sábado, 30 de janeiro de 2010

Coisas (in) comuns...

Dizem as más línguas que independentemente da posição política, religião, etnia ou opção sexual, os pais tendem a ser, quando maduros, mais conservadores que os seus pais foram! Juro que não conheço nenhum estudo que confirme essa tese, por outro turno, também não conheço nenhum que a negue! Isso quer dizer que a ciência ainda não meteu o bedelho, portanto, vale o que diz o senso comum! Olhando pela janela  do apartamento, observamos que o filho de Marcelo D2 se prepara para se "jogar" na balada.  Nota-se que está com muita pressa, lógico, não quer perder o melhor da festa. Pelos seus cálculos, espera "ficar" com algumas meninas, nesta noite que promete, por isso, meticulosamente prepara alguns baseados. Marijuana da boa, pensa lá com os botões dele! Marcelo D2 ao ver a quantidade de "papelotes", cheio de dedos, pergunta: "Filho, não é uma quantidade "abusiva"? Parece que há estudos que comprovam que o excesso de maconha faz com que as pessoas raciocinem mais lentamente, deixando, por isso, de ocupar seus espaços no mercado de trabalho. O moleque pensa um pouco e solta essa: "pai, não se preocupe. Pelo que sei havia uma banda, na década de 1990 do século passado, chamada Planet Hemp, cujo vocalista só cantava "chapadão", era um verdadeiro morrão fumegante. Você precisava ver os olhos dele, pai! Quando em 2001 a banda acabou, por causa da carreira solo dele, esse mesmo vocalista, não perdeu espaço no "mercado de trabalho", muito pelo contrário, ocupou o espaço de outros, virou "sambista" e faz o maior sucesso, tá ligado?" E saiu cantarolando: "Eu me desenvolvo e evoluo com meu pai!" É verdade, às vezes, os filhos são tão perversos!
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Dizem as más línguas que os critérios escolhidos para avaliar as provas do ENEM são, no mínimo, esdrúxulos, para evitar falar palavrões. Estava claro para alguns que não seria fácil resolver a questão da pontuação dos candidatos. Por isso, todos queriam saber qual foi a equação que possibilitou fechar os números finais de cada concorrente, afinal, não foi pouca gente. O que não se pode esquecer é que o ENEM não passa de mais uma solução pontual para o grande problema que é achar "espaço" para o ingresso  do número cada vez maior de pessoas às universidades, entra ano e sai ano e o carcomido vestibular resiste a tudo e a todos! A fórmula apresentada não deixa de assustar pela "preciosidade" do resultado. Indagado como se chegou àqueles números, um técnico do MEC disse que as questões com mais acertos valiam menos (sic), enquanto aquelas em que o número de acertos foi menor, valiam mais (sic). É puro contra-senso. O que está em jogo é o ERRO! A questão é considerada "importante" se poucas pessoas acertaram! Em nosso simulado, um teste de conhecimento gerais, é possível verificar o quão estúpido é esse formato! Digamos, hipoteticamente, que a pergunta qual os nomes dos senadores que violaram o painel do congresso em 2001 tenha sido acertada pela maioria, enquanto que a questão qual o nome da amante do ex-presidente do senado Renan Calheiros tenha sido acertada por poucos. A alcova de Renan Calheiros e Monica Veloso é o "conhecimento" que vai balizar o ingresso?! Por mais estranho que seja, é! É o acaso quem decide qual ou quais as questões são determinantes para o ingresso do estudante na universidade! A resposta do técnico merece "aprovação" com louvor: "esse é um critério usado internacionalmente", ou seja, o que é bom para "eles" é bom para nós!
