segunda-feira, 21 de março de 2016

Não quero ter um milhão de "amigos"...

É quase certo que não seja o primeiro e nem o único a ficar incomodado com a forma, o fato é que a rede de zuckerberg "determinou" que quem "escolhe" os meus amigos já não sou eu, para isso, há sempre um "inocente intermediário" me lembrando o tempo inteiro que "tenho" algum "amigo" que não sei quem é, ou que "conheço" porque ele conhece alguém que eu conheço; sinceramente, não sei o que é pior, se essa "imposição" ou a famigerada lembrança de datas e datas de aniversários para que os "amigos" não fiquem desapontados com o possível esquecimento, ora, amigo que é amigo também esquece do nosso aniversário e o mundo não acaba por isso! O cara tem mil amigos, no preciso dia do seu aniversário, chovem mensagens apressadas e vazias, são "infinitos parabéns"! Mas voltando à oferta de "amigos", nas últimas semanas se repetiu de forma tão aguda que me deixou constrangido a cada nova solicitação; foi pensando nisso que resolvi desobrigar todos aqueles que têm sido "induzidos/obrigados" a se tornar meus "amigos", ao tempo em que peço repetidas desculpas por essa coação que sou responsável, não sendo! Fico imaginando o que a pessoa sente ao receber essa sugestão de amizade tendo "mil olhos" sobre ela esperando para saber qual vai ser a decisão: "então, vai aceitar ser meu amigo ou não?" No meu caso, esqueçam, por favor, a inscrição "talvez você conheça" e digam um sonoro NÃO ao meu "intermediário oculto"! Tenho uma coisa a lhes confessar: vocês não sabem quem sou, portanto, não me adicionem apenas porque lhes avisaram que sou "amigo" de fulano que também é de sicrano e que "juntos" temos  mais de um milhão de "amigos" em comum!"
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Acredito que amigos vamos construindo e, de quando em vez, eles se vão, como tudo na vida, tenho um monte de ex-amigos, e nem eu e nem eles ficamos infelizes com o fim, sabíamos que amizades também apodrecem! Há um "ingrediente" na amizade que é fundamental chamado afetividade, sem ele, pelo menos para mim, entramos na ciranda, muito comum no sistema, da quantidade representando a qualidade, de ser o primeiro em qualquer coisa, do ter mais e ser mais, da disputa tola e sem sentido por mais "curtidas" naquilo que destacamos como importante, porque são aquelas curtidas que determinam o quanto somos"queridos" ou "atraentes" ou "inteligentes", se estamos bem na foto, mesmo que às vezes usemos confusamente um "pensamento" de Bob Marley na certeza que é de Caetano Veloso ou vice-versa, tipo "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é." Essas postagens me obrigam, invariavelmente, a ter um ranking pessoal, onde vislumbro onde fui MAIS e onde fui MENOS! Um amigo, certa feita, se vangloriava da quantidade de curtidas que sua foto recebera, aquela era "a campeã de audiência", quando larguei essa: "mas meu querido, esse número de curtidas não representa nem 10% da sua quantidade de amigos sem face", desculpem-me, mas não resisti à tentação do trocadilho! Não é anômalo curtidas sobre a morte de um ente querido, contudo o "alguém" que postou seu luto, mensura o sentimento de solidariedade e carinho pelo número de curtidas que recebeu! Mundo estranho esse, não?
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Se você achar que tudo o que disse foi deselegante, descortês ou fora de propósito e que poderia ser um pouco mais "educado" com as pessoas que fazem parte do meu ciclo de amigos e/ou me adicionaram recentemente, por favor, releia o escrevi no primeiro parágrafo. Penso que assim como eu fiquei extremamente constrangido por algumas indicações, é provável que muitos dos que receberam tiveram o mesmo sentimento, porém, para não parecer que são grosseiros ou deselegantes, aceitaram o convite que a rede impôs e querem ser meus amigos, neste caso, exerçam sem-cerimônia o direito de me excluir, fiquem à vontade, aliás, alguns desafetos já o fizeram sem a minha permissão e viveram felizes para sempre! Conhecem aquela canção, daquele cantor que todo final de ano, apresenta um novo velho show? Pois é, ele afirma que deseja e quer ter um milhão de amigos, porém, diferentemente dele, não quero TER um milhão... 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Vingadora, Bell, Kannário, quem foi metralhado?...

