sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

À primeira vista...

"O medo não é perder a sensibilidade e sim, perder a voluptuosidade de aprisionar o tempo." Quem foi mesmo que disse isso? Agora não me recordo. Não faço a menor idéia se estava escrita em algum lugar ou se foi construída, por mim, nos momentos de desvarios, que não são poucos! A frase me trouxe à memória coisas há muito sepultadas que ressuscitaram das catacumbas como uma purificação necessária. Os meus demônios pedem passagem! Ah, essas imagens que insistem em vaguear, como prostitutas, nas esquinas dos meus desejos! 
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Lá estava, do outro lado da rua, a mulher da minha vida! Minto. Na saliência de uma escarpa que se iluminava com a sua figura. Mesmo a distancia, não conseguia tirar os meus olhos dos olhos dela, olhos que eram morenos como as cores da Bahia! Aquela mulher aterrissou em meu mundo com o mesmo impacto que as estrelas em noite de lua cheia! O mais estranho é que esse início não vinha encharcado do desejo sexual, o primeiro e o mais primitivo dos impulsos, embora eu a desejasse intensamente. Era a idealização da diva, o amor desabrochando à primeira vista! 
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A partir daquele momento, as coisas fugiram ao controle da razão! Penetramos em outra dimensão, aquela em que figuram somente os apaixonados. O primeiro beijo de língua fora eu quem dera! As descobertas dos nossos corpos foram/eram infindas! Teatro, cinema, as artes abriam intensamente as portas da percepção dos amantes. Na realidade, tudo é lindo quando estamos apaixonados, até as coisas mais estranhas adquirem sentidos e significados especiais. Vimos só nós dois o show de Cássia Eller: "ponho os meus olhos em você, sem você estar"! Como diamantes nos lapidávamos brilhantemente com toda a redundância que cerca o amor; sofisticadas foram as nossas viagens, nossos "baratos"! Como todos apaixonados, tínhamos nosso fundo musical: À primeira vista, de Chico César; como todos apaixonados, uma canção que nos marcava: Vento no Litoral, da Legião Urbana; como todos apaixonados, um filme que contava a nossa história: Pequeno Dicionário Amoroso. Tivemos também nossos momentos ásperos, como todos apaixonados! Mas como todos apaixonados, perdemo-nos! Um dia, numa feira de livros, tivemos a sensação que tudo ia desabar, a estrutura iria pelos ares! Veio o desespero! Estávamos em lugares diferentes. O medo de perdê-la, quiçá só a encontrando entre os escombros, me fez ir ao seu encontro, salvar o meu amor sem temer que as paredes caíssem sobre mim! O medo de morrer a fez correr na direção contrária, e na fuga, sobreviver, salvar a própria pele; o nosso amor não resistiu ao primeiro terremoto e eu morri em seus olhos...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Professores e Deputados...

Recebi, via "mala direta", um "documento" pedindo minha adesão a uma causa das mais nobres. No referido "santinho" é sugerida uma pressão popular sobre o congresso para que deputados elaborem lei que os obrigue a colocar seus fillhos na Escola Pública. Logo na introdução do "panfleto", o "missivista" não só acha genial a idéia, como parece que descobriu a roda com a proposta. Segundo essa genialidade, a "punição" imposta aos parlamentares os faria legislar em causa própria e é justamente o que quer o "documento"! Como os senhores deputados não iam desejar ver seus filhos estudando no lugar onde os pobres estudam, por isso a qualidade fica a desejar, elaborariam leis que visassem a recuperaçãao da Escola Pública! É isso, quem elaborou o tal docuemento deve ter tido uma "iluminação aristotélica", pensou o genial autor: os deputados são membros do poder legislativo, logo são eles responsáveis pelo ordenamento legal que pode salvar a Escola Pública e todos, assim como os filhos dos deputados, poderão estudar naquele espaço, pois a educação por lá será da melhor qualidade! O mais estranho é que essas vozes costumam esbravejar com a atitude dos parlamentares que, em sua maioria,  advogam em proveito próprio, todavia desde que tirem uma "lasquinha", aceitam descaradamente esse comportamento como uma grande contribuição.
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Professores, assim como outras categorias profissionais, são hipócritas! Discursam veementemente contra a exploração, as políticas públicas e outros, nos espaços das salas de aula, porém no cotidiano reagem tal e qual aqueles que o IBGE chama de "classe média", só que algumas "letras" abaixo que os ilustres parlamentares! Certa oportunidade conversava em uma roda de docentes e a discussão "escorregou" para Escola Pública. Todos a defendiam com unhas e dentes. Faziam críticas a estudantes que não valorizavam atuar naquele espaço "santificado"! Eis que de repente, apareceu a pergunta que é o "tendão de aquiles" desses "defensores" da educação popular: "seus filhos estudam na escola pública?" O mais estranho é que dentre os que faziam parte daquela roda, nenhum, eu disse, nenhum, tinha os filhos estudando na Escola Pública!? Usaram os argumentos mais indecentes para justificar essa contradição, ou seja, aqueles que defendem a Escola Pública, a defendem para os filhos dos outros, dos pobres, em linhas gerais, os seus filhos, não, jamais em tempo algum! O fato é que se consideravam bons professores, eram professores que atuavam no espaço sacrossanto da Escola Pública, não obstante entendiam que seria um erro permitir que seus rebentos frequentassem seus espaços de trabalho!! As justificativas eram as mais injustificáveis possíveis, contudo houve uma que até hoje não consigo esquecer, pela "riqueza" da metáfora, disse o professor do alto da sua sapiência e com toda sua solércia: "se eu posso dar ao meu filho uma FERRARI, por que fazê-lo sofrer com um fusca?" Como são semelhantes esses professores e seus deputados; os primeiros querem que a Escola Pública seja tão boa quanto a escola que os filhos dos segundos estudam, pois ainda que os filhos de ambos estudem na PRIVADA, a privada dos deputados é muito melhor...