terça-feira, 31 de julho de 2007

Julho...

Enfim chegamos ao fim de mais um mês que, na realidade, de forma inconsciente, estava contando para que terminasse o mais rápido possível. Tudo isso porque o médico me disse que não havia remédio que me receitasse que pudesse evitar, pelo menos nos dois anos que se seguiriam ao AVCH, que tivesse uma convulsão! Saibam que nos primeiros momentos essa notícia caiu como uma bomba de efeito retardado sobre a minha cabeça! Eu não sabia o quão era assustador ter um AVCH: um verdadeiro pesadelo, menos ainda que a sobrevida era um exercício de superação cotidiano; somos acometidos de diversos medos, o principal, acho eu, já que cada caso é muito particular, é o medo de dormir! Acabou a angústia, já sonhamos o sonho dos justos!
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Estranha coincidência, mas esse mês foi brabo! Meus camaradas, aconteceu de tudo um pouquinho e mais um pouquinho! Aqui no Brasil, que a calhorda delegação americana teve a ousada petulância de chamar de Congo, nada contra o Congo, já fomos chamados de Bolívia pelo presidente deles, tomara que isso não nos faça deitar no divã com uma aguda crise de identidade, o presidente foi vaiado "calorosamente" na abertura dos "enganadores" jogos pan-americanos, Bernadinho cortou Ricardinho só por causa de um dinheirinho, a "classe média" na TV reclamando pelo atraso dos vôos, mudou-se o Ministro da Defesa, demitiu-se Waldir Pires (fiquei constrangido com sua saída, nem um murmúrio sequer) o acidente totalmente evitável da TAM, além, é claro, do escândalo Renan/senado que se arrasta para o esquecimento, queiram os orixás e seus exus que não!
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Longe daqui, mas não menos importante, perdemos Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, dois gênios da imagem, olha, não é pouca coisa não! Contudo, apesar de tudo isso, vibramos como desesperados pelas medalhas de ouro do Thiago Pereira, que se fosse "contra" todos, no máximo obteria o bronze e em apenas duas ou três modalidades! Nosso maior medalhista joga "Ping Pong", somos medalha de ouro no pentatlo moderno, ficamos com a prata no hipismo, esporte popular no Brasil. Contamos passo a passo, assessorados, é verdade, pelos Galvões Buenos, o número de medalhas para ver se conseguiríamos ganhar de Cuba, já que do Canadá foi barbada! Quase que vencemos, não deu, mas se fosse, o que seria o justo, diriam as Hortências da vida, contar pelo total ficaríamos à frente de Cuba, com certeza! Todos esses acontecimentos que julho nos "presenteou" e livre, espero eu, do trauma pós-avch, traz-me à memória a poesia mais que brasileira do poeta Russo e sua Perfeição, que mais parece um roteiro de cinema, pela profusão de imagens:

Vamos celebrar a estupidez humana,
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e seqüestros
Nosso castelo de cartas marcadas,
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera -
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição

segunda-feira, 30 de julho de 2007

"Solidariedade"...

