iria começar mais um "Big Brother". Fiquei pensando, cá com os meus botões, no que o autor do livro "1984", cujo programa se apropriou da idéia, sentiria, caso fosse possível aos mortos sentir, em relação àquela "atração"! Ele um anarquista convicto, vendo sua obra servir de modelo, desprovida de qualquer percepção crítica da sociedade. Ele que fora um crítico feroz de Stálin, hoje, é uma "referência", sua criação é objeto de desejo de pessoas ensandecidas que sonham em ganhar, mais ou menos, 500 mil dólares, fazendo todas as bizarrices sugeridas e imagináveis. Verdadeiros fantoches, pessoas bestializadas, mas que esperam e sabem que um, entre todos os imbecis participantes do programa, sairá com a "bolada", o resto não importa. Enquanto Orwell queria denunciar uma sociedade opressora, que impedia toda e qualquer "voz individual", o tal programa é a quintessência do individualismo e da vaidade; não é uma grande ironia? Seus ossos, se é que ainda existem, devem pulular no seu esquife, quando a cada janeiro a emissora, que imbeciliza 10 entre 10 pessoas, anuncia, junto com aquele sorriso idiota do Bial, sua atração, seu "Big Brother"! Além de tudo isso, sabemos que as gostosas do programa estarão mostrando, muito em breve, suas partes pudendas nas revistas masculinas, provocando um onanismo desenfreado!
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Em um dos semestres letivo, não me recordo qual deles, havia uma estudante que fez a inscrição, conseguindo superar algumas das etapas que antecedem à divulgação dos nomes dos participantes. Ele era um "quase brother"! Sua empolgação era extraordinária, eu ficava impressionado com a felicidade que demonstrava quando falava na possibilidade de fazer parte do "coro" dos tolos! Era a mais perfeita materialização do que dissera Andy Warhol em relação aos minutos de fama de cada um de nós! E olhe que ele já não era mais nenhum adolescente, mas sua reação era tão juvenil que me deixava constrangido! Não satisfeito, convidou-me para ver sua fita/exibição! Como era bombeiro, a fita mostrava suas habilidades na escada magirus, correndo para prestar socorro etc. Essas habilidades seriam seu passaporte para participar do programa! Tinha certeza que estaria entre os brothers, coisa que, infelizmente para ele, não aconteceu!
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As pessoas devem ficar se preparando o ano inteiro, como fazem com o carnaval, para tentar fazer parte dos escolhidos. Acreditam que são únicas e originais, espelhadas nas edições anteriores! Há um programa no canal multishow chamado "nem big nem brother", não sei se passa no canal aberto dos Marinhos, que mostra aqueles "infelizes", que como próprio nome já diz, não são nem uma coisa nem outra, estão na linha do nada, são os objetos descartados pelos selecionadores! Os "párias" são avacalhados da forma mais degradante possível! São ridicularizados em todos os aspectos. Desde a roupa escolhida, assim como nas suas tentativas de convencimento que são os melhores e que por isso, devem compor o grupo dos que concorrerão à grana! É degradante, não sei porque essas pessoas não processam a emissora por achincalhar suas dignidades! É provável que faça parte do contrato não berrar! Quem sabe na próxima edição aquele que foi preterido não será o contemplado, então, por que reclamar? Eu pensei que o programa não passasse da sua primeira edição por sua obviedade. É mais presumível que as novelas, o enredo foi o mesmo todas as vezes que esteve no ar, sempre! Nem o movimento negro pode reclamar, em todas as edições as cotas dos pretos esteve presente! Se é tão previsível assim, por que, então, o programa já chega ao seu oitavo ano? Por conta desse nosso gosto pelo bizarro, lembro de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que nos anos de 1960 cunhou a expressão: FEBEAPÁ - Festival de Besteira Que Assola o País e me pergunto: por que transcorrido tanto tempo, são os programs estúpidos e imbecis, como o big brother, que alimentam as opções "culturais" de um veículo de comunicação que é uma concessão pública? Como não somos Édipo, se não decifrarmos esse enigma seremos devorados? Em tempos de IOF tudo é possível...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Ciência x Religião...