"E aí! É nós, depois de nós é nós de novo..." De todas as bobagens que Carnaval da Bahia apresenta, talvez a mais hilária seja a "disputa" pela música vencedora. Já li as coisas mais estapafúrdias a esse respeito. O concorrente do Lepo Lepo afirmou, antes de ter sido anunciado vencedor, que ficara muito tenso com a espera do resultado, tinha receio que não fosse o escolhido! Como a festa se tornou extremamente pasteurizada, as tais músicas e o "concurso" seguem no mesmo diapasão. Aliás, em função do alto grau de artificialidade que a festa adquiriu, neste ano da graça, resolveram que deveriam voltar aos velhos tempos e a pipoca, que foi imortalizada na frase de Caetano, "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu", virou glamour, grande parte dos blocos eliminou a corda, pronto, liberou geral, a democracia voltou a reinar no carnaval baiano! É bom que se diga, no meio da "democrática pipoca", havia um turbilhão de isopores laranja(pipoca?), cujo conteúdo tinha que ser o da "patrocinadora", caso contrário, o ambulante/folião estava fora da "festa"! Inquirido sobre o "abandono" da corda, Bell  Marques soltou essa pérola: "A corda sempre existiu. Na minha opinião, em vez de separar, ela acaba unindo. Porque grande parte do povão acaba vendo de graça algo pago por uma parcela." Que perspicácia, não? Sem querer, imagino, faz uma aproximação com Hegel, afinal, não temos aí o escravo libertando o senhor?
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Havia um tempo em que o período momesco não tinha tanta visibilidade assim, era uma festa feita "para dentro". Na verdade, quando o produto carnaval era, em grande parte, "pipoca", muito diferente da estilizada mostrada este ano, a afiliada da Globo trazia "pedaços" da festa, enquanto a TV Itapoan (Record) transmitia o evento em tempo integral, porém isso não quer dizer que a segunda estava mais preocupada com o fortalecimento da cultura local, isso só acontecia muito mais por falta de opção, naquele momento, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro eram o acontecimento! Mas voltemos ao que discutíamos inicialmente, isto é, o "concurso" da música vencedora do carnaval de 2016. Não sei qual a razão, mas, o Portal R7 (Rede Record) divergiu da escolha feita pela TV Bahia (Rede Globo), não, não vou rir. Os internautas que votaram, não se sabe quantos, elegeram a música Depois de nós, É nós de novo, de Igor Kannário, como o hit do carnaval 2016 com 35,16%, já a música Minha Deusa (cabelo de chapinha) de Bell Marques ficou em segundo, com 34,86%, este já tinha dito que haveria algo errado, não disse onde, caso sua música, lá dele, não fosse a vencedora! Será que Bell ficou em segundo por causa da acusação de preconceito da letra que precisou ser alterada? E Kannário, qual teria sido o motivo de ser o escolhido? Será que a Record quis fazer "média" com os súditos do príncipe do gueto? Contudo, a terceira colocada, quase não dá para acreditar, em função do alvoroço provocado, só se falava dela, antes e durante, foi Paredão Metralhadora da Banda Vingadora, com míseros 20,49%. Qual teria sido o motivo de tão baixa votação? Embora não tenha mencionado o número de votantes, o portal R7 tem a seu favor a heterogeneidade já que o formato escolhido permite a participação de qualquer pessoa com acesso a rede, mas o percentual alcançado pela Vingadora não tem algo errado? O que você acha, Bell?!
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Meu WhatsApp dispara aquele som característico, verifico que é um áudio em que, nada menos que Caetano Veloso, confira aqui http://migre.me/sYDG6, canta a música Paredão Metralhadora; meio surpreso, embora não devesse, ele já cantara Tapinha, indago do amigo que enviara para o grupo, que não confirma, não acredita que seja o filho de Santo Amaro; outro, apressadamente, exalta Caetano por estar antenado com a contemporaneidade! Desconfiado de que podia ser um fake, descubro que são dois! Marcel Fiuza Pires é o nosso fake 1; o fake 2 é Roberto Neves. Provavelmente ambos estão mentindo; qual seria o motivo de dois sujeitos "brigarem" pela autoria de uma "cópia"?! Talvez, por causa da fama efêmera e dos views que se transformam em dinheiro em seus canais no You Tube, já que com os votos do G1 e mais a consulta a 400 foliões nas ruas, a TV Bahia anunciou que a ganhadora do carnaval foi a METRALHADORA! 
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Por alguma razão que a própria razão desconhece, não houve nenhuma menção aos dois primeiros colocados da concorrente, neste caso, uma pergunta se faz necessária, embora isso não tenha nenhuma importância para o Universo, afinal, qual foi a música vencedora do carnaval de Salvador em 2016? Igor Kannário, Bell Marques ou Vingadora? sabemos que hoje o mundo gira a partir das moedas virtuais denominadas "curtidas", "likes" e "views"; a "qualidade" de algo se baseia neste "dinheiro" que circula livremente na rede (principal fonte dos votos da "pesquisa") e transforma fracasso em sucesso. Levando isso em consideração, o You Tube decretou: Vingadora 60.736.687 views; Bell Marques 1.045.242 views; Igor Kannário 579.649 views. Enquanto essa disputa era travada em cima dos trios, lá embaixo, no meio da pipoca, isopores recebiam cacetadas e algemas, alheios aos rios de dinheiro que eles ajudavam os de cima a ganhar...   