Existe uma frase do Nelson Rodrigues, que não comungo, mas que em determinados momentos ela se adere à pele do brasileiro de forma precisa e linear! Disse ele que o brasileiro só é solidário na dor; isso fica patente nos momentos de grande turbulência, muitos que ao longo da vida fizeram as coisas mais atrozes, tornam-se pessoas de primeira grandeza! Exemplos temos aos montes! Nunca esqueço de uma figura brasileira que fez acordos, botou polícia para bater em trabalhador e outras ações inqualificáveis, mas quando citado, sempre o chamam de grande estadista, foi ele quem criou o salário mínimo! Lembro que na casa de meus avós paternos, tinha um retrato de Getúlio Vargas, o pai dos pobres, será que ele merece mesmo esse aposto? Sem dizer tudo o que ele fez, basta lembrar que deu um golpe de estado e ainda fez acordo com os nazistas, todavia tudo isso foi esquecido, porque sua morte, e da forma como aconteceu, o tornou um mártir, apagou tudo que tinha feito de condenável!
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Muito recentemente, faleceu uma figura das mais truculentas que a Bahia já produziu: Antonio Carlos Magalhães, partiu dessa para outra, diria a grande sábia que foi minha avó! A esse respeito, o professor Lauro Pires Xavier Neto, http://lauroxavierneto.blogspot.com/ no seu "Já vai tarde", de forma primorosa, conta com riqueza de detalhes uma "experiência", nada lisonjeira, que teve com o decrépito, hoje morto, senador baiano. O curioso é que houve por parte de alguns uma comoção, uma tristeza de se estranhar, já que eles sabem, e muito bem, do que ACM era capaz. A ficha do senador, dentre outras coisas abomináveis, conta com apoio irrestrito ao militares no golpe de 1964, só isso já lhe daria uma "menção nada honrosa"; quem esqueceu do escândalo do Painel do Congresso que o obrigou a renunciar para não ficar inelegível? Em um país como o nosso, o que vou dizer pode soar cínico, mas não tenho a mínima intenção de sê-lo, pelo menos neste momento, contudo o mais coerente dos políticos no episódio foi nada mais, nada menos que Jáder Barbalho, outra figura execrável, mas que procurado para falar a respeito do seu "adversário", fugiu do necrológio barato afirmando: "o que tinha que dizer, já disse em vida." Triste país onde a massa de políticos corruptos chama propina de "mimo", além de sangrar os cofres públicos com suas mamatas, suas GAUTAMAS, protegem-se uns aos outros na certeza da impunidade adquirida com os seus mandatos!
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Acontece que a morte torna as pessoas muito mais diferentes do que são! Dá-lhes uma aura que antes não possuíam! Fico imaginando o que pensaram os familiares dos inúmeros presos políticos assassinados no período da ditadura militar vendo um dos responsáveis pela sua dor, morto é verdade, mas desfilando em carro aberto pelas ruas da cidade de Salvador, tendo parte da população aclamando e chorando a perda, enquanto muitos dos que mereciam a homenagem, sequer tiveram seus corpos encontrados! Não, essa não é uma conversa de ressentido ou qualquer coisa que o valha, não entendo que devemos perdoar a quem nos tenha ofendido, muito pelo contrário, a morte do senador não retira e nem atenua as maldades perpetradas contra os seus adversários, ademais alguns que não podiam se defender, já que o poder de fogo do senador era assustador! Minha única e exclusiva tristeza com a morte de ACM é que não vai com ele tudo o que representou, ficaram, o que é uma pena, as raízes...

domingo, 29 de julho de 2007

Domingo...

Hoje, domingo, acordei ressaquiado, e olha que não tomei nenhuma bebida alcoólica, pelo menos que me lembre, depois de tantas e estranhas notícias da semana que graças a buda, Javé, Deus, os Orixás e seus exus acabou, não quero dizer com isso que elas tenham que ser óbvias, mas o que aconteceu nos últimos dias, extrapolou todos os limites, aconteceu de tudo! Ufa! Sei que ano que vem tem olímpiadas, mas por ora, estamos livres dos berros ensurdecedores dos Galvões Buenos e seus asseclas que assolam o país. Na lógica da semana dos seis dias de trabalho, domingo seria o dia de descanso, claro que isso a cada dia que passa, e com a necessidade de se ampliar o consumo, o domingo passou a ser um excelente dia para ir ao Shopping, quem trabalha lá e aqueles que não têm dinheiro para comprar não pensam assim, é claro! Em linhas gerais e negando tudo o que gira em torno, o domingo se transformou num dia de trabalho! São mil atividades planejadas, tais como: cinema, futebol, churrasco e outras, além dos indefectíveis Gugu e Faustão, definitivamente, não há descanso no domingo! Na verdade, tentamos viver "tudo ao mesmo tempo", como diria uma antiga banda de rock decadente, já que amanhã é segunda-feira!
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A banda, não acidentalmente, também tem uma canção chamada "domingo", porém, no tempo da canção, não havia nada para fazer no domingo, com isso desejava que o domingo passasse o mais rápido possível, para se livrar mais que depressa do mais que monótono sorriso insulso do Sílvio Santos!
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Mas voltando à ressaca, diríamos que há dois significado para ela; primeiro, porque estamos todos saindo de uma overdose esportiva do cacete, rapaz, nem sei como saímos sem sequelas, sem contar que neste ínterim, ainda tivemos a explosão de avião e deixamos Renan Calheiros em "stand by"; segundo, quando falei aqui sobre o esporte de rendimento em Cuba, não imaginei, em nenhum momento, que chegaríamos ao cúmulo, isso mesmo, cúmulo de ver, em rede nacional, toda uma delegação correndo, sim, correndo desesperadamente, porque houve a suspeita de que poderia acontecer uma possível "deserção" em massa da delegação cubana! Seria isso verdade? O maratonista Norbert Gutierrez negou a versão, afirmando ser patriota e Fidel Castro seu lider! Sendo verdade ou não, todos sabemos que o considerado "esporte amador" nada mais tem de amador, insistir nesta farsa é acreditar em histórias da carochinha, é pensar que as crianças de hoje ainda não sabem de onde saem os bebês!
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Cuba vivendo cercada pelo bloqueio perverso comandado pelos EUA e aceito silenciosamente por muitos países latinos americanos, não pode e não deve perpetuar essa doce ilusão de que o esporte de alto rendimento educa e faz um patriota, faz um socialista! Os fatos mostram o grande equívoco que isso representa! Continuar insistindo nisso é gastar recursos que poderiam ser canalizados para outros setores. Caso não queira continuar correndo para evitar futuras e prováveis deserções, a saída é colocar esses atletas para cortar cana, para trabalhar na lavoura, o esporte deve ser apenas, aqui no caso, para a educação e lazer. Pelo o que vimos, qual o significado real de uma medalha olímpica para os atletas? Dizendo de outra forma: o que ganha o socialismo Cubano com a medalha de ouro? A resposta já foi dada por Rigondeaux, Lara, Capote e Ramirez, os que "sumiram" nestes jogos! O que houve no Brasil leva a acreditar que em Pequim, a possibilidade de se repetir o que ocorreu por essas bandas, cresce para além do infinito, não precisa ser profeta ou vidente para saber! Mas deixemos de lado o "stress", hoje é domingo, não é dia se de pensar nessas coisas, então, ouçamos o que dizem os Titãs: "e antes que eu confunda o domingo, antes que eu confunda o domingo, o domingo com a segunda, domingo eu quero ver, o domingo passar, domingo eu quero ver, o domingo acabar"...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Cuba x Brasil: quem é o inimigo?...