Shakespeare tinha razão: "existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". Em não sendo assim, como explicar certas coisas que nos acontecem e não conseguimos dizer qual o motivo? Sei que tem sido recorrente falar do acidente vascular cerebral. Isso tem me causado alguns "transtornos"! Tenho uma amiga que basta apenas insinuar que ela corta a conversa, não quer ouvir falar, embora seja enfermeira! Mas como fui eu o "contemplado" com o personagem principal desse drama "shakespeareano", é difícil fugir das lembranças, e elas vêm quase sem querer, poderia até dizer que é um ato falho! A compreensão da questão me diz que por ser materialista, a intensidade com que me reporto ao AVCH tem uma relação direta com algo não resolvido! Vivemos em um mundo dividido em dois "blocos" bem definidos, neste sentido, as explicações ou são científicas ou religiosas! Quando se deseja que as pessoas acreditem naquilo que está sendo dito, basta dizer que é científico e pronto! Por outro lado, quando não se pode ter os instrumento da ciência, a religião entra em cena e explica a partir da sua lógica: "foi Deus quem quis assim". Outras tonalidades ficam obstruídas! São essas as convergências mais comuns nestes anos de século XXI. Quiçá pudéssemos sinalizar para uma "terceira via", colocando os agnósticos no debate, se é que posso fazer essa afirmação, mas da forma como estabelecemos as relações, ficamos meio que neste "beco sem saídas" !
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Tudo isso porque conversava informalmente com um professor e, nem era tema da conversa, inopinadamente, terminamos chegando ao AVCH. Fora assunto de debate em sala, dissera. Na discussão, alguns estudantes argumentaram sobre as possíveis seqüelas e quase sem querer, fui citado, por uma questão muito óbvia: o acidente vascular cerebral hemorrágico não tinha deixado nenhuma seqüela, pelo menos "aparentemente", em mim! O fato é que, por mais que tente, sempre fico meio sem graça quando o assunto é ter passado incólume pelo AVCH, sim, porque as explicações caminham ou para a mais pura racionalidade, e aí a ciência vai explicar as causas e razões de ter sido o "escolhido" e porque consegui sobreviver entre os quinze milhões de casos que a estatística anuncia a cada ano no mundo! Já disse aqui, desses, cinco milhões morrem, outros cinco sofrem danos, às vezes, irreversíveis e o restante escapa ileso! Estar entre os que escaparam, sem seqüela alguma, leva as pessoas a entender como um milagre, aí deixamos de lado os parâmetros científicos e entramos no terreno metafísico!
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Na realidade, houve elementos que permitiram todas as conclusões possíveis! A ciência não conseguiu afirmar com todas as letras a razão da cura, porque algumas coisas não se encaixavam, isso deixou "brechas" para outras interpretações devido à gravidade da situação! Quem me conhece sabe o que penso sobre essas coisas, embora fosse mais convicto antes de ter passado pelo que passei e não serei cínico agora que posso digitar essas linhas, longe do que sofri, e dizer peremptoriamente que fui salvo por isso ou por aquilo, porém tem uma coisa que até hoje não consegui explicar, a ciência explica: ter ficado por seis dias na mais completa escuridão para mim, mas para os outros, não! Soube depois que era um falante, conversava com as pessoas, queria saber o que tinha havido comigo! A realidade nua e crua era que eu estava em "lugar nenhum" e não sabia disso! Nada sentia, nada ouvia. O que explica isso? A ciência diz que como a dor é/era insuportável, há um bloqueio, o cérebro manda um "comando" e "desligamos". Na realidade, o bloqueio é tão grande que não percebemos nem a vida! Essas coisas todas "vividas" alteraram, substancialmente, a minha percepção da morte! Há momentos que me pergunto onde estava a minha consciência naqueles dias e fico tentando entender qual a relação daquilo tudo com a minha existência. Há duas direções para o raciocínio. Neste momento, voltamos à questão do shakespeare, posta lá no início: não é possível encontrar todas as respostas para as perguntas que a vida vai nos formulando, temos que nos contentar com algumas lacunas, embora isso nos provoque uma angústia incomensurável...

sábado, 20 de outubro de 2007

Carta aberta aos camaradas...

