quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Para terminar...


É preciso que se diga alguma coisa sobre o ano que está acabando, não é mesmo? Afinal, não seria de bom-tom fechá-lo sem ao menos enviar um "cartão de boas-festas" para os conhecidos mais diletos! Neste momento, milhares de milhões estão se preparando para o grand finale: a queima de fogos mágica que anuncia um ano novo! Que ele não seja pretérito, seja GERUNDIO! Já estamos em contagem regressiva para o fim de 2009 que, como todos os outros, teve de tudo um pouco neste Brasil de Brasília! Estamos em balanço. Agradecendo pelas realizações, revendo planos, esquecendo, ou renovando, os que ficaram pelo caminho. Daqui a pouco, algumas pessoas estarão se perguntando: "com que roupa que eu vou?" De branco como manda a tradição ou com a cor dos meus desejos? Estaremos nos perguntando: quais os sonhos devem ser sonhados?! Qual a melhor "simpatia" para a ocasião? Qual deve ser a cor da peça íntima para que tenhamos sorte no amor? Uma coisa é certa: temos que acreditar que será diferente, porque se assim não for, para que sonhar um sonho?! Mais uma maratona  estará começando com as badaladas que anunciam a meia-noite! Como esse é um "cartão de boas-festas", ele terá o tamanho infinito da sensibilidade de Justina Sponchiado, uma amiga muito querida, que traduziu a beleza da fraternidade com o poema Saber Viver de Cora Coralina:                        
Não sei... Se a vida é curta


Ou longa demais pra nós,



Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre

Olhar que acaricia,

Desejo que sacia,

Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,

É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar.


Pessoas, espero que o "fim do túnel sejam nossos olhos brilhando"...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Filhos, por que tê-los?...

Nos tempos dos meus avós a família era numerosa. Filho era um por ano, isso era parte da tradição: a mulher era parideira! Não vou muito longe, lá em casa nasceram 10 filhos, embora apenas 3 tenham conseguido sobreviver e chegar à idade adulta. Os tempos hoje são outros. Se meu pai pensasse igual a mim, por certo, não estaria aqui escrevendo essas linhas! O fato é que a família encolheu a tal ponto que três filhos é uma "multidão inaceitável"! Dizem que a culpa disso está atrelada à inserção da mulher ao mercado de trabalho. Até que se justifica, mas não explica, não há dúvida que o buraco é bem mais embaixo. Hoje não há a menor possibilidade de a mulher ter dez filhos como fez minha mãe. 
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Não estou querendo dizer que os filhos eram mais amados ou mais felizes, contudo não podemos perder de vista que, na situação atual, viraram uma mercadoria valiosíssima, com um poder de barganha jamais sonhado para pais e mães "amorosos"! O que se sabe é que mesmo sendo uma grande moeda de troca, a criança é uma "esponja" que a tudo absorve, não passa de um bibelô, no meio do fogo cruzado, onde a leviandade se propaga como um rastilho de pólvora e neste jogo sujo, egoísta e hipócrita, todos têm razão: mãe, pai, avós, padrastos, madrastas e afins! Fico imaginando como seria um casal com dez filhos no momento da separação, na hora da divisão do dinheiro? Da forma que os filhos são importantes, os percentuais logo viriam à tona e as mãos logo começariam a se esfregar, enquanto os cifrões sobrevoariam as cabeças avaras! Neste instante, ouço um grito colérico: "e as questões afetivas?" Por certo, essa é uma pergunta de algum insensato, que os pais replicam sem nenhuma desfaçatez: "bem, primeiro vamos resolver as financeiras, as afetivas vêm depois, essas são bem mais baratas!" 
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O caso do filho/neto/enteado brasileiro/estadunidense que a mídia tem usado à exaustão, com o intuito de provocar a emoção mais abjeta e vil, pode servir como exemplo. Neste caso específico, a mídia, leia-se NBC, uma grande rede lá dos EUA, pagou todas as despesas, cobrando apenas exclusividade nesse folhetim circense! Chorou a avó, chorou o avô, chorou o padrasto! Os telespectadores também verteram suas lágrimas! O advogado da família brasileira, de forma espúria, queria que o menino dissesse com quem queria ficar! A avó chamou a justiça de "desumana", apresentando uns "garranchos" onde se lia:"quero ficar no Brasil", supostamente escritos por Sean! O fato de a mãe ter morrido traz mais um ingrediente macabro e torpe à história, mas não a isenta das responsabilidades! Ela foi perversa com o menino! Também não podemos perder de vista que o tom de espetáculo que as relações privadas assumiram é bem a cara dessa "classe média" apodrecida! Filhos se tornaram um grande negócio, nesta bolsa de valores afetivos! Nada mais justo que o pai "amoroso" do menino Sean seja ressarcido nos quinhentos mil dólares que gastou para readquirir sua guarda! Não nos esqueçamos que a mãe do garoto, de forma inconseqüente e inescrupulosa, raptou-o do seu país de origem quando seu casamento naufragou. Não vamos fazer aqui nenhum julgamento de valor, mas não deixou de ser uma atitude egoísta! E todo esse pão e circo televisivo? E toda essa grana que o pai vai embolsar, ninguém diz nada? A avó indignada bradou: "ele não pensa no filho e sim em dinheiro". Ah, como são "tolos" esses pequeno-burgueses! Na atual conjuntura, esqueceram-se que sob a égide capitalista tudo é mercadoria, incluindo aí filhos, netos...e que a família não deixa de ser uma instituição falida...   

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Feliz Natal...


Quando chega o período natalino sinto que é quase impossível não tocar no aroma que as árvores despejam no ar, uma fragrância que só aparece nesta época do ano! Não sei exatamente porque gosto do natal, suas lembranças não são lá grande coisa, muito pelo contrário, para falar a verdade, meu melhor natal foi há mais de dez anos, todos os outros foram descoloridos, mas eu gosto, embora não tenha  nenhuma vocação para masoquista ou hipócrita, personagens muito comuns nas festas de final de ano, repletas dos indefectíveis amigos: secretos, ocultos e outros! O fato é que nunca me disseram que papai noel existia. O que acontecia  lá em casa era que meu pai sempre chegava muito tarde no dia de natal, mas não permitia que os filhos achassem que fora alguém de roupa vermelha quem os presentiara! Éramos acordados para receber os presentes, quando havia!. Nunca fomos "inocentes", o bom velhinho era uma ilusão que não fazia parte do nosso vocabulário!
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Contudo esse negócio de saber a identidade secreta de papai noel não foi uma coisa muito boa ao longo da vida de um menino filho de pais separados, ao contrário, trouxe-lhe muitos problemas, afinal de contas, papai noel é/era uma instituição muito rentável, por isso é mantida, embora muito mais lucrativa na minha meninice, sem contar que muitos pais adoravam que seus rebentos acreditassem naquela fábula, talvez entendessem que a continuidade de uma suposta inocência devia ser preservada a qualquer custo! Foi justamente por esse aspecto que sofri o maior transtorno de que tenho notícia! Aconteceu que um dos meninos que passaram por nossa infância, talvez por estranhar como lidávamos com o natal, inopinadamente, fez a pergunta mais simples e mais problemática que poderia: "por que papai noel não lhe dá presentes como faz comigo?" Sem pensar duas vezes, tentei responder, no que fui detido de imediato por seu pai. Disse-me ele, de forma enfática: "não tire a ingenuidade de meu filho!" Aquilo foi desabonador, é claro que não dá para descrever o que os olhos dele diziam! Não tenham dúvida que a identidade secreta do papai noel fora garantida, também pudera, depois do brado colérico daquele pai  o que mais eu poderia fazer? Só me restou um "constrangimento" que se tornou  companheiro por anos a fio!
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Recentemente uma história parecida me comoveu profundamente pela beleza e sensibilidade como foi tratada. A história em questão mostra que não havia necessidade daquela  grosseria que machucou sobremaneira a criança que havia em mim. A filha ficara curiosa  com a  lenda de São Nicolau (não é esse o nome de batismo de papai noel?), e não encontrara ninguém mais indicado para esclarecer sua dúvida do que seu pai. Este pego de surpresa, meio que rindo, jogou a "batata quente" para cima da esposa, ela que resolvesse aquele imbróglio. Entrementes a criança esperava a resposta da simples pergunta: papai noel existia ou não? A mãe sorrindo contou a verdade, não, papai noel não existia! Não há como descrever o brilho de felicidade expresso nos olhinhos azuis da menina pela descoberta! Como criança, diferente dos adultos, não tem medo de se arriscar, por isso tem muito mais facilidade de aprender, trouxe à tona esse argumento digno do filósofo Aristóteles. Disse ela: "Se papai noel não existe, então o coelhinho da páscoa também não, não é?" Era a perda da inocência se consumando, ali, sob os olhos dos pais, porém com uma delicadeza, uma beleza singular, sem subterfúgios, sem falsas promessas, sem tolas mentiras! Ana Maria, sem nenhum trauma, aprendera a partir de uma fábula a avançar nas suas descobertas que estavam apenas começando...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Falácias...


