domingo, 31 de maio de 2009

Enchentes no Nordeste...

Sei que o que vou dizer pode parecer, aos olhos de alguns, bairrismo, mas é necessário que seja dito, até porque desvela essa cínica hipocrisia que tomou conta dos noticiários sobre as enchentes do nordeste. Quando há seis meses as águas invadiram Santa Catarina houve uma verdadeira comoção nacional, parecia que o Brasil inteiro estava voltado para o que ocorria por aqui, vocês devem estar lembrados que o principal jornal da Globo foi transmitido em uma das cidades alagadas por noites seguidas; eu, com a minha ingenuidade nordestina, pensei que como a tragédia lá em cima foi distribuída pelos estados que compõem a região, que o Jornal Nacional seria transmitido a cada dia em um desses estados para ampliar a visibilidade dos brasileiros, não foi esse o objetivo da emissora ao fazer a transmissão do jornal diretamente de Santa Catarina?
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Porque estou morando atualmente do lado de baixo do mapa, familiares e amigos ao verem o estado em que ficaram as cidades catarinenses apressaram-se em saber se estava tudo bem comigo, usando um trocadilho infame, diria que choveram e-mails e telefonemas! Como é do conhecimento de todos, Florianópolis não foi tão maltratada pelas enchentes, mas para quem estava fora daqui parecia que toda Santa Catarina estava sob águas! Foi um "espetáculo televisivo" dos mais assustadores. A tragédia provocou os mais diferentes sentimentos! Vimos atitudes de pessoas, em alguns lugares, que beiravam o animalesco, houve desde invasão a supermercados até a apropriação das doações feitas para os sitiados! O fato é que ainda há muitos problemas em consequência da intempérie que atingiu Santa Catarina, mas o que não podemos deixar de dizer é que houve uma mobilização extraordinária para ajudar os flagelados, até os pilotos de fórmula 1 fizeram a sua parte!
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Não por acaso, as águas resolveram "subir" e a região nordeste foi agraciada com uma quantidade de água descomunal. Alagamentos se tornaram constantes. Pelo visto, nenhum estado foi poupado da fúria das águas, uns mais outros menos, mas todos foram contemplados! Sei que não deveria ficar surpreso com a forma que a mídia vem tratando o evento. Enquanto a tragédia de fins do ano passado em Santa Catarina ganhou contornos planetários, houve uma mobilização geral, até a toda poderosa Rede Globo desceu para VER os estragos, contudo não percebi a mesma intensidade com os meus irmãozinhos lá de cima! Em relação às doações algo surreal aconteceu que é preciso que seja dito. Vimos, naquele momento, o roto nordestino ajudando ao "esfarrapado" do sul; a grande ironia é que os primeiros que não têm nem para si, arrumaram uma maneira de ajudar àqueles que estão na parte de baixo do mapa, como? Só Deus sabe! Para não ficar parecendo que é a conversa do eterno nordestino sofredor, não vou colocar aqui as cifras que vieram lá de cima, comparando com a quantidade de recursos que subiu até o momento, mas o fato é que não houve a mesma proporção no que tange à solidariedade!
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Quando Lula usou a metáfora dos olhos azuis, muito fizeram uma leitura equivocada, falando em discriminação e outras bobagens. Na verdade, e olha que não sou porta-voz do presidente, o que ele quis dizer é que os que podem gastam sozinhos, mas na hora de pagar a conta é repartida por todos! Vemos na inundação do nordeste a materialização daquela metáfora. Percebam que as imagens da tragédia nordestina passa na tv sem a mesma conotação que vimos meses atrás, a impressão que se tem é que os olhos azuis, aqueles mesmos que o presidente falou, entendem que o que aconteceu pelas bandas do sul não deveria ter ocorrido, foi um acontecimento extemporâneo, mas para o povo lá de cima, que está tão acostumado com a miséria, o que está contecendo é algo NATURAL, foi sempre assim e sempre será, só podemos remediar! Neste momento me vem à memória a canção de Gordurinha e Nelinho que, notabilizada por Luís Gonzaga, reforça o sentimento dos que têm os olhos azuis:
Súplica Cearense
Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o Senhor se zangou
E só por isso o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedi a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

sábado, 30 de maio de 2009

Futebol Familiar...