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Dizem as más linguas que o futebol brasileiro está voltando aos seus momentos de glória! Eu concordo! Para que isso seja percebido, basta um pouco de boa vontade. É claro que os rabugentos de plantão discordarão veementemente! Nunca estão satisfeitos. Contudo contra fatos não há argumentos. O campeonato brasileiro, além de ser um sucesso de renda e de público, nos últimos anos, tem estado recheado de estrelas, coisa que não vinha acontecendo! Perdíamos nossos craques tão logo surgiam para os clubes estrangeiros. O faturamento junto ao torcedor se tornara insignificante, mas com os novos tempos voltamos a ver a bilheteria como uma atraente fonte de receita para os clubes. Sem contar a sagacidade de alguns dirigentes que conseguiram tranformar as camisas dos times (antigo "manto sagrado") em outdoors onde se vende de tudo um pouco, de calcinha a lâmina de barbear, coisa impensável em outros tempos! Tudo bem que Ronaldo e Roberto Carlos não são mais tão jovens, e o segundo tenha se  oferecido descaradamente ao Real Madrid, mas são craques que optaram por jogar aqui, sem contar Adriano, o imperador, que abriu mão de atuar na Itália para prestigiar o futebol brasileiro! A mais recente investida internacional do nosso rico futebol foi o repatriamento feito pelo Santos F.C. que trouxe nada mais nada menos que Robinho, sim, aquele mesmo que jogou no Real Madrid e que vinha atuando brilhantemente no futebol inglês! Eu sei que você vai argumentar que é só até o dia 04/08/2010! Eu sei que vai dizer que agosto é mês oito e portanto são apenas  7 meses! Que nesse  entremeio tem a copa do mundo, a preparação para o evnto e que no fundo restarão uns 3 meses, se muito, e que ele só está vindo porque é um oportunista, cujo objetivo é ser convocado para a seleção, coisa que não aconteceria jogando na reserva do Manchester City! Sabe o que eu responde para pessoas iguais a você? Foram os pessimistas que fizeram nosso futebol chegar ao fundo do poço. Foram, vocês, os radicais que, por não serem humildes,  não perceberam que havia uma crise e que era necessário fazer alguns sacrifícios, dá um passo atrás, para lançar dois a frente! Neste momento, Robinho vem e atua por 2, 3 meses, Isso deixa nossos cofres fortes, criando um atrativo a mais para a vinda de nomes como: Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Messi, Cristiano Ronaldo, não é?...

domingo, 24 de janeiro de 2010

O Haiti é aqui...


Na década de 1990 do século passado dois compositores baianos fizeram uma canção cujo refrão era: "o Haiti é aqui, o Haiti não é aqui". Estávamos distante geograficamente do Caribe, mas socialmente quase "siameses" daquele país, o "quase", aí, fica por minha conta. Hoje, duas décadas depois, será que ainda espelhamos o que diz a canção? Não podemos negar que algo mudou, isso é visível, afinal, o Brasil  faz parte do núcleo dos "invasores", cujo eufemismo  conhecemos como "tropas de paz da ONU", responsável pela suposta proteção de um Estado que não é Estado! Trata-se de um país dos mais miseráveis do planeta, localizado "quase" no "quintal" dos EUA e que já foi invadido por estes por 19 anos (entre 1915 e 1934) sob a alegação que era para proteger seu interesses no país. Em sua história, teve o "privilégio" de ser governado por um longo período, depois da implantação de um regime de terror em 1957, pela "dinastia doc", isto é, o pai, François Duvalier (Papa Doc) e o filho, o Jean-Claude Duvalier (Baby Doc). Papa Doc impôs mão de ferro à política haitiana até sua morte, ocorrida em 1971. Baby Doc substituiu seu genitor, ficando até 1986 quando fugiu e se asilou na França! De lá para cá, pouquíssima coisa mudou na política do país, regada a golpes e afins, embora o terrorismo político, com a cara dos Doc`s, tenha desaparecido, o país continua sendo terra de ninguém.
