segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Reveillon em 4 atos...

1. "Deixe eu brincar de ser feliz, deixe eu pintar o meu nariz"... Festas de final de ano são muito parecidas, desde a roupa que pretendemos usar (já houve o "império do branco", mas como vivemos sob a égide de um modo de produção que transforma tudo em dinheiro, outras cores já começam a se insinuar) até o lugar que vamos esperar a "mudança",(quando era criança sofria horrores! Minha mãe não nos deixava dormir antes da meia-noite para que o ano velho não passasse por cima de nós!) não nos esqueçamos da tradicional reunião familiar que, às vezes, soa de uma hipocrisia assustadora! Some-se a tudo isso, uma necessidade tremenda de fazer um balanço dos nossos atos. Aquilo que se concretizou, aquilo que tinha tudo para dar certo e foi por água abaixo! "Mas no ano que vem, se Deus quiser, compro um carro novo!" Todo final de ano é assim: mais do mesmo! É a forma que encontramos para tornar as coisas mais tangíveis, mais palpáveis, ou seja, precisamos alimentar nossos sonhos, sem eles, nos tornamos bestas! Quando os fogos começam a espocar todos se abraçam, conhecidos e desconhecidos, unidos numa aldeia global, todos muito felizes, todos querendo que aquele minuto seja "eterno" que a felicidade dure o ano inteiro! "Prometo ser uma pessoa melhor no ano que vem!"
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2. Em tempos do leptop, já não se escreve mais a mão! Religiosamente, esse escriba faz uma versão manuscrita e só depois joga na máquina! Os que ainda se utilizam desse expediente são chamados de jurássicos, estão totalmente ultrapassados, dirão aqueles que se sentem na crista da onda, eta, expressão antiga, não?! O que essas pessoas não sabem, e vejo isso todos os dias, em sala de aula, é que paulatinamente estamos deixando de trabalhar a nossa coordenação motora fina que está associada intimamente à coordenação óculo manual, mas me digam com sinceridade: será isso tão importante?
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3. O que tinha em mente quando articulei o blog, e já disse isso, era criar um espaço de interlocução com as pessoas que estudavam o autor soviético Lev S. Vigotski, numa perspectiva diferente daquela que o associava ao construtivismo, ao famoso jargão "aprender a aprender", e com isso ampliar as possibilidades de estudos e pesquisas! O interessante é que no fundo no fundo, o que desejava era escrever, exercitar os neurônios, para não perder a embocadura! Acho que foi bem razoável o que escrevi neste 2007 que chega ao fim. Foram mais de 100 postagens, em que pude me divertir à beça. Tenho algo que devo acrescentar, você termina aprendendo a escrever! Certa feita, conversando com um amigo dileto, disse-lhe que os concursos e seleções que exigem que as pessoas escrevam são os mais interessantes, já que aqueles em que são pedidos os famosos "X", igualiza todo mundo, no sentido negativo, pois tanto aquele que sabe, como aquele que "chuta", e quando este chuta bem, termina se saindo melhor que aquele que estuda. Não tenha nem dúvida, ele é um franco-atirador, o que vier é lucro! Digo sempre que as famigeradas provas dos "X" promovem um "emburrecimento" avassalador!
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4. Bum! Bam! Zás! Escutemos, é 2008 que brada pedindo passagem! Já o esperávamos, sim, que ele venha com toda a sua ternura e bom humor! Estamos todos de branco, nossas camisas e blusas trazem uma inscrição, bem em cima do coração, daquilo que desejamos para o ano novo, não importa se, às vezes, sequer entendemos o que está escrito! Isso é de somenos importância. Sejamos sinceros: o que esperamos de dois mil e oito? O que queremos neste momento? Quais são os nossos pedidos mais prementes para ele? Seria menos corrupção? Mais empregos? Mais felicidade? Mais segurança? Mais alimento? Mais dinheiro no bolso? Mais saúde? Mais educação? Mais amor? Mais e mais, mas menos solidão de aeroporto...

sábado, 29 de dezembro de 2007

Cássia Eller...

É bem provável que muita gente tenha "descoberto" Cássia Eller por causa daquela canção do Poeta Russo intitulada "Por Enquanto" que é, na realidade, um verdadeiro hino de exaltação à sensibilidade. Neste caso, ela deu um "tom" todo especial, coisa que o próprio autor, reiteradas vezes, reconheceu. Gostava de ouvi-la na voz da Cássia! A dura realidade é que sofri de maneira idêntica com o desaparecimento dela e do Renato Russo. As pancadas foram muito parecidas! A dor indescritível, a perda inigualável! Tinha uma amiga que costumava me ligar em horas incomuns, por isso, a apelidei de "má notícia", isso porque trazia esse de tipo de informação de forma recorrente! Naquela noite, quando soube quem era, ao telefone, perguntei, em tom de brincadeira: "quem morreu dessa vez?" A resposta todos sabemos, foi como um murro na boca do estômago! Era 29 de dezembro de 2001, às 19h05, naquele momento, o coração de Cássia Eller deixara de bater definitivamente, porém seu desaparecimento era apenas físico, a mulher que cantava visceralmente, cujo canto saía das entranhas, e por isso, tornava-se único e belíssimo, agora não mais cantaria! A mulher de tantas faces, "quem sabe ainda uma garotinha" fora do palco, mas absolutamente senhora dele quando lá estava, silenciava-se para sempre, mas 'o pra sempre, sempre acaba'!
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Aconteceu algo imperdoável! Perdi o último show que ela fez na terra de Waly Solomão. Lembrar de Cássia, neste momento, não tem como objetivo escrever um necrológio, muito pelo contrário! Falar de Cássia é falar de vida pulsando em cada artéria! Devo dizer que, mesmo sem sua presença física, seus sons continuam ecoando dos tocadores de música espalhados pelos diversos rincões! Ela está presente tanto nas telinhas, como também nos espaços sofisticados que valorizam sua forma única de cantar! O que almejo, ao recordar essa trajetória cheia de beleza e ternura, é mostrar que "mudaram as estações", mas ela continua aqui, intacta, vibrante, cantando como nunca! Não, nada de choro, vamos comemorar, sim, vamos celebrar, não a perda, que esta é irreparável, mas sim a felicidade de mesmo tendo deixado de existir, ela continua cada vez mais Viva! Lembro-me de uma frase pronunciada pela Nana Caymmi, a despeito da sua interpretação da música "Por Enquanto", dissera Nana: "alguém tem que avisar pra essa menina que ela tem que ter cuidado com a voz!" Havia ali uma sinalização de que o canto de Cássia era cru, precisava ser lapidado, e alguém do alto da sua sapiência, estava querendo dizer isso para ela, já que de canto Nana entendia, portanto que Cássia a ouvisse, sob pena de deixar de cantar muito antes pelo uso indevido da voz. O que sabemos é que não foi por não ouvir os conselhos que seu canto sumiu no horizonte, não foi isso que a tirou de nós, Por Enquanto...
Mudaram as estações
nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
sem saber
que o pra sempre
sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar
o que ficou
Quando penso em alguém
só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos
pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar,
agora tanto faz...
Estamos indo de volta pra casa
Mudaram as estações,
nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
sem saber
que o pra sempre
sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar
o que ficou
Quando eu penso em alguém
só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos
pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar,
agora tanto faz...
estamos indo de volta pra casa...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

"Vencedores"...

"Olha lá, Quem vem do lado oposto vem sem gosto de viver, Olha lá, Que os bravos são escravos sãos e salvos de sofrer, Olha lá, Quem acha que perder é ser menor na vida, Olha lá, Quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar " M.C.
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A epígrafe em destaque dá uma idéia mais que perfeita de como os sujeitos nada mais são do que um objeto dentro do esporte, nada mais que mercadoria vendendo uma marca, um produto e ao mesmo tempo sendo um produto de consumo! Ainda que as palavras que gravitam em torno do fenômeno esportivo sinalizem para algo voltado para o bem-estar, para a ética, do tipo: saúde, caráter, ousadia; geralmente a imagem do esportista está associada àquilo que deve ser seguido como exemplo, mas quando acontece os "escorregões", as portas se fecham e o "infrator" é colocado como se fora o único responsável pelo "crime", haja vista o caso recente da nadadora Rebeca Gusmão! Será que ela sozinha se articulou e conseguiu burlar toda uma equipe na troca de "urinas"? Não será mais embaixo o buraco? Do mesmo modo, não se pode levar em consideração o que disse seu pai, magoado com o tratamento dispensado à filha, suas palavras indicam que a atleta está envolta em uma teoria da conspiração, sendo uma vítima de forças "ocultas"!
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O ex-atleta canadense, Ben Johnson, flagrado no exame antidoping, em Seul, disse três coisas que merecem uma reflexão profunda por parte de todos aqueles que estão envolvidos com o mundo esportivo. Na primeira, ele afirmou: "meu médico me disse que não me deu nada que pudesse aparecer em um exame antidoping. Mas foi encontrado estanozolol na urina e isso é algo que eu nunca tomei". Como não há inocentes no esporte, as altas somas estimulam as buscas desenfreadas pelos recordes, pela vitória, alguém usou algo ilícito, é lógico que sugerido por alguém, ou seja, todos estão envolvidos, desde a marca que patrocina o atleta até aquele dirigente que vê na quebra do recorde uma escada para outros vôos muito além do esporte! Na segunda, Johnson, mais maduro e mais atento para os perigos do doping, salientou: "enquanto os jovens tiverem ambição de ganhar grandes prêmios em dinheiro, farão tudo para conseguir". Como gado indo para o matadouro, tudo farão para se tornar celebridades, terem seus nomes nas gazetas esportivas da vida, não importam os meios, desde que não sejam flagrados! Mas é na terceira afirmação que Johnson fulmina com todos os grandes "vencedores", diz ele: "eu acredito que todos os atletas de alto nível usam drogas para melhorar a performance". Ele disse todos! A quem interessa uma afirmação desse tipo? Quem encobre a farsa do recorde feito à base de substâncias proibidas? Quando Joaquim Cruz pôs em xeque a performance de Florence Griffith-Joyner, foi duramente criticado, contudo as marcas dela continuam imbatíveis, ainda que tenha morrido prematuramente havendo indícios que a causa tenha sido o uso de drogas! O silêncio responde!
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Qual é o preço que se deve pagar pela vitória? Essa talvez seja a pergunta recorrente nas cabeças dos atletas de alta performance. Estamos falando entre outras coisas de uma questão ética/moral. Até onde um atleta pode ir sem correr riscos? Como estamos sob a égide de um modo de produção em que a exploração do trabalho é a sua marca registrada e a alienação seu ponto de partida, isso leva a disputas mais que ferrenhas, todos querem ser mais, ter mais e não importa como isso se dará, o processo de alienação faz com que todos desejem ser explorados! Que coisa, não? Todos com o mesmo desejo de ser vistos como coisa, como um produto! Quem chegar na frente terá sua cota, sua parte no bolo! Como "tudo que se move" vira mercadoria, o atleta é uma mercadoria, portanto, cabe um "investimento" para a sua valorização!
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A ciência entra na competição para tornar possível que os corpos rompam seus limites, mas isso pode levar o coração a patamares perigosos! Este, como uma bomba, tem seu limite de batidas, as mortes prematuras têm mostrado essa obviedade! É possível ampliar esse limite? Quem pode melhorar o desempenho para além do treinamento são os anabolizantes e afins! Como estamos falando de atletas de alto rendimento, significa dizer que o nivelamento que o treinamento proporcionou, na verdade, criou um grande problema, um beco meio que sem saída! O que fazer para superar um adversário cujo capacidade e resistência são semelhantes às suas? Numa corrida de 100 metros, quase já não é mais possível saber quem foi o vencedor a olho nu! Quando Ben Johnson afirma categoricamente que todos tomam alguma coisa, significa dizer que temos duas competições pararelas! De um lado o atleta "dopado" correndo alguns milímetros à frente, do outro, a ciência na busca desenfreada para fisgá-lo, quem será o vencedor dessa competição atroz? A ciência tem vencido alguns "páreos", mas casos como o de Rebeca Gusmão mostram que alguém vai ter que ceder, antes que, levando em consideração o que disse Johnson, tenhamos mortes em todos os eventos esportivos...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Prefácio...