Os estranhos "desaparecimentos" dos atletas cubanos começaram em 1971 com 6 "sumiços", 13 em 1993 e no famigerado Pan-Rio 2007 já são 4 os "ausentes"! Na realidade, sair de Cuba para ganhar dinheiro, seja onde for, um dos que "desapareceram" quer jogar handebol no Brasil, atesta o caráter mercenário do esporte de alta performance. Não tenham dúvidas, esse fenômeno traz em si a desfaçatez do individualismo; nesta "equação" vence quem pagar mais! E é justamente daí que emerge a grande questão: por que um país como Cuba, cuja formação social é socialista, investe tantos recursos na massificação do esporte de alta performance que nada mais faz que sinalizar para "princípios" totalmente opostos? Não seria uma grande e absurda contradição está estimulando a formação de possíveis mercenários? Afirmar que o esporte de rendimento é saúde, não passa de uma burla, todos sabem que não é bem isso o que acontece! Os diversos casos de doping mostram qual é a realidade: vencer a qualquer custo, não importam os meios, se for possível burlar para melhorar a marca, por que não?!
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Os Pan-americanos e Olímpiadas mostram que o alto rendimento não estimula nem um pouco a solidariedade entre os povos como anunciam seus "slogans", o tal do "o importante é competir" não passa de jargão esportivo, o que vemos na maioria das vezes é uma apologia da guerra entre os atletas/soldados, tendo algumas vezes, como já aconteceu nestes jogos, esse "estímulo" chegado às raias da pancadaria, culminando com o envolvimento da torcida na contenda! A busca desenfreada pelas medalhas, cria uma animosidade visceral, neste sentido, parte da mídia, preocupada com a audiência, estimula o clima de combate que envolve a competição. Vimos como a organização do evento trabalhou rapidamente para que a imagem dos jogos não ficasse arranhada, na confusão entre as equipes de judô de Cuba e do Brasil. No final, com os ânimos apaziguados, todos se abraçaram numa demonstração patética, para não dizer ridícula, de que existe, pelo menos frente às câmeras, o fair play!
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No caso do esporte cubano, muitos atletas, "esquecendo-se" completamente o investimento do Estado, portanto do dinheiro do povo, vêem sua participação nesse tipo de evento como uma porta de saída para o "sonho" de se tornarem mercadoria para consumo e exploração dos abutres europeus e americanos! O que esses atletas que "desaparecem" esquecem é que para que eles sejam o que são, outros têm que se sacrificar, não nos esqueçamos do bloqueio que já dura décadas, comandado pelo "grande irmão" do norte, justamente quem mais estimula esse tipo de atitude, mas para o atleta de alto rendimento, que sai em busca de dinheiro e holofotes para sua realização pessoal, o projeto não é socialista, é capitalista em toda sua extensão!
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Quem sabe, para evitar "constrangimentos" desse tipo, não fosse necessário mudar de perspectiva? Por que investir em esporte de alta performance se no cômputo geral o ganho é basicamente de propaganda, Cuba precisa disso? O que significa para um país que sofre um bloqueio brutal ficar atrás ou à frente do Brasil no quadro de medalhas desses ou de outros jogos? Qual é o ganho real para uma sociedade socialista participar desta farsa, deste espetáculo circense que sai de lugar algum para lugar nenhum? Por que acirrar ao infinito o "ódio" entre cubanos e brasileiros que vencem e perdem? Ademais o grande inimigo do norte mandou apenas sua equipe B e ainda assim é o primeiro! Enquanto ficamos nos engalfinhando para saber quem será o segundo, o primeiro não só desqualificou o evento ao enviar uma delegação de segunda ordem, como, quando aqui chegou, fez uma "brincadeirinha" sem graça nenhuma chamando o país de Congo! Deixemos a masturbação esportiva para as grandes corporações que só querem é ganhar dinheiro, querem continuar com a exploração do trabalho que Cuba lutou desesperadamente para acabar! Para além dessas disputas mesquinhas, não nos esqueçamos que o grande herói CUBANO e das Américas, Ernesto "Che" Guevara, que deu sua vida na busca pela liberdade, era ARGENTINO, portanto, inimigo não são os cubanos, nosso inimigo comum é o modo de produção capitalista...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Apupar ou aplaudir? Eis a questão...