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Para os que acreditam em destino, ou seja, que tudo o que acontece já está escrito em um "grande livro", é bem provável que veja no(s) terromoto(s) que o país vem sofrendo, assim como as duas ditaduras da família Duvalier, como algo dado. Nestas circunstâncias, miséria pouca é bobagem, o negócio é recolher os cacos e "reconstruir" o país devastado pela natureza. Vamos todos ajudar o povo haitiano sofrido enviando doações e adotando seus orfãos, isso é o mínimo que podemos fazer enquanto humanos! Nada da situação anterior é importante agora. A ausência de uma discussão sobre a conjuntura e estrutura deve ser postergada, não faz parte da agenda avaliar as condições sócio-econômicas vividas pelos haitianos, eles ainda não sabem como tocar suas vidas, se faz necessária a presença de outros povos lhes dizendo o que fazer! Na entrega do Globo de Ouro, ao proferir seu discurso, Meryl Streep de forma enfática afirmou: "vamos ajudar, afinal temos o dinheiro." Apesar de não ter percebido arrogância ou prepotência em sua afirmação, se dinheiro não é problema por que não se fez nada antes, já que a tragédia do Haiti era "previsível"?! A fome e miséria no Haiti não é algo novo, os fatos mostram isso. Outra ganhadora do prêmio, Sandra Bullock, confirmando que não falta capital doou UM MILHÃO DE DÓLARES para os pobres haitianos sofridos! Não sei quanto foi arrecadado com o mega show  Hope for Haiti, vi que até um call center foi montado para que os doadores fossem atendidos diretamente pelos seus astros, tudo isso regado a canções e discursos transmitidos ao vivo para o mundo inteiro! Tomara que essa boa vontade continue depois que as luzes se apagarem!
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O que me deixa atônito é ver como essas "solidariedades" se manifestam nas desgraças de forma tão organizada! O Haiti está ali  no mar do Caribe bem "pertinho" dos ricos e bondosos astros dos EUA. Aliviando suas consciências, diríamos que é bem provável que a proximidade lhes obscureça a visão. Estamos constrangidos e penalizados com a grande catástrofe que se abateu sobre o país caribenho, mas sequer perguntamos até quando o território haitiano ficará sob ocupação?! Ver soldados americanos organizando a vida, dando as ordens enquanto os soldados haitianos apenas observam, mostra que existem mais problemas do que supõe a nossa vã filosofia. Não me venham dizer que as tropas da paz e agora os heróis mortos estão/estavam lá para melhorar a qualidade de vida dos habitantes. elas apenas minimizam os conflitos, nada mais que isso! Não se ouve falar em autonomia haitiana! Quando vai se devolver o país a seus filhos? E nós, o que fazemos além de ajudar a patrulhar? "Enviamos" a seleção brasileira para levar um pouco de alegria para aquele povo tão sofrido, ainda que os problemas de infraestrutura teimassem em se mostrar aos ronaldinhos e kakás da vida! Há uma fila de inscritos no mundo inteiro querendo adotar os pobres pretinhos haitianos. Já vimos esse filme em outras ocasiões. Sem querer minimizar a tragédia e o sofrimento daquele povo, é preciso que se diga que as inundações que maltrataram São Paulo deixaram também alguns órfãos que esperam por corações bondosos para adotá-los. Aliás, as encostas da cidade mais rica do país mostram semelhanças com as que existem em profusão no nordeste, nosso maior bolsão de pobreza: "miséria é miséria em qualquer canto, riquezas são diferentes." Caso essas pessoas solidárias do mundo inteiro, incluindo as do Brasil, não queiram ou não consigam adotar os órfãos haitianos, fiquem tranqüilas, vocês ainda podem praticar uma boa ação. Há não só uma quantidade imensa na capital paulista à espera, como também, na Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba...saibam que não faltarão "filhos" para alegrar seus corações carentes. Todavia com uma vantagem em relação ao Haiti, aqui se pode escolher o "que" levar para casa, devido à diversidade de cores dos órfãos...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Para além da indignação...

Uma professora universitária, no interior da Bahia, ao final de um dia estafante de trabalho, retorna para casa com um só pensamento: descansar o corpo fatigado em sua cama macia. Ao verificar sua caixa de correspondência, nota algo parecido com um "bilhete" (ou seria uma "carta"?) no seu interior, sem envelope e escrito numa folha de caderno comum. A princípio não deu muita atenção àquilo, "deve ser alguma bobagem", pensou. Não saberia dizer qual a razão, mas antes de fazer outra coisa qualquer, ficou curiosa com aquele "documento" excêntrico e resolveu abri-lo. À medida que lia, sua pele que já era clara, ficava parecida com pergaminho! Na realidade, o conteúdo trazia uma ameaça de estupro e morte, caso ela não cumprisse as exigências do autor do "bilhete"! Queria uma certa quantia em dinheiro. Pela estrutura sintática, percebia-se que o "missivista" tinha dificuldade de se exprimir, mas ainda assim, sabia muito bem o que queria dizer!