Emprestaram-me um livro, esses dias, que bem que gostaria que me fosse presenteado, calma! Não estou querendo com isso forçar um "presente", não, não é isso que quero, mesmo porque o exemplar está com uma dedicatória muito carinhosa, ou seja, o livro está "assinado"! Na verdade, é a provocação que o livro traz que me faz escrever no intuito de estimular sua leitura. A obra é resultado de tese de doutorado, de Maria Cristina Soares Paniago, publicada pela Editora da Universidade Federal de Alagoas, (EDUFAL) que vale à pena ser lida. A linguagem é saborosa e o conteúdo denso, mas a escrita da autora facilita a caminhada, digo denso porque a tese se estrutura a partir da obra referência do István Mészáros, "Para Além do Capital", um calhamaço de mais de mil páginas! Trata-se do livro "Mészáros e a Incontrolabilidade do Capital", como não posso colocar o livro inteiro aqui, seria uma tarefa hercúlea e impossível, trago partes do seu prefácio, elaborado pelo Ivo Tonet, que é fascinante, posto que além de desvelar a organicidade da obra, estimula, sobremaneira, a sua leitura, passemos, então, a palavra a Ivo Tonet...
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"Vivemos, hoje, um tempo que eu chamo de 'tempo de covardia'. Covardia por parte da maioria dos intelectuais. Não uma covardia subjetiva, ainda que esse aspecto também possa estar presente. Mas, uma covardia objetiva, isto é, a admissão da derrota da proposta de transformação radical do mundo e, mais ainda, a defesa de que, na verdade, não foi uma derrota de uma causa real, mas simplesmente o reconhecimento de que se tratava de uma aspiração completamente descabida. Segundo esses intelectuais, a pretensão, surgida a partir do século XIX, de que a razão humana seria capaz de compreender o mundo na sua integralidade e de que a ação humana poderia transformá-lo radicalmente não passou de uma utopia sem fundamento real. Desse modo, a verdadeira e única alternativa seria o aperfeiçoamento, a humanização da ordem social capitalista.
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Trata-se de uma covardia porque significa abandonar causa - possível - da construção de um mundo efetivamente igualitário e livre e abraçar a causa - impossível - da construção desse mundo sob a lógica do capital ou mesmo admitir, simplesmente, que a desigualdade social é insuperável. Esta covardia se manifesta tanto entre os conservadores como entre os chamados progressistas. Entre os primeiros, porque, uns mais outro menos, assumiram, conscientemente, a defesa do caminho neoliberal, sabidamente produtor de imensas desigualdades sociais, como a única alternativa para a humanidade. Entre os segundos, de maneira ainda mais expressiva, porque advogavam, embora também com variantes, o socialismo como alternativa possível e superior para a humanidade. E, agora, diante dos monumentais problemas que a humanidade enfrenta, apequenaram-se e, para serem aceitos pelo establishment, isto é, para não serem chamados de 'jurássicos', de ultrapassados, de utópicos; para não estarem sempre do lado dos 'perdedores', passaram a defender o aperfeiçoamento dessa ordem social como a única e melhor alternativa.
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Defender, nesse momento de 'pensamento único' avassalador, a tese de que é impossível controlar o capital, de que não há força nenhuma no mundo capaz de impedi-lo de produzir cada vez mais desigualdades sociais, de que não é possível construir uma comunidade autenticamente humana sob a lógica do capital, exige uma grande dose de coragem intelectual e moral. maior ainda se considerarmos que as profundas e devastadoras derrotas sofridas por aqueles que assumiram a luta pela transformação radical do mundo e pela construção de uma sociedade comunista pareceram comprovar empiricamente a inviabilidade desse projeto. O preço pago por isso é alto, especialmente dentro da academia, mas também fora dela.
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Mas, felizmente, ainda há intelectuais que não se acovardaram nem diante das derrotas, nem diante da imensidade das tarefas. Intelectuais que não proclamam, mas buscam fundamentar, com profundidade e rigor, a possibilidade e a necessidade de superação radical do capital e de toda a sociabilidade que se ergue a partir dele. Entre esses encontra-se um, de enorme estatura intelectual, que teve a coragem de situar-se na linha de frente da luta pelo resgate do instrumental metodológico de caráter radicalmente crítico e revolucionário e pela defesa, racional e rigorosa, do socialismo como forma superior de sociabilidade. Este autor se chama István Mészáros.
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Do mesmo modo, e desde o pleno amadurecimento do capitalismo, no século XIX, inumeráveis tentativas têm sido feitas, por órgãos internacionais e governos de todos os países, no sentido de erradicar a fome, a pobreza, a miséria e as desigualdades sociais de toda ordem. Qualquer pessoa, que percorra, com olhos não preconceituosos, a história, do século XIX até os dias de hoje, perceberá a falência de todas essas tentativas e de como as desigualdades sociais não só não diminuíram, mas, ao contrário, tornaram-se cada dia mais amplas e profundas.
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Ao mostrar como capital, trabalho e Estado constituem uma unidade indissolúvel, comandada pelo primeiro, Mészáros desmonta toda a argumentação daqueles - e são ampla maioria - que pretendem atribuir ao Estado, aos próprios empresários e/ou a organismos da assim chamada sociedade civil a tarefa de impor limites ao capital, obrigando-o a atender as necessidades humanas e não aquelas da sua reprodução.
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A tarefa de expor, de modo sistemático e rigoroso, toda argumentação de Mészáros, em Para Além do Capital, contrapondo-a à de outros autores que sustentam a possibilidade de controle do capital, não é pequena se considerarmos que essa obra tem mais de mil páginas e é de uma grande densidade. Mas, essa tarefa foi realizada por Maria Cristina Soares Paniago com rara eficiência e felicidade. Por isso mesmo, é um livro que nos ajudará a eliminar as ilusões de que é possível construir um mundo igualitário e livre sem a superação radical do capital. Também nos ajudará a solidificar a convicção de que somente a erradicação do capital, através da luta da classe trabalhadora e de todos os que a ela se aliarem, e sua substituição pelo trabalho associado poderá ser o ponto de partida de uma forma de sociabilidade que permita a todos os seres humanos uma vida efetivamente digna"...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Pessoas Iluminadas...