Sempre achei falaciosa a posição que afirmava que as cotas eram um direito porque nas entrelinhas anuncia uma extensão para todos, quando na verdade apenas alguns serão beneficiados, ou seja, uma "aristocracia negra" bem situada. A idéia de que o ensino superior é um dos caminhos da "reparação" é inconsistente, aponta como "salvação da lavoura" justamente o extremo (e quanto à educação básica?) sem levar em consideração que o acesso não garante que o portador do diploma tenha as oportunidades anunciadas, mesmo porque só alguns diplomas serão "valorizados"! Então, qual a razão de não se colocar o fim do vestibular neste "pacote"? Sem contar que a exploração sequer é discutida, no fundo, ela é estimulada. Lembro-me que já foi mais incisiva, no início a idéia era trazer os EUA aqui para dentro (era o discurso dos pretos estadunidenses da década de 1960, do século passado). Neste sentido, as cotas tinham que ser raciais e não sociais, esse era um dos slogans mais difundidos. Dizer que não há preconceito no Brasil é de uma insensatez sem precedentes, porém encobrir esse preconceito com a inserção na universidade é perverso para com aqueles que mesmo com as cotas, dentro da formação social que vivemos, cuja base de sustentação é a exclusão, não conseguirão o tão propalado acesso, o que as cotas não dizem é que não há lugar para todos!
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Não tenho nenhuma dúvida de que quem defende o acesso à universidade através das cotas não concordará uma linha com o que foi dito até aqui. Respondo para esses, com uma analogia, quiçá perversa. Diria que aqueles que entrarão via cotas terão marcada na pele, assim como os ladrões e assassinos outrora eram marcados, uma letra, uma indicação insidiosa de que seu ingresso no ensino superior dependeu de outros caminhos! Alguns dormirão mais tranqüilos por saber que muitos dos negros que estarão nas univesidades tiveram sua ajuda, por conta de sua participação na luta pela política de ações afirmativas!
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Por meio de uma ação muito parecida outra parte da "aristocracia negra" obteve sua porção em um setor do mercado de que estava apartada, isto é, do mercado publicitário, com a inserção de um percentual de negros na veiculação de produtos, de bens de consumo. Em alguns comerciais essa inserção chega a ser risível, mas vá lá, sejamos sensatos, permitiu que se observasse que entre os "bem de vida", existem alguns que são pretos, o país não tem aquele perfil que os "antigos" comerciais anunciavam, somos uma "democracia" e isso é perceptível nas oportunidades que todas as cores têm na divisão do bolo!? Todos devem estar lembrados que uma das brigas era que as novelas só utilizavam os pretos nas posições subalternas! Sem querer entrar na polêmica, mas as novelas, não sei se sem querer, mostravam a realidade, na sociedade brasileira grande parte dos pretos ocupa posições subalternas, enquanto uma minoria consegue se destacar, e era essa minoria que se sentia ultrajada por ter em novelas sempre os mesmos personagens! Isso era muito ruim para a sua/nossa auto-estima! Um dos "baluartes" desse empreendimento foi o ator Milton Gonçalves que numa dessas novelas representou um psicanalista, um marco para os atores pretos, estariam mudando as relações socais e econômicas no Brasil antes mesmo das cotas?!
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O que essas pessoas não sabem é que a "mão invisível" do mercado é impiedosa, ou será que sabem? Como os pretinhos não queriam mais os papéis subalternos: empregadas domésticas e afins, esses começaram a ser ocupados por outras "cores", isso é o que podemos chamar de ação politicamente correta! Parece que o feitiço virara contra o feiticeiro! Todas as "empregadinhas" das novelas passaram a ser brancas ou "parecidas"! Neste momento, está em cartaz na Globo uma minissérie cujo título é Cinquentinha. Até aí nada de mais, afinal, esses "enlatados" globais fazem parte do nosso cotidiano televisivo há bastante tempo. Agora, o que nos chama a atenção é que no papel de empregada doméstica está uma das figuras representativas na briga por papéis que demonstrassem que o óbvio não era óbvio na televisão brasileira! Zezé Mota faz a típica empregada. Por que logo ela que fora porta-voz na luta contra os papéis pequenos e apagados, está fazendo justamente um papel pequeno e apagado?! Fazer o que a Zezé está fazendo qualquer atriz faria, chega a parecer uma "pontinha", e na realidade, é! Onde estão os argumentos que cobravam papéis significativos para a "aristocracia negra"? Na verdade, a "mão invisível" do mercado, o capital, definiu suas necessidades, aqueles que concordarem com os parâmetros estão dentro, os que não, bem, a porta da rua é a serventia da casa e isso vale também para aqueles que são partidários das cotas...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Reminiscências...

Quando criança queria ser mecânico, meu irmão, petroleiro! Mas todos queriam. Só se falava nisso, quase todos queriam ser. Não sei por que mecânico, quando grande nem sequer aprendera a dirigir, nem tinha paciência, existem mecânicos que não dirigem?! Meu irmão ficava chato quando voltava da casa da madrinha dele, queria usar os brinquedos às avessas, a vida girava ao contrário. Tudo gravitava em torno dele. Tínhamos um balanço que não era para balançar, mas ele era o caçula! Minha mãe justificava: "ele é muito pequeno!" Mas era tirânico como todos os caçulas! Minha irmã entre dois irmãos, como devia ser desafiadora a sua vida! O pai queria menino, a mãe era cúmplice! O pai é significativo na vida do menino! A praia ou lagoa? Não lembro, sei que o pai flutuava na vertical, com o calção vermelho, como ele conseguia com os dois nos braços? O pai sempre levava os meninos para passear, era uma aventura em cada lugar que íamos, a irmã sempre ficava, ser a filha mulher nunca foi bom negócio, nem aqui nem na China! Onde está minha mãe? Espera que daqui a pouco ela chega. Não chegou! Chovia na sua volta! Ela estava com um capote rosa! Na casa de minha avó. Onde está minha mãe? Era muito cedo. Todos deviam estar dormindo naquele domingo, ou fingiam? Os três na marinete, eu sem saber direito do que se tratava, indo ao encontro de outro futuro, ônibus era marinete e era azul e branco! Separação sempre deixa ressentimento. O pai foi buscar! Uma confusão danada, um escândalo naquela tarde de domingo, todos falavam ao mesmo tempo. Uma promessa fora feita, promessa que jamais fora cumprida. Depois do carnaval eles vão! Nunca fomos! Ele se ressentiu para todo o sempre! Filhos ficam entre dois fogos! Alguém vira refém! Separações sempre deixam ressentimentos! Ficamos um tempo longe, mas voltamos ao seu convívio, aos treze anos, só os filhos homens! Madrasta e filhos/irmãos, irmãos? Madrasta é sempre madrasta? Não fora assim com Machado de Assis! Veio a adolescência e os pelos cresceram lá embaixo, isso é normal? Eliana foi?/era? minha namorada! Namorada primeira foi Vera. Linda como uma noite de estrelas. Não, primeirona mesmo, de verdade, foi Maria! Parecia mais velha, mas era mais nova do que eu! O primeiro beijo de língua foi ela quem me deu! "Você não sabe beijar! Chupe minha língua como se fosse uma bala" As meninas sempre são mais espertas do que os meninos! Meninas se movimentam a 360º graus! Primeira transa, tenho vergonha de contar, a segunda também, quando será que vou aprender? Vá até o fim, disse Lorito! Vitória, também é meu time do coração! Depois daquela, não parei mais! Esse menino está emagrecendo, não? Ah, os excessos da meninice!Tornei-me homem filho do menino! Depois outros amores vieram, os filhos nasceram, os anos passaram, a madureza chegou e com os ela os tons cinzas dos pelos! Aqui, neste lugar, nesta hora, longe de casa, os olhos da memória trazem à tona essas imagens antigas do menino encharcadas de recordações que o fazem chorar...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Brasil: terra de mentirosos, corruptos e ladrões...