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Aturdida, e chegando ao desespero, fez rapidamente uma ligação pedindo ajuda a alguns amigos. Naquele momento, já não conseguia raciocinar direito, some-se a tudo isso o desgaste que o dia de trabalho lhe inflingira! A sugestão de todos os presentes em sua casa foi unânime: ir imediatamente à polícia registrar a ocorrência e buscar se proteger de um possível ataque naquela noite, embora a ameaça, em tom de ultimato, sinalizasse que o prazo se expiraria à tarde do dia seguinte! Fomos todos à delegacia, não sem antes ter o maior cuidado com a prova, colocando-a em um saco plástico para não perder as digitais. Achávamos que seríamos atendidos tão logo os prepostos da polícia tomassem conhecimento do fato. Afinal, estava ali uma mulher que tinha sido ameaçada de estupro e morte! Ledo engano. Além de não dá a devida importância ao fato, percebia-se um total descaso, certa zombaria por parte da "lei". Quando mostramos a "prova", o agente, rindo, falou que estávamos assistindo a muito filme policial americano. Que as impressões digitais contidas ali não provavam nada, sequer tínhamos uma testemunha, quem iria garantir que a vítima não forjara a prova, quem sabe contra um vizinho que não gostava? Era preciso algo mais para que alguma providência fosse tomada! Minha amiga, já perdendo a calma, vociferou: "então, se o autor do bilhete me matar, aí sim, teremos uma prova irrefutável!" O delegado meio  zombeteiro assentiu com a cabeça!
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Fomos tomados pela indignação. Minha amiga possessa correu o risco de ser presa por desacato à autoridade, pois começou a dizer algumas verdades naquele recinto onde os responsáveis pela segurança pública tripudiavam da nossa ingenuidade por pensarmos que também fazíamos parte daqueles que deveriam ser protegidos!? A lei serve a "alguns". O delegado dissera que se ela fosse senadora a polícia teria a obrigação de protegê-la, mas não passava de uma simples professora universitária! Por estranha ironia, só entendi realmente a nossa pequenez, o quanto somos "insignificantes" perante a lei, quando vi o assassinato, em cadeia nacional, da cabeleireira Maria Islaine de Moraes, povo até no nome. Dona de um salão de beleza, no bairro Santa Mônica, na região norte de Belo Horizonte, colocou câmeras, que ingênua, para se proteger de um ex-marido que a ameaçara! Ela não fazia idéia que aquilo que julgava ser uma forma de proteção, era, na verdade, a preparação da filmagem da sua própria morte! Vejo a materialização daquilo que minha amiga, professora, dissera ao delegado, naquela pequena cidade do interior da Bahia, com um agravante.  Enquanto lá o argumento era que não se podia fazer nada por não se saber quem seria o autor  do bilhete, aqui a polícia sabia que Fabio Willian da Silva era um potencial assassino, afinal de contas, existiam registradas mais de 8 queixas contra o indivíduo. Todos os prepostos ouvidos deram a impressão que não são os responsáveis e que só as investigações vão provar se houve ou não falha da polícia!? Recordando agora o escárnio do delegado quando mostramos o bilhete, tolos preocupados com a  preservação das digitais, percebo que Maria Islaine de Moraes não tinha nenhuma chance de escapar da sanha assassina do seu ex-companheiro. A polícia daria proteção a uma mulher do povo? Mulheres são assassinadas e ficarmos apenas indignados com tamanha crueldade não basta. É preciso mais do que isso. Tornamo-nos pessoas de segunda ordem, e o que é pior, estamos aceitando passivamente essa "condecoração". Infelizmente, Maria Islaine de Moraes só não morreria se fosse senadora...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Futebol e Batatas Fritas...