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O criador de porcos...


 
Sua casa, se comparada com o que temos hoje, não podia ser chamada de morada, resumia-se a um pequeno quadrilátero coberto com folhas de coqueiro! Na sua infinita melancolia, não sabemos se por comungar com a perspectiva de que ESTAMOS TODOS MORTOS, ajudava o pai do seu pai, um velho analfabeto, na criação de porcos. Mesmo o avô sendo iletrado, considerava-o dotado da mais infinita sabedoria. Ora, nos perguntávamos, em um mundo cercado de imagens e letras utilizadas intensamente (que se diga, as imagens e não as letras), isso não seria um paradoxo? Poderíamos, do alto da nossa arrogância e prepotência, questionar de onde tirara, aquele velho analfabeto, tal sabedoria? Sem a interlocução com a linguagem como fora possível apreender as lições do mundo? Ou (quem sabe?) não somos nem arrogantes nem prepotentes e aquilo que o neto chamava de sabedoria se resumisse a conselhos calcados na experiência cotidiana e no afeto? Porém, nesta conformação social em que a EXPLORAÇÃO e o LUCRO são os seus pilares, essa "sabedoria" não serve para absolutamente nada! Resumindo, aqui é assim: D- M-D’, ou seja, dinheiro, mercadoria, mais DINHEIRO, e, se isso não ocorrer, toda e qualquer empresa, sob o guarda chuva capitalista, quebra! No fundo, o neto retirava de coisas ditas ao acaso, muito mais do que elas representavam, em outras palavras, reverenciamos, às vezes, tanto a alguém que costumamos valorizar demasiadamente conselhos vãos! O curioso é que mesmo com o quadro apresentado, e o que termina por fazer com que TODOS, ainda que sejam todos contra todos, acreditem que seu sonho é possível, o criador de porcos se transformou em algo improvável, virara escritor e o único em língua portuguesa a ganhar o MAIOR dos prêmios. Foi laureado com o Nobel de Literatura! Observem a fina ironia da História: quem tinha no pai do seu pai a “ausência” das palavras, passa a dominá-las de forma contundente e obtém a láurea suprema! O criador de porcos tornara-se "maior que si mesmo", porém o que o torna mais brilhante é que, diferentemente do Plantador de Repolhos, não perdera o contato com suas raízes, Saramago, esse é/era o nome de José, lutara toda a sua vida por outra formação social, muito, mas muito diferente daquela que o BAJULARA e que o plantador de repolhos reverencia...

sábado, 23 de janeiro de 2016

Medicina ou Educação Física? Eis a questão...