Há uma canção de Gonzaguinha que, na verdade, representa uma grande metáfora sobre pessoas que povoam nosso universo! Dissera ele que "somos as lições diárias de outras tantas pessoas!" Este é um verso belo e singular, além de nos tornar cientes de nossa humanidade, ele diz: sou? Não, somos! Outro poeta, esse baiano, fez uma indagação a respeito do sentido da vida: "existimos, a que será que se destina?" Sei que este não é o momento, mas não custa provocar, nem que seja a mim mesmo! Por que estamos neste planeta? Faço toda essa elucubração, aparentemente, fora de propósito, por causa de dois processos seletivos que participei. Momentos singulares, por isso, jamais serão esquecidos!
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O primeiro deles se deu quando, há dois anos, tentamos o doutorado na UFPB e sequer imaginávamos o quão doloroso seria e que as consequências posteriores deixariam cicatrizes profundas. Em síntese, ter participado do processo me deu, como "presente", um documento em que estava escrito que o projeto fora aprovado, mas que não fora selecionado! Um verdadeiro prêmio de consolação! Sem contar o tratamento recebido da banca que me argüira. Saibam que estava no Nordeste, mas me senti como se fosse um estrangeiro! Não estou dizendo com isso que devesse ser tratado de forma diferenciada, mas que pelo menos houvesse respeito e isso não percebi no processo, contudo aconteceu algo que me remete à metáfora de Gonzaguinha, lá do início. Quando vou saindo em direção ao portão do campus de João Pessoa, eis que vejo o amigo Lauro Xavier Pires Neto! Isso transformou o meu dia. Além de colocarmos a conversa em dia e almoçarmos, ainda tive o privilégio de assistir à defesa de sua dissertação! Todas essas emoções no mesmo dia! Ainda fui o único a registrar o acontecimento com uma máquina que era analógica, não sei bem por quê, mas queimou o filme, terá sido incompetência do fotógrafo?!
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As pessoas mais próximas a mim sabem que os últimos dois anos foram de recuperação! Nada de procurar assumir coisas que me levassem a um estresse maior do que eu pudesse suportar, embora saiba que não é possível mensurar qual a pressão limite que não devemos atingir, sob o risco de quebrarmos! O "presente de grego" que 2005 me deu foi, aliás já falei exaustivamente aqui, um acidente vascular cerebral que me fragilizou sobremaneira! Disse a mim mesmo que não faria mais seleções, não sei ao certo se por medo de perder ou por me sentir incompetente! Para aumentar a descrença em seleções acadêmicas, ouvi de um professor que sem acordos espúrios a coisa se complica e a aprovação dificilmente acontece! Não me lembro agora quando percebi que poderia participar de outra seleção, mas no início desse ano dei entrada na área pedindo liberação, muito mais para garantir a vaga do que com a certeza que teria coragem de enfrentar tudo aquilo de novo!
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Quando retornei de Santa Catarina, fui enfático ao elogiar o processo seletivo e a lisura no encaminhamento das questões. Disse a todas as pessoas com quem conversei que mesmo que não fosse selecionado, tinha me sentido acolhido, respeitado, como não fora na UFPB (embora ela esteja no Nordeste). Cheguei em Florianópolis sem conhecer ninguém, numa terra estranha e sem ter entrado em contato com qualquer pessoa do programa! Só fomos apresentados aos futuros orientadores no dia da arguição, na defesa dos projetos, já que tudo fora feito pelo número do CPF! Todos os meus amigos já sabem o resultado, mas queria dizer que processos como esses são muito iguais! Ficamos sob tensão doentia, às vezes, chega a ser desumano! Todas as fases, desde a prova até a arguição, foram me dilacerando aos poucos, sem contar o medo, é verdade, o medo de não conseguir! Para variar o resultado final demorou demasiado, aumentando mais ainda o estresse! Meus diletos amigos, saibam que ter conseguido só foi possível pela primeira força que vocês me deram, quando ainda me recuperando do AVC, disseram, sem falar, que eu estava vivo, que ainda não seria dessa vez que eu sucumbiria.
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Como somos "as lições diárias de outras tantas pessoas" e não conseguiria citar todas elas pela exiguidade de espaço, trarei duas figuras emblemáticas que representam muito bem o "início, o fim e o meio"! Rosenilton Santos, hoje um filho que a vida me deu, em outubro, primeiro momento da vereda, no dia da prova, com sua generosidade, ligou para mim, eu em Salvador, ele em Camaçari, e disse-me com a bondade que é característica do seu coração: "vai dar tudo certo, porque você merece, eu estou torcendo!" Ele não tem a dimensão de quanto aquelas palavras foram importantes para que naquele dia eu pudesse escrever e conseguir que o projeto fosse avaliado! O outro personagem dessa história com final feliz, chama-se Alysson de Gouvêa. Na rodoviária, lá em Curitiba, na hora em que pegaria o ônibus para Florianópolis, ele me abraçou, deu-me um beijo e disse-me: fique tranquilo, você vai ser aprovado! Saibam que havia tanta pureza nos seus olhos de menino que balancei e agradeci em silêncio, retendo as lágrimas na garganta! Hoje tenho plena consciência que nada poderia dar errado por estar rodeado de pessoas iguais a vocês: BRILHANTES E ETERNAS COMO OS DIAMANTES!...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Diário de Bordo III...

O bom de viajar é não criarmos grandes expectativas e nem acharmos que esta ou aquela será a viagem mais significativa de nossa vida! Foi com esse espírito que desembarquei em Curitiba e com uma certeza: estava aportando em uma cidade fria, sabia que suas temperaturas beiravam o insuportável! Sou um sujeito "friorento" assumido e sabia de casos em que a temperatura chegara fácil, fácil aos 5 graus ou menos! O frio me maltratou, sofri, não vou mentir, mas fui surpreendido e convidado a descobrir as inúmeras belezas do lugar! Sei que o adjetivo "maravilhoso" não tem a capacidade de enunciar o impacto sofrido por minhas retinas já tão combalidas! Uma cidade deliciosa. Com uma variedade de espaços que preenche as expectativas mais exigentes! Cada lugar visitado merece uma menção especial, por sua delicadeza e por estar a todo momento provocando nossa sensibilidade! Foram dias indescritíveis! Curitiba é uma cidade que apresenta todas as estações do ano em um só dia! Eu sei que você deve estar dizendo, mas quando somos visitantes, tudo é muito lindo! Só vemos belezas, afinal somos guiados por aqueles que nos orientam e estes só mostram os melhores lugares, as belezas, enquanto o resto é empurrando para debaixo do tapete! Para isso a resposta é uma só: é preciso ir lá verificar em loco!
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Quando eu era estudante do ensino primário, hoje fundamental, fui apresentado a flora da região. Tinha uma raiva danada porque era obrigado a decorar os nomes da vegetação. E lá vinha aquele nome chato que, às vezes, cometia uma silabada, a tal da araucária! Que árvore linda, rapaz! Vejo como um professor irresponsável pode destruir o gosto do estudante pelo conhecimento. A minha professora de geografia não teve sensibilidade, não conseguiu ir além do óbvio, do mero decorar das capitais e outras coisas parecidas, com essa atitude, ajudou sobremaneira a me tornar um estudante medíocre na matéria!
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Fizemos uma viagem de trem que dura cerca de quatro horas nos embrenhando pela Serra do Mar, vimos o descortinar da mata atlântica e suas paisagens exuberantes! São 110 quilômetros de ferrovia! Há um momento na viagem que temos a nítida impressão que o trem está flutuando, somos nós e a mata extensa lá embaixo, uma maravilha! Sem contar a ponte São João, enorme "sobre" os penhascos! No passeio, o destino era Morretes onde comemos o prato típico dos paranaenses: o barreado! Rapaz, foi a única coisa que não gostei, é horrível!
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Um dos muitos impactos se deu quando penetramos no "Bar do Alemão", coisa que Manuela Cássia jamais esquecerá! A arquitetura, a comida e a bebida são ímpares! Tomamos o famoso submarino, que é um chope com uma cachaça (que não consigo pronunciar o nome!) dentro, sugerido pela nossa anfitriã, Mary Maria, o dito cujo nacauteou tanto a mim quanto a Pretinha, Menino Ró parece que escapou ou fingiu muito bem! O que sei é que ficamos completamente bêbedos, mas Manuela Cássia, para não ficar no porre sozinha, não resistiu e chamou "Raul"! No meu caso, nem vou contar o que aconteceu por conta do porre, ainda bem que Dona Nena não está por perto! Houve outras experiências marcantes em que ficamos extasiados com o que foi mostrado, mas deixo para contar no próximo diário onde concluo esse "périplo curitibano", vou ali beber um submarino e volto já...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Catarse...

Posso parecer chato e tenho plena consciência que em alguns momentos, sou e muito! Mas há coisas que estimulam minha chatice, por exemplo, ser obrigado a ouvir determinadas "músicas" baianas e ainda fingir que está tudo bem! É bem provável que alguns digam que estou blasfemando contra a música popular baiana, ou, como é mais conhecida, a "axé music"! Quem sabe se essas "canções" não são verdadeiras obras-primas e eu é que não entendo nada de nada? É bem provável que os "gênios" da arte popular afirmem que "músicas" como "toma maderada" é algo criativo, original e único, um patrimônio baiano! Contudo não dá para aguentar, meus camaradas! Tudo não passa de repetir ad nauseum um refrão indefectível que se resume a: "toma maderada, toma, toma"! Sem nenhum respeito ao meu ouvido, tenho que suportar e ainda têm pessoas que põem o volume lá nas alturas, sem comiseração ou piedade: "toma maderada, toma, toma; toma maderada, toma, toma, toma maderada, toma, toma"! Meu ouvido fica reverberando, não é mole, mermão! São "versos raros", e o "cantor" ainda diz: você quer?, sete vezes!
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Na realidade, você bem que pode estar dizendo: "qual é problema, por que não olhar o lado humorístico/erótico da letra e se divertir? Que cara mais sisudo! Não vejo nada para tanto alarido!" É, talvez você tenha razão, como estamos vivendo o tempo da bárbarie musical, coisas como "toma maderada" representam o que as pessoas ouvem e gostam, às vezes elas nem sabem por que gostam! Como o ecletismo campeia por todos os lados, estamos num vale tudo, pode-se misturar as coisas mais absurdas que aceitamos sem contestação, tudo é possível, desde que estejamos com a maioria!
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Deixo a letra não como uma homenagem ao autor que nem sei quem é, mas como uma catarse, para que me lembre, sempre, que no modo de produção capitalista as coisas mais absurdas são colocadas para serem digeridas e nós como carneiros as digerimos como se fossem naturais e determinadas por uma força maior que nós, porém por estranha ironia, somos os seus criadores!
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"Ela quer de qualquer jeito nem quer saber aonde(sic) estamos, Eu tento fugir, disfarçar, mas ela fica provocando, Quando ela quer uma coisa não há nada quem(sic)tire isso dela, Só tem uma solução, vim(sic)aqui dar para ela, Aí mãe, aí mãe, ai mãe...Toma maderada Toma, toma (4 x) Você quer? (7x), Toma maderada,toma, toma (4 x )" Ufa, ainda bem que acabou, aqui, mas no disco eles repetem mais uma vez!...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Sogros...