Vocês devem lembrar, mas vou repetir, muito mais por uma necessidade da argumentação do que por diletantismo! O ano era 1998 - é, faz quase 10 anos! - quando aportei em Jequié, acreditando que poderia construir um caminho novo, reconheço que ainda cheio de sonhos e querendo ver coisas que não existiam. Havia uma frase que repetia muito em sala de aula e que depois foi muito repetida, com uma certa ironia por todos nós, depois da queda dos sonhos, era: "eu vejo seus olhos brilhando". O que na verdade se queria dizer é que havia uma enorme desejo de aprender e a metáfora traduzia com certa beleza aquilo! Passado o tempo, percebo que vemos, sempre, aquilo que queremos ver! Como essa é uma carta aberta, achei necessário dizer qual era o espírito da época, como me sentia com relação às coisas e fazendo a "mea culpa", que muito do desejo era meu, talvez o ego, a vaidade estivesse à flor da pele! Na verdade, mesmo que estivesse enganado com o brilho dos olhos de vocês, foi possível, naquelas condições, em que o curso não tinha quase nada, que vivíamos muito mais pelo desejo, "juntar" um grupo de pessoas com vontade e que acreditaram no "brilho dos meus olhos". Para se ter uma idéia do sonho, certa feita uma das pessoas, de forma jocosa, perguntou-me: "Mano, qual é o melhor curso de Educação Física do Brasil" e eu, mais que rapidamente, respondi: "o nosso, eu estou aqui"! Como o momento era de "cimento, areia e água", havia uma outra frase que passou a ser uma espécie de aforismo daqueles que estavam próximos: "bem-vindo ao mundo dos que podem transformá-lo"!
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Éramos felizes e não sabíamos! Não tínhamos "responsabilidade" com ninguém, estávamos experimentando, o que na linguagem popular quer dizer: "o que vier é lucro"! Fizemos coisas no interior da Bahia, e naquelas condições, muito interessantes e, o que é mais importante, sem fazer pactos, sem abrir mão daquilo que acreditávamos! Lembro com saudade, sim, tenho saudade daquela ingenuidade boa, quando as nossas conversas varavam a madrugada, fazíamos planos e mais planos. Fizemos um projeto de extensão que a primeira "versão" mostrei com giz na mesa da cantina! Naquela oportunidade, podíamos tudo. A Legião "escreve" certo por linhas tortas e neste momento de recordação me vem à memória, sem nenhuma intenção de rima, "Andrea Doria" e é nela que o Poeta Russo traduz, de forma impecável, aqueles tempos vividos por nós outros como se fizesse parte também do sonho, diz ele: às vezes parecia que, de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo, teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais: faríamos floresta do deserto e diamantes de pedaços de vidro. Mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente, quase parecendo te ferir...às vezes parecia que era só improvisar e o mundo então seria um livro aberto, até chegar o dia em que tentamos ter demais, vendendo fácil o que não tinha preço..."
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Bem, quase dez anos depois, olho para trás, meus camaradas, e vejo que o aprendizado talvez só não aconteça com as pedras, mas disso não tenho certeza, o que é uma grande ironia para um materialista convicto, nestes tempos de UESB, fui feliz e infeliz numa velocidade vertiginosa, acreditei em coisas que só as crianças acreditam, não por serem ingênuas, mas por ainda não pensarem na lógica dos adultos, que estão contaminados pela lógica da formação social em que estão imersos, estes já temem perguntar por que?, por que?, por que?, pergunta tão comum entre as crianças! Machuquei, mas também fui machucado, embora isso não queira dizer que o "jogo" está zero a zero ou um a um, as feridas podem ser "eternas", as cicatrizes podem não apagar tudo aquilo que a ferida causou, todas as dores! Disse uma vez a um desses camaradas que "passaram" pela minha história que quando voltasse a confiar nele, poderíamos retomar o caminho sem hipocrisias ou ressentimentos! Já estou cheio desses acordos pequeno-burgueses que são estabelecidos onde a lógica é fingir que está tudo bem para que os outros não digam que nós não conseguimos pactuar com ninguém, ou seja, que brigamos com todo mundo, mas não é pior não brigar e ficar igual a esses casais que não se suportam, todo mundo sabe, mas eles para manter as aparências continuam juntos e muito infelizes? Conheço um bando deles, essas relações acontecem bem perto de nós, ficamos juntos só para manter as aparências, para que as pessoas não digam, embora elas digam, que o nosso casamento fracassou!
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Hoje, militando em um grupo de estudos criado por antigos estudantes, alguns nem tão antigos assim, que resolveram pensar o seu fazer cotidiano, buscar alternativas, construir um coletivo, espere aí, o grupo ainda não disse de forma clara qual é a estratégia, ainda não disse o que pretende efetivamente, mas tem uma coisa que o grupo já definiu e isso parece que todos concordam, é que é o GRUPO quem vai decidir, quem vai produzir seus próprios caminhos! Onde vamos chegar, não faço a menor idéia, mas uma coisa tenho certeza, não vejo mais seus olhos brilhando. Há uma espécie de "dor" contida em cada olhar, que não é possível traduzir por palavras, estamos mais "duros", mais frios. Aprendemos a criticar e muito bem, até os mais "novinhos", mas percebo que continuamos "ressentidos" com as críticas! Quando aquele "grupo" quebrou, não nos perguntamos, ao longo do caminho, em nenhum momento, o que cada uma daquelas pessoas queriam, na realidade, pensava-se que todos queriam a mesma coisa e o que aconteceu todos sabemos. E hoje, o que queremos mesmo? Estamos apontando para a social democracia européia que caiu de podre ou para a ruptura? Vou ali beber mais um copo d'água...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Medo...