 
As peculiaridades da produção do conhecimento fazem emergir, na Universidade, contradições insuperáveis, ora, o espaço sacrossanto do saber não tem tempo e nem espaço para se preocupar com coisas "menores"! Talvez, formar para a docência não esteja entre as prioridades da academia!? Aliás, é preciso que se faça a pergunta mais cínica aos cínicos: será que existe alguém nesta data com vocação para ser professor? Saibam que é nesta dúvida aparente, diria eu, sem nenhum constrangimento, que reside sua hipocrisia indisfarçável.  Se dermos uma olhada "panorâmica" na escolha dos estudantes no último "Sisu" provavelmente entenderemos que essa questão não tem nada de shakespeariana! Antes, porém, de mergulharmos no mar de felicidade dos estudantes e suas aprovações em Medicina, vejamos o que é o sucesso para seus futuros ex-mestres.  
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Quando retornei dos meus 4 anos de "exílio", em Florianópolis, logo na primeira reunião em que participei, um professor apresentou um livro síntese com a produção do grupo que fazia parte, juntamente com sua ex-orientadora; até aí, nada de excepcional. O curioso é que o idioma escolhido foi o inglês, provavelmente o americano. É quase certo que nenhum americano tenha lido o tal livro, por uma série de razões, (esqueçamos que somos vistos como "cucarachas" por eles), citemos uma bem simples, o domínio da língua materna, ora, se temos uma grande dificuldade em escrever na própria língua, imagina aí a tarefa de quem traduz as nossas orações coordenadas e subordinadas? Temos o domínio das subordinadas adjetivas reduzidas e quem traduziu tem conhecimento de causa? O autor nos dissera que não dominava o inglês, razão pela qual tinha encaminhado para que outrem fizessem a tradução, a ironia é que nem ele iria ler seu próprio texto! Em outra oportunidade, a celebração se dava em razão da publicação de um artigo de um dos pupilos daquele professor, em uma revista "A" internacional! Não tenham dúvida que era/é algo extraordinário no modelo de ciência que vigora e não há aí nenhuma ironia! A concorrência é brutal, embora eu considere desumana, os que jogam esse jogo não acham, como não é qualquer um que consegue impor uma produção em um periódico com esse qualis, aquele que consegue vira "celebridade". Mas por que em inglês, algum desatento pode estar se perguntando. Pura e simplesmente porque é a língua que se impôs (as razões dessa imposição agora não vem ao caso), além disso, dá status, visibilidade, enriquece, sob todos os pontos de vista, o currículo lattes do autor, como também, ganha-se a respeitabilidade e reconhecimento da comunidade científica nacional. Todos querem publicar, mesmo que seja em periódico qualis C, mas todos, eu disse todos, desejam o qualis A1, se for "A" internacional, ulálá, esse feito é a comprovação do grau de excelência do pesquisador! Todos querem visibilidade e reconhecimento (se isso trouxer "dividendos", melhor ainda!), seja o professor/pesquisador "A", seja o estudante que quer a vaga de Medicina do SiSu!
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Falando em SiSu (Sistema de Seleção Unificada do MEC), o resultado do último causou, como de costume, estardalhaço e comoção nacional entre os pais dos filhos aprovados, principalmente os que escolheram ser médico, na verdade, ver seus rebentos sendo festejados no país inteiro como os melhores e mais bem sucedidos, aqueles que já venceram na vida é algo extraordinário, aliás o destaque desses indivíduos já começa na graduação, já entram doutores sem o título de médicos! A medicina, enquanto mercadoria, se tornou o curso de maior prestígio e valorização social, todo mundo quer ser médico, nem que para isso tenha que estudar na Argentina ou na Colômbia! Ser pai ou mãe de médico é ser uma pessoa diferenciada, um motivo de orgulho e respeito; em alguns casos, é a materialização dos sonhos nos filhos, como foi o caso do pai fisioterapeuta cujas notas lhe possibilitaram a entrada em medicina numa universidade pública, enquanto seu filho foi para a privada, mas foi! Se quiser leia a prosopopeia aqui http://migre.me/sL9sp).
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Na realidade, esse sentimento de vitória causou um certo "constrangimento" em alguns professores, e a pergunta que esses se fizeram foi: e as outras carreiras não merecem respeito e dignidade? A sociedade só precisa daqueles que gostam de "jalecos"? Concluíram que se continuar nesse diapasão, não teremos mais ninguém querendo seguir a carreira docente! Um professor de geografia se mostrou indignado com a falta de incentivo para as carreiras "menores", (as aspas e os menores são dele), "especialmente os que resolveram ser professores." Até que entendo essa repulsa, esse sentimento de impotência, porém não deixa de ser de uma ingenuidade atroz. O modo de produção que "escolhemos" para decidir nossos "destinos", sobrevive do lucro/exploração do trabalho, (desculpem-me por mais uma vez ser óbvio), a mercadoria "professor" há tempos anda desvalorizada, na realidade, corre sérios riscos de extinção, enquanto a mercadoria "médico" já esteve em mais alta conta, contudo ainda é mais negócio ser doutor do que professor, (perdoem-me, pela rima pobre, mas não resisti!) Para se ter uma ideia, o piso inicial de um professor, será, em 2016, de R$ 2.135,64, enquanto essa é quase a quantia que um médico tira em um plantão de 24 horas!?  Um professor de uma universidade pública, numa conversa sobre a educação dos filhos, foi  taxativo, o dele não estudaria em escola pública, "lógico que vou colocar na privada, se posso dar uma ferrari ao meu filho, você acha que daria um fusca? Desabafou emocionado. Acontece que geralmente é muito difícil ver de fora quando estamos inseridos na questão, aqui, escola pública é para os filhos dos outros, ou melhor, daqueles que não têm dinheiro para bancar a educação dos filhos numa particular, logo, quem vai para a escola pública são os pobres e miseráveis! Sinto um cheiro de hipocrisia no ar com a indignação com a opção pela medicina, assim como as "críticas" ao sistema pela valorização exacerbada do médico!? Os que ficaram "surpresos" ou indignados com a avassaladora escolha dos estudantes e pela super exposição da Medicina em todas as capitais "sugeriria" qual dos cursos para seus filhos, Medicina ou Educação Física?...

