terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Tatuagens, brincos e afins...


Um filho se aproxima do pai e diz: "pai, vou fazer uma tatuagem". Incrédulo, este lhe responde: mas uma tatuagem? Você sabe que não é recomendável, além de ser uma coisa sem sentido, e depois se quiser tirar tem que fazer cirurgia, faz isso, não! A mãe tentando amenizar a situação entra na conversa e sugere que o filho, no lugar da tatuagem, coloque um brinco! É mais bonito e se ele vier a se arrepender, remove sem causar nenhum transtorno. O garoto, para não aborrecer aos dois, busca uma solução Salomônica: "está bem, então vou colocar um piercing na língua, não marca como a tatuagem e nem aparece como o brinco!"Há uma chamada na TVE cuja mensagem tem o intuito de descobrir em que lugar guardamos o nosso preconceito, todas as vezes que vejo, sempre penso que a formulação está errada, já que o objetivo da pergunta induz a uma resposta, mas imagino que se a pergunta fosse: "você é preconceituoso", é bem provável, mesmo porque é crime, todo mundo diria que não, não é verdade? No final, sugerem que não guardemos o nosso preconceito e sim que ele seja jogado fora. A "histórinha" contada linhas atrás, vai neste sentido, as pessoas julgam por características supostamente visíveis a olho nu. Quem usa isso é aquilo, se usar aquilo vão te chamar disso! Um negro à noite em certos lugares corre sérios riscos de ser vítima desse preconceito que "todos" guardam em algum lugar, não nos esqueçamso que vivemos numa sociedade dividida, a guerra civil no Rio de Janeiro é um exemplo disso. Tenho três tatuagens e lembro que quando fiz a primeira, houve uma sugestão que eu a colocasse em local pouco visível para evitar o tal preconceito, afinal, preto, morando em Salvador, poderia ser muito inconveniente. Hoje usar piercing, brinco, ter tatuagem já não causa tanto "constrangimento", quando vim lecionar em Jequié, a diretora da escola foi "preparada" para aceitar os meus brincos, do tipo, "ele só tem esse 'defeito'", contudo uma coisa continua como antes, continuamos "guardando" o nosso preconceito que emergirá a qualquer momento nestes tempos de bárbarie.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Faroeste Caboclo


Manhã dessas ao acordar, comecei a pensar como as coisas sobre a morte nos deixam aturdidos, desequilibrados, quiçá, com um tremendo sentimento de impotência e a tristeza vem nos tornando menor do que somos! A morte de Renato Russo tomei conhecimento mais ou menos assim, tipo piada de mau gosto. Coisa que embora esperada, queríamos que nunca acontecesse. Quando me disseram, pensei que era brincadeira, sei que é totalmente fora de propósito "brincar" com esse tipo de coisa, mas era uma forma de me enganar, juro que queria ser "o último a saber", mas era a mais cruel das verdades e olha que naquele momento, ninguém via nele qualquer característica de fenecimento corporal, como, por exemplo, em Cazuza. Renato "sumiu" e a imagem que temos dele é a mesma de sempre, sem nenhuma referência à doença. Tenho um amigo que tem uma tese que todo e qualquer Legionário acredita de graça! A tese é a de que Renato cansou desse mundo de bárbarie e saiu de cena, usando a "morte" como estratégia, será? Contudo, essa notícia saiu no dia 5 de fevereiro, parece que um dos seus "sonhos" está prestes a se tornar realidade, já se encontra em fase de preparação a filmagem de "Faroeste Caboclo". Sei que muitos dos admiradores da banda sonhavam com isso, é quase unanimidade que todos viam/vêem a letra da música como um verdadeiro roteiro de cinema, uma "tragédia grega", a editora Tapajós, detentora dos direitos autorais, bem que tentou "pentelhar", mas não deu, prevaleceu a justiça, nestes tempos de caboclos faroestes, mas enquanto o filme não vem, "ouça no volume máximo":