Quando criança, por conta da força esportiva do eixo Rio - São Paulo, o comum era torcer por três times: o local e mais dois do sudeste. Pelé e outros tornavam insignificantes as representações esportivas de outros lugares. Essa situação hoje está muito mais diluída. O eixo perdeu sua força em relação à escolha, mas ainda continua sendo ponto de referência. Isso faz com que pessoas sequer torçam para times do seu estado. Aqui para nós,  Hélio dos Anjos, treinador do Goiás, fica endiabrado com isso. É preciso que se diga que a preferência acontecia com os filhos de pais torcedores. Todos sabem que geralmente é o pai quem "sugere" o time do filho, é claro que as exceções estão aí para confirmar a regra, mas, comumente, somos "convencidos" pela solércia dos "velhos" que o melhor time é aquele para o qual eles torcem! Têm aqueles que muito antes de a criança nascer, compram  todos os artefatos possíveis e imagináveis, iniciando logo no ventre a campanha "amistosa" de convencimento! Não há nada de científico nesta equação, porém os dados mostram que 'quase' 100% deles conseguem realizar seus objetivos, principalmente se a criança for menino. Duvida? Faça uma pequena enquete aí no seu bairro, é batata! Como meu pai não era apaixonado por time nenhum, fui convencido, "acidentalmente", por um amigo na escolha do time do coração. Naquela manhã, a molecada estava reunida para bater o baba e eis que me é feita a pergunta fatal: "qual é o seu time?" Na verdade, não tinha nenhum, embora já devesse ter, mas para não passar por tolo, disse o que me veio à cabeça: "Flamengo?!" Meu amigo, muito ladino, foi logo esclarecendo. "Ah! Como aqui não tem Flamengo, então, na Bahia, por causa das cores, você é Vitória, no Rio, sim, é Flamengo, agora em São Paulo, só pode ser Santos!" Disse isso de uma só tacada sem explicar qual a razão da minha "opção" em São Paulo, já que o  Santos é alvinegro! Afinal, não eram as cores o critério para a "escolha", segundo o perito? Não sei bem qual a razão, mas o Vitória se consolidou como paixão eterna, quanto aos outros dois, foram esquecidos completamente, tornaram-se algo insignificante! Duas coisas curiosas me chamaram a atenção, tempos depois, em razão da minha "escolha" clubística. A primeira foi ouvir meu pai, anos mais tarde, em conversa com amigos dele, dizer que eu era Vitória desde criancinha! Dizia ele que como não sabia falar o nome direito, ficava repetindo: tória, tória, tória! Mentira? Não, sejamos bondosos com o velho, falha da memória afetiva! A segunda, minha filha foi convencida, não por mim, mas pelo Vitória, a ser apenas Vitória! Segundo ela, quem TORCE para mais de UM, NÃO TORCE PARA NENHUM! Sabem o que torna a escolha dela única e sublime? É que não tive nenhum influência na sua decisão! Mentira? Ah! Então, pergunta a ela!