Será possível aceitar como verdade tudo aquilo que se diz sobre essa entidade chamada sogra? Pode-se afirmar que, salvo raríssimas exceções, elas são verdadeiras bruxas a nos atormentar a vida que maldizemos o dia em que nascemos? É mito ou é bom quando nos aproximarmos delas que estejamos com um pé atrás, já que as nossas chances de agradá-las são as menores possíveis? Não é fácil falar dessas distintas senhoras, afinal são as mães das pessoas que amamos e mãe, camaradas, é mãe! Mas isso não quer dizer que ser genro nos faz entender tudo isso, claro, é mãe de "la ela", para nós é sogra!
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Freud bem que poderia explicar essa relação dolorida e conflituosa, posto que já virou lugar comum buscar todas as respostas na sua teoria; uma verdadeira panacéia, isto é, receita e remédio para todos os males! Os "freudianos" de plantão têm explicação para tudo! É bem provável que haja "solução" para a questão das sogras na psicanálise. Se temos o Complexo de Édipo para explicar a rejeição do pai pelo filho, o mesmo raciocínio, por analogia, pode ser usado para a sogra! Senão, vejamos! O filho "abomina" o pai por este ocupar o espaço que lhe é devido na vida da mãe! A elaboração de Freud buscou relacionar determinado elementos às questões do querer, da posse do ente querido! Isso explica, mesmo que metaforicamente, o desejo do filho em se "livrar" do pai, aqui no caso, a sogra quer "destruir" o agregado pois este pretende ocupar seu lugar, é o que ela pensa, no coração da sua cria!
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O filho quer o espaço ocupado pelo pai, o Complexo de Édipo explica a questão. No caso das sogras, o "estranho", que nada mais é que um candidato a agregado, entra no espaço que lhe pertence de fato e de direito, afinal, ela é a mãe, foi ela quem gerou aquele ser! O agregado quer fazer parte de uma relação que aceita, apenas, duas polaridades, com isso está criado o impasse. O medo da perda faz com que a mãe do ente amado rejeite o "pretendente" sob todas as formas possíveis! Apela para o constrangimento mais tacanho por temer a perda de espaço no coração do filho ou filha! Mas é preciso que seja feita justiça! Esse sentimento de perda, esse "ódio" descomunal dirigido ao pretendente a agregado não parte apenas da mãe. O pai também sente isso, fica enciumado, percebe que seu lugar está sendo tomado, mas no geral, disfarça melhor que a mãe, na verdade, finge melhor! Está com tanto "medo" quanto a mãe que os filhos deixem a casa, mas finge que não é com ele. Nesta história de sogras, há um caso que merece ser contado. Havia uma que no primeiro momento, fugia do lugar comum, ao invés de "detonar" o agregado, ela o tratava para além do esperado. O sujeito se empolgava. Achava que era a melhor pessoa do mundo, uma sogra diferente! Um exemplo! É claro que isso era um disfarce para mostrar que estava tudo bem. Ela só mudava de atitude e se tornava sogra quando percebia que a "coisa" estava ficando séria. O namoro estava se firmando, havia perigo de casamento, sinal vermelho aceso, então se tornava outra pessoa, uma verdadeira MEGERA, com todas as letras! O pai, neste caso, se omitia. Não, isso não é verdade! Ele se escudava na mulher, porque no fundo, no fundo, também não queria perder a filha para aquele estranho que foi chegando de mansinho, ocupou a sua sala, sentou no seu sofá, usou seu banheiro e além de tudo isso, ainda quer levar sua filha! Sogros também têm seu Complexo de Édipo; enquanto este quer o pai longe, aqueles querem o pobre do agregado o mais distante possível das suas crias, mas nesta relação "sogral" tem uma centelha, uma ponta de luz que absolve o agregado de todos os seus pecados: os netos, estes preenchem o vazio deixado pela "perda" dos filhos, são os novos "filhos" dos sogros...

sábado, 24 de novembro de 2007

Diário de Bordo II...

Entre os muitos sonhos de infância, conhecer a cidade do Rio de Janeiro era um deles! A plástica e a luz desta metrópole sempre me atraíram, sem contar o mar enigmático que seduz ao primeiro olhar! Todavia a onda de violência que se espraia pela cidade, vinha me desestimulando. Quem não lembra a ação de caça aos traficantes perpetrada pelo Secretário de Segurança Pública, que não passa de um FANFARRÃO, o tal do José Mariano Beltrame. Parecia filme hollywoodiano, com perseguição via helicóptero e execução ao vivo pela tv! Quem viu, não esquecerá jamais! Apesar de tudo, tenho que concordar com a inscrição que está na camisa que me foi presenteada pelo Menino Ró (filho querido) que diz: "Apesar de tudo...O Rio de Janeiro continua lindo." E olha que os três Pretinhos encontraram a cidade completamente encharcada; chovia e se manteve mais ou menos assim durante toda a nossa estada, mas, como diria O Rappa, mais que carioca, valeu à pena!
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Por estranha ironia, Copacabana estava "cinza", a chuva "escondia" o mar! O que foi uma pena, sempre quis ver o Rio de Janeiro iluminado, contudo vê-lo com suas luzes obstaculizadas pela neblina (até o Cristo ela escondeu) fez-me entender de forma mais clara o que Adriana Calcanhotto quis dizer ao falar dos filhos da terra: "Cariocas são dourados, cariocas não gostam de dias nublados."
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Foi muito coisa vista em um espaço de tempo diminuto. Chegamos e a impressão que sentimos é que já estávamos saindo. Vivemos o tempo objetivo, o tempo cronológico que vai passando na sua inexorabilidade, ou seja, o tempo de todos nós; no outro extremo, temos o tempo subjetivo, o tempo de cada um. Quando uma coisa é prazerosa e interessante, achamos que o tempo encurtou, que terminou muito rapidamente! Esquecemos completamente o tempo objetivo, a sensação é que passou rápido demais, que pena! Logo estávamos voltando, mas vivenciamos coisas lindíssimas, vimos muitas das belezas da cidade, ainda que a chuva tenha tentado, juntamente com os engarrafamentos, estragar a festa! Nesta história há um personagem baiano, com sotaque carioca, Reginaldo, que mora no Rio desde 1956, tio do Menino Ró, que nos guiou pelos labirintos e reentrâncias da cidade, retirando todos os véus que cobriam coisas que os turistas comuns geralmente não vêem! O interessante é que o camarada parece uma criança no sentido da vitalidade! Nos pregou algumas peças, entre elas ter nos dado um guarda-chuva, que teimava em chamar de chapéu, quebrado. Fomos passear no Metrô na saída quando tentamos abrir, o guarda-chuva se desmanchou. Ficamos preocupados e o cara rindo a valer da nossa cara!
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Fizemos uma visita ao "Camelódromo", contudo a chuva continuava não dando trégua, molhava tudo! Não deixamos de comprar algumas "bugigangas". Uma saída de praia com o símbolo de Copacabana era uma das "relíquias" que Manuela Cássia queria e muito! Passamos pela Lapa, vimos, por trás do portão, o local do desfile das escolas de samba. Tiramos algumas fotos ao lado de "Drumond". Brincamos muito com a situação! Percebemos que o número de veículos tem empobrecido o território das grandes cidades e o Rio, neste sentido, também sofre com esse "inchaço". O número de carros é inversamente proporcional ao número de vias capazes de fazê-los transitar eficientemente, com isso, vem a poluição e todo o resto! "Cariocas são espertos", repete a poeta, causando uma grande surpresa aos Pretinhos, já que o "churrasco carioca" privilegia a asa da galinha, aquilo que para nós, baianos, é "carcaça", em detrimento da parte mais saborosa que é a coxa, é, "cariocas têm sotaque"!
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Enquanto passeávamos no Shopping, avistamos uma loja em que se jogava boliche, Manuela disse: "vamos jogar?" Pensei cá com os meus botões, ninguém vai topar. Qual a minha surpresa que eles mesmos responderam: "vamos"; eu e Reginaldo fomos levados pela "onda"! Não canso de repetir que ganhei duas vezes em ser o pai dessa guria e ela sabe bem o que quero dizer com isso! Nesta viagem, adotei o Menino Ró! Agora tenho dois filhos! Vê-los jogando foi extremamente prazeroso, duas pessoas lindas brincando, e ainda me "obrigaram" a tentar uma jogada, dizendo para não me preocupar com o "mico": "hoje a noite é nossa!" Tomamos alguns chopes para celebrar o momento! Para aumentar o climax, numa de suas jogadas, fizeram um strike, que é quando o jogador derruba os dez pinos de uma só vez! Imagina os caras nunca tinham jogado aquele negócio, e não satisfeitos, ainda conseguiram o spare, ou seja, derrubaram os dez pinos em duas jogadas. Os Pretinhos tiraram a maior onda! Pareciam veteranos; eu era um orgulho só, um sujeito feliz por ter o privilégio de viver emoções como essas ao lado dos filhos! Entretanto nada é perfeito, um incidente quase tirou o brilho da noite: os 8 chopes que havíamos tomado viraram 17! Uma "ex-amiga" diria: "que é isso, meu!" Foi neste momento que o Menino Ró, um verdadeiro Gentleman, sem alterar a voz, fez ver à gerente mal intencionada, que estava nos achando com cara de otários, que seus cálculos estavam "equivocados". Ela sentiu na pele que baiano bobo e burro nasce morto! Respeito é bom e nós gostamos! A atitude foi um tapa com luva de pelica. Essa foi a única nota triste na aventura dos Pretinhos na cidade maravilhosa, mas isso não ofuscou em nada o carinho que construímos pela cidade e pelas pessoas que nos acolheram de forma tão fraterna e calorosa. Não, não seremos aristotélicos de forma nenhuma: "cariocas são bonitos, cariocas são bacanas"...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Diário de Bordo I...