Dizem que Otávio Mangabeira, antigo governador baiano, dissera certa oportunidade que absurdo na Bahia tinha precedente! Tirante a brilhante figura de retórica, uma idéia como essa deveria deixar todos nós com o estômago embrulhado, vexados, constrangidos por ter que conviver com tamanha aberração no nosso quotidiano,  contudo, infelizmente, a "reflexão" do falecido governador pode ser estendida para o resto do país, não podemos esquecer que, além de tudo, ainda temos um laboratório para produção desses indecoros situado em Brasília! Lá está o micro do macro do que é esse país! Sim, porque quando pensamos que chegamos ao limite da indecência (depois dos Anões do orçamento, parecia que nada pior poderia acontecer), eis que a capital da república nos brinda com  mais um destempero! O absurdo é que a reincidência está se tornando lugar-comum, os mesmos sujeitos que falam em ética, em decoro, o tempo inteiro, são os primeiros a praticar atos que lhes negam totalmente o discurso! Talvez por isso, fomos "agraciados" com mais um escândalo em Brasília! O senador José Roberto Arruda, líder do PSDB-DF, "assessorado" pelo presidente do senado, Antonio Carlos Magalhães, PFL-BA, quebrou o sigilo do painel de votação do senado federal, tendo acesso aos nomes dos votantes na sessão secreta que cassou o ex-senador Luiz Estevão, PMDB-DF.
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Esperem um pouco, a elaboração do falecido governador dizia que ABSURDO na Bahia tinha precedente, não foi isso? Então, qual a razão de trazer à tona  o caso da violação do painel do senado, ocorrido em  28 de junho de 2000, ou seja, há mais de nove anos? Estaríamos nos ancorando no fato de que um dos protagonistas daquele episódio, José Roberto Arruda, teve acesso irrestrito aos votos de senadores e senadoras da sessão secreta(?) que culminou com a cassação de Luiz Estevão do PMDB-DF? Mais, tendo a "elegante assessoria" da diretora do Prodasen (Secretaria  Especial de Informática do Senado), à época, Regina Célia Peres Borges? Além da cumplicidade do então presidente do senado Antonio Carlos Magalhães? Estamos querendo mostrar um fato digno de fazer parte da galeria de absurdos da nossa história? Algumas coisas que se alteraram de lá para cá! O PFL, um filho bastardo da Arena, partido da situação no período da ditadura militar, virou Democratas (sic), para a "tristeza" de alguns ACM morreu, mas não seus métodos, eles se perpetuam em suas "raízes"! Não se pode esquecer que quando o pai renunciou o filho assumiu, afinal, era o seu suplente, além do Neto do cacique morto, mas as representações teatrais dos Arrudas e seus sequazes continuam.
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Ironias à parte, parece que vamos passar o resto da vida sendo achincalhados, tratados como se fôssemos imbecis, a celebrar, como bem disse o poeta Russo, em Perfeição, "nosso passado de absurdos gloriosos", continuaremos a dizer que é assim mesmo, que não há jeito, faz parte da nossa índole! A ópera-bufa que foi transformada a violação do painel do senado também terminou em PANETONE, ops, não, naquela época a moda era PIZZA! Arruda fez um dos discursos  mais "sinceros" da sua vida, na tribuna do senado, encharcado de emoção, para provar sua inocência, "não vi, não tomei conhecimento, não fui informado e não sei se existe a tal lista de votação", e depois, quase às lágrimas, quatro dias antes de dizer com todas as letras que era CULPADO: "permitam-me com o meu sofrimento, com as vísceras da minha emoção expostas à execração pública, eu que não tenho bens pessoais, não tenho fortuna, mas tenho a honra e tenho filhos, que têm o meu nome, os naturais e os que adotei, e a esta honra eu serei  fiel, enquanto viver." Depois de todo esse teatro, para evitar ser cassado, José Roberto Arruda renunciou ao cargo no dia 24 de maio de 2001, ACM o seguiu seis dias depois do mesmo ano. Ironicamente, ambos são eleitos logo nas eleições seguintes, ACM volta ao senado e Arruda para a câmara dos deputados, agora pelo Democratas!
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"Vamos cantar juntos o hino nacional, a lágrima é verdadeira." Os versos do poeta Russo ecoam quando vemos as imagens em que o governador do Distrito Federal embolsa quantias que lhe são entregues por um antigo aliado seu, Durval Barbosa, assim como outros "assessores" se locupletando, colocando notas em todos os lugares possíveis e imagináveis! Se em 2001 o governador afirmava que não tinha fortuna ou bens, embora dissesse que tinha honra. Agora esse não é mais um problema. O curioso é que no caso do painel do senado, ele e ACM eram cúmplices, mas o velho político baiano tentou descolar seu nome do de Arruda, para não ser "contaminado."  No caso atual de corrupção do governador do Distrito Federal, dois políticos votaram contra a expulsão sumária do governador, entenderam que merece um tempo para se defender, quiçá provar sua inocência, embora as imagens sejam contundentes, foram eles: o presidente do DEM, Rodrigo Maia, e, estranhamente, ACM Neto!
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Como parece estar provado que somos todos uns ineptos, o advogado de Arruda, José Gerardo Grossi, fala com a convicção de que somos tolos, porque para acreditar na sua versão só mesmo sendo idiota! Ao se referir ao volume de dinheiro recebido como propina,  afirmou que aquele montante, que ora vimos na TV, foi usado para compra de panetones, que seriam doados às pessoas carentes do Distrito Federal!? Haja panetones para gastar aquela quantia toda! "Vamos  comemorar como idiotas a cada fevereiro e feriado, todos os mortos nas estradas, os mortos por falta de hospitais." É o espectro do poeta Russo a nos rondar! Quando foi eleito para Governador do Distrito Federal, para amenizar a violação do painel  e voltar a fazer seu teatro particular, Arruda afirmou: "não matei nem roubei ou desviei dinheiro público, mas cometi um grande erro, talvez o maior da minha vida." De uma só tacada fez as pazes com o eleitorado ao admitir o erro, além de se mostrar arrependido pelo deslize. Como explicar, sem o cinismo utilizado no episódio do painel, a corrupção em que está imerso e sair ileso? Como justificar as propinas e o envolvimento de seus principais aliados? Ah, os absurdos! Como somos esquecidos, não custa lembrar que o atual presidente do senado, José Sarney,  era quem estava sob as luzes, não faz muito tempo, até cartão vermelho recebeu em plenário. Teremos outra ópera-bufa na escalada do astuto José Roberto Arruda, assim como foi a do Sarney? O governador patusco terá alguma carta na manga para continuar no partido e no governo ou vai fazer tal e qual fez no escândalo do painel? E nós? Continuaremos acreditando que não existe outra  saída a não ser a parlamentar?...  

