sábado, 25 de outubro de 2008

Controle Remoto...

Por pura catarse resolvi desabafar, nem sei se aqui é o lugar mais indicado. Na realidade, nada melhor do que colocar os nossos fantasmas porta afora! Fico me perguntando porque os seres humanos inventaram uma coisa tão estranha e deram o singelo nome de AMOR! Sentimento afeito a enormes contradições! Pois é, temos entre os milhões de conceitos este que é sublime, porque fala diretamente ao coração! É bem provável que aquela canção, daqueles dois irmãos chatos, cujo pai se chama Francisco, fique enjoativamente ecoando na sua cabeça! Faz-se de tudo por amor! Mata-se inclusive. Aliás, há contradição maior do que destruir, fazer desaparecer o ente que você diz amar?
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Nos dias que antecederam à tragédia de Santo André, fiz uma série de ironias que agora me causam vergonha e constrangimento! Jamais, em tempo algum, pensei que aquele indivíduo tivesse coragem de destruir a vida da menina Eloá, inclusive, vislumbrei um desfecho mais coerente: o suicídio do bandido, afinal, era ele quem não conseguia viver sem ela, tudo fora feito por causa da paixão que o consumia! Mas nem tudo é tão simples como imaginamos, não há lógica na maioria das nossas atitudes. Somos seres imponderáveis, às vezes, desprezíveis! Foi Andy Warhol quem disse que todos teríamos quinze segundos de fama! Pois é, não poderia ser diferente! A mídia caiu de boca, sequiosa pelo sensacionalismo que o caso lhe proporcionava! Lindemberg se tornou, em poucos dias, "atração" nacional! Todo mundo queria saber qual seria o desfecho daquele drama. O estranho, para os padrões televisivos, é que se tratava de pessoas comuns, esse não era um caso típico da "classe média". O fato é que só na tragédia o drama do pobre aparece na TV! Aliás, o caso garantiu, em alguns momentos, o primeiro lugar da audiência para a rede do bispo! E, para espanto de alguns, uma apresentadora de TV, Sonia Abrão, teve a infeliz idéia de conversar ao vivo com o assassino! Sinal dos tempos: entrevista com o criminoso, antes de o crime acontecer!
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Neste circo sem pão, aconteceu algo que reforçou a sensação que tudo aquilo não passava de uma farsa. O momento em que a "refém", é de se causar estranheza, voltou a ser refém! Nada mais paradoxal! Tudo levava a crer que o sequestro ia acabar bem! Mas estamos vivendo o tempo em que a mídia transmite as desgraças ao vivo, não importam as consequencias, o importante são os números do ibope! Tivemos acesso à conversa do sequestrador, onde este, subrepticiamente, afirmava ao policial que aquilo não ia terminar bem! Ironia do destino, descobriu-se que embaixo da tragédia havia outra. O pai da menina, além de ter ficha na polícia de Alagoas, era/é cúmplice do sequestrador, que por sinal, é membro de uma quadrilha em Santo André! Essa seria a principal razão de ele não se opor ao namoro da filha, que já fora espancada, em algum momento, pelo criminoso! Nelson Rodrigues disse que brasileiro só é solidário nas tragédias, causa-nos deleite as misérias dos outros. Vimos como o acontecimento desumano do ônibus 174, também transmitido em rede nacional, se transformou em "arte". Este caso, por estranha ironia, tem todos os ingredientes para que isso se repita, prova da materialização da barbárie, Mészáros, em outro contexto, afirmou que se tivéssemos sorte chegaríamos lá...

sábado, 18 de outubro de 2008

Térreo...

Na música do Rappa, Rodo Cotidiano, o "herói" trabalhador procura por caneta e papel para registrar a inspiração que a "musa", entreolhada no trem lotado, lhe proporcionara: "a idéia lá, comia solta, subia a manga, amarrotada social, no calor alumínio, nem caneta, nem papel, uma idéia fugia, era o rodo cotidiano." Falar de cotidiano com suas simultaneidades torna certas situações, não apenas caricatas, mas também sarcásticas! O "herói" da canção com sua marmita às costas, "quentinha abafada", sufocado na minhoca de metal, ainda tem tempo de se inspirar. Falamos de movimento em espaço exíguo onde muitas pessoas se amontoam!
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Não sei por que estranha razão, vi uma analogia entre o trem do trabalhador da canção e as muitas quitinetes espalhadas pelo país! O trem se desloca para os mais variados lugares; na quitinete é bom não ficar se deslocando muito porque além de as paisagens não variarem, logo, logo, nos chocamos com algum móvel que está justamente onde não deveria. Neste caso, você poderia perguntar, onde está a analogia? Olhemos para seus interiores! Em ambos, os espaços são tão reduzidos que somos espremidos em meio a pessoas e coisas!
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Quando era criança, na grande maioria das vezes, morei em casas com quintal, porém na maturidade minhas moradias saíram do "chão", lentamente, passei a viver engaiolado em prédios de dois e três andares! Todavia, aquilo que parecia um problema, percebo, hoje, com uma clareza imobilizadora, era uma grande, uma enorme vantagem! Estar morando, no momento, em uma quitinete tem sido algo, deveras, engraçado para os outros! Fico pensando como seria para aquelas pessoas acostumadas a morar em casa grande viver em uma quitinete. Há uma perda total da intimidade, ao chegar na sala já se tem uma visão total do quarto! Não há o que esconder, da entrada tem-se a visão da casa inteira,
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O cotidiano vai ditando, com sua força imperiosa, as formas e jeitos que assumimos. Todos os dias quando o vizinho de cima resolve frequentar o "quartinho", começam os meus pesadelos, mesmo estando completamente acordado! Quando suas necessidades (fisiológicas, é claro) são realizadas ao mesmo tempo que as minhas, a sensação é que estou num show de horrores! Tenho impressão que "aquilo" tudo vai cair em cima de mim, inundando o imóvel inteiro! Neste caso, perco toda a concentração naquilo que estou fazendo, também pudera, não é?! Para quem não sabe, morar no térreo lhe possibilita ouvir de tudo. Os barulhos vão entrando sem pedir licença! Segredos, sem se preocupar com seu sono, quando você quer e pode dormir um pouco mais, vão se revelando! Nunca pensei que, um dia, iria odiar tanto os saltos altos como agora. Os passos de quem os usa, soam no térreo com os decibéis para além do humanamente suportável! Imagina morar numa cidade em que o uso de botas é algo comum? Será que as mulheres não percebem o quanto maltratam os ouvidos dos moradores do térreo quando passam "dirigindo" seus saltos altos?
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Certa noite, acordei assustado com uma conversa exatamente sob a minha janela! Disse a mim mesmo, meu camarada, está na hora de acordar, mas só por segurança, dei uma olhadinha no relógio, e pasmem, eram duas e meia da madrugada! O cara falava tão alto e o que é pior, sem nenhuma preocupação com barulho que fazia, justamente, na cabeceira da minha cama. Ficou aborrecido porque um dos vizinhos pediu-lhe que falasse mais baixo! Saibam que, apesar de tudo isso e sem falar em conformismo, estou estudando em outra cidade bancado por milhões de brasileiros que sequer conseguem chegar às primeiras letras! Chico Buarque, em outros tempos, "agradecia" assim ao seu algoz: "por mais um dia, agonia pra suportar e assistir. Pelo rangido dos dentes. Pela cidade a zunir. E pelo grito demente que nos ajuda a fugir. Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir. E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir. E pela paz