Em tempos de "tropa de elite", em que vemos o apresentador Luciano Huck perder seu rolex e gritar por uma providência do Capitão Nascimento, tenho medo! Tempos em que vemos no jornal da TV traficantes sendo abatidos frente aos nossos olhos, tenho mais medo ainda, estou assustado! Tempos em que o "líder" da maior nação do planeta diz que se deixar o Irã deflagra a 3ª guerra mundial, ah, camaradas, tenho medo ao extremo. Sei que essa conversa pode estar te causando um certo enfado, estou correndo esse risco, mas saiba que é calculado! Parece que perdemos as rédeas das coisas, não estamos mais no controle, se é que o tivemos algum dia, "aceleraram" o tempo e não nos avisaram! Feitos baratas tontas estamos sendo levados a não pensar em nada. Uma onda de dimensões incalculáveis nos atropelou. O trem que nos transporta não nos permite olhar para os lados, não nos deixa admirar as paisagens. Está totalmente desgovernado, neste caso, como vivemos na mais completa tensão, o estresse chegou ao limite máximo, estamos todos doentes!
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No filme A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, o personagem principal sai da tela e ganha a vida! Tropa de Elite é ficção ou estamos vivendo a ficção e não nos disseram? Se o filme é realmente fascista, como disseram alguns críticos, Luciano Huck é o quê? Apenas um bom moço que perdeu um relógio de marca presenteado pela esposa? Vamos sair matando pelas ruas como o faz na ficção o Capitão Nascimento para garantir a segurança da burguesia temerária? Tenho medo que o errado passe a ser o certo, tenho um medo danado que a vida passe a imitar a arte a todo momento, a todo instante! Ver o secretário de segurança pública do Rio de Janeiro falar da operação como se fosse algo "natural" deixa-me em estado de pânico! O que vimos? Um helicóptero atirando nos "marginais" e tudo sendo gravado "ao vivo"! Não, meus camaradas, não era um filme, era uma ação policial numa grande capital brasileira! O piloto abandonou completamente o avião, ou como diriam os baianos: "abriu o gás" e nós não sabemos bem onde o avião vai se chocar, não será nas torres gêmeas, estas Bin Laden já destruiu! Então, é para ficar com medo ou fingir que não é com a gente?
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Todos vimos que a invasão do Iraque começou com insinuações de que havia armas de destruição em massa escondidas, quem falou isso foi o Pinóquio Bush, que até hoje não se confirmaram, mas o que vem sendo feito no país está bem visível aos olhos que querem ver, uma nação totalmente destruída, vilipendiada com uma guerra civil sem precedentes, embora isso não seja dito às claras, os EUA transformaram o Iraque numa praça de guerra, sim eu sei que com Sadam era muito ruim, um ditador sanguinário, claro, mas, digam-me aí, o que melhorou com a entrada dos "aliados"? Não estou dizendo que devemos ressuscitar Sadam! Vemos mortes e mais mortes todos os dias e o cidadão chamado Pinóquio W. Bush buscando outra frente para fazer mais uma guerra para deleite dos vendedores de armas! Tenho um medo danado de ver outra vez esse filme, tenho medo de ver as pessoas torcendo para a invasão do Irã acreditando que vão evitar uma terceira guerra mundial e entrarmos todos na mesma lógica do Luciano Huck, qual seja? Vamos matar esses caras antes que roubem o meu ROLEX...

domingo, 14 de outubro de 2007

"trabalhador" voluntário...