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Cenas Brasileiras...



Antonio Carlos Jobim disse, certa vez, que viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é bom. O que poderíamos depreender das palavras do maestro? Nada mais, nada menos que esse é um país contraditório e imprevisível? Acontece que estamos sempre nos extremos, viver por aqui não é uma tarefa fácil, temos a opulência e a fartura convivendo, lado a lado, com a mais tacanha miséria. O mais estranho é que cada lugar desse lugar chamado Brasil é diferente de todos os outros, são brasis diversos dentro do mesmo território! Você deve estar dizendo, cara leitora soteropolitana: "isso é óbvio, senhor redator"! Escrito, não tenha dúvida que é muito óbvio, minha leitora esclarecida de Jequié! Antes de vir morar em Florianópolis, sempre afirmei que professor não tinha pátria, qualquer lugar era lugar do professor! Bastaram 20 meses para que percebesse o quanto essa assertiva era equivocada. Posso trabalhar em qualquer lugar, mas meu lugar é na Bahia, o poeta de outrora estava certo: "a Bahia tem um jeito terra"! Na realidade, são muitas as contradições que recortam a nossa caminhada, somos um país de extremos. Se isso é bom? 
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Houve o maior rebuliço por causa de Geyse Arruda, a menina de vermelho que foi expulsa e reintegrada "simultaneamente" na faculdade que estuda(va). Observando-a na foto síntese acima (ela é a primeira da esquerda), percebe-se que não entraria no perfil das beldades que causam furor, tipo Carla Perez (?!), todavia por um fato inusitado se tornou uma "celebridade" da noite para o dia! É a bola da vez! Saiu dando entrevistas a todas as corporações midiáticas! Ficou famosa de um vestido para o outro, está aproveitando seus minutos de fama! Segundo dizem, existe a possibilidade de posar sem o vestido vermelho para a revista Playboy, que desmentiu no primeiro momento, pode fazer um filme pornô e vai aparecer na Globo! Temos zilhões de Geyses espalhadas pelo país que estão "vibrando" com a possibilidade de vir a ter a mesma "sorte" que a estudante da Uniban! Será que ela tem cacife para vender tantas revistas quanto a Sheila Mello? A maior vitória entre as "coelhinhas" é ver quem vende mais. Monica Veloso, a namorada de Renan Calheiros, (A prezada leitora se lembra, não?), também tentou alavancar sua carreira a partir do "escândalo" com o então presidente do senado! Foi capa da tal revista, sendo um regozijo no parlamento brasileiro, claro, todos queriam ver a namorada do presidente, completamente nua! O fato é que não vendeu tanto quanto esperava, desapareceu dos holofotes e ninguém mais ouviu falar da criatura! Geyse Arruda terá o mesmo fim?
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Nesta história de sair mostrando as partes pudendas na Playboy, Fernanda Young, apresentadora do GNT e co-autora do antigo seriado Os Normaissaiu na edição de novembro e, como não tem o perfil de mulher "gostosa", foi logo afirmando que "seria muito bonito para o Brasil se o seu ensaio vendesse mais que o de uma BBB". Em relação ao ensaio, afirmou que não mostra uma mulher parecida com uma garota de programa, uma alfinetada na ex-BBB Priscila Pires, que vendeu horrores. Como somos seres contraditório e esse é o país da contradição, prestemos atenção ao desejo da "coelhinha", quase quarentona, disse ela que não fez fotos de arte, deseja que muita gente se masturbe e, rindo, afirmou que aguardava relatos! Contudo foi sincera, não negou que suas fotos teve o apoio do "amigo" de todas as horas, o photoshop! Pediu que fossem apagadas as estrias da gestação e as cicatrizes do peito, resultado de uma cirurgia plástica! Como, neste brasilzão, fazemos piada de tudo, com ela não foi diferente. O vesgo, humorista do Pânico, no seu twitter, não se fez de rogado e afirmou que o apagão foi o melhor momento para se ver o ensaio fotográfico de Fernanda Young! Que maldade! Conseguirá a balzaquiana vender mais revistas do que Priscila Pires?
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Começamos falando do falecido maestro Antonio Carlos Jobim que disse que viver aqui era uma merda, mas era bom está na...bem, deixa para lá! Depois foi a vez da sensação do momento Geyse Arruda, a menina que se tornou famosa por causa do vestido vermelho que usava na sala de aula, que quer apenas estudar, não espera fazer nenhum estardalhaço! No período anterior "conversamos" sobre a quase quarentona Fernanda Young que disse que só posou nua para provocar algumas pessoas, entre as provocadas está sua mãe, a dela, não a sua, minha leitora amiga do ABC! Quero terminar com um técnico de futebol, para fechar com chave de ouro, esse papo! Estevam Soares, o "professor" do Botafogo, é o cara perfeito! O fato é que, além de contraditórios, somos muito esquecidos. Esquecemos as coisas com uma facilidade assustadora! Senão, vejamos. É do conhecimento de todos que, pelo menos por enquanto, a cada campeonato da série A, quatro times são rebaixados para disputar o torneio de acesso no ano seguinte, a tão temida segundona. Pois bem, Estevam Soares há muito tempo quer ser técnico de ponta. Vem fazendo um esforço brutal para conseguir isso! Já fez algumas incursões em times considerados grandes, mas ainda não teve o tão sonhado up grade, leitora paranaense! Este ano estava treinando o Grêmio Barueri, embora estivesse bem colocado, sem preocupações, não obstante sabia que para a realização do seu desejo, ficar naquele time seria um óbice às suas pretensões! A primeira oportunidade que teve se transferiu para o Botafogo, time grande(?) que poderia lhe dar o up grade  tão esperado! No campeonato passado, neste mesmo período do ano, lutava desesperadamente para que a Portuguesa de Desportos não caisse...Ele acredita que técnico também é psicólogo", utiliza métodos pouco ortodoxos, tipo "terapia do abraço"! Caso a querida leitora não saiba, é aquela que sugere que esqueçamos as desavenças e abracemos todos, inclusive os inimigos! Se isso funciona? Não sei, o que sei é que a Portuguesa foi um dos que caíram no ano passado. Cara torcedora botafoguense, seria maldade usar a lógica aristotélica em relação ao seu time do coração para terminar com humor essa peroração? Não? Então, neste caso, poderíamos dizer que se a Lusa foi rebaixada para a segunda divisão porque o técnico era Estevam Soares, logo, neste ano, o Botafogo inevitavelmente seguirá o mesmo caminho?...   

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sobre os Olhos...