Há "temores" que construímos que não conseguimos explicar, por mais que tentemos. Dizem para nós que aquilo que vamos fazer é seguro, mas quem disse que a racionalidade permite que isso seja incorporado de forma tranquila ao corpo? Estou me referindo ao significado que tem para muitos viajar de avião! Rapaz, tento ficar tranquilo, sigo os passos da ciência da aviação que diz que aquele meio de transporte é muito seguro, neste sentido, leio as estatísticas e vejo que elas dizem que esse é o meio de transporte mais eficiente que existe, mas por que o medo me desestrutura? Enquanto o transporte terrestre tem acidente a toda hora, as aeronaves custam, e muito, a ter acidentes, porém, vá dizer isso ao meu coração! A adrenalina entra em ação, há uma queda de temperatura brutal, fico totalmente gelado, para aumentar o meu sofrimento na semana anterior à viagem caiu aquele avião que saiu do Campo de Marte em São Paulo, pode?!
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Quando os pés perdem o contato com o chão, quando percebo que meus pés flutuam, que estamos no ar, pronto! Minha adrenalina vai às alturas! Dizem para rezar, é a única solução possível neste momento, mas como um materialista pode rezar se é a racionalidade que o orienta? Não é mole, não! Contudo, como já disse por aqui, parafraseando o bardo inglês, há mais coisas entre o céu e a terra que apenas aviões! Sei que pode parecer ridículo, e todo mundo que não tem medo ( não é Mary Maria?) tenta me convencer que não é preciso se preocupar, tudo vai acabar bem! Todavia, voar é um sofrimento para mim, embora tente administrar esse tormento!
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O mais estranho de tudo isso é que todas as vezes em que tive que viajar no "bicho", nunca foi uma viagem para ali pertinho! Sempre que fui para a "batalha", nunca fiz menos que quatro vôos em curto espaço de tempo. Lembro-me agora que a primeira vez, que a gente nunca esquece, uma professora, nem tão amiga assim, ao saber que era a minha primeira vez, fez uma gracinha atroz: "o senhor pode se cagar todo"; agora me responda com sinceridade: isso é lá maneira de se tratar um neófito?! Claro que não! Mas na primeira, o percurso de ida me obrigou a entrar em duas aeronaves; na volta foi uma overdose: cinco! Ah, mas tem um fato curioso que não deve e nem pode ser omitido. A tal professora fez a viagem totalmente travada, e olha que com todo medo que sentia, não deixei a oportunidade passar, dei uma verificada discretamente pela poltrona para ver se ela não estava totalmente cagada!
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Bem, dessa vez não foi diferente, foram 4 aviões e aquele sentimento de quem tem muito medo me perseguiu por todo o trajeto, com direito a alguns sustos. O vôo estava previsto para 17:10, mas como tem coisa que só acontece com a torcida do Botafogo e comigo, para aumentar a tensão, fui avisado que haveria um atraso de 30 a 40 minutos, ultrapassou os 50! Quando, enfim, partimos, depois de um leve incidente, já que um passageiro fez o check-in e, simplesmente, desapareceu! Momentos angustiantes, juro que pensei até em bomba! Voltando à partida, quando estávamos no ar, uma sensação de que o "bicho" parou momentaneamente, um gaiato atrás de mim gritou: "agora ele vai cair"! Ouvi a voz amedrontada de minha filha dizer: "Nem em pensamentos diga isso"! Foi uma sensação de medo misturada com pavor! Contudo entre muitas sacudidelas, que me deixaram com uma leve dor no pescoço, aterrisamos sãos e salvos. Disse para mim mesmo: "não viajo mais nesta joça!" Mal sabia eu que a aventura estava apenas começando, ainda teria mais duas experiências, o consolo é que no vôo estava o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, o que convenhamos trazia uma segurança a mais, qual companhia aérea gostaria de causar qualquer desconforto ao grande médico? Estava começando naquele momento mais uma aventura dos três pretinhos (Ró, Manuela e Manoel), depois de vivenciarem momentos antológicos no Rio de Janeiro, onde até strike aconteceu, mas isso conto no próximo...

sábado, 10 de novembro de 2007

Rebeca Gusmão, "mulher" que nada...

Certas coisas por estarem tão evidentes passam "despercebidas"! Quem foi que não ficou espantado quando viu a nadadora Rebeca Gusmão ganhar as provas em que competiu no PAN-RIO? É bem provável que até o nacionalista mais ferrenho tenha se perguntado o que era "aquilo"! Com todo o respeito, quem entende só um pouquinho de anabolizantes percebia que alguma coisa estranha estava acontecendo ali! Quando a nadadora aparecia, todo mundo se perguntava se era uma mulher que nadava ou um amontoado de músculos em movimento!?
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Quem não lembra quando no dia 18 de julho, desse ano, em pleno PAN ela dizia que tinha a honra por ser a atleta que estava pondo fim a um tabu, ganhara a prova dos 50 livres e ficara a um passo do recorde mundial. Pois bem, não se fez de rogada, agradeceu a Deus pela vitória! Hoje, depois de tudo o que está acontecendo e da possibilidade de seus exames terem sido manipulados, trocados para que, possivelmente, escapasse do doping, aquele agradecimento indicava que o deus a quem ela se referia era outro e se chamava testosterona!
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Um dos argumentos da atleta é que a origem da substância encontrada no seu organismo está relacionada a seus ovários que são policísticos, contudo o que os exames mostraram é que essa testosterona tem origem exógena, ou seja, "alguém" consumiu! O outro argumento é que, por estar casada, utiliza o doping do amor! O primeiro argumento é muito estranho pelo excesso de músculos, posto que, referenciado em mim, tenho muito mais testosterona que ela, mas não tenho um terço dos seus músculos; o segundo é ridículo, nem cabe qualquer comentário! Nos últimos tempos foi acometida de desmaios sucessivos, mas não se fez de rogada, a causa foi colocada nas coisas mais díspares, inclusive uma asma!
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Nesta história de doping, há os casos que repercutiram muito em função do nome das envolvidas. Marion Jones, do atletismo, desistiu do esporte e pediu desculpas aos seus compatriotas pelo "crime"; Martina Hings, flagrada pelo uso de cocaína, resolveu abandonar as quadras se recusando a fazer outro teste, embora tenha afirmado que era inocente. Aqui entre nós, Rebeca Gusmão (que também se diz inocente, embora, de todos os casos expostos, seja o mais VISÍVEL!) foi a "vítima". Nota-se uma explosão muscular incomensurável, coisa muito difícl de ser originada pelos seus ovários. A suspeita de fraude nos exames pode bani-la do esporte. Nesta tragicomédia, uma coisa me intriga: como será, se ficar provado, coisa que, sem medo de estar sendo leviano, acredito que acontecerá, que ela conseguiu cúmplices tão eficazes a ponto de burlar um evento do porte do PAN-Rio? Os "grandes" (o eterno presidente da CBDA, o Coaraci Nunes e o Carlos Arthur Nuzman, do COB) já disseram que não têm nada a ver com isso. Como sabemos os ratos são os primeiros a abandonar o navio, não acredito que ela tenha corrido risco tão grande se não tivesse a certeza que nada seria descoberto, que a impunidade estaria garantida. É uma pena que apresente argumentos tão pífios para uma questão tão contundente e perigosa. O caso de Rebeca Gusmão é percebido a olhos vistos, poderia agir com dignidade, reconhecer que usa anabolizantes e procurar tratamento médico, antes que seja tarde demais...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Nova Escola Nova...

Vivemos uma fase de pura perplexidade e ao mesmo tempo não percebemos nenhuma alternativa de solução a curto prazo. Há um esgarçamento de tudo com uma velocidade sem medida! Alguém já perguntou: "o que está acontecendo?" Para onde a bússola está apontando? A hesitação é tão grande que algumas instituições perderam o sentido. Certa vez, afirmei em algum lugar que a Escola estava morta, mas naquele momento fazia uma provocação, queria que o debate acontecesse, hoje percebo muito claramente que a Escola perdeu sua razão de existir.
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Este espaço de apendizagem parece que perdeu totalmente o rumo, não há mais significado para muitos dos que lá estão: professores, estudantes, funcionários e outros! Na Educação Infantil encontramos professores despreparados, mal remunerados, sem perspectivas, seu trabalho não passa de algo vazio, temos uma total desvalorização do magistério. Esta situação não é exclusiva deste nível de ensino, se na educação da criança pequena a situação parece ruim, não foge à regra o ensino fundamental. Neste encontramos salas superlotadas, professores com turmas excessivas, ou seja, um quadro muito parecido com o anterior. O estudante não vê razão naquilo que estuda, já que a escola tem como preocupação primordial preparar para o vestibular, mas essa preparação nada mais é que um adestramento puro e simples, o sujeito não reflete aquilo que "aprende"! Se sobressai aquele que consegue decorar o maior número de fórmulas, o maior número de datas, a lógica é essa, quem estiver pensando que isso só acontece nas escolas particulares está redondamente enganado, há nas públicas uma disputa velada para saber qual delas aprova mais, o mais estranho é que em muitos momentos o estudante não sabe sequer articular sua própria língua, tem uma dificuldade imensa de escrever, a razão para isso é bem simples: não é estimulado a pensar!
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Nem é preciso ser professor para entender que salas superlotadas não possibilitam a apreensão do conhecimento, o que se tem é a informação aos tubos! As políticas educacionais que sinalizam os caminhos que a Escola deve tomar julga que as pessoas são todas iguais e que quanto maior o número de estudantes por sala, melhor será! Há casos em que salas são fechadas porque o número de estudantes ficou abaixo da média, essa média pode ser 45, 50 ou mais! E o articulador desse formato acha que todos os sujeitos estão aprendendo da mesma forma, todos são homogêneos, como as carteiras em que eles sentam! Além de todas essas barbaridades, há professores assoberbados pelo número de estudantes sob a sua batuta, sequer sabem, não há como, se a aprendizagem está acontecendo. Imagina se o professor tem seis disciplinas, apenas a título de exemplo, com 45 estudantes, se fizer uma avaliação nas seis terá um número indecente de provas e o que é pior, mesmo fazendo não tem nenhum parâmetro de que a aprendizagem efetivamente aconteceu!
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Nesta mesma linha de raciocínio, tem o que venho chamando de Escola Nova nova! É o "aprender a aprender" em toda a sua plenitude! Em alguns países não há a necessidade de o estudante frequentar as aulas, o estudo acontece por meio solitário em casa ou em qualquer outro lugar, menos na escola! É autodidatismo, não há a necessidade do professor que vai se tornando aos poucos peça de museu, o conhecimento é construído pelo indivíduo e o professor é um mero "mediador" da aprendizagem! Envia-se por e-mail os resultados dos estudos, uma demonstração da nova forma de estruturação escolar. Muitos estudantes adoram, entendem que com os novos meios como a internet e outros, as aulas em sala terão o mesmo fim do CD! Uma nova Escola está nascendo, o que não sei ao certo é se com ela estamos caminhando para a barbarização humana ou se temos um anúncio de um novo ciclo, onde o aprender vai acontecer do mesmo modo em que muitos humanos hoje se relacionam com as pessoas: conversando através das máquinas sem nenhum contato afetivo, pessoal. É, será que ainda somos homens ou definitivamente máquinas é o que somos?...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Silêncios...

