sábado, 6 de novembro de 2010

Na Bahia, faz oito dias hoje...

Manuel Bandeira, poeta pernambucano, afirmou, certa feita, que a Bahia era mais bonita que Tarsila do Amaral!  A Bahia é linda e, sem falsa modéstia, dizer isso não deixa de ser redundante, porém como todas as mulheres, indecifrável! Na verdade, eu ia dizer um bicho estranho! No caso da Bahia, bota estranho nisso! Calma, feminista, Rita Lee falou que mulher é bicho esquisito! Pois fique sabendo que esse belo lugar exporta coisas que até os orixás duvidam! Diga-me, aí, quem compraria uma CAMINHÃO TODO FANTASIADO com um bando de gente em cima fazendo um barulho (axé) ensurdecedor? Pois é, demos a isso o nome de Trio Elétrico e conseguimos exportar para tudo quanto é lugar! Além disso, por mais estranho/esquisito que pareça, vai todo mundo atrás, do lado, na frente, pulando que nem pipoca, o que fez com que Caetano Veloso dissesse: "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu!" Como é baiano e tem cabeça grande, igual a Rui Barbosa, todo mundo acreditou!!
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Faz oito dias, andando, à noite, pela cidade de Salvador, deparo-me com um bicho estranho difícil de SER traduzido, para alguns lugares do país. Não, não posso dizer que aquilo que vi era um bar, ou, quem sabe, um boteco de beira de esquina, mas muito do que é consumido nestes estabelecimentos  havia no "lugar"! O fato é que seguia minha cúmplice de todas as horas, Manuela Cassia, quando esta fez um movimento repentino para a esquerda, o que para mim pareceu desnecessário, afinal, o melhor movimento, o menor caminho, era seguir em frente! Essa pequena falta de atenção quase me fez desabar em cima da "mesa" do...qual é mesmo o nome daquele "negócio"? Vou tentar explicar, se é que isso é possível! Acontece que alguns pontos de ônibus de Salvador viraram espaço comercial. Neste suposto passeio público, misturam-se gente, "churrasco", cerveja, monóxido de carbono, gato, cachorro, papagaio e o que mais vier! Tem lugar para tudo, até para sentar! Higiene? Calma, muita calma nessa hora, saiba que não ouvi ninguém reclamando ou qualquer coisa que o valha! Imagina uma cacetada de pessoas aglomeradas em torno de um grande isopor, fogareiro aceso, cebola cortada, grelha aquecida e enfumaçada, com uns "espetinhos" chiando na chapa quente, gente circulando aos montes, e teremos o quadro perfeito do que vi, naquela sexta-feira, à noite! Pensei cá com os meus botões: "será que estamos preparando mais um novo produto de exportação?" Quem sabe poderíamos batizá-lo de bar do ponto ou ponto do bar? Talvez, um ponto com um bar no meio ou um bar no meio de um ponto? Neste momento, já estou pensando em PATENTEAR a coisa esquisita, caro leitor, o que você acha? Vai que essa porra fica tão famosa quanto o trio elétrico, estou armado, é ou não é? 
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Esse pequeno dilema mostra como as coisas na  Bahia são um tanto quanto estranhas, haja vista que nossa semana tem oito dias. Não, leitor amigo, não estou ou sou maluco! Você, querido leitor de outras plagas, jamais, em tempo algum, ouvirá um baiano dizer, faz uma semana que nos vimos! Receberá pelos peitos a seguinte expressão, quando o tema da conversa for o tempo transcorrido de uma semana: faz oito dias...quando era criança e já aprendera a contar ficava confuso quando na semana seguinte ao invés de ouvir: hoje faz 16 dias, minha mãe dizia, faz quinze dias hoje!? Mas que matemática era aquela? Oito e oito não são dezesseis/Um mais um não são dois? O certo é que está tudo errado, inclusive aquele troço esquisito no meio das pessoas, servindo cerveja e churrasco no meio das fumaças! Por mais que soe estranho, fica difícil, até para quem domina a adição, dizer, sem constragimento, faz sete dias; segundo minha cúmplice de todas as hora, isso na Bahia é EMBLEMÁTICO! Mas nem tudo está errado! Mesmo nossa semana tendo oito dias, não machucamos a última flor do lácio (Bilac, viu?), em nenhum momento, pois sabemos que o verbo fazer, no sentido de tempo transcorrido, é impessoal, portanto, não fazem oito dias, faz oito dias, ainda que sejam apenas sete...