Faroeste Caboclo - Legião Urbana

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da cercania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu
Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
E de escolha própria escolheu a solidão
Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico aos doze era professor
Aos quinze foi mandado pro reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror
Não entendia como a vida funcionava
Descriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem foi direto a Salvador
E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem
Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar:
Dizia ele - Estou indo pra Brasília
Nesse país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar
O João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária viu as luzes de natal
- Meu Deus mas que cidade linda!
No Ano Novo eu começo a trabalhar
Cortar madeira aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga
Na sexta feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô
Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar
E Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que seu ministro ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que como Pablo ele iria se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado a plantação foi começar
Logo, logo os maluco da cidade
Souberam da novidade
- Tem bagulho bom ai!
E o João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali
Fez amigos, freqüentava a Asa Norte
Ia pra festa de Rock pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade
Começou a roubar
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
- Vocês vão ver, eu vou pegar vocês!
Agora Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Destrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu
Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
- Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter
O tempo passa
E um dia vem na porta um senhor de alta classe com
dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta de João
- Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança
Isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão
E é melhor o senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um peixes de ascendente escorpião
Mas antes de sair, com ódio no olhar
O velho disse:
- Você perdeu a sua vida, meu irmão!
- Você perdeu a sua vida, meu irmão!
- Você perdeu a sua vida, meu irmão!
Essas palavras vão entrar no coração
- Eu vou sofrer as conseqüências como um cão.
Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto
E ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar
Falou com Pablo que queria um parceiro
Que também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Taguatinga
Mas acontece que um tal de Jeremias
Traficante de renome apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que com João ele ia acabar.
Mas Pablo trouxe uma Winchester 22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar
Jeremias maconheiro sem vergonha
Organizou a Roconha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
E dizia que era crente mas não sabia rezar
E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
- Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já está em tempo de a gente se casar
Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez
Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
- Amanhã, as duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote catorze é pra lá que eu vou
E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra que jurei o meu amor
E Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora o local e a razão
No sábado, então as duas horas
Todo o povo sem demora
Foi lá só pra assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo
E começou a sorrir
Sentindo o sangue na garganta
João olhou pras bandeirinhas
E o povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro
E pras câmeras e a gente da TV filmava tudo ali
E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
- Se a via-crucis virou circo, estou aqui.
E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester 22
A arma que seu primo Pablo lhe deu
- Jeremias, eu sou homem. Coisa que você não é
E não atiro pelas costas, não.
Olha prá cá filha da puta sem vergonha
Dá uma olhada no meu sangue
E vem sentir o teu perdão
E Santo Cristo com a Winchester 22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor
O povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade não acreditou na
história
Que eles viram da TV
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília com o diabo ter
Ele queria era falar com o presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz
Sofrer

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Acabou o carnaval!

Agora são cinzas! Deixei de participar, efetivamente da festa, quando percebi que a diversão, em Salvador, se tornou uma coisa tão artificial e insossa, é percebido a olhos vistos que a imagem da cidade é "vendida" como se "beijar", no sentido mais vulgar possível, fosse a tônica. Recordo-me que estando em Uberlândia, em 2004, um sujeito ao saber que era baiano, falou num tom libidinoso o quanto devia ser bom estar em Salvador no carnaval, retruquei que não era bem assim, mas sabendo que a imagem divulgada não o permitia pensar de modo diferente! Os blocos são todos "iguais" e quando a tv entra em cena, tem sempre alguém "beijando" na boca!, a "originalidade" apregoada fica por conta de umas bobagens que uns e outros trazem, do tipo um "andar" a mais no trio da Daniela Mercury etc.! Fiquei em Jequié e entre as atividades pensadas estava uma visita à Barragem da cidade...O lugar é muito lindo, vale à pena ser visto e visitado. A vegetação, as pedras que emolduram o local são de uma beleza inexorável! É perceptível um certo abandono do local. A estrada além de ser de barro, some-se a isso as últimas chuvas, é mal tratada. Não há uma "política" direcionada ao lugar. Políticas públicas de lazer seriam bem-vindas no sentido de não só proteger e cuidar da flora e fauna da região, mas de possiblitar acesso às belezas que qualquer olhar mais sensível percebe...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Esperando o carnaval!