Era uma assembléia de professores, mas um grupo de estudantes fora convidado a participar. A cada discurso inflamado, choviam palmas, um verdadeiro delírio para os que eram agraciados com a ovação! Alguns estavam se sentindo verdadeiras "celebridades"! Na realidade, a situação não mostrava nada de novo, não havia nenhum segredo: todas as manifestações que recebiam as salvas de palmas atendiam às expectativas da "platéia", era-lhe favorável! Tudo ia bem, até que alguém disse algo que desagradou aos estudantes presentes, era o que faltava para mudar o clima! Uma chuva de apupos se derramou pela sala, criando um grande embaraço! Houve uma mudança radical na postura dos docentes! Estes exigiram respeito e caso os estudantes continuassem com aquela postura que fossem retirados do recinto!
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Era a festa de abertura dos Jogos Pan-americanos. Uma movimentação de pessoas maravilhosa! Pura alegria, imponência e virtuosismo. Parecia que estávamos em outro mundo, em um país rico pela opulência do espetáculo! Beleza fulgurante para os olhos, sons deliciosos para os ouvidos, imagens brilhantes que jamais esqueceremos! Aplausos irrompiam a cada movimento, a cada manifestação cultural destacada! Pura beleza! Entretanto um fato curioso acontecia todas as vezes que a imagem do presidente Luís Inácio Lula da Silva aparecia no telão do Maracanã! Neste instante, explodiam apupos ensurdecedores, eram vaias de todos os lados e o nosso presidente não entendia a razão, afinal investiu muita dinheiro para que o brilhantismo da festa acontecesse! Deveria estar se perguntando: "por que essas vaias, meu Deus, fui tão pródigo com o povo da cidade do Rio de Janeiro, que ingratidão!" Quando somos convidados para um "aniversário" não há razão para uma receptividade tão ofensiva, diria o presidente mais tarde em seu programa de rádio!
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Os apupos são o fio condutor que aproxima as duas situações. Na verdade, embora tenha dito que fora convidado, o presidente foi o patrocinador, investiu muito dinheiro na festa; Lula era o "dono da festa", era o anfitrião. Neste caso, os cariocas eram os convidados em sua própria casa! Como convidados se mostraram extremamente "deselegantes" com tão ilustre figura! Na assembléia docente, também os convidados vaiaram os anfitriões, não respeitaram o espaço sacrossanto dos seus mestres! Mas estes, diferente do presidente, ameaçaram: caso as vaias continuassem os estudantes seriam retirados peremptoriamente do local! Não sei se este era o desejo de sua excelência, isto é, mandar retirar todos aqueles que o vaiavam! Os assessores ao perceberem que os "apupadores" não deixariam Lula falar, resolveram minimizar o constrangimento e o discurso oficial foi suprimido da agenda, sendo esta a primeira vez que esse fenômeno aconteceu na história dos Jogos Pan-americanos! O que até agora, nem o presidente nem os professores entenderam é que quem permite os aplausos, tem que permitir as vaias e não tem que se aborrecer com isso não, é um direito de quem está participando de um "espetáculo" demonstrar seu descontentamento! Quem não quer ser vaiado tem duas saídas: ou fala para si mesmo ou contrata uma claque. O apupo é a mais democrática das manifestações, não aceitá-lo é pensar em 100% de aprovação, é pura hipocrisia...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

"Tragédia Argentina" em Maracaibo!