Vivemos imersos em incomensuráveis contrastes. Temos abundância de um lado e ali bem perto a mais dura escassez. Basta um breve passear de olhos sobre o modo de produção que "guia" as nossas vidas e perceberemos que suas contradições só se avolumam! Estamos sob a égide da exploração do trabalho, isso quer dizer que temos que nos "prostituir" para sobreviver, ou seja, temos que vender nossa força de trabalho, logo, nossos corpos, para ganhar o dinheiro nosso de cada dia que nos garantirá a compra das coisas que precisamos e também daquelas que não precisamos! Afinal, neste projeto histórico, para sua continuidade, faz-se necessário o lucro para reprodução do capital, sem isso, é óbvio, a empresa capitalista quebra! Até aqui, nada de novo foi dito, apenas o que todos já sabem! Contudo, o mais assombroso é que sabendo de tudo isso, ainda aparecem alguns sujeitos, cheios de boas intenções, propondo ações voluntárias, trabalho gratuito! Mexem com a sensibilidade dos outros para que trabalhem de graça, usando como argumento a solidariedade, o que convenhamos é de um cinismo sem par! Ora, bolas, dirão alguns, mas que sujeito mais insensível! Por que não podemos ajudar às pessoas em momentos que não estamos fazendo nada? Podemos chamar a essa atitude de Ingenuidade? Ser voluntário não é ser altruísta? Ser assim não seria uma negação do individualismo tão ao gosto do capitalismo? Na verdade, é aí que está o grande engodo que induz as pessoas a trabalhar de graça com o manto do altruísmo, mas que na verdade não passa de exploração muito bem disfarçada!
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Quase sempre, nestas situações, entram em cena as ONG's (organizações não-governamentais) para atrair àqueles que querem ser voluntários, mas não sabem qual é o caminho. Tais organizações "fazem" aquilo que o Estado e suas políticas públicas deveriam fazer, mas não fazem! Elas focam os problemas mais imediatos; ações do tipo: ensinar donas de casa a ganhar um dinheirinho extra bordando para exportação; auxiliando pescadores a construir uma cooperativa, ajudando a molecada a sair das drogas e buscar uma ocupação; preparando futuros craques nas periferias das grandes e pequenas cidades e por aí afora! É um pequeno curativo em uma ferida de grandes dimensões! As ONG's fazem a diferença, são uma alternativa para solucionar problemas dentro das comunidades! Temos um caso muito conhecido, o Jornal O Globo deu destaque para o fato, o de Bruna, 20 anos, carioca. Ela criou uma ONG em numa comunidade do Rio, para ajudar às pessoas a aprender alguns ofícios, mostrando que as possibilidade existem, basta que as pessoas estejam predispostas a se doarem. A ONG da Bruna não tem um funcionário sequer, todo mundo trabalha de GRAÇA! Todos os "FUNCIONÁRIOS" são voluntários! Tirando a boa vontade e os ganhos para aqueles que conseguem aprender algo e, quiçá, se insiram no mercado de trabalho, é perverso, numa formação social em que a exploração é o sustentáculo, estimular o voluntariado! O voluntário é ingênuo ao pensar que resolve o problema, não passa de um beija-flor numa floresta em chamas! Além de se submeter a uma jornada de trabalho para ganhar, às vezes, apenas para sobreviver, ainda arranja tempo para ser "solidário", para resolver problemas que deveriam ser resolvidos por outras instâncias, afinal é para isso que existem os impostos!
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Em relação ao que está sendo dito, há um portal que recebe cerca de um milhão de acessos por mês (http://www.portaldovoluntario.org.br) cujo objetivo fulcral é atrair pessoas para as ações voluntárias, tendo, inclusive, um grande aliado na sua promoção, o jornalista André Trigueiro, da Globo News. Um verdadeiro apologista do portal e suas contribuições. Ao falar sobre o voluntário, chega as raias da emoção, ele diz: " faça a diferença, ajude ao próximo, use suas horas de folga em projetos voluntários", e conclui, cheio de orgulho: "isso faz um bem danado!" Ser voluntário, trabalhar de graça, sob as condições em que vivemos é mais que alienar, é idiotizar as pessoas! A metáfora mais apropriada talvez fosse: as ovelhas alimentando as raposas. Trabalho sob o modo de produção capitalista é exploração, portanto deve ser remunerado sempre, seja ele qual for! Não existe empresário bonzinho, quando há doações das grandes e pequenas empresas, exemplo disso o tal do criança esperança, deduzem do imposto de renda, fazem boas ações com o dinheiro do Estado! Existe também aquele "voluntário" escolar, o famigerado "amigo da escola", que por "estranha" ironia, também é patrocinado pela mesma organização que emprega o André Trigueiro! Diferente dos outros voluntários que vão fazer o que sabem de graça, o "amigo da escola" exerce funções que na realidade não tem competência: atua no espaço do professor, sendo médico, advogado, ex-atleta, bombeiro, pedreiro, ou seja, o voluntário está no espaço que deveria estar sendo ocupado por outros trabalhadores; com isso, quase sem querer, por desejar ser solidário, retira postos de trabalho, sua ação acaba "sugerindo" que não há necessidade de contratação de pessoal remunerado, exerce a função, como voluntário, de forma satisfatória e, o que é melhor para o "sistema", sem cobrar um centavo sequer por isso...