Ouçamos, o dia inteiro, Che Guevara, Marx e Engels, Renato Russo, Patrice Lumumba, Cássia Eller, Janis Joplin, Malcolm X, John Coltrane, Camilo Cinfuegos, Bach, Carlos Marighela, Raul Seixas, Waly Salomão, Cazuza, Lamarca, Vinícius de Moraes, Jimmy Hendrix, Kurt Cobain, Gonzaguinha, Jim Morrison, Salvador Allende, Adoniram Barbosa, Pablo Picasso, Beethoven, Stanley Kubrick, Ravel, Maria Callas, Berlioz, Chopin, Tim Maia, Elis Regina, Chico Science, Bob Marley, Louis Armstrong, Mozart, Barry White, Marvin Gaye, Lima Barreto, James Brown, Billie Holiday...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Lulas, Aldos, Ricardos, cpi nike/cbf, copas e afins...

"Começou a corrida para a realização do maior evento de futebol, será que o Brasil conseguirá ser a sede da copa do mundo de 2014?" Era assim que pretendia começar, mas é claro que não passava de ironia! Não havia concorrentes. Neste jogo(sujo?) era o Brasil "contra" ele mesmo! Pronto, cambada, a copa será aqui! "You are the champions". Decididamente, este não é um país sério! Somos da festa, dos tiroteios e das balas perdidas, dos gols da seleção. O mandatário da entidade que gerencia o futebol do Brasil é parte integrante de uma CPI que não pôde ser divulgado porque ele não deixou, por que será? Quem analisa eventos desse tipo, com certa criticidade, sabe que vai começar, (já começou, mané!) e continuará pelos próximos 7 anos, se não vencermos, e uns anos mais, caso sejamos os campeões, uma masturbação midiática sem precedentes, jamais vista na história desse país, parafraseando o presidente, também ator dessa ópera bufa! Teremos repetidas as imagens da copa de 1950, à exaustão, mostrando que aquele "fracasso" não se repetirá! Foi nesta copa que um sujeito (o goleiro Barbosa) foi espinafrado, carregando esse fardo pelo resto de sua vida, apenas por causa de uma simples derrota, mas que transformada em fetiche de uma nação, valeu-lhe uma marca indelével, 'até o ridículo homem dos 13' tirou sua casquinha do desafortunado goleiro quando não permitiu que este entrasse na concentração com medo do azar que ele poderia trazer ao escrete canarinho!
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Nestes momentos que antecedem ao evento, vemos, cotidianamente, figuras que até bem pouco tempo eram consideradas suspeitas de crime! Sei que "todo mundo já esqueceu", mas o senhor Ricardo Teixeira conseguiu impedir que os resultados da CPI NIKE/CBF fossem divulgados; até hoje não tivemos acesso às informações que continham no livro, embora tenha usado o verbo no passado, as informações continuam lá à espera que a verdade apareça! Mas isso agora não é importante! Se ele (Ricardo Teixeira) morasse em alguma favela carioca, fosse preto e, ainda por cima, roubasse o rolex do Luciano Huck, deveríamos pedir a sua prisão! Chamaríamos imediatamente o capitão Nascimento, como o fez o ilustre apresentador televisivo. Caveira na cabeça desse marginal!
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É claro que nada disso é importante, afinal a realização da copa vai trazer tantos benefícios que o representante mor do futebol brasileiro ser criminoso não faz nenhuma diferença, o que importa é que nosso povo ficará mais feliz! O custo benefício é enorme! Nossa auto-estima vai estar nas alturas com o espetáculo que uma copa do mundo proporciona! O evento vai provocar uma melhoria substancial nos estádios brasileiros, a rede hoteleira será dinamizada, os transportes serão recuperados, um número enorme de empregos estará sendo criado; convenhamos que um ganho nestas dimensões não pode ser relegado a segundo plano! Haverá algum louco que seja contrário à realização de uma festa popular como essa, onde todo o povo se irmana e "torce pela mesma camisa" como vive tronitroando uma certa emissora televisiva? O que importa se está escrito nas páginas do livro da CPI NIKE/CBF, publicado pela Editora Casa Amarela, que Ricardo Teixeira e outros são corruptos se isso por essas plagas não é exceção, é regra? Por que retomar algo tão "pequeno", se teremos uma geração de renda, com a realizaçõ da copa, maravilhosa para todos, e isso não tem nada a ver com o jogo do bicho! O presidente, Marta Suplicy, outros ministros, governadores, pessoas de reputação ilibada, posam ao lado de Ricardo Teixeira e não franzem o nariz, é, meus camaradas, sinal dos tempos, dependendo das circunstâncias e dos votos que isso possa trazer, não importa quem seja o aliado, o importante é que o pão nosso de cada dia e o circo que vem com ele sejam garantidos, "deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Ciência x Religião...

Shakespeare tinha razão: "existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". Em não sendo assim, como explicar certas coisas que nos acontecem e não conseguimos dizer qual o motivo? Sei que tem sido recorrente falar do acidente vascular cerebral. Isso tem me causado alguns "transtornos"! Tenho uma amiga que basta apenas insinuar que ela corta a conversa, não quer ouvir falar, embora seja enfermeira! Mas como fui eu o "contemplado" com o personagem principal desse drama "shakespeareano", é difícil fugir das lembranças, e elas vêm quase sem querer, poderia até dizer que é um ato falho! A compreensão da questão me diz que por ser materialista, a intensidade com que me reporto ao AVCH tem uma relação direta com algo não resolvido! Vivemos em um mundo dividido em dois "blocos" bem definidos, neste sentido, as explicações ou são científicas ou religiosas! Quando se deseja que as pessoas acreditem naquilo que está sendo dito, basta dizer que é científico e pronto! Por outro lado, quando não se pode ter os instrumento da ciência, a religião entra em cena e explica a partir da sua lógica: "foi Deus quem quis assim". Outras tonalidades ficam obstruídas! São essas as convergências mais comuns nestes anos de século XXI. Quiçá pudéssemos sinalizar para uma "terceira via", colocando os agnósticos no debate, se é que posso fazer essa afirmação, mas da forma como estabelecemos as relações, ficamos meio que neste "beco sem saídas" !
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Tudo isso porque conversava informalmente com um professor e, nem era tema da conversa, inopinadamente, terminamos chegando ao AVCH. Fora assunto de debate em sala, dissera. Na discussão, alguns estudantes argumentaram sobre as possíveis seqüelas e quase sem querer, fui citado, por uma questão muito óbvia: o acidente vascular cerebral hemorrágico não tinha deixado nenhuma seqüela, pelo menos "aparentemente", em mim! O fato é que, por mais que tente, sempre fico meio sem graça quando o assunto é ter passado incólume pelo AVCH, sim, porque as explicações caminham ou para a mais pura racionalidade, e aí a ciência vai explicar as causas e razões de ter sido o "escolhido" e porque consegui sobreviver entre os quinze milhões de casos que a estatística anuncia a cada ano no mundo! Já disse aqui, desses, cinco milhões morrem, outros cinco sofrem danos, às vezes, irreversíveis e o restante escapa ileso! Estar entre os que escaparam, sem seqüela alguma, leva as pessoas a entender como um milagre, aí deixamos de lado os parâmetros científicos e entramos no terreno metafísico!
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Na realidade, houve elementos que permitiram todas as conclusões possíveis! A ciência não conseguiu afirmar com todas as letras a razão da cura, porque algumas coisas não se encaixavam, isso deixou "brechas" para outras interpretações devido à gravidade da situação! Quem me conhece sabe o que penso sobre essas coisas, embora fosse mais convicto antes de ter passado pelo que passei e não serei cínico agora que posso digitar essas linhas, longe do que sofri, e dizer peremptoriamente que fui salvo por isso ou por aquilo, porém tem uma coisa que até hoje não consegui explicar, a ciência explica: ter ficado por seis dias na mais completa escuridão para mim, mas para os outros, não! Soube depois que era um falante, conversava com as pessoas, queria saber o que tinha havido comigo! A realidade nua e crua era que eu estava em "lugar nenhum" e não sabia disso! Nada sentia, nada ouvia. O que explica isso? A ciência diz que como a dor é/era insuportável, há um bloqueio, o cérebro manda um "comando" e "desligamos". Na realidade, o bloqueio é tão grande que não percebemos nem a vida! Essas coisas todas "vividas" alteraram, substancialmente, a minha percepção da morte! Há momentos que me pergunto onde estava a minha consciência naqueles dias e fico tentando entender qual a relação daquilo tudo com a minha existência. Há duas direções para o raciocínio. Neste momento, voltamos à questão do shakespeare, posta lá no início: não é possível encontrar todas as respostas para as perguntas que a vida vai nos formulando, temos que nos contentar com algumas lacunas, embora isso nos provoque uma angústia incomensurável...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Palavras...