Futebol tem suas místicas para torná-lo empolgante e fazer de cada um de nós técnicos! Usando uma frase feita, diria que ele não é uma "ciência exata e que tem razões que a própria razão desconhece"! Todo mundo sabe, pensando de forma racional, que a Argentina era a melhor "seleção" das que jogaram essa Copa América, mostrando um futebol vistoso, elegante e envolvente, contudo, qual a razão da apresentação tão medonha contra o Brasil, a "seleção" que estava entre as que jogaram o futebol mais insulso da competição?
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Um torcedor argentino me perguntou qual era o palpite para a final e quem ganharia essa copa; primeiro, provocando-o, falei que não havia países na disputa, o que teríamos eram patrocinadores, bancando jogadores e equipes. O Brasil com a Ambev, Vivo e Nike e a Argentina com a Coca-Cola e a Adidas! Ainda na base da provocação, disse-lhe que caso não tremesse, como vinha ocorrendo nos "últimos confrontos", a Argentina seria a vencedora, contra quem quer que fosse o adversário! O que não imaginei, em nenhum momento, foi que jogando aquele futebol estilo Dunga o Brasil chegasse à final e muito menos vencesse! Por estranha e inexplicável ironia a Argentina tremeu e, o que é pior, tornou-se freguesa do "professor" Dunga, e tem mais um agravante, só perde de goleada!
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O triste da história é que como a "seleção" brasileira ganhou, foi a campeã, temos o modelo vencedor! Voltamos à era Dunga! Escapamos daquelas abobrinhas do Zagallo e caímos nas frases feitas do nosso "treinador"! Imagina se fosse o tal do "velho" Lobo, ouviríamos, com certeza, que o jogador que fez o lançamento do segundo gol e que fez o terceiro, que liquidou a fatura, tinha a camisa 13! Ufa, ainda bem que nos livramos daquelas imbecilidades! Mas fico me perguntando o que nos espera depois da "tragédia argentina"? Teremos, muito provavelmente, um retorno àquelas bobagens tão comuns em vitórias! Nosso meio de campo sem nenhum talento para a criação antes, porque cheio de volantes, agora um modelo a ser seguido, afinal, somos campeões; Júlio Baptista é um jogador que não pode estar fora de qualquer seleção, dirá o "professor". A "tragédia argentina", além de evocar aquele futebol que vimos em 1994, alimenta no imaginário popular que quem joga diferente do modelo "globalizado", perde! Quem não se lembra que o Internacional ao vencer o Barcelona achou que seu time era realmente o melhor? Todos sabíamos que quem tinha vencido não fora o melhor, mas a lógica formal diz que contra fatos não há argumentos! Com dedicatória do "nosso" técnico, oferecendo o título às crianças de todos os continentes e mais aquelas camisas azuis alusivas à copa do mundo de 2014, percebemos que mais uma vez Ricardo Teixeira está certo, é um dirigente íntegro e tem tato para o negócio, errados estão todos aqueles que acreditaram que havia muita falcatrua no contrato CBF X NIKE, que o resultado da CPI deveria ser levado em consideração, mas isso não é tão importante, o importante é que somos campeões das Américas...

domingo, 15 de julho de 2007

Elza Soares: gigante pela própria natureza!