domingo, 17 de janeiro de 2016

Ah, essas mulheres 3...

Imerso em reflexões comezinhas, eis que sou levado, mais uma vez, quando tinha convicção que fora a última, a pensar na complexa relação que estabelecemos com as mulheres, não, não quero com isso dizer que tenha chegado, enfim, a uma conclusão definitiva sobre a impenetrável alma feminina, longe disso, continuo sem entender este ser ímpar e paradoxal. Percebo, sem um quadro empírico para confirmar, que as mulheres continuam protegendo seus parceiros das mais torpes atrocidades que lhes são impingidas, ainda que a lei Maria da Penha tenha alterado um pouco esse quadro, em nome de algo que elas acreditam ser amor, ironicamente, essa inefável palavra de quatro letras serve muito mais para torná-las reféns dos seus "algozes" do que levá-las àquilo que acreditam ser a felicidade! Por que as mulheres sempre dizem "meu amor" de forma tão enfática nas redes sociais e alhures?! O que desejam afinal essas criaturas quando proclamam aos quatro ventos esse sentimento? Foi pensando nisso que lembrei de um dos sarcasmos de Nelson Rodrigues, disse-nos ele: "nada é mais antigo que o passado recente." Seria trágico se não fosse cômico ver amores infantis se tornarem senis muito rapidamente, ainda que esses amores sejam regados a juras de eterna paixão! 
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Alice, nossa heroína, vivera seu país das maravilhas, conseguira realizar o sonho de grande parte das mulheres (mesmo as que negam, têm esse desejo!) casara-se de branco, tanto no civil como no religioso, rodeada dos amigos e familiares; dizem, as boas línguas, que a festa foi uma das mais belas daquela região da Bahia. Os mais crentes em utopia chegaram a afirmar que parecia um conto de fadas; do príncipe só se falavam qualidades, Alice acertara na sorte grande, diziam os afeitos aos jogos de azar, encontrara um sujeito honrado, honesto, trabalhador, amoroso e, acima de tudo, altruísta, agora, respondam-me: em tempos de descrença, onde a imagem que temos é que todo mundo ou é oportunista ou é corrupto, ou as duas coisas indistintamente, quem não gostaria de casar com alguém assim? Tínhamos ali um mar de rosas ou o mar da flor que lhes for mais atraente! O interessante nesta história e em outras é que casamento só é perfeito em rede social, lugar onde quase todo mundo é feliz e não se fala dos vícios ou defeitos do ser amado, ali, o para sempre nunca acaba, contudo, alguns têm coragem de assumir que na vida real casamento é uma "zona de guerra", onde os amantes estão sempre negociando um armistício, nunca o fim da contenda!
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Não seria diferente com o casamento de Alice. Porém a imagem que o casal transmitia para fora das quatro paredes, como se dizia no tempo da minha avó, continuava a mesma, nada fora alterado, o bom rapaz e a boa moça viviam felizes para todo o sempre, suas juras de amor eram iguais àquelas da rede de Zuckerberg, parafraseando Woody Allen, lá "todos dizem eu te amo"! Aliás, um genro como aquele era o que toda sogra sonhava! Porém as aparências enganam e muito,  o fato é que no aconchego do lar (essa também é do tempo da minha avó) tudo era muito diferente, é preciso que se diga, convivemos com as pessoas, mas não as conhecemos. Infelizmente, dizem os pessimistas, não temos opção de fazer diferente, somos todos meio canastrões, meio farsantes, nossa vida é uma representação de diversos personagens numa novela mexicano-brasileira, por isso, vamos nos adaptando conforme os índices de audiência!