sábado, 15 de setembro de 2007

Comunistas...

Na canção "Mulheres de Atenas", de Chico Buarque e Augusto Boal, há um ultimatum para aqueles que não compactuam com as injustiças, os autores apontam um exemplo de estratégia para sobreviver aos que querem nos fazer aceitar o mundo como ele é, na realidade, uma bela metáfora! "Mirem-se no exemplo daquelas mulheres", é o que eles dizem! Uma analogia possível seria: mirem-se no exemplo de Marx, um burguês, que abriu mão de todas as comodidades que a vida lhe ofereceu para, a partir da dialética materialista, transformar o mundo, ao invés de apenas pensá-lo, neste sentido, alterar o curso da vida daqueles que, diferente dele, não tinham acesso à comodidade nenhuma!
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Nascida por volta do século dezenove, a elaboração de Marx e Engels consegue fazer uma radiografia sem retoques do modo de produção capitalista, uma ruptura epistemológica de dimensões gigantescas! Tendo sofrido as mais variadas privações, convivido com toda espécie de desencanto e, ainda assim, não ter cedido um só milímetro naquilo que acreditava, deve, sim, ser um exemplo a ser seguido! Em seu projeto a humanidade era mais importante do que ter coisas, possuir objetos! Vemos muitos dos que dizem que querem outra possibilidade que não a que vivemos hoje, não ir além das "letras" escritas pelo Alemão. Ele disse, na 11ª tese sobre Feuerbach, que o mundo precisava ser transformado, não fazia um discurso, o discurso estava em sua pele, em seus atos e ações. O que vemos, hoje, são "comunistas" que não têm a fortaleza, para, assim como ele, ir além do texto! Quantos se dizem comunistas e não conseguem materializar sua ações mais corriqueiras, na verdade, são tão reacionários quanto aqueles que criticam de forma tão vociferante. Quantos se dizem comunistas e no fundo de suas consciências são os defensores mais ferrenhos da propriedade privada, quase sem "querer", são partidários da divisão social do trabalho, embora pensem que não!
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Muitos dos que se consideram comunistas não podem ficar apenas nas palavras, para isso, não podem perder de vista que pensar dialeticamente é entender a realidade como contraditória! Precisa-se voltar ao texto para entender o real e estar no real para entender o texto. Questiona-se: e qual é o texto que se torna fundamental neste momento? Muitos dos que se diziam de esquerda, hoje, estão fazendo o discurso em que não se sabe para onde eles apontam, ou seja, são pós-tudo, menos o que dizem que são! Passados mais de 150 anos da sua elaboração, não nos esqueçamos que foi escrito por volta de 1845/1846, é de fundamental importância estudarmos A Ideologia Alemã! Os que se dizem marxistas não podem deixar de estar sempre voltando a este texto. Está tudo lá. Nesta obra, Marx e Engels fazem a primeira exposição do Materialismo Histórico tendo os jovens hegelianos como anteparo para as suas mais finas ironias! Em todas as letras eles dizem: "O modo de produção da vida material determina o caráter geral dos processos da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens o que lhes determina a realidade objetiva, mas, ao contrário, a realidade social é que lhes determina a consciência". Voltemos, pois, ao texto antes de pensarmos que somos mais do que somos, antes de acharmos que já sabemos mais do que pensamos que sabemos, antes de afirmarmos que somos quando, na realidade, não passamos de crianças, pensando que somos revolucionários, mas que, no fundo, no fundo, não passamos de conservadores insignes...

sábado, 25 de agosto de 2007

Alienação...