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Depois de quase seis anos, assisti "Super size me - a dieta do palhaço". Caso não  lembremé aquele filme em que um sujeito se alimenta durante 30 dias, do café da manhã ao jantar, só com fast food do McDonald's! Quando da sua exibição nos cinemas, causou pânico à empresa de "alimentos" por conta da fuga da freguesia! Valeu muito à pena tê-lo visto agora, sem o barulho costumeiro dos lançamentos cinematográficos. Há dois momentos nos extras, do DVD, que são uma verdadeira provocação. O primeiro está relacionado às entrevistas. Destaque para que é feita com os responsáveis pelo marketing das frituras, ou seja, os que vão convencer, adultos e crianças, que aquilo que é vendido pelo McDonald's deve ser consumido de forma irrestrita! Não faz mal nenhum comer umas batatinhas! Agora o mais estarrecedor é o experimento que é feito com hambúrguer e fritas comuns e as estrelas do McDonald's, o BigMac entre eles. Todos são acondicionados em frascos, sendo observados durante 10 semanas. O objetivo é tentar "decifrar" qual o impacto daquelas "iguarias" dentro do corpo dos consumidores. Para encurtar a história, hambúrguer e fritas comuns se deterioraram logo; quanto às estrelas do fast food, duraram um tempo incomum. Todavia o mais assustador é que após dez semanas as fritas do McDonald's continuavam intactas, sem um fio sequer de bolor! Torradinhas como se tivessem sido preparadas naquele momento exato! Você pode estar se perguntando: mas qual é a ligação entre o primeiro parágrafo e esse, se é que existe? Bem, você tem razão. Na realidade, não passa de uma forçação de barra desse escriba! Vou explicar. O genitor transmite aos filhos coisa boas, via DNA, mas também coisas "ruins"! Herdei a tendência de ter o colesterol alto, por extensão, leguei a minha filha esse incomodo "presente"! Ainda está confuso, não é? Como não obriguei minha filha a escolher o time de futebol, quem sabe não a convenço, com esse escrito (aquilo que nem a ameaça de ser deserdada conseguiu), a ver o tal filme. Vendo-o, fique assustada com a "longevidade" das batatas fritas, deixe de comê-las e, por conseqüência, tenha seu colesterol reduzido a níveis seguros! Aí, poderemos ir ao Barradão, o maior estádio de futebol do planeta, torcer sem que os nossos corações sejam surpreendidos pelos infartos, avc's e outros probleminhas que as frituras ajudam a desencadear. Fala a verdade, não é uma boa tentativa paterna?...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Doutorando...

Domingos Frias de Bragança, sem bajulação ou acordos espúrios, ingressou em um curso de doutorado de nível 7. Caso não saibam o que isso representa, é o maior nível de um programa de pós-graduação no Brasil. Ficara deveras orgulhoso com o feito! Adepto fervoroso daquilo que é conhecido como meritocracia, herdara do pai a vocação. Sabia que nascera para a profissão que escolhera! Nunca se perguntara qual a razão de, geralmente, filho de médico ser médico, assim como, filho de advogado ser advogado, aqui, e apenas aqui, a expressão filho de peixe... é verdadeira! Acreditava que o mundo social tem uma lógica justa, uma certa hierarquia, que deve ser respeitada e obedecida a qualquer custo, sob o risco de atrapalhar o bom funcionamento do sistema, caso aconteça qualquer intempérie. A verdade é que a produção no modo capitalista é caótica e desordenada, mas isso nosso herói não tinha conhecimento ou achava que era algo que não devia se preocupar! Àqueles que questionavam esse "modelo", afirmava que caso não houvesse essa divisão hierárquica, ninguém ia desejar estar nos postos mais baixos na escala do trabalho, os garis são um bom exemplo disso! Machado de Assis ironicamente diria: "aos vencedores, as batatas!" Alguns serão faxineiros, outros, pelas mãos da meritocracia, doutores! E olhem que Domingos Frias de Bragança não tem nenhum parentesco com Bóris Casoy
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Com a inserção na pós-graduação, fizera, mais que rapidamente, aquilo que é de praxe quando se obtém algum produto no mundo acadêmico, uma ampliação no seu capital cultural, como diria Bourdieu, atualizara seu currículo lattes. Aqui, torna-se necessária uma pequena digressão. Quando se chega a este nível de escolaridade, os indivíduos se intitulam doutorandos! O fato é que ninguém se diz graduando quando na universidade, usa-se como artifício o nome do curso, lógico quando este dá certo destaque ao estudante, tipo: "faço medicina"; ou vocês já ouviram alguém dizer sou graduanda em direito ou em matemática? Nesta história, que ora lhes conto, o indivíduo colocou no seu lattes que era doutorando, mas saibam que ele não é o único, 10 entre 11 pós-graduandos proclamam esse "titulo", o que não deixa de ser sarcástico, para não dizer grotesco. A ironia é que há estudantes que quando terminam sua graduação já se dizem doutores (sic). Mas o que vem a ser doutorando, afinal, neste mercado? Será algum nível de excelência? Algum título nobiliárquico? Doutorando não é título, embora seja usado como tal! Convidados que são para congressos e afins, esses "nobres acadêmicos" não se fazem de rogados, inflam o peito e tascam logo no folder: fulano de tal, doutorando! Alguns mais ousados, quando o nível do doutorado é de 5 em diante, não deixam de colocar mais esse dado, isso lhes dá maior visibilidade! O fato é que o currículo lattes se tornou a principal dor de cabeça acadêmica, é hoje o instrumento oficial e responsável pela divulgação da produção científica brasileira. Necessário se faz enchê-lo de penduricalhos para mostrar o quão se é eficiente. Nesta lógica, tudo tem que ser transformado em mais um produto para que os olhos dos órgãos de fomento, como a Capes e o CNPQ, brilhem a favor dos postulantes às bolsas e/ou outros "ganhos"!