Quando criança, havia uma expressão que àquela época não entendia o quão perversa era, além de não compreender o sentido preconceituoso, mas a repetia como um papagaio; tinha uma conotação machista, embora quem a pronunciava com frequência eram as mulheres que estavam ao meu redor! acontecia sempre na hora do almoço, quando o prato principal era galinha, dizia-se sempre: "vamos comer Elza Soares!" Era uma maldade que trazia em si um preconceito, e como todo preconceito, abominável! A causa dessa deformidade estava vinculada ao grande amor vivido por essa mulher com Garrincha, o grande craque do Botafogo. Muitas mulheres odiavam-na por ser ela uma "destruidora" de lares, era assim que a nomeavam! Ora, ela fez um pai "sair de casa e abandonar os filhos para viver uma aventura!" Em plena década de 1960, mulher, artista e negra, arriscar-se a viver uma relação extraconjugal era uma barra! Os homens diziam que depois dela, Garrincha já não era mais o mesmo jogador, ou seja, o ataque vinha de todos os lados, mas ela segurou a onda...
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Em grandes eventos esportivos, os jogos olímpicos entre outros, há uma abertura onde o país sede tenta, em grande estilo, contar sua história vinculada, é óbvio, com os jogos. No caso dos Jogos Pan-americanos não foi diferente! A partir das manifestações culturais brasileiras fomos sendo apresentados às peculiaridades dos jogos! Acho essas manifestações de extremo mau gosto, por uma razão bem simples: são muito parecidas umas às outras, uma repetição ad aeternum! Há uma pirotecnia que, em cada lugar ou país, tenta mostrar beleza e brilhantismo, mais isso, mais aquilo, ou seja, mais do mesmo! Contudo, na abertura dos Jogos Pan-americanos, algo belíssimo aconteceu. A primeira imagem a aparecer, cantando o hino nacional, vestida de amarelo, brilhando com seu canto, aos setenta anos, nada mais, nada menos que ela: Elza Soares! O cantar dessa jovem "Senhora" fez comigo algo que só acontecia quando era criança/adolescente e não entendia que o simbolismo dos signos nacionais sempre esteve carregado de um patriotismo tosco, grosseiro, sendo imposto de cima para baixo aos incautos, ainda que reconheça o quão é bela a letra do hino nacional brasileiro; Elza Soares me fez chorar com sua interpretação, sua entonação, sua grandeza e suas lágrimas, foi perfeita a sua aparição, e ainda me provoca arrepios apenas com a lembrança. Elza Soares, agradeço, "às margens plácidas, deitado eternamente em berço esplêndido", pelo canto lindo, sensível e generoso que nos presenteou naquela noite magnífica!

sábado, 14 de julho de 2007

Esporte: um ópio à farta...

Quando Marx, lá no século XIX, afirmou que a religião era o ópio do povo, sequer imaginava que algo muito parecido com ela, por sinal originado também naquele século, o esporte moderno, trazia no seu bojo características muito parecidas com um credo! A forma de organização e estrutura desse fenômeno hoje nos leva a pensar no que falou o grande filósofo, sem perder de vista que a analogia é paupérrima, esperamos que Marx nos "perdoe" pela blasfêmia! Pode-se dizer que o esporte é o ópio do povo, com um poder catalisador que assusta, provocando uma alienação brutal, para essa percepção, basta um simples olhar nos estádios, vilas e outros rincões e teremos uma idéia geral da sua capacidade em nos transformar em bestas humanas, como faziam os romanos! Então, oremos, irmãos!
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Tendo essa metáfora como referência, há um fato curioso, neste julho de 2007, entre nós, estamos recebendo uma carga de espetáculos esportivos que se assemelha muito com a maneira como a notícia é transmitida, como ela é trabalhada: um volume, uma quantidade absurda, contudo sequer temos tempo de pensar a respeito; por ser um número avassalador, ficamos apenas no âmbito da informação, jamais se poderá dizer que estamos falando de conhecimento, no caso da notícia e em se tratando do esporte, é pura alienação! A título de exemplo, temos: o início dos jogos Pan-americanos, a final da Copa América, a Liga Mundial de Voleibol e, concomitante a tudo isso, o Campeonato Brasileiro de Futebol, séries A, B e C! Tanta coisa para se assistir que não sabemos ao certo qual escolher, o importante é estarmos envolvidos, assistir ao máximo possível tudo que nos é oferecido neste banquete onde corremos o risco de nos empanturrarmos com tanta fartura, afinal beatos é o que somos!
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Há uma coisa que torna todos esses eventos semelhantes entre si, existe um fio condutor que faz com que as pessoas se "irmanem", fazendo-as acreditar neste deus! Torcer é a oração dessa religião! A torcida alimenta a ilusão do crente de que é tão vencedor quanto os atletas que disputam as mais diversas modalidades esportivas! Há uma fé inabalável no esporte, em tudo o que ele representa, neste sentido, possui a força da religião que nada mais faz que domesticar as pessoas, prometendo-lhes o metafísico; tem que acreditar, a fé remove todos os adversários! Além da fé, para alguns, o esporte se transforma em elemento de ascensão social, independentemente de qualquer formação filosófico-político-cultural, esporte é educação, mas não é preciso estudar!
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Vimos na abertura dos Jogos Pan-americano, no Rio Janeiro, o quanto essa religião moderna é capaz! Para quem está acostumado a fazer o espetáculo do carnaval, a beleza do espetáculo não traz nada de novo, o interessante é que até nisso há uma semelhança! O desfile das escolas de samba parece surreal, temos a impressão que a riqueza desce do morro, caindo belamente no asfalto, escondendo a miséria que envolve as comunidades que trabalham o ano inteiro para que a festa aconteça! O Pan é surrealismo puro, vemos luxo e riqueza em meio a uma cidade dividida! Foi possível "abafar" a manifestação que muitos cariocas fizeram negando o espetáculo circense, pegando o símbolo do Pan, o Cauê, fazendo uma paródia mostrando o Cauhô, que na gíria carioca significa mentira, mas não foi possível evitar que, em meio a tanto brilho, um dos colaboradores financeiros, o presidente da república, fosse copiosamente vaiado todas as vezes que seu nome foi citado ou quando apareceu no telão; ironicamente, diz-se que a voz do povo é a voz de Deus! Contudo os fiéis adoradores do esporte aplaudiram Carlos Arthur Nuzman acintosamente, mostrando o quão é contraditória a relação do crente com seu objeto de adoração! Ambos, Lula e Nuzman, estão muito mais preocupados com o credo religioso da competição do que com a outra banda da cidade, envolta em sombras, miséria e violência para que o "deus" Pan possa servir como cartão de visitas para que mostremos ao mundo que somos capazes de organizar as Olímpiadas, até lá, oremos, irmãos...