Dizem as más e boas línguas que o Brasil só "funciona" após o carnaval! Será mesmo? Um país imenso, cheio de flores e frutos, matas abundantes, embora estejam tentando acabar com essa abundância, só começar a funcionar depois do período momesco, não soa estranho? Tentei fazer uma espécie de investigação para me certificar de tal afirmação! Por onde começaria para ter a certeza de que este grande país só deslancha realmente depois da festa da carne? Pensei cá com os meus botões, qual seria o caminho mais fácil? Talvez fosse a mídia televisiva, ou seja, seria interessante dar uma vasculhada na sua programação para se ter uma idéia geral, é claro que isso não me obrigaria a ver tudo que se passa nas telas das grandes redes, não sou masoquista, que isso fique bem claro! Usando da indução, bastaria dar uma olhada na rede dos Marinhos que teríamos a resposta, já que tudo que a Globo faz as outras imitam, isentas, desse "balaio de gatos", apenas algumas tvs educativas. Topei o desafio e fui à luta...não é fácil! Além das indefectíveis novelas, tem cada coisa que passa que me pergunto por que ainda nos surprendemos com a forma bestial que estamos vivendo! A violência é gratuita, tem bala e mortes para todos os lados! Há uma série chamada 24 horas que "elimina" terroristas, pelo visto parece que só não existe terrorista americano, George Bush, Condoleezza Rice e tantos outros que invadem o país alheio em busca de armas de destruição em massa e nada encontram, não se enquadram no perfil! Pela "pesquisa" realizada percebi, salvo engano, que até a grade de programação das grandes redes ficam refém da grande festa, têm que esperar as cinzas da quarta-feira! Sabemos que da sua espontaneidade inicial, o carnaval tornou-se um "espetáculo" cronometrado, tem a hora da passista rebolar, tempo da rainha da bateria mostrar suas "habilidades", momento do trio elétrico da Daniela Mercury passar, instante do Galo da Madrugada aparecer na telinha! Que pena que deixamos que isso acontecesse, não? É como se apertássemos um botão e enquanto "rôbos" começássemos a ser felizes "Mas este ano, está combinado...", esse trecho da canção "Máscara Negra", de Zá Kéti, anuncia um trato carnavalesco que estarei vivendo às avessas, não irei para "avenida desfilar"! Manuela Cássia estará trocando o barulho de Salvador pela calmaria de Jequié, e juntos pretendemos: ouvir Jazz, ver filmes, ler alguns livros, entre os quais: "O Caçador de Pipas" e "A ilha" e colocar nossas conversas em dia, digam-me aí, há um programa melhor para o carnaval?

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Clarisse

Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz
que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças

dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel,
não se mexe, não se move,
não trabalha.
E Clarisse está trancada no
banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no
canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela
se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver
em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor
fosse diferente, ou inexistente
Nada existe p'ra mim, não tente
Você não
sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais
efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência
estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando
em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O
medo de voltar p'ra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No
caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De
saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que
existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o
avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada em
seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um
pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo resistir

E vou voar pelo caminho mais bonito
E Clarisse só tem 14 anos...


Legião Urbana

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Rota de Colisão

Escrever sobre os catadores de lixo e verificar a forma como eles aceitam esse "ofício", foi muito desalentador. Perguntei-me se esse é o último degrau que poderiam chegar esses humanos. Ricardo Pereira, de forma bastante clara, disse no seu comentário que precisamos nos reciclar! Ele está certo! Estamos destruindo tudo: florestas, água, meio ambiente, aquecemos o planeta. Existe ainda a possibilidade de a água, em futuro bem próximo, ser tão rara e cara quanto o petróleo, é verdade, rompemos o ciclo das águas! Dizia eu que pensava termos chegado ao último dos degraus ao tratarmos seres humanos como lixo. Não, conseguimos ser mais cruéis ainda, se bem que fazer juízo de valor, nesta situação, e mensurar o que é mais perverso é uma heresia. Fomos surpreendidos pelo assalto seguido de morte de um garotinho no Rio de Janeiro, nesta semana. Não vou repetir, foi chocante, embora ações como essas estejam se tornando comuns, queimamos o índio, queimamos aquele casal em Bragança Paulista juntamente com a criança e mais uma funcionária, queimamos ônibus com pessoas dentro! Sim somos capazes das ações mais atrozes! O medo é o mesmo que manifestamos quando falamos dos catadores de lixo. É começarmos a aceitar essas ações como naturais! Entretanto, no calor do momento e de forma populista, o governador Sergio Cabral Filho sugeriu que seja alterada a idade para se culpabilizar criminalmente alguém, visto que, entre os assaltantes havia um menor, se referenciando nas leis dos EUA. Fiquei entre amedrontado e preocupado, se a idéia é agir de forma análoga aos Estados Unidos, logo, logo o governador vai sugerir a pena de morte! Se ver pessoas comendo lixo causa náuseas, o que dizer de autorizar o Estado a matar? O que estou dizendo é que ao invés de buscarmos as causas, trabalhamos com o efeito! Neste sentido, o raciocínio da pena de morte se justifica, assemelha-se a um silogismo: se matamos o criminoso logo acabamos com a violência! Sendo verdade essa assertiva, por que os estudantes lá, nos EUA, se armam e matam dentro das escolas? A complexidade da questão exije uma reflexão profunda por parte daqueles que gerenciam o Estado ou será que voltamos ao "Tempo das Diligências"?