Olhos são como diamantes: quando descobertos iluminam tudo o que tocam! Há que se pensar como Édipo, é preciso decifrá-los para não sermos devorados! Mas qual o problema se formos devorados? Por que não sumir na imensidão daquelas retinas?! E o que dizer   à mulher dos seus sonhos? "Dona dos meus olhos é você." A poesia se insinua entre os rochedos e arrecifes, no mar dos olhos todos os portos são seguros, mas navegar não é preciso! Verdes, azuis, castanhos, cinzas, negros, não importa a cor que foram pintados, por olhos encantadores somos atraídos, facilmente fisgados como peixes num aquário! "No dia em que fui mais feliz, eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir." As metáforas atacam as metonímias, copulam com as aliterações, seduzem os oxímoros..."os olhos chumbados pelo mingau das almas." São as reverberações de Adriana! Ah, os olhos dessa musa são umA Fabrica do Poema!
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Inteligência, beleza e sensibilidade são qualidades de olhos suntuosos! Do alto da sua  sabedoria, menoscabou o poetinha: "que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental"; no que retrucou esse humilde escriba: "não, fundamental é o cintilar do olhar", porque  "luz dos olhos para anoitecer, é só você se afastar." Neste caso, falar dos olhos não é cair no lugar-comum? Dirão os insensíveis, são sempre os mesmos substantivos, adjetivos: cor, luminosos, transcendentes, brilhantes, fascinantes, porém, e neste caso, por que brigar com o lugar-comum se "os meus olhos vibram ao te ver"? Por isso, "estranho seria se eu não me apaixonasse por você", pela réstia que vem do seu olhar...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Espelho...*


Todos os dias, impreterivelmente, às 7:00 horas, despedia-se da mulher de forma calorosa e saía para trabalhar, tendo a tarefa de levar o filho e deixá-lo na escola.  Era delicioso ter o menino ali ao seu lado e, ao mesmo tempo, perceber como o piá estava crescendo rapidamente, aliás, não é esse o grande medo de todos os pais: saber que os filhos um dia terão suas próprias asas? Esta é uma relação das mais contraditórias: desejam ardentemente que os filhos cresçam, mas, no íntimo, não é isso que querem, deseja-os eternamente crianças! Mas quem foi que disse que essa digressão era necessária? O mais sensato é voltarmos à história. Podia-se dizer que era um sujeito feliz, vivia bem para os padrões de um trabalhador de classe "média"! Não tinha outras ambições, pensava que se melhorasse muito, poderia estragar. Por essa razão, continuava seguindo sua vidinha pacata na pequena cidade onde morava, sem maiores aborrecimentos! Cumpria essa rotina sem qualquer remorso ou ressentimento!
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Naquela manhã, não fora diferente. Repetira tudo que fizera ao longo daqueles anos. Cumprimentou, como sempre fazia, a recepcionista da empresa em que trabalhava e seguiu para sua sala. Sentou-se à mesa de trabalho, não sem antes contemplar a fotografia que estava sobre ela em que se via a mulher, o filho e ele; sorriu, para si mesmo, chegara à conclusão, naquele instante, que não tinha o que reclamar da vida, tinha tudo o que queria! 
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Sentira algo estranho ao longo daquele dia, especificamente, percebia que as horas estavam mais vagarosas. Não via o momento de voltar para casa, uma inquietação incomum o perturbava, um aperto no coração que não saberia explicar qual a razão. Chegando a casa, não conseguira estacionar onde sempre o fazia, outro tomara-lhe a vaga, pensou que poderia ser uma visita inesperada. Ao colocar a chave na fechadura teve a primeira surpresa: a porta não se abriu. Qual teria sido a razão? Tocou a campainha e recebeu no rosto a segunda surpresa, daquele dia fatídico, a mulher que vivera com ele por tantos anos não o reconhecera, assim como seu filho, e para piorar mais ainda as coisas, havia outro homem na sua sala de jantar! Aquilo mais parecia um pesadelo!? Será que aquela situação surreal estava acontecendo mesmo ou era alguma piada de muito mal gosto? Entrou em desespero e começou a berrar a plenos pulmões todos os palavrões que conseguiu se lembrar! Com todo esse alarido, não era para menos, atraiu não só a atenção dos vizinhos, como também dos homens da lei! A família, da qual fizera parte em algum momento da sua existênncia, pelo menos era o que ele achava, chamara a polícia com medo da proporção que o caso pudesse tomar! Não, aquela fastasmagoria não estava acontecendo na vida dele! Exaurido e esmagado por todos esses acontecimentos, quase sem perceber, adormeceu no carro, com a vaga impressão que aquela seria a mais longa das noites!
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Foi a primeira manhã, depois de tanto tempo, em que o filho não se encontrava ao seu lado. Entrara apressadamente na empresa e teve mais uma das muitas surpresas que as últimas 24 horas lhe reservara: a recepcionista não o reconhecera. E mais, havia alguém ocupando seu espaço de trabalho, e tinha consciência que não era ele, mas se vestia do mesmo modo! A fotografia continuava no mesmo lugar, mas sem a sua presença! Será que a vida lhe escorrera entre os dedos e ele sequer percebera? Parecia-lhe que perdera a existência no vão das horas! Fora enxotado do lugar que trabalhara por tanto tempo como um cachorro sarnento! Em apenas um lance perdera tudo: a família, o emprego e a dignidade! Precisava urgentemente de um espelho para ver o que os outros viam! Não obstante o que viu o desesperou. Estranhamente não havia nada, onde deveria estar a sua imagem! Então essa era a crua verdade: ele deixara de existir e sequer percebera o ocorrido? Sentiu um calafrio lhe percorrendo a espinha ante essa verdade aterradora. Sentia-se como se estivesse sob um mar de ferroFez-se, então, a pergunta mais excêntrica que alguém poderia se fazer: "é possível morrer sem que tenhamos consciência de que isso aconteceu?"... 
*Inspirado no clipe da música Crystal Ball da banda Inglesa Keane     

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Rio de Janeiro: cenas que Fernando Meirelles não mostrou...



"A vida imita a arte", esse talvez seja o clichê mais clichê que conhecemos, contudo, por motivos desconhecidos, reaparece a todo instante com uma força avassaladora. Quando pensávamos que vivendo num país com as peculiaridades que tem o Brasil, nada mais poderia nos surpreender, que as barbaridades já tinham chegado aos limites do possível, eis que somos presenteados com cenas que poderiam fazer parte de quaisquer desses filmes violentos onde a quantidade de balas disparadas é superior a qualquer diálogo entre as personagens, aqueles onde os corpos tombam perfurados a cada segundo como se isso fosse a coisa mais natural do mundo! Juro que quando vi o helicóptero da policia do Rio de Janeiro em chamas, pensei que aquilo era cena de cinema! É certo que no ano passado vimos, por ironia, também de um helicóptero, "bandidos" sendo abatidos nos morros por atiradores de elite do Bope em rede nacional! Ou seja, é a banalização gratuita da violência nesse nosso vil cotidiano. É preciso que se diga que o que está acontecendo no Rio de Janeiro é a parte mais visível do grande iceberg que é a violência urbana e que aqueles que são responsáveis pela direção do Estado fingem que pode ser resolvida com helicópteros blindados, mais policiais, mais armamentos, com isso não é necessário ir à raiz da questão, afinal, já resolvemos todos os outros problemas como a fome, a educação, a saúde, não nos esqueçamos que somos um país olímpico e que o Rio de Janeiro é a sua sede, vibremos com a possibilidade das futuras medalhas e as lágrimas que virão!
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Quando falei na postagem "Vida de Cachorro" que aquele mendigo não iria assistir nem a copa nem a olimpíada, é bem provável que aquela história de ver "pelo em ovo" tenha vindo às mentes de algumas das pessoas que admiro, ora, tínhamos acabado de ver o "chora Brasil" revivido com toda a intensidade que mídia conseguiu nos brindar! Ficamos todos imbuídos do espírito olímpico, como foi emocionante ver em rede nacional o discurso do chorão mor do país e a vibração do povo nas ruas e nas suas casas quando o nome da cidade vitoriosa foi anunciado. Esqueceram de dizer aos traficantes que tiroteio e mortes maculam a imagem da cidade! Tem coisas que ainda me espantam, por estarem no terreno do nonsense. As cenas que possibilitaram a vitória do Brasil, diga-se o Rio de Janeiro, como sede dos jogos foram estonteantes, contudo a pobreza e miséria foram omitidas, totalmente descartadas! O que fez Fernando Meirelles na direção daquelas cenas é digno de Oscar. Não faltou, como já é de praxe, a masturbação global que encheu todas as medidas, mas diria um grande sábio: "isso faz parte do grande circo do qual somos os palhaços!" Não, não se parece com o pão e circo romano, é muito pior, mas deixa isso para depois, agora o momento é de vibração com nossas futuras medalhas: ouçamos nosso querido Galvão Bueno nos dizendo qual é o momento que devemos gritar a plenos pulmões que somos campeões olímpicos, não é mesmo?!
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Ainda estávamos embriagados com o orgasmo da Olimpíada 2016 ribombando em nossos ouvidos, quando fomos "surpreendidos" com as imagens cinematográficas da guerra do narcotráfico que, é preciso que se diga, não está restrita à cidade do Rio de Janeiro. Para se ter uma idéia, ainda que pequena do que está acontecendo, basta dar uma olhadinha nas páginas policiais das grandes e pequenas cidades que compõem o universo brasileiro, ainda que seja confortável para algumas cidades que os holofotes estejam voltados para os cariocas, isso dá a impressão que "algumas ilhas" são seguras: essa violência é de todos nós, está espalhada pelos quatro cantos do país! Na verdade, o que vem acontecendo no Rio de Janeiro, foi deliberadamente omitido do pacote olímpico, as cenas escolhidas mostravam alegria, carnaval, belas mulheres, gente feliz pela ruas, um lugar ideal para a realização de eventos de grande porte, tudo isso contrasta com as cenas recentes dos policiais militares em chamas! As imagens idílicas mostradas pelas televisões que vão ganhar dinheiro com os jogos foram "apagadas" pelo "fogo" dos donos da cidade, Hoje ninguém quer mais fazer turismo na cidade maravilhosa, com seus encantos mil, que coisa estranha, não? O mais curioso é que a polícia ao invés de admitir que as coisas estão fora de controle e que a realização dos jogos deverá ser, como foi o Pan, como será a copa do mundo, uma operação de guerra, para que não ocorra nenhuma tragédia, fica buscando justificativas INJUSTIFICÁVEIS! Os traficantes comandam o crime de dentro das prisões, que estranho paradoxo! O pior é que esse filme vem se repetindo, por estranha ironia, o mesmo Fernando Meireles, em Cidade de Deus, tentou mostrar as raízes dessa história! É bem provável que mais uma vez, para a segurança dos jogos, o governador do Rio de Janeiro retome o discurso da pena de morte, pois, encurralado como está, já sabe que prender os "bandidos" em PRESÍDIO DE SEGURANÇA MÁXIMA já não é mais a solução...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Castiga-me infinitamente...*