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Minha digressão, que seria pequena, fugiu-me ao controle! Voltemos aos problemas do nosso doutorando. Domingos Frias de Bragança descobriu que muitos dos seus professores tendo sobre suas cabeças a espada da produção, encontraram uma saída, no mínimo, suspeita, para que pudessem dar conta do esforço descomunal que é produzir artigos como máquinas! Aliaram a produção dos seus orientandos às suas! A pesquisadora Beatriz Alencar d'Araujo Couto mostra indignação ao analisar a questão, diz ela que isso é: "apenas um exemplo de tudo o que seres humanos são capazes de fazer por alguns minutos de glória ou trocados para financiar pesquisa, não fosse encobrirem uma mudança insidiosa que parece lançar uma grande parte dos pesquisadores atualmente a direcionar a pesquisa para garantir os índices de produtividade que os órgãos de pesquisa pariram sem maiores explicações." Mas o que vem a ser isso na vida do nosso estudante, perdoem-me o ato falho, doutorando? Já incorporado ao locus acadêmico, sabe que não passa de mão-de-obra barata nas mãos do orientador, metaforicamente, é o gari dessa escala hierárquica, que ele, ainda assim, defende! O fato é que descobriu que muitos dos seus professores, costumam "mudar o título e fazer ligeiras alterações no conteúdo e publicar em diversos periódicos," o mesmo artigo! Entretanto mesmo sabendo como o sistema funciona, mesmo sendo um explorado a serviço dessa "máquina", Domingos entendia que, como fiel adepto da meritocracia, isso não era/é algo indecoroso, muito pelo contrário, concorda que faz parte das regras do jogo. Explicava que num futuro nem tão distante, fará o mesmo com seus futuros orientandos! Para provar que estava certo, lançou um desafio, sugeriu que se perguntasse a qualquer doutorando se preferia brigar por uma mudança radical no modelo em voga, correndo o risco de não ter seu diploma de doutor reconhecido pela CAPES, ou aceitar esse darwinismo acadêmico, Domingos Frias de Bragança assinalou que 100% dos doutorandos, se consultados, ficariam com a segunda opção!

Esse tipo de raciocínio é mais cômodo para a academia por esta se encontrar à mercê dos órgãos de fomento, afinal, há a dependência de bolsas e outros recursos. O mais importante é que se cumpra os tais índices de produtividade, embora haja queixas e reclamações quanto ao modelo, "todos" continuam, como carneiros, atualizando seus lattes, fazendo suas pesquisas, dando suas aulas. Nietzsche dissera no século XIX que: “é o rebanho que busca se igualar aos demais e assim dissimular sua mediocridade.” Aquele que, por alguma razão, deixa de cumprir esses "requisitos", é sumariamente alijado da elite que produz artigos em profusão, o que confirmaria a "tese" do nosso doutorando. Note-se que o quadro é sombrio. Muitos dos que poderiam se opor compactuam com o modelo, mais preocupados com suas pesquisas, seus diplomas e/ou as retaliações dos seus orientadores! Felizmente há os que se incomodam com o produtivismo que impera na ciência hoje em dia, para esses e apenas para esses, é fundamental que assumam os riscos de uma outra possibilidade, que assumam os riscos da criação de outros valores éticos, que assumam outro modus vivendi, pois quem é espectador deste teatro de absurdos, parafraseando Glauber Rocha,  ou é cúmplice ou é covarde...