O que acontecia no Coliseu Romano com os vencidos era algo que, mesmo passado tanto tempo, intriga e provoca. Os eventos tinham como atração principal a matança dos gladiadores vencidos e, por uma estranha razão, amorteciam as revoltas! Quando vociferamos nos espetáculos esportivos com os vitoriosos Bernadinhos, Ronaldinhos e Ricardinhos, de uma forma ou de outra, retomamos, quase sem querer, àqueles tempos em que os oprimidos "viviam" uma alienação tão brutal, que fazia com que os pobres miseráveis torcessem para que outros pobres miseráveis se destruíssem, e aguardavam ansiosamente que o dedo polegar do imperador se voltasse para baixo, sacramentando a morte do derrotado! O que aproxima os dois "mundos" é o sentimento de vitória, embora o miserável romano, diferente do miserável brasileiro que tem a morte metafórica do vencido, conseguia ver as vísceras expostas do perdedor bem ali embaixo do seu nariz e se deliciava com o cheiro de sangue derramado!
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Estávamos eu e minha filha conversando sobre o que é ser torcedor, logo após um jogo a que fomos e que nosso time saiu derrotado! Nossa atenção foi atraída para uns torcedores que lentamente enrolavam suas bandeiras para guardá-las para a próxima partida. Sem preconceito, pelo menos aparente, ficamos traçando o perfil desses sujeitos que estão em todas as partidas, faça chuva, faça sol, e são sempre os primeiros a chegar e sempre os últimos a sair. Naquele dia, a partida fora à noite, por isso, parte do tempo em que guardavam as bandeiras era às escuras, a direção do estádio apagara os principais refletores! Estes sujeitos, geralmente, são sub-empregados, ganham uma ninharia e nem sempre têm carteira assinada. O mais interessante é que esses abnegados gastam os seus parcos "vinténs" para ver seu time, mesmo que, às vezes, sacrifiquem sua própria sobrevivênvia por essa estranha paixão!
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Faz alguns anos, voltava eu da casa de uma amiga, depois de uma grande vitória da seleção da Nike, digo, brasileira, na copa do mundo, quando desabou uma chuva torrencial e, em meio a ela, apareceu um cidadão que não saberia precisar a idade já que, às vezes, as aparências enganam, principalmente quando se trata de nordestino. Este era filho do Estado de Sergipe. Pediu-me ele que o levasse até um ponto difícil de se perceber no meio daquele chuvarada toda. A primeira surpresa: em seus braços estava uma criança que talvez tivesse um ano, um pouco mais, um pouco menos, o que posso afirmar é que ainda era criança de colo! O agasalho que eu tinha era uma sombrinha velha que mal cabia a mim, mas mesmo assim ele se aproximou e fomos os três ao lugar que ele apontava. Minha preocupação era evitar que a criança se molhasse e a consequência do ato foi que nos molhamos eu e o pai dela! Dissera que saíra para pegar alimento! Quando vi o lugar que ele indicou que a criança dormiria, quase "desabei"! Era um pedaço de papelão sob uma marquise de um pequeno mercadinho! Ao nos despedirmos, desejei-lhe um "tudo de bom". Sei que é a frase mais tola, patética e fora de propósito que poderia ter dito, mas naquele momento, por mais que tentasse não conseguiria dizer outra coisa, evitei cair na costumeira armadilha hipócrita dos "beija-flores" que acolhem no seu seio uns pobres miseráveis e bradam felizes que fizeram a sua parte, ah, que maravilha seria se todos fizessem como eles!
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As três situações têm em comum, além do espetáculo esportivo, se é que podemos dizer que a matança dos gladiadores no Coliseu, possa ser chamada de esporte, a miserabilidade dos indivíduos que torcem, vibram, gritam pelo gladiador favorito, time, seleção, mesmo que em alguns momentos, sua situação seja das piores, não tenham nem o mínimo necessário, mas não importa, a alienação os torna vitoriosos, porque acima de tudo está a paixão! Os mais exaltados dirão que sempre haverá pobres no mundo e que casos como estes acontecem em todos os rincões e podem usar a questão do panis et circenses como argumento irrefutável, ou seja, em todos os tempos e lugares os oprimidos esmagam os oprimidos usando o discurso do opressor! A alienação permite achar natural aquilo que é histórico. Se não fosse assim, perderíamos a chance de treinar a nossa hipocrisia solidária ano após ano, na hora de discar aqueles números indefectíveis daquele programa que há mais de 22 anos, faz o papel do Estado através de uma "política pública" e salva da pobreza as miseráveis criancinhas brasileiras...