Essa foi a frase que ela disse instantes antes do encontro extraordinário entre aqueles dois "corpos estranhos"! Cada sílaba pronunciada por ela estava carregada de luxúria, desvario, lascívia, busca do acme do ato sexual; naquele momento, a excitação invadira todos os pelos e poros do corpo dele, uma sedução muito mais que arrebatadora, verdadeiramente alucinante! Neste instante, ele a queria com intemperança! E para o bem dele, ela também o queria com toda agudeza que aquelas sílabas anunciavam! Na verdade, desejavam-se e por isso tornaram-se amantes pela eternidade! Queriam se possuir pela infinitude das noites vindouras! Ironicamente, ecoara o som de palavras em ouvidos moucos, mas ainda assim, aqueles ouvidos, como que por milagre, ouviam excitados o som daquelas palavras que não cansavam de pedir: "Castiga-me infinitamente!"
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Estranhamente, aqueles sons foram pronunciados em outra língua, não, não era a língua dele, ela se expressava em magiar! Então, como fora possível afirmar que essa era a precisa tradução na língua dele? Quanto a isso, o poeta já dissera que navegar é que era preciso! Ah, que elemento estranho é o corpo! Mesmo sem falar aquela língua, entendia facilmente a língua que o outro corpo exprimia e na língua do corpo, as palavras repercutiam carregadas de desejos, gostos, carícias, brutos amores, doces suores, orgasmos infindos; alguém poderia traduzir com palavras o êxtase que aqueles corpos exalavam? Essa era a indagação que o poeta se fizera, chegando à conclusão que a verdadeira poesia desabava por dentro, era como um livro, cuja essência nada mais é que o contato íntimo entre dois amantes arrebatados!...

*Inspirado em cena do filme Budapeste de Walter Carvalho que se referenciou no livro homônimo de Chico Buarque de Holanda

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Vida de cachorro...

Florianópolis não deixa de ser uma cidade "modelo" para aqueles que estão fora dos seus muros! Trata-se de um grande cartão postal, o melhor IDH do Brasil! São paisagens deslumbrantes, paradisíacas que deixam qualquer um boquiaberto diante de tanta beleza, principalmente quando o velho sol se derrama sobre elas. Nada mais óbvio, resmungariam aqueles que a conhecem de fora ou como turista! Quem está longe só percebe o que o cartão postal pode mostrar e o turista não pode ver o que os que vivem por cá vêem, sob o risco de não mais voltar; por esse e outros motivos, as mazelas são escondidas para que o visitante não perceba a irrealidade que o cerca! Pergunte aos manezinhos que moram nos morros que circundam a cidade para saber o que acham dessa visão idílica que os outros têm da cidade que eles moram! O fato é que quem vem morar aqui, como é o meu caso, em pouco tempo, descobre que existe o REAL e a imagem que é vendida para consumo externo, não nos esqueçamos que a propaganda ainda é a alma do negócio!
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Como é uma cidade para "inglês admirar", à primeira vista, não há mendigos em suas cercanias! Mas se por um infeliz acaso, aparece algum, mas que rapidamente desaparece como num "passe de mágica", todavia como mágica é ilusionismo, sabe lá Deus o que fazem com os indigentes que insistem em se tornar visíveis! Dias desses, eu e uma amiga caminhávamos numa das ruas do centro, quando vimos um sujeito cercado por caixas de papelão e mais alguns trecos! Ficamos surpreendidos por ele se encontrar justamente onde os que zelam pela imagem da cidade não desejam, um morador de rua em plena área nobre, pois se eles não "existem" em espaços menos visitados, imagina justamente onde o cartão postal é mais visto! Acho que é necessário fazer um esclarecimento. Como estamos vivendo em tempos de pasteurização da vida, o eufemismo foi incorporado ao discurso cotidiano, o que antes era indigente e/ou mendigo, palavras nada sonoras, hoje é morador de rua. Fala a verdade, como pode alguém morar na rua? Entendo que isso não passa de uma suavização da miséria. Você pode me perguntar: "é possível suavizá-la?" Neste contexto, acrescente as temperaturas que ocorrem neste período do ano. Momentos em que a previsão era de 10º, mas a sensação térmica beirava os 3º! É insano afirmar que alguém mora na rua sob tais condições meteorológicas, na verdade, pessoas morrem na rua! Mas o fato é que, por uma falha no sistema, lá estava, maculando a paisagem, um indigente sob os céus de Florianópolis!
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Em uma de suas canções, Zeca Baleiro diz que "há mais solidão num aeroporto do que num quarto de hotel barato." Os humanos mesmo tão próximos, estão cada dia mais afastados uns dos outros! Nesta solidão nossa de cada dia, entra em cena o melhor amigo dos humanos, o cachorro, que em conseqüência disso, passou a ter uma vida melhor do que a daquele morador de rua, citado no parágrafo anterior. Como somos seres solitários, os idosos mais ainda, o cão é o companheiro de todas as horas, ter um cão é ter companhia e ponto! É certo que com a mudança de status do cachorro, há toda uma indústria à sua disposição o que deve causar uma inveja danada ao mendigo herói dessa narrativa. Existe uma gama de profissionais que se dedicam 24 horas por dia para o bem-estar do cão, sob todos os pontos de vista. Há que se ter cuidado com seus problemas afetivo-emocionais, depressão, seu cansaço, isso e mais aquilo! Ele precisa passear, estar vestido adequadamente, vejam aonde chegamos, até roupa específica para cachorro existe, como também, hotel para cachorro! É isso mesmo que você está pensando: desumanizamos os humanos, secundarizamos sua importância e humanizamos os cães, tudo o que alguns humanos não têm, incluindo aí aquele indigente catarinense, os cachorros têm em excesso! Antes que associação protetora dos animais resolva me processar, quero dizer que não sou contra esse tratamento VIP dado aos animaizinhos de estimação. Vai dizer que vocês não acham que eles ficam bonitinhos dentro daquelas roupas ridículas? O que me causa estranhamento é que não dispensamos tratamento igual aos nossos iguais, tal e qual nosso herói indigente, morador entre caixas de papelão, sob baixas temperaturas! Pessoas como o sujeito visto entre caixas de papelão, numa esquina da cidade, estragam a magia do lugar! Uma coisa é certa, nosso herói mendigo não vai ter dinheiro, embora tenha vestido a camisa dos Teixeiras e Nuzmans, para ver a copa do mundo em 2014 e nem a Olimpíada em 2016, afinal, ele não tem pedigree, na hierarquia dos cachorros, não passa de um cão vira-latas pobre e miserável, cheio de pulgas, mas que ainda assim torceu desesperadamente para que o Rio de Janeiro fosse a cidade escolhida para sediar os jogos olímpicos, cantando a plenos pulmões: "cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Silêncio...