Existem palavras que ficam em nossas cabeças rodando e rodando e rodando e no fundo no fundo, não sabemos bem o porquê, mas elas ficam! Essas aí na tela, são bem representativas do que estou dizendo pela força emblemática para a América Latina, Cuba luta contra um bloqueio, comandado pelos EUA, que dura mais de 45 anos, uma indecência apoiada por muitos países ditos democráticos! Mas apesar de tudo isso a pequena Ilha resiste: Educação? vai bem obrigada! Saúde? Anda "exportando" médicos mundo afora! Não há crianças nos semáforos cubanos. Mas voltemos às palavras. Existem aquelas que são como diamantes, são únicas, além de belas e sonoras, ajustam-se como uma luva ao que representam, enquanto outras não têm nada a ver, quem as criou não estava muito inspirado no dia. Aquele que pensou e deu nome a pano, por exemplo, que é tecido e fazenda ao mesmo tempo, embora seja fazenda de outro tipo, mas não fica só nisso, ainda serve de analogia ao levar o pano para a pele. Não há dúvida, aquele que pensou em PANO, não estava muito inspirado no dia, mas, em contrapartida, temos a palavra mel; fala sinceramente, poderia ser outra? Algo mais doce do que isso, ou então, será que teríamos uma palavra mais sonora para a produtora do mel que abelha? Elas se casam, já pensou a produtora do mel se chamar égua?! E sal? Vem daí o nosso salário, se assim não fosse como poderíamos pagar as contas?! Sapato poderia ser outra coisa, além de calçado? Que outro nome poderia ter? Foi pensando nestas coisas e tendo palavras circulando no juízo que resolvi fazer uma seleção delas, as mais sonoras, as que mais me provocam na língua portuguesa! Agora mesmo lembrei de duas que nós crianças não tínhamos permissão de pronunciar: miséria e desgraça! Ah, essas duas palavrinhas, ainda hoje muito pensam, como os mais velhos pensavam, que atraem coisas ruins pronunciá-las!
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Conversando com Mary Maria, a garota de floripa, sobre a beleza de algumas palavras, às vezes, provocativas, outras vezes "indecentes", e como não estávamos fazendo nada mesmo, resolvemos jogar, seguimos a ordem do abc, que é como se fala do abecedário na minha terra, por isso, começamos do começo, o primeiro, é óbvio, foi o A: de alegria, o fato é que depois das últimas chuvas, o carioca nem quer ouvir falar sobre isso, nem os gringos da Califórnia! A outra foi amabilidade, eis aí uma palavra elegante; chegamos ao B: de balbucio, dita bem lentamente para não mexer no silêncio; bunda é linda, não tem como não olhar quando ela passa chamando atenção; vieram bela que são a lua e as estrelas e brilhante como o pôr do sol de Salvador! Partimos para o C: de criança, acho que encaixa como uma luva na molecada, na gurizada, não poderia ser outra e por estranho que pareça, sempre lembro de Manuela Cássia, mesmo essa criança já tendo quase 24 anos! O que dizer da palavra corsário? Rapaz, remete quase que imediatamente aos piratas, mas não aqueles que todos compramos na esquina! D: de dedos, lembrei da Cássia Eller, cantando aquela canção do Brown "Mapa do meu nada", no disco "com você... meu mundo ficaria completo". Uma delícia! Outra que fala sozinha é: desejo. E: de escola, que é o lugar da aprendizagem, das descobertas! Uma que anuncia que somos de outro lugar: estrangeiro, longe do berço, longe de casa; F: de filha, é muito bom ser pai, dar outro significado ao existir, feliz, é aquele que consegue entender isso e se torna pãe! G: de guerra, que alimenta os senhores das armas, mas tem o gozo, que nos multiplica por milhões, infelizes daqueles que nunca gozaram! Rapidinho, não em relação ao gozo e sim ao H: de hoje, que nos honra por ter pessoas ao nosso lado que são honoráveis, mas também iguais às palavras da próxima letra; I: de imbecil, idiota, que equivalência mais que perfeita, mas além de tudo, eles nos enchem a paciência, não é verdade?! J: de jóia, que não tem nada a ver com jornada, a não ser pela letra inicial! L: da Legião Urbana, "o que tens é só teu"; luz, perfeita, idéia de claridade! No L também temos Luiz Melodia que canta muito! Luminosidade é o que nos oferece as pessoas brilhantes iguais a ele; também gosto de lampejo, que sugere um montão de idéias; M: de mãos, não poderia ser outra, elas falam, acariciam, excitam e com sua palma resolve o "problema" do número! E não é que esquecemos de MÃE! Que injustiça! O que será que Dona Nena vai dizer! N: de nirvana, que além de ser uma banda de rock que acabou no suicídio, também é o lugar onde não sentimos nada! Fechamos com um NÃO bem grande; O: de otário, que é aquele sujeito que pensa que é esperto! Ósculo e orgasmo se abraçam e se fecham no entrelaçar do ritual do amor, mas como esquecer dos olhos, sob eles "vemos" o mundo e o blog, ora; P: de pai, "você foi meu herói, meu bandido", pai tem que está "perto"! Proficiência, que é uma exigência da pós-graduação!; Q: de quero, "tudo, o céu e a terra, quero muito, eu quero é mais" e quociente, que tem um irmão "gêmeo" chamado cociente, que é o número que indica quantas vezes o divisor se contém no dividendo; R: de rato, que é aquele sujeito que primeiro abandona o barco, ao menor sinal de perigo! Tem também rua, lugar onde se mora e também se passa, para ver a namorada! S: de sim, que é advérbio, mas socrático é o adjetivo de sócrates, substantivo que bebeu cicuta! T:de tédio, que me lembra o Poeta Russo e sua canção 'com um T bem grande para você'; temporal, que alaga tudo e leva a casa dos pobres e miseráveis; testículo que é quem garante o tesão, já diziam os eunucos; U: de uva, que deixa a língua toda roxa! Umbigo, que é bom de ver o das meninas; V: de vida, que é um sopro e que teimamos em não aproveitá-lo! Viajante, que diz que conhece o mundo e às vezes, não conhece nem a própria casa; X: de xícara, que quase todo mundo pensa que é com ch! Z: de zoada, que é aquilo que aqueles caras que pensam que cantam fazem e não nos deixam dormir, a partir de quinta-feira, aqui onde moro! Bem, aqui, em tese, chegamos ao fim com os "cantores" desafinados do bairro, mas a garota de floripa lembrou que aquelas três que foram suprimidas, voltaram. Não lembrei nenhuma palavra em português começada por Y ou por W! Afora, é lógico, os nomes de pessoas, aí não vale, mas com K temos kilograma, que pesa tudo que compramos no mercado e afins e a balança quase sempre pesa contra! Faz o seguinte, caso você consiga lembrar as palavras com Y e W que complete a relação, avisa, e caso não concorde com a lista, diga qual é a sua...

sábado, 20 de outubro de 2007

Carta aberta aos camaradas...

Vocês devem lembrar, mas vou repetir, muito mais por uma necessidade da argumentação do que por diletantismo! O ano era 1998 - é, faz quase 10 anos! - quando aportei em Jequié, acreditando que poderia construir um caminho novo, reconheço que ainda cheio de sonhos e querendo ver coisas que não existiam. Havia uma frase que repetia muito em sala de aula e que depois foi muito repetida, com uma certa ironia por todos nós, depois da queda dos sonhos, era: "eu vejo seus olhos brilhando". O que na verdade se queria dizer é que havia uma enorme desejo de aprender e a metáfora traduzia com certa beleza aquilo! Passado o tempo, percebo que vemos, sempre, aquilo que queremos ver! Como essa é uma carta aberta, achei necessário dizer qual era o espírito da época, como me sentia com relação às coisas e fazendo a "mea culpa", que muito do desejo era meu, talvez o ego, a vaidade estivesse à flor da pele! Na verdade, mesmo que estivesse enganado com o brilho dos olhos de vocês, foi possível, naquelas condições, em que o curso não tinha quase nada, que vivíamos muito mais pelo desejo, "juntar" um grupo de pessoas com vontade e que acreditaram no "brilho dos meus olhos". Para se ter uma idéia do sonho, certa feita uma das pessoas, de forma jocosa, perguntou-me: "Mano, qual é o melhor curso de Educação Física do Brasil" e eu, mais que rapidamente, respondi: "o nosso, eu estou aqui"! Como o momento era de "cimento, areia e água", havia uma outra frase que passou a ser uma espécie de aforismo daqueles que estavam próximos: "bem-vindo ao mundo dos que podem transformá-lo"!
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Éramos felizes e não sabíamos! Não tínhamos "responsabilidade" com ninguém, estávamos experimentando, o que na linguagem popular quer dizer: "o que vier é lucro"! Fizemos coisas no interior da Bahia, e naquelas condições, muito interessantes e, o que é mais importante, sem fazer pactos, sem abrir mão daquilo que acreditávamos! Lembro com saudade, sim, tenho saudade daquela ingenuidade boa, quando as nossas conversas varavam a madrugada, fazíamos planos e mais planos. Fizemos um projeto de extensão que a primeira "versão" mostrei com giz na mesa da cantina! Naquela oportunidade, podíamos tudo. A Legião "escreve" certo por linhas tortas e neste momento de recordação me vem à memória, sem nenhuma intenção de rima, "Andrea Doria" e é nela que o Poeta Russo traduz, de forma impecável, aqueles tempos vividos por nós outros como se fizesse parte também do sonho, diz ele: às vezes parecia que, de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo, teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais: faríamos floresta do deserto e diamantes de pedaços de vidro. Mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente, quase parecendo te ferir...às vezes parecia que era só improvisar e o mundo então seria um livro aberto, até chegar o dia em que tentamos ter demais, vendendo fácil o que não tinha preço..."
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Bem, quase dez anos depois, olho para trás, meus camaradas, e vejo que o aprendizado talvez só não aconteça com as pedras, mas disso não tenho certeza, o que é uma grande ironia para um materialista convicto, nestes tempos de UESB, fui feliz e infeliz numa velocidade vertiginosa, acreditei em coisas que só as crianças acreditam, não por serem ingênuas, mas por ainda não pensarem na lógica dos adultos, que estão contaminados pela lógica da formação social em que estão imersos, estes já temem perguntar por que?, por que?, por que?, pergunta tão comum entre as crianças! Machuquei, mas também fui machucado, embora isso não queira dizer que o "jogo" está zero a zero ou um a um, as feridas podem ser "eternas", as cicatrizes podem não apagar tudo aquilo que a ferida causou, todas as dores! Disse uma vez a um desses camaradas que "passaram" pela minha história que quando voltasse a confiar nele, poderíamos retomar o caminho sem hipocrisias ou ressentimentos! Já estou cheio desses acordos pequeno-burgueses que são estabelecidos onde a lógica é fingir que está tudo bem para que os outros não digam que nós não conseguimos pactuar com ninguém, ou seja, que brigamos com todo mundo, mas não é pior não brigar e ficar igual a esses casais que não se suportam, todo mundo sabe, mas eles para manter as aparências continuam juntos e muito infelizes? Conheço um bando deles, essas relações acontecem bem perto de nós, ficamos juntos só para manter as aparências, para que as pessoas não digam, embora elas digam, que o nosso casamento fracassou!
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Hoje, militando em um grupo de estudos criado por antigos estudantes, alguns nem tão antigos assim, que resolveram pensar o seu fazer cotidiano, buscar alternativas, construir um coletivo, espere aí, o grupo ainda não disse de forma clara qual é a estratégia, ainda não disse o que pretende efetivamente, mas tem uma coisa que o grupo já definiu e isso parece que todos concordam, é que é o GRUPO quem vai decidir, quem vai produzir seus próprios caminhos! Onde vamos chegar, não faço a menor idéia, mas uma coisa tenho certeza, não vejo mais seus olhos brilhando. Há uma espécie de "dor" contida em cada olhar, que não é possível traduzir por palavras, estamos mais "duros", mais frios. Aprendemos a criticar e muito bem, até os mais "novinhos", mas percebo que continuamos "ressentidos" com as críticas! Quando aquele "grupo" quebrou, não nos perguntamos, ao longo do caminho, em nenhum momento, o que cada uma daquelas pessoas queriam, na realidade, pensava-se que todos queriam a mesma coisa e o que aconteceu todos sabemos. E hoje, o que queremos mesmo? Estamos apontando para a social democracia européia que caiu de podre ou para a ruptura? Vou ali beber mais um copo d'água...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Medo...