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Bem, sem ter tudo isso muito claro na cabeça, Alice imaginara que os tempos de namoro tinham sido suficientes para conhecer bem os desejos e vontades de seu príncipe. Descobrira, a duras penas, que seu grande amor era uteromaníaco e, por mais que tentasse, não conseguia satisfazer aquele amante insaciável! Nunca se sentira uma "devoradora" como a Gabriela, de Jorge Amado, mas também não se considerava frígida como a Regina Giddens, de Bette Davis, no entanto, por ter que fazer amor muitas e tantas vezes e, na sua grande maioria, sem nenhuma vontade, começou a achar que o problema era dela, quem sabe se sua taxa de testosterona não estivesse a níveis tão baixos que seu apetite sexual não se rivalizava com o do seu marido?
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Resistira àquela situação por um ano, mais ou menos, até que começou a se esquivar, quando, após alguns exames, descobriu que o problema era (d)ele. Neste caso, por não mais atender às vontades incessantes do companheiro, era estuprada a cada recusa. Ser submetida a essa vileza desencadeou um sentimento de revolta que a fizera desistir da farsa que se tornara seu casamento voltando humilhada, mas viva, para casa de sua mãe! Porém como só os bons perdoam, com ela não foi diferente. O príncipe que virara sapo se mostrou arrependido até o último fio de cabelo, pedindo-lhe mil e uma desculpas, além de jurar sob todos os santos que as violações jamais voltariam a acontecer pois ele tinha muita força de vontade. Alice justificou que voltara só e somente só porque sabia que os estupros não foram algo "criminoso"; primeiro, porque ele a amava perdidamente, e deras provas disso ao pedir perdão por tudo o que tinha feito; segundo, a uteromania é um transtorno sexual, um vício, uma dependência, que requer tratamento, portanto, as violações não podem ser criminalizadas já que não foram algo intencional.
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Convenhamos que a volta pelo primeiro motivo pode ser até plausível, afinal, quem resiste ao amor, esse sentimento tão sublime e embriagador que nos contagia levando-nos a perdoar os atos mais obscenos? Contudo seu retorno ao casamento sabendo que o marido era uteromaníaco não deixava de ser um ato insano e loucuras nestas circunstâncias custam muito caro, já que em nenhum momento se falou em tratamento e sim em força de vontade(?) para evitar a satiríase. Depois da reconciliação, viveram mais uns dois, três meses sem nenhuma turbulência, tudo caminhava na santa paz! Mas, segundo a lei de Murphy, nada está tão ruim que não possa piorar. Numa noite calma e tranquila, a trégua, enfim, foi rompida  por causa de uma simples recusa de Alice alegando falta de desejo, estava com muita dor de cabeça, o sapo achou que aquilo era uma piada  e a estuprou, porém, dessa vez, por não conseguir dominar sua fúria, deferiu-lhe inúmeros socos e pontapés na cabeça, por causa do traumatismo não resistiu, morrendo horas depois, o assassino arrependido, não conseguia explicar porque fizera aquilo! Infelizmente, o mundo está cheio de Alices, quase todas silenciosas, quase todas admitindo o estupro por acreditarem que o amor no fim irá salvar a ambos, evitando com isso, pelo menos para manter as aparências, a dissolução dessa instituição sagrada chamada casamento...