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Carros...

Há alguns meses fui interpelado por um estudante curioso que me perguntou qual a razão de ainda não possuir um automóvel; minha resposta foi a mais óbvia possível, até para evitar constrangimentos, disse-lhe que não sabia dirigir! Esperei que ele se contentasse com a resposta, mas, para minha surpresa, retrucou: "por que, então, não procura aprender e compra um?" Neste momento, percebi que poderia dar duas respostas; a primeira, dizer que ele tinha razão, afinal é comum àqueles cidadãos com uma renda considerada "enganadora" comprar um veículo, pois com o sistema de "quinhentas" prestações, não há desculpas que justifiquem a ausência de tamanho sonho de consumo; a segunda, mostrar que nem tudo passa pela necessidade de ter que ter um automóvel, ou seja, não somos obrigados a possuir coisas porque isso foi determinado por uma entidade supra-humana; perder o controle das nossas decisões mais comezinhas nos leva a querer possuir bens, que por sua vez nos conferem uma certa distinção, consumidores guiados pela mão invisível do mercado!
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Ter um carro é sinônimo de "status" e tem mais, quanto mais valioso ele for, mais importância tem o seu dono no seu locus. Quase sempre, o carro adquire mais relevância e importância que o seu dono, não é o indivíduo que possui o carro, mas o carro que possui o sujeito, é uma relação quase sexual! Essa forma de se enxergar a realidade termina no paroxismo da coisificação da pessoa: "não somos homens, máquinas é o que somos", a máxima foi invertida completamente! Essa necessidade de mostrar importância a partir da posse de bens é comum na sociedade em que vivemos, isso é meio óbvio, ou seja, quem tem, mesmo que seja o mais perfeito idiota, é considerado bem sucedido. O carro se tornou emblemático nas nossas relações, não tê-lo nos envia ao mundo dos infelizes e despossuídos! Como pode no mundo em que vivemos, o típico "classe média" não ter um automóvel? Não tem sentido, é o nosso cartão de apresentação! Que pai vai permitir que sua filha se case com um sujeito que não tem um carro? Só se for louco! Quem casa quer carro, de novo a inversão do velho aforismo!
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Morando em uma cidade pequena, percebo o quanto é necessário para os possuidores mostrar que têm o objeto do desejo que os torna visíveis! O sujeito mora perto da banca de revista, distante não mais que 5 minutos, mas precisa ir "montado" no carro, a pé? Nem pensar! Pode faltar qualquer coisa, menos aquilo que lhes dar visibilidade que é seu carro! Há uma preocupação maior com a imagem construída do que com a realidade vivida, valoriza-se muito mais o portão belo e esculpido do que o interior da residência! Sabemos todos que existe a necessidade premente da redução de poluentes na atmosfera. Um cientista brasileiro da área de energia afirmou que é urgente se buscar uma saída através dos transportes alternativos não só pela questão da poluição, mas também no sentido de espaço, com a quantidade de veículos nas ruas das grandes cidades, elas não têm mais para onde crescer, sabe-se que carros conduzem poucas pessoas, exemplo típico disso é a cidade de São Paulo. A cada dia são "jogados" quinhentos carros em suas ruas que não têm nenhuma condição de absorção de tamanho volume! O chato de tudo isso é que as soluções apresentadas não fogem do lugar comum. Hoje, a palavra da moda é movimento sustentável, desde que a lógica do lucro não seja molestada, seguimos cegamente uma rota de colisão e sequer abrimos mão de um fantasioso e enganador conforto...