Em tempos de "tropa de elite", em que vemos o apresentador Luciano Huck perder seu rolex e gritar por uma providência do Capitão Nascimento, tenho medo! Tempos em que vemos no jornal da TV traficantes sendo abatidos frente aos nossos olhos, tenho mais medo ainda, estou assustado! Tempos em que o "líder" da maior nação do planeta diz que se deixar o Irã deflagra a 3ª guerra mundial, ah, camaradas, tenho medo ao extremo. Sei que essa conversa pode estar te causando um certo enfado, estou correndo esse risco, mas saiba que é calculado! Parece que perdemos as rédeas das coisas, não estamos mais no controle, se é que o tivemos algum dia, "aceleraram" o tempo e não nos avisaram! Feitos baratas tontas estamos sendo levados a não pensar em nada. Uma onda de dimensões incalculáveis nos atropelou. O trem que nos transporta não nos permite olhar para os lados, não nos deixa admirar as paisagens. Está totalmente desgovernado, neste caso, como vivemos na mais completa tensão, o estresse chegou ao limite máximo, estamos todos doentes!
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No filme A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, o personagem principal sai da tela e ganha a vida! Tropa de Elite é ficção ou estamos vivendo a ficção e não nos disseram? Se o filme é realmente fascista, como disseram alguns críticos, Luciano Huck é o quê? Apenas um bom moço que perdeu um relógio de marca presenteado pela esposa? Vamos sair matando pelas ruas como o faz na ficção o Capitão Nascimento para garantir a segurança da burguesia temerária? Tenho medo que o errado passe a ser o certo, tenho um medo danado que a vida passe a imitar a arte a todo momento, a todo instante! Ver o secretário de segurança pública do Rio de Janeiro falar da operação como se fosse algo "natural" deixa-me em estado de pânico! O que vimos? Um helicóptero atirando nos "marginais" e tudo sendo gravado "ao vivo"! Não, meus camaradas, não era um filme, era uma ação policial numa grande capital brasileira! O piloto abandonou completamente o avião, ou como diriam os baianos: "abriu o gás" e nós não sabemos bem onde o avião vai se chocar, não será nas torres gêmeas, estas Bin Laden já destruiu! Então, é para ficar com medo ou fingir que não é com a gente?
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Todos vimos que a invasão do Iraque começou com insinuações de que havia armas de destruição em massa escondidas, quem falou isso foi o Pinóquio Bush, que até hoje não se confirmaram, mas o que vem sendo feito no país está bem visível aos olhos que querem ver, uma nação totalmente destruída, vilipendiada com uma guerra civil sem precedentes, embora isso não seja dito às claras, os EUA transformaram o Iraque numa praça de guerra, sim eu sei que com Sadam era muito ruim, um ditador sanguinário, claro, mas, digam-me aí, o que melhorou com a entrada dos "aliados"? Não estou dizendo que devemos ressuscitar Sadam! Vemos mortes e mais mortes todos os dias e o cidadão chamado Pinóquio W. Bush buscando outra frente para fazer mais uma guerra para deleite dos vendedores de armas! Tenho um medo danado de ver outra vez esse filme, tenho medo de ver as pessoas torcendo para a invasão do Irã acreditando que vão evitar uma terceira guerra mundial e entrarmos todos na mesma lógica do Luciano Huck, qual seja? Vamos matar esses caras antes que roubem o meu ROLEX...

domingo, 14 de outubro de 2007

"trabalhador" voluntário...

Vivemos imersos em incomensuráveis contrastes. Temos abundância de um lado e ali bem perto a mais dura escassez. Basta um breve passear de olhos sobre o modo de produção que "guia" as nossas vidas e perceberemos que suas contradições só se avolumam! Estamos sob a égide da exploração do trabalho, isso quer dizer que temos que nos "prostituir" para sobreviver, ou seja, temos que vender nossa força de trabalho, logo, nossos corpos, para ganhar o dinheiro nosso de cada dia que nos garantirá a compra das coisas que precisamos e também daquelas que não precisamos! Afinal, neste projeto histórico, para sua continuidade, faz-se necessário o lucro para reprodução do capital, sem isso, é óbvio, a empresa capitalista quebra! Até aqui, nada de novo foi dito, apenas o que todos já sabem! Contudo, o mais assombroso é que sabendo de tudo isso, ainda aparecem alguns sujeitos, cheios de boas intenções, propondo ações voluntárias, trabalho gratuito! Mexem com a sensibilidade dos outros para que trabalhem de graça, usando como argumento a solidariedade, o que convenhamos é de um cinismo sem par! Ora, bolas, dirão alguns, mas que sujeito mais insensível! Por que não podemos ajudar às pessoas em momentos que não estamos fazendo nada? Podemos chamar a essa atitude de Ingenuidade? Ser voluntário não é ser altruísta? Ser assim não seria uma negação do individualismo tão ao gosto do capitalismo? Na verdade, é aí que está o grande engodo que induz as pessoas a trabalhar de graça com o manto do altruísmo, mas que na verdade não passa de exploração muito bem disfarçada!
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Quase sempre, nestas situações, entram em cena as ONG's (organizações não-governamentais) para atrair àqueles que querem ser voluntários, mas não sabem qual é o caminho. Tais organizações "fazem" aquilo que o Estado e suas políticas públicas deveriam fazer, mas não fazem! Elas focam os problemas mais imediatos; ações do tipo: ensinar donas de casa a ganhar um dinheirinho extra bordando para exportação; auxiliando pescadores a construir uma cooperativa, ajudando a molecada a sair das drogas e buscar uma ocupação; preparando futuros craques nas periferias das grandes e pequenas cidades e por aí afora! É um pequeno curativo em uma ferida de grandes dimensões! As ONG's fazem a diferença, são uma alternativa para solucionar problemas dentro das comunidades! Temos um caso muito conhecido, o Jornal O Globo deu destaque para o fato, o de Bruna, 20 anos, carioca. Ela criou uma ONG em numa comunidade do Rio, para ajudar às pessoas a aprender alguns ofícios, mostrando que as possibilidade existem, basta que as pessoas estejam predispostas a se doarem. A ONG da Bruna não tem um funcionário sequer, todo mundo trabalha de GRAÇA! Todos os "FUNCIONÁRIOS" são voluntários! Tirando a boa vontade e os ganhos para aqueles que conseguem aprender algo e, quiçá, se insiram no mercado de trabalho, é perverso, numa formação social em que a exploração é o sustentáculo, estimular o voluntariado! O voluntário é ingênuo ao pensar que resolve o problema, não passa de um beija-flor numa floresta em chamas! Além de se submeter a uma jornada de trabalho para ganhar, às vezes, apenas para sobreviver, ainda arranja tempo para ser "solidário", para resolver problemas que deveriam ser resolvidos por outras instâncias, afinal é para isso que existem os impostos!
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Em relação ao que está sendo dito, há um portal que recebe cerca de um milhão de acessos por mês (http://www.portaldovoluntario.org.br) cujo objetivo fulcral é atrair pessoas para as ações voluntárias, tendo, inclusive, um grande aliado na sua promoção, o jornalista André Trigueiro, da Globo News. Um verdadeiro apologista do portal e suas contribuições. Ao falar sobre o voluntário, chega as raias da emoção, ele diz: " faça a diferença, ajude ao próximo, use suas horas de folga em projetos voluntários", e conclui, cheio de orgulho: "isso faz um bem danado!" Ser voluntário, trabalhar de graça, sob as condições em que vivemos é mais que alienar, é idiotizar as pessoas! A metáfora mais apropriada talvez fosse: as ovelhas alimentando as raposas. Trabalho sob o modo de produção capitalista é exploração, portanto deve ser remunerado sempre, seja ele qual for! Não existe empresário bonzinho, quando há doações das grandes e pequenas empresas, exemplo disso o tal do criança esperança, deduzem do imposto de renda, fazem boas ações com o dinheiro do Estado! Existe também aquele "voluntário" escolar, o famigerado "amigo da escola", que por "estranha" ironia, também é patrocinado pela mesma organização que emprega o André Trigueiro! Diferente dos outros voluntários que vão fazer o que sabem de graça, o "amigo da escola" exerce funções que na realidade não tem competência: atua no espaço do professor, sendo médico, advogado, ex-atleta, bombeiro, pedreiro, ou seja, o voluntário está no espaço que deveria estar sendo ocupado por outros trabalhadores; com isso, quase sem querer, por desejar ser solidário, retira postos de trabalho, sua ação acaba "sugerindo" que não há necessidade de contratação de pessoal remunerado, exerce a função, como voluntário, de forma satisfatória e, o que é melhor para o "sistema", sem cobrar um centavo sequer por isso...