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Boca de Lixo

Há entre os poemas preferidos de Manuel Bandeira, um que chama à atenção pela força da metáfora usada para se referir à espécie humana. A partir de uma gradação descendente, às avessas, que fique claro, nos coloca frente a frente com uma imagem que deveria nos chocar até o último fio de cabelo, ele diz: "Vi ontem um bicho, Na imundície do pátio, Catando comida entre os detritos, Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava, Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem". Hoje à tarde, assisti a um documentário chamado Boca de Lixo, de Eduardo Coutinho, e instantanemente o poema me veio à memória, nas imagens apresentadas vemos a forma perversa como tratamos aos que não têm muitos recursos, sei que dizer isso é usar de eufemismo, na verdade, esses "cidadãos" estão na condição de miseráveis. O assustador é que aqueles que estão vivendo dentro, é isso mesmo, do lixo, acabam por aceitar com resignação essa situação. Como se fosse obra e graça do Espírito Santo!...passadas algumas horas, não consigo esquecer daquelas imagens! Eu sei que muitos podem dizer, mas isso é comum em todos os Lixões espalhados pelo Brasil, por que a surpresa? Pode-se dizer que isso já faz parte do cotidiano, já incorporamos essas aberrações! É justamente aí que encontro o problema. Um certo nazista disse um dia que uma mentira repetida diversas vezes se tornaria verdade! Fazendo uma analogia com as imagens, diríamos que vemos repetidamente cenas em que homens, mulheres e crianças, no meio lixo, comem lixo, literalmente, que já não nos indignamos, nos tornamos insensíveis! É normal e comum! Vejo uma única diferença entre o poema "O Bicho" e a vida concreta que estamos vivendo. No poema, Manuel Bandeira está boquiaberto, estarrecido, vilipendiado, humilhado com a condição sórdida a que chegamos, no nosso caso, já não sentimos nada...

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Pernambucano








Nietzsche disse que a vida não tem sentido algum, mas quando ouço pássaros cantando, a imagem ao lado mostrando parte da vegetação, parte do mar na Paraíba, uma noite de lua cheia repleta de estrelas tendo a desacreditar no filósofo, será que vimos aqui para nada? "Existimos a que será que se destina...", diria o músico baiano, essa talvez seja a grande angústia humana! Viver apenas para morrer? Digo isso, porque ao longo da vida vamos fazendo amigos e, por estranha ironia, também os perdendo! Conheci um camarada, pensei que fosse paraibano, mas não é que o cabra é pernambucano? Professor, Legionário, Revolucionário e além de tudo isso, que não é pouco, SOLIDÁRIO...um amigo, desses que não encontramos em qualquer lugar...tivemos discussões homéricas, espantamos muitos abutres, que ele prefere chamar de urubus, mas os abutres continuam sua sanha, mas nós não nos dobramos ao "canto" dessas aves. Lauro Xavier Pires Neto, vou te contar um segredo, meu camarada, muitas das vezes em que estou meio que alquebrado, lembro das conversas que tivemos, da sua força e fé em acreditar que a revolução virá, aí me renovo, rearrumo os meus ossos e volto ao front; um som distante anuncia: "o mundo começa agora, apenas começamos!", não é, Pernambucano?!