O Brasil, por conta do seu processo de colonização, recebeu como herança para os "filhos deste solo" a marca da subserviência, a consequência desse "presente" é que tudo que é feito na metrópole, entende-se que é o modelo que deve ser seguido ao pé da letra, já que tudo que é feito lá é melhor, mais fino e muito mais organizado comparado com o que fazemos aqui! Quando a corte portuguesa, fugindo com as calças na mão da fúria de Napoleão, aqui se estabeleceu, houve uma apologia da nossa flora e fauna, exaltava-se o ambiente natural, porém essa mesma corte vestia-se como se estivesse na fria Europa! Depreende-se que em nenhum momento o colonizador, nem na necessidade extrema, abriu mão do seu modelo, do seu lugar!
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Leonardo, um neocolonizado, criado no Flamengo, hoje dirigente do Milan, ao ser inquirido sobre a situação dos times do futebol brasileiro foi taxativo, explicou que caso continuemos com essa estrutura, onde os grandes times são geridos, recorrentemente, pela paixão, nosso futuro será sombrio. Contudo via no modelo europeu de gestão uma possível saída para o nosso caos futebolístico! O que quis dizer com isso? Que nossos times também deveriam ter proprietários como lá na metrópole! Em linhas gerais, com o formato que temos hoje, seremos eternos exportadores de "matéria prima". Fazendo uma analogia bem canhestra com o período colonial, temos o que aconteceu com o ouro brasileiro que foi transferido para Portugal (e ainda tem besta que diz que português é besta!), nossas melhores pepitas estão saindo cada vez mais cedo da terra brasilis para jogar nas metrópoles européias!
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Na Itália quando os torcedores do Milan vibram com os gols de Kaká, Alexandre Pato e Ronaldinho Gaúcho, por consequência, também vibram com o sucesso e a riqueza da família Belusconi, não há como fugir dessa lógica aristotélica! Mas, diz Leonardo que, em última instância, quem decide sobre o futuro do Milan/Belusconi é a TORCIDA, por favor, não riam! Em outras palavras, isso quer dizer que são os torcedores que gerem as finanças daquela poderosa família! O que lhes parece? Fiquei pensando, só de sacanagem, se o Grande Vitória pertencesse à família Magalhães, cruz credo! Imaginem eu no Barradão gritando a pleno pulmões: "Bora, ACM NETO!" Como o Coiso é de segunda, por ironia e para rimar, seria comprado por aquela loja daquele cara chato que perguntava: "quer pagar quanto?!"
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Acho que em relação aos times isso talvez demore um pouco, porém em relação à seleção brasileira isso já é fato consumado, muito antes do que vocês imaginam ela deverá ser chamada Havelange! Desde que me entendo por gente, como dizia a minha avó, e olha que isso já tem mais de meio século, a família Havelange é quem manda no futebol brasileiro e é a dona/proprietária da seleção, que alguns trouxas teimam em chamar de brasileira! Já nem lembro há quanto tempo o genro de João Hevelange é o presidente da CBF! O curioso é que não vi nenhuma das grandes corporações midiáticas falar em ditadura, se fosse o Chávez! O que eu não sabia era que a neta do Homem, Joana Havelange, filha de Ricardo Teixeira, fosse a secretária administrativa da copa que será realizada aqui, em 2014! Faz pouco tempo que a dita cuja tinha uma griffe de bolsas, que mudança! Por isso, retiro o que disse, não é uma ditadura o que temos no futebol brasileiro, isso já se configura em uma monarquia! O futebol viveu trocentos anos sob a tutela de D. Havelange I, que abdicou a favor do seu genro D. Teixeira I, pelo andar da carruagem, dá para prever o resto da história, não é?
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Voltemos à nossa mania de viver sob a inspiração da metrópole. Já copiamos todos os modelos dos torneios europeus! As competições por aqui têm o mesmo formato das que se realizam por lá, tudo igualzinho ao que fazem os nossos antigos colonizadores! Viva a neocolonização! Agora quem diz a que horas meu time vai jogar é a novela de Dona Zizi Baptista, mãe do cantor de pagode Menino Ró, moradora da Fazenda Grande do Retiro, em Salvador! Tudo leva a crer que muito em breve estaremos torcendo para times familiares, do tipo: Marinho, Moraes, Magalhães, Diniz! Não tenho nem dúvida que, como na Itália que torce para o time do dono e o dono do time, estaremos "brigando" com os torcedores rivais afirmando que vitória do E. C. Votorantim contra o Maluf F.C. foi injusta, o juiz errou ao marcar aquela penalidade contra o time do nosso querido Paulinho! Acharam surreal? Saibam que num país onde há senador, com mais de 60 anos, sem um fio de cabelo branco, tudo é possível...

sábado, 23 de maio de 2009

Ilha de Santa Catarina...