Esmagados pela angústia da perda, mais que inesperadamente, perguntamos: para que nascemos? Responde em uníssono o coro dos insensatos: para amar até as últimas conseqüências! Não! Isso seria tolo demais! Alguém, mais que rapidamente, responde: nascemos para superar obstáculos, vencer, criar arte, transformar o mundo, chegar ao Olimpo, ganhar dinheiro, muito dinheiro, seu truão, isso sim, é uma razão plausível, todo o resto é conversa de utópicos sonhadores! Não! Retruca outro alguém! Não há nada mais divino do que trazer à luz um ser, dar-lhe vida, vê-lo crescer e se multiplicar, existe algo mais sublime do que ter o dom de dar vida a alguém? Ser mãe é mesmo padecer no paraíso!? Ah, diz o erudito do alto da sua sapiência, como são tolos os humanos, na busca incessante para encontrar uma razão para suas existências medíocres e vazias, querem desesperadamente ganhar dinheiro, para ter mais e mais, mas se perdem naquilo que compram: carros, casas, iates, mansões, relógios, celulares!
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Não, não existe nenhuma razão! Somos como as árvores, os pássaros, nascemos, embora, diferente dos primeiros, tenhamos consciência disso, para morrer um dia, ainda que tentemos protelar incessantemente este dia inadiável! O humorista cheio de graça diria: "queremos morrer velhos, contanto que seja o mais jovem possível! Dúvidas e mais dúvidas nos assolam! Para que nascer se vamos morrer um dia, não está aí o grande contra-senso da vida? Pergunte ao inseto que sobrevoa, neste momento, o seu destino, seus sonhos, suas aspirações mais recônditas! Ele não sabe, eu suponho, que tem apenas 30 dias para fazer tudo o que pode, até perecer sem deixar nenhum vestígio, nenhuma lembrança! Então, se o inseto vive apenas 30 míseros dias, qual seria a razão da sua existência? Não, não é da sua, meu caro leitor, mas da dele! Para que nasce um inseto? Qual a razão? Para que colocar um inseto no mundo, eu pergunto à mãe inseta! Será que ela também busca o significado do seu parto?
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Vivemos o tempo inteiro querendo saber porque existimos, sofremos quando um dos nossos desaparece, não conseguimos entender por que isso acontece justamente conosco! Alguns são assaltados pelo remorso profundo: "eu poderia ter dito isso e não disse, poderia ter pedido mil desculpas e cinco mil perdões, mas me calei." Faltou aquela última conversa que não tivemos! Nada diminui o sofrimento, nada aquece nossos corações combalidos, nada! Porém, sempre há um porém, quem foi, e isso é determinante, não mais sofrerá, estará liberto de todas as agruras que o cotidiano nos impõe, SEM DOR ALGUMA, consolo? Que nada, fato! Quiçá, em momentos como este, o melhor remédio seja o silêncio! Sim, vivemos num mundo tão cheio de "sons" que esquecemos que o silêncio também faz parte da vida, ouçamos, então, pelo menos dessa vez, o silêncio...Ró, meu filho querido, sua MÃE virou uma estrela, está agora no céu brilhando como diamante, traduzindo O que disse o poeta: "dói tanto medir a distância, saber que não vou te tocar além da lembrança, a tua falta é sol sem calor, está aqui mais se foi, virou estrela, a nossa estrela no céu...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Tempos de Paz...

Não vou mentir que tenho um pé atrás quando o assunto é indústria cinematográfica nacional, não sem razão. A partir da utilização do termo "cultura", criam-se leis para carrear recursos públicos para eventos sob tal rubrica, o que não se diz é que é cultura com fins lucrativos, logo deveria se autofinanciar! O fato é que não existe indústria de cinema no país se o Estado não injetar recursos. O que não deixa de ser um grande contra-senso. Neste sentido, quando vi as chamadas do filme "Tempos de Paz", de imediato, disse para mim mesmo: "lá vem mais uma produção da Globo Filmes (a produtora que mais obtém financiamento do Estado), com seu formato 'vitorioso' de novela em tela grande, haja vista, o filme Se eu fosse você 2!" Como de hábito, o diretor (Daniel Filho) e o elenco eram os "mesmos" de sempre, aquelas figurinhas carimbadas. Para minha surpresa, embora com "cara" de novelão das oito, a peça/filme fugia um pouquinho do padrão global. Para ser sincero, o impacto da entrevista dos atores Dan Stulbach e Tony Ramos foi maior do que o produto propriamente dito. Sem querer fui convencido a ver o filme, mesmo com toda a restrição ao "modelo" global de cinema.
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Não sei, talvez a "grande" sacada tenha sido transformar a peça que os dois protagonizaram em um filme "arrumadinho", sei, nada de novo! Contudo não é teatro na telona, aliás, não acredito que Daniel Filho mesmo que quisesse fosse competente a ponto de conseguir essa proeza. Bem sinteticamente, a história tem como pano de fundo o fim da segunda guerra, a razão do título, embora no Brasil esse fim ainda não estivesse muito claro, burocraticamente. Naquele momento, estavámos saindo da Ditadura Vargas e as novas regras ainda não tinham sido estabelecidas. A questão da imigração é posta em cena, tendo como palco a cidade do Rio de Janeiro. Dan Stulbach faz um ator polonês que quer se passar por agricultor, para que possa permanecer no Brasil, segundo suas palavras: "o país precisa de braços para a lavoura", portanto merecia estar entre aqueles que aqui permaneceriam! O problema é que dá de cara com um
"ex" torturador, Tony Ramos, que trabalha na Alfandêga como chefe da imigração, sua antiga "função" perdeu o sentido e ele perdeu a paz nesses tempos! De saída, suspeita que aquele sujeito com o sotaque carregado, mas que fala português, deve ser, sem sombra de dúvida, um nazista disfarçado. O artifício do "ex" torturador para demonstrar que o 'polonês' está mentindo, ao se dizer agricultor, é bem simples, pede-lhe que mostre as mãos! É bom que se diga que Francisco Julião, um advogado que representava as Ligas Camponesas, ao ser preso pelas forças de repressão da Ditadura Militar, mais uma em nosso caminho, foi descoberto por causa de suas mãos, disse-lhe o torturador, à época, que aquelas não eram mãos de quem trabalha a terra! Voltando "aos" "Tempos de Paz", o imigrante não tem saída, descoberto, aceita a proposta que o torturador lhe faz. Se consegui fazê-lo chorar, o carimbo para a sua permanência está garantido, antes, porém, lhe informa algumas das atrocidades cometidas por ele! Conta com regozijo que fora capaz de enfiar uma haste de aço no pênis de um prisioneiro e aquecê-la posteriormente, além de amputar a mão do médico que conseguira salva a vida da pessoa que ele mais venerava: sua irmã! Digam-me: existe alguma possibilidade de fazer um "homem" desse chorar?
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Se perguntarmos a um pediatra qual é a profissão de maior relevância social, é muito provável que ele afirme que é a dele, justificando que o futuro está em suas mãos, já que garante a saúde dos que perpetuarão a espécie! Esse talvez seja o grande equívoco de quem deixa de pensar na totalidade e estabelece hierarquia para as coisas da vida. Quem é mais importante para a sociedade o agricultor que ara a terra e produz alimento ou o ator que encarna seus personagens? É possível mensurar? Pois é, o roteiro de
Tempos de Paz nos faz crer que até os "brutos" são capazes, depois de um estupro, chorar copiosamente com o dramalhão da novela das oito! Sabemos do que são capazes os humanos, quem há de esquecer a bomba atômica que os americanos lançaram sobre os civis das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, na segunda guerra? Trata-se de uma apologia sem-vergonha ao trabalho do ator, o torturador pode não entender nada de teatro, mas se sensibiliza com o que vê! O que podemos dizer aos torturadores de todas as espécies, mesmo os que se emocionam como o Segismundo do filme/peça, é que a lei de Talião lhes cai bem...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Maurren, Jadel, Fabiana e seus fracassos...

