domingo, 7 de agosto de 2011

casar e trair: as duas faces da moeda...

Conversava com uma mulher de meia idade (não sei se seria melhor dizer mulher madura!) em Florianópolis, eis que do nada, ela me sai com essa: "estou cadastrada em todos os sites de relacionamentos e tem muita gente querendo casar comigo!" Minha estranheza não se deu por haver muita gente querendo casar com ela ou por estar cadastrada em todos os sites, mas por tomar conhecimento de que as pessoas agora "arriscam" suas vidas apostando neste tipo de relação. Quando conhecemos alguém no dia a dia já é tão difícil o "negócio" dar certo, imaginem uma união baseada nestes termos? A possibilidade hoje de casamento "arranjado" a partir da tela do computador mostra o quão estamos nos afastando cada vez mais do mundo real e apostando todas as fichas no quimérico mundo virtual! Claro, além de totalmente asséptico esse mundo é perfeito como a Utopia de Thomas Morus! 
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O fato é que a pessoa ideal para ficar ao nosso lado, por todo o sempre, está lá do outro lado do micro sendo mediada por quem mais entende as pessoas e as relações afetivas na contemporaneidade: os sites de relacionamentos!? Há pessoas hoje que só estabelecem contato se seu "pretendente" tiver cadastro em alguma rede social, isso demonstra que temos um novo passaporte do amor, sem ele, está cada vez mais difícil namorar e beijar na boca como se fazia antigamente! Com essa referência, temos a certeza que nossa vida amorosa pode ser resolvida a partir de simples toques no teclado! Não deixa de ser estranho entregarmos o futuro das nossas relações mais íntimas à virtualidadeA senha para nossa felicidade se encontra nas mãos das redes sociais! Convivi com a heroína dessa história 35 longos dias. Uma pessoa difícil em todos os sentidos, poderia elencar aqui uma quantidade imensa de adjetivos que poderia depreciá-la, mas basta um para traduzir esse sentimento: infeliz! Ela faz parte de uma legião de homens e mulheres que está buscando sua cara metade por essa via, a causa talvez seja uma solidão dilacerante que os novos modos de viver nos impõem e a confiança de que há um príncipe e/ou princesa encantado(a) em algum lugar a nossa espera! Fico me perguntando o que ela teria dito aos seus pretendentes para que pensassem que teriam encontrado a pessoa dos seus sonhos, mesmo sem nunca tê-la visto pessoalmente, sem conhecer suas manias, seus humores, seus cheiros; o fato é que ela falava e muito que queria casar, estava cansada de viver sozinha!
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Enquanto essa mulher alquebrada de 50 anos, corroída pela solidão, deseja alguém para dividir seus carinhos, a versão brasileira do site ohhtel que é responsável por proporcionar aos amantes, cujo casamento tem sexo meia-bomba, uma traição discreta, entrou no ar. O curioso é que no ar desde o dia 11 de julho de 2011, não completou sequer um mês ainda, e já tem mais de 150 mil usuários dispostos a uma traiçãozinha "facilitada"! Neste caso, só perdemos em número de "sócios" para os EUA onde o site existe há mais de 2 anos e tem 1,4 milhões de casados à procura de alguém para copular! Vemos aí aquela antiga máxima que dizia: o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. Segundo pesquisa feita pelo Ohhtel, existem cerca de 14 milhões de homens e mulheres vivendo sem sexo no casamento no Brasil, é muita gente, não?! Os números levantados "afirmam" que 19,2% dos casados têm menos de uma relação sexual por mês, enquanto 51% estão insatisfeitos! A média de idade entre os homens é de 39 anos, entre as mulheres é de 33 anos. A partir de uma estratégia de marketing bem articulada, o Ohhtel não cobra inscrição das mulheres, porém os marmanjos têm que desembolsar cerca de R$ 60 se quiserem manter contato com alguma das inscritas na rede. Contudo parece que esse pormenor não assustou ou intimidou os homens sequiosos por uma traição planejada. O dado deveras importante é que das 14 milhões de almas que fazem parte do cadastro do Ohhtel no Brasil, 66% são homens, enquanto as mulheres somam 34%! 
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Lais RannaVP de operações do site no Brasil, deixou claro quem é o alvo e as razões de se escolher essa alternativa para a busca da felicidade sexual do próximo, disse ela: "quando você se encontra em um casamento sem sexo, você tem três caminhos a seguir: 1. continuar infeliz desse jeito; 2. pedir o divórcio (nessa opção, você estará colocando o sexo acima da família, filhos, finanças, etc); ou 3. continuar o casamento e procurar satisfação sexual em outro lugar. O site, então, é para pessoas que escolheram essa terceira opção e que querem fazer isso de uma forma mais segura." Pois é, sublinhei por entender que estamos diante de uma pessoa que além de cínica, é pragmática e extremamente esperta, ora, a pessoa colocar o sexo acima da família, filhos e finanças é algo nefasto e não recomendável, afinal é importante a manutenção dessas instituições, mas trair/enganar deliberadamente seu/sua parceira(o) é muito mais sensato e seguro do que a separação! É o uso da lógica: trair e coçar é só começar! Vale muito a pena ouvir um pouco mais o que tem a dizer a figura "brilhante" que é Lais Ranna sobre as vantagens de alguém se associar ao Ohhtel: "O pagamento é bem discreto: dinheiro ou cartão, sendo que o nome do site não aparece no extrato bancário. Lembramos que a pessoa deve tratar o futuro amante como um total desconhecido, adotando as mesmas medidas de segurança que usaria em outra rede social. Sugerimos também contar para outras duas pessoas aonde você está indo, além das características físicas de quem você vai encontrar, sem a necessidade de explicar a finalidade do encontro. Marque também um encontro rápido e em local público." É preciso dizer mais alguma a esse respeito depois dessa aula? Apenas que o perigo mora ao lado!
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O que as duas situações têm em comum? Em que a busca de casamento para a superação de uma solidão dilacerante e o desejo de colocar um pouco de sal a partir da traição, via rede social, numa vida sexual já decrépita e sem sentido, se aproximam? Na verdade, nas duas há uma carência humana de afeto, carinho, amor nos dois caminhos postos à disposição, contudo essa carência está se tornando abissal! Talvez o mais grave entre as situações apresentadas seja a nossa total incompetência para nos relacionarmos diretamente, e uma tendência à inserção cada vez mais comum de um parceiro virtual intermediando os encontros. Já não estamos conseguindo caminhar sem essas muletas virtuais a nos auxiliar! Há uma viva demonstração de que precisamos da mediação de outrem para encaminhar até aquilo, a traição, cujo sigilo era fundamental para sua sobrevivência! Será que para tudo o que se relaciona às nossas paixões mais íntimas um site de relacionamentos estará nos "bisbilhotando"?! Vivemos George Orwell e seu 1984? Quiçá isso demonstre que estamos totalmente desamparados no que se refere às questões do nosso afeto e o pior é que não há nenhuma  luz a iluminar o fim do túnel...