Não é verdade que tem coisas que só acontecem com o Botafogo! Saibam que viver numa ilha, sendo filho de uma terra como a Bahia, não é algo fácil! Logo que aqui cheguei tive que superar um frio de rachar, de rachar, não, de enrugar! Suportar 4 graus, para quem veio de uma cidade cujas temperaturas chegam a mais de 40, convenhamos, não é pouca coisa! É fato que sou uma pessoa friorenta, já senti frio com o termômetro marcando 28 graus, e olha que não estava doente ou qualquer coisa que o valha, inclusive tenho testemunhas oculares que podem provar o que estou dizendo! Pensei que depois do frio não houvesse mais nada que pudesse me tirar do sério por essas plagas, ledo engano, na verdade, há mais coisas entre o céu e a terra de uma ilha do que supõe a nossa vã filosofia, essa alegação não é do Shakespeare?
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Houve um evento numa cidade próxima, Tubarão, bem, o próxima fica por minha conta. Imaginei que em apenas uma hora chegasse ao local, que nada, tive que adicionar mais 75 minutos ao trajeto! Pensei em comprar a passagem de volta logo que cheguei, mas como não tinha certeza da hora que terminaria o seminário, deixei para mais tarde! "Tudo bem, então?" Perguntei-me. Quem disse? Não foi fácil encontrar o espaço onde estavam os outros participantes! Depois de um longo e tenebroso inverno, acabou o sofrimento! O seminário se desenrolou normalmente, sendo concluído sem nenhum contratempo no horário previsto, ufa, já não era sem tempo! Quer dizer, tinha que pensar no retorno a Florianópolis, para minha surpresa, havia três possibilidades! Dois automóveis e mais a linha regular de ônibus! Digam-me, aí, como decidir numa situação como essa? Carro ou ônibus? Ser ou não ser, eis a questão! Opa, outra vez o bardo inglês?
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Vocês já devem ter adivinhado que optei pelo automóvel, claro! Já pensaram o que diriam desse sortudo se resolvo voltar de coletivo? A viagem foi muito tranqüila, o camarada que me trouxe era super gente fina! Não poderia ser melhor, eu disse não poderia?! Na realidade, o problema começou quando chegamos à estrada que dá acesso a Florianópolis! Ele me disse como encontrar um coletivo para chegar ao centro da cidade. Andei, andei, andei, ufa, terminei chegando a um ponto de ônibus! A informação que me deram: "ande por toda a vida, quando chegar em uma placa azul, pode esperar que dali a cinco minutos vai passar um ônibus para Kobrasol, você conhece a cor azul, não conhece?" Agradeci pela informação, não sem antes afirmar que conhecia a cor azul!
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Notei que por essas bandas, há uns nomes de bairros bastante interessantes. CampecheSaco Grande, Saco dos Limões, Cacupé e Kobrasol são alguns! Bom, bastou chegar ao ponto de parada que o tal do Kobrasol apareceu! Viva, não é que o informante sabia das coisas?! Parece que as coisas só acontecem mesmo com o Botafogo! Minha sorte estava realmente mudando, depois de alguns "pequenos" imprevistos estava voltando para casa. Contudo notei que havia algo estranho. Depois que entrei no coletivo, as pessoas só desciam! A cada ponto de parada só uma porta se abria! Pensei cá comigo, nunca, em tempo algum, um ônibus conclui sua jornada no centro da cidade, mas por que justamente aquele faria isso? Fiquei muito mais encabulado quando, sem quê nem para quê, a cobradora se foi, deixando sua cadeira completamente vazia! Que coisa estranha, não? Quando dei por mim, e não estou falando da poesia de Flávio Venturini, só restavam eu e o motorista, que foi logo me avisando: "aqui é o ponto final" "Final, como assim?" "Mandaram-me pegar Kobrasol para chegar ao centro de Florianópolis" No que ele retrucou: "era Kobrasol Expresso!" Quase, como o fez Chico Buarque, chamei o meu informante, não de filho da santa, mas sim de filho da outra! Resolvi deixar para lá, para que me estressar mais ainda? Por fim, dois coletivos depois, cheguei a casa totalmente exausto, pois ainda tive que esperar pelo coletivo Volta ao Morro Carvoeira! Fala a verdade, não seria bem melhor ter voltado de Tubarão de ônibus?...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A "bela" vida do menino de pijama listrado...