terça-feira, 10 de julho de 2007

O Outubro que abalou o mundo...

Há pelo menos quatro anos em nossas mãos, conseguimos, enfim, fazer a leitura do livro "10 dias que abalaram o mundo", de John Reed. Devia ter lido antes! As reflexões provocadas pela obra me convenceram, definitivamente, que estamos, sim, vivendo ainda na pré-história humana! A saga contada, por dentro dos acontecimentos de outubro de 1917, mostra-nos, brilhantemente, como um povo saindo da "idade média" em pleno século XX, construiu um caminho diferente, apontou-nos um outro projeto histórico, uma outra via que não a do capitalismo e suas crises intermináveis! As páginas, sob os nossos olhos, trouxe-nos, como numa máquina do tempo, imagens vigorosas e, ao mesmo tempo, emocionantes do grande feito bolchevique; o percurso feito pelo povo russo até a eclosão da revolução, de outubro para eles, de novembro para nós, é contada com tanto realismo que nos vemos dentro dos acontecimentos, quase ouvimos in loco os discursos inflamados, sentimos o cheiro de pólvora e participamos intensamente das escaramuças!
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A história contada com precisão de detalhes é estimulante e esclarecedora. Prefaciada por Lenin que a elogia: "é uma obra que eu gostaria de ver publicada aos milhões de exemplares e traduzida para todas as línguas, pois traça um quadro exato e extraordinariamente vivo dos acontecimentos que tão grande importância tiveram da Revolução Proletária." A pergunta que fica martelando durante a leitura é: como foi possível a execução de tal plano, e mais, como manter o poder após a derrubada do governo provisório já que as divergências eram enormes? Sabemos que a revolução se materializa e que manteve, pelo menos o caráter, até que mudanças no intestino da Rússia a trouxe de volta para a pré-história humana, para o mundo em que o projeto social se chama capitalismo e com ele todas as suas atrocidades. Por que, depois de ter dado esse passo gigantesco, a URSS se desmoronou?
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Essa resposta não há no livro e nem poderia! Mas entendemos que é uma obra que deve ser lida por todos aqueles que ainda acreditam que é possível outro projeto histórico, outra alternativa que vá para além dessa bárbarie em que vivemos, onde vamos nos fragmentando, escondendo-nos atrás de cercas elétricas e carros blindados, na selva que transformamos a vida no planeta, elevando ao infinito o individualismo, onde na tragédia humana em que estamos imersos, a disputa é de todos contra todos numa luta interminável pelo alto do pódio que não premia ninguém, mas sim a nossa desumanidade! Na realidade, o livro trouxe para mim uma certeza que andava meio combalida, pelas incomensuráveis derrotas que temos vivenciado! Parece estranho, quiçá ingênuo, afirmar, diriam alguns, mas nunca tive tanta certeza de que a Revolução virá, é inconcebível termos a capacidade de transformar a natureza e, colocando-a sob a nossa regência, criar tudo o que criamos, pararmos justamente no modo de produção capitalista, a mais pobre e miserável das nossas criações...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Jogos Pan-americanos e masturbação midiática...