A utilização pela mídia da emoção barata nos eventos esportivos já não nos surpreende mais! Percebe-se que seu principal instrumento de "coação" é o choro dos vencedores e/ou perdedores, logo, quer que façamos o mesmo! Não foi diferente no campeonato de atletismo 2009, realizado em Berlim, entre 15 e 23 de agosto. Como não poderia faltar, fomos acarinhados com algumas lágrimas da menina Maurren, bem que ela tentou, mas a dor foi mais forte e as lágrimas vieram, desculpem-na pelo fracasso, sim?! O joelho impossibilitou a realização do sonho da medalha e, quem sabe, mais alguns trocados em sua conta corrente!?Como nossa memória costuma nos trair, é bem provável que nem lembremos que, há mais ou menos um ano, se comemorava sua medalha de ouro, venceu a russa por um centímetro, e o "fracasso" de Fabiana Murer e suas varas, nas Olímpiadas de Pequim-2008! Aliás, é preciso que se diga, necessitamos e muito desses heróis esportivos para nos sentirmos menos perdedores, pensem bem, com o congresso que temos, repleto de Sarneys, Renans e outros, poderia ser diferente? Teria razão Angela Rô Rô quando dizia que "só nos resta viver"? Ou de quando em vez, a pedido da mídia, devemos derramar algumas lágrimas por eles?! A frase do repórter da rede globo Pedro Bassan, logo após o recorde de César Cielo nos cem metros, dá a exata dimensão das ironias linhas atrás: "um grande feito para a humanidade." Fala a verdade, não é surpreendente ouvir um jornalista, ainda que ele seja medíocre, dizer algo com esse teor? Transformar uma ação motora individual em algo extraordinário para os seres humanos, convenhamos, é de uma estupidez sem precedentes. Albert Einstein afirmou, certa vez, que apenas duas coisas eram infinitas: o universo e a estupidez humana.
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Entre os chamados atletas de elite, Jadel Gregório é aquele que considero o mais "malandrão" de todos. Parece que foi surpresa até para ele mesmo quando no Troféu Brasil-2007, em Belém, obteve um salto de 17,90m! Um grande feito, sem sombra de dúvida, além disso, conseguiu quebrar o recorde de 17,89m que pertencia a João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, que já durava 32 anos. Impactado com a façanha, perdeu a noção de tempo e espaço e saiu prometendo que a próxima proeza seria a quebra do recorde mundial do britânico Jonathan Edwards, a singela marca de 18,29m! Acreditava que podia por causa do tamanho do seu pé e por ser treinado pelo mesmo técnico do recordista! Brincadeiras à parte, o fato é que não chegou nem perto da promessa, vindo em curva descendente depois do feito da capital paraense. No último mundial, nas eliminatórias obteve 17,06m se classificando em último, a oitava posição. Na grande final, seu maior salto foi 16,89m lhe garantindo de novo, a última posição. Apesar disso, esse ano já saltou a marca "alvissareira" de 17,11m, no Meeting Indoor de Karlsruhe, na Alemanha. Curiosamente, o recorde do torneio pertence a ele, que na edição de 2004, conseguiu a marca de 17,46m. A desculpa para o desempenho tão ruim no mundial foi atribuído ao joelho. Na verdade, Jadel passa, para mim, a idéia de um bon vivant. Vive a vidinha que pediu a Maomé, lá na Inglaterra, e, nas horas vagas, tenta saltar satisfatoriamente. Suas afirmações são, no mínimo, curiosas. Chegou nas Olímpiadas de Atenas-2004 afirmando que só faltava saber qual seria a cor da sua medalha, não ganhou nem bronze! No mundial, a queda da qualidade de seu salto foi assustadora, mas aí a culpa não foi dele. A pergunta que não quer calar é: como pode um atleta de alto nível, sabendo que não está nas suas melhores condições, participar de uma competição em que estarão os melhores do mundo, incluindo no pacote uma séria lesão no joelho? Será que superestimou sua capacidade, entendendo que mesmo com o joelho roto venceria ou para o patrocinador tanto faz que ele se arrebente o importante é a exposição da marca?
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Fabiana Murer, depois do incidente de Pequim-2008, surpreendeu-me. Achava que tudo aquilo não passava de jogo de cena, que ela tinha "amarelado" na hora do salto e usou as varas como desculpa. Não há mais dúvida que realmente foi vítima da negligente organização do evento. Contudo sua reação deu a impressão que havia uma "conspiração" contra ela. Havia "alguém" querendo impedir que ela saltasse. Poderia ser a CIA a responsável pelo desaparecimento das suas varas? Observando sua trajetória, naquele período, seu maior salto foi de 4,70m, não seria nem bronze, já que a terceira colocada obteve 4,75m. Mas é claro que poderia surpreeder, afinal está entre as dez maiores saltadoras do mundo! Este ano saltou 4,82m no Troféu Brasil, no mês de junho! Em Berlim, apenas Isinbayeva com 4,85m saltara mais que ela, já que Rogowska com 4,83 não iria participar! O que aconteceu? As varas estavam lá, nada conspirava contra seus objetivos dessa vez. O que houve? Ela respondeu: "na verdade, não sei o que deu errado. Não estava sentindo muito bem o salto, não peguei o ritmo da vara. Não sei se a vara estava fraca.(sic) Tenho que ver com meu técnico." Quando saiu da China, Murer avisou que nunca mais voltaria àquele país por causa do incidente das varas. Naquele momento, a vara fora a responsável pelo desastre e na Alemanha? De quem foi a culpa pelo fracasso? O Joelho? Ops, não, o joelho foi o responsável pelos fracassos de Jadel e Maurren! Então? Podemos dizer que "amarelou" novamente? Com o sarrafo posicionado em 4,65m, que pode ser considerada uma posição "baixa" para quem saltou 4,82m, queimou as três tentativas! Essas ações motoras individuais fracassadas não deveriam representar nada mais que ações motoras. Atletas são individualistas até quando seu "jogo" é coletivo! O que me deixa por demais entristecido é saber que a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e o BNDES investem quantias enormes em clubes, seleções e atletas, enquanto milhões de brasileiros pobres penam nos corredores dos hospitais públicos implorando por atendimento básico! A saúde neste país é artigo de luxo, quem não tem um plano, por mais chinfrim que seja, não pode "pegar" nem resfriado e não me venham dizer que uma "nova" CPMF resolve a questão! O que fazer? Torcer e chorar com a TeleVisão assistindo as performances dos Jadeis, das Maurrens e das Fabianas? Ou o quê? O que farão os miseráveis?...