Há alguns anos, participei de um curso com um professor cuja obra era uma referência para mim. Diria que foi o encontro do leitor cuidadoso com um autor criativo. A pergunta que me fazia era se criador e criatura se espelhariam. É fato que nem sempre um e outra se assemelham! Na verdade, o professor se mostrou uma pessoa extremamente generosa, preenchendo todas as expectativas. Numa de nossas aulas, conversávamos sobre o filme de Roberto Benigni, A vida é bela, a sensação daquele momento, quando eu, talvez para impressioná-lo, dissera que aquela história era por demais inverossímil: "como poderia uma criança passar o tempo inteiro num campo de concentração e acreditar que aquilo tudo não passava de um jogo?" Ele nem sequer pigarreou, respondeu de chofre: "A arte não tem que ser verossímil!" A frase saiu de forma tão intensa que não me deixou outra alternativa a não ser concordar! Sim, quem disse que a arte tinha que ser verossímil? lembrei imediatamente dos quadros de Salvador Dali, Modigliani, Tarsila do Amaral que fugiram completamente do "padrão", então não havia como discordar, o velho professor estava coberto de razão!
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Desde então, todas as vezes que me deparo com algo parecido, aquela frase me vem à memória! Não tive como evitar a lembrança daquele professor quando terminei de ver o filme O menino do pijama listrado. Neste filme, como no de Benigni, temos uma criança que não "percebe" que vive num mundo em guerra, sequer faz idéia das atrocidades que são cometidas nem o que é um campo de extermínio nazista, mas fica "curioso" com o cheiro exalado pelas chaminés próximas a sua casa. Na realidade, são dois meninos de pijama. Ambos têm oito anos, um está na parte de dentro da cerca do campo de extermínio, o outro é filho do oficial alemão que administra o tal campo. Façamos, neste momento, uma digressão necessária. Todos já devem ter percebido como filmes cujo enredo destaca o holocausto são recorrentes. Exemplos temos aos montes, podemos citar: A lista de Schindler, A vida é bela, O pianista, O leitor, O menino do pijama listrado, entre muitos. Há um filme impactante sobre a temática, quase sempre, a cada dois anos. O deste ano foi "O leitor"Não estou querendo com isso dizer que devemos esquecer as barbaridades cometidas por Hitler e seus comandados, mas o cerne da história é sempre o mesmo. Temos que lembrar constantemente o que houve para que isso não se repita novamente, mas essa repetição ad aeternum soa forçada. Há outras atrocidades cometidas por portugueses, ingleses, americanos contra índios, negros e ciganos  que não têm essa "mídia"! Por que não vemos essa mesma recorrência, por exemplo, com a Questão Palestina.  Aliás, quando os filmes dão destaque aos palestinos, são sempre eles os terroristas!
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Mas voltemos à história d'o menino do pijama listrado. No filme, por uma grande ironia, a criança do lado de dentro da cerca e a de fora dela se tornam amigas! Como a de fora sequer imagina o que acontece do lado de dentro da cerca, sente-se solitária, já que não tem ninguém para brincar, enquanto seu novo amigo do outro lado da cerca tem uma quantidade enorme de amigos para se divertir, sente inveja daquele mundo onde os pijamas são listrados! A amizade faz com que ambos joguem desde bola a damas, claro que cada um do seu lado da cerca. Vendo essas cenas, aquela frase do professor não me saía da cabeça, mas não posso deixar de dizer que as achei patéticas! Para piorar minha situação, o pai do menino de dentro "desaparece". Segundo o menino de dentro, saíra com alguns soldados e não fora mais visto. Esse desaparecimento, leva o menino de fora a pensar num "jogo" para encontrar o pai do amigo! Pede então que o amigo arranje um pijama para ele e entra no campo...Não vou contar o que acontece, mesmo porque é bom que cada um possa ver e pensar a respeito, apesar de tudo isso, continuo concordando com a frase do velho professor, sim, a arte não tem que ser verossímil, o que mudou é que nem  "a vida é bela" nem "o menino do pijama listrado"  são Arte no strictu sensu, na verdade, não passam de simples entretenimento, nada mais que isso, neste sentido, o velho professor se enganou...

domingo, 3 de maio de 2009