Vai começar o espetáculo! Entre os dias 13 e 29 de julho, estaremos vivendo as competições dos jogos pan-americanos Rio-2007! Seremos bombardeados, à exaustão, para que vibremos intensamente com as performances de Daiane dos Santos, Jadel Gregório e tantos outros atletas brasileiros que estarão "embelezando" com suas proezas nossos dias cinzas! Estarão competindo no Rio de Janeiro, em 16 dias, nas mais diversas modalidades, cerca de 5662 atletas de 42 países, imaginem a quantidade de pessoas necessárias para que tudo aconteça como previsto, na mais perfeita ordem, sem nenhum tiroteio que possa prejudicar a imagem dos jogos. Uma coisa é certa, a população que mora nas imediações, onde as disputas estarão acontecendo, poderá dormir tranquila nestes dias esportivos, longe das balas perdidas da guerra civil vivida pela população carioca, já que a segurança estará hiper reforçada!
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O investimento para que esses jogos acontecessem ultrapassou a casa de 1 bilhão! Para se ter uma ideia do que essa quantia representa, a prefeitura do Rio arrecada cerca de 9 bilhões por ano! Construiu-se um estádio de futebol fulgurante, no nível da Europa; as dependências da arena onde vão acontecer as disputas da ginástica artística são fabulosas; a vila onde os atletas estarão hospedados é um lugar belíssimo, com água filtrada até nas torneiras, ar condicionado em todos os apartamentos que compõem a Vila Panamericana, acesso a internet banda larga e outras "regalias"! Convenhamos que são instalações de primeiro mundo, não estamos com isso querendo dizer que deveria ser diferente, muito pelo contrário, entendemos que as instalações deveriam abrigar os competidores com todo o conforto que a situação indica. Eventos desse porte trazem benefícios para a cidade, além de possibilitar investimentos que só acontecem por causa da sua realização! Uma coisa não pode ser esquecida: estamos falando de esporte de alto rendimento, embora com a "pele de amador", não nos esqueçamos que Jadel Gregório vive na Inglaterra, só para citar um exemplo, portanto, estamos investindo numa minoria, pensando no espetáculo, o velho e gasto pão e circo, apenas isso!
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Curiosamente, toda essa pompa, poderíamos dizer todo esse luxo, vai estar lado a lado com todas as agruras por que passa a cidade do Rio de Janeiro! Falta de infraestrutura, moradia, a violência urbana, ou melhor, a guerra travada todos os dias entre polícia e traficantes, a morte de inocentes pelas balas perdidas, pelos estilhaços e a condição de pobreza de pelo menos 400 favelas! Dentro dessa "moldura", o esporte de alto rendimento conseguiu capitalizar para a realização de uma "festa de 16 dias", uma soma fantástica para a construção de "monumentos", tudo isso em meio à pobreza, miséria e violência que campeiam por todos os poros da cidade! Os defensores dessa indecência dirão que quando os jogos acabarem a cidade vai ganhar tudo o que foi construído com a sua realização, de presente, oxalá não seja de grego! Ganha a cidade ou ganham alguns que vão se locupletar explorando os "edifícios" construídos? Na realidade, toda a luminosidade, todos esses holofotes trazidos pela realização dos jogos, não iluminarão a cidade por inteira, parte dela ficará às escuras, para que não ofusque o brilho dos jogos que tanto se batalhou para que fossem realizados no Brasil. Esperam os realizadores, confiantes nas suas forças de segurança que o morro, com toda a sua idiossincrasia, não desça, que não venha atrapalhar a festa, não venha desafinar a bateria!
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Por outro lado, em relação à mídia, além das já costumeiras apologias esportivas que teremos que aguentar rotineiramente, vai ser duro suportar a forma como o aparelho midiático vai elaborar seu discurso em torno do evento! Seremos levados a conhecer a pulga do cachorro do vizinho do competidor lá de Taiobeiras, com todo o respeito que essa cidade merece, justamente porque ele quebrou o recorde taiobeirense de lançamento de peso! A história contada pela pulga nos sensibilizará, isso porque o atleta treinou horas e horas sob o sol escaldante, descalço, pois não possuía dinheiro para comprar equipamento apropriado, usando o "jeitinho brasileiro" para superar todos os obstáculos, e a recompensa veio, enfim, a medalha do pan-2007! O certo é que no final do relato da pulga do cachorro do vizinho estaremos todos em prantos, o que não sei ao certo é se pelo feito do "sertanejo" ou pelas perguntas imbecis que certamente serão feitas pelo repórter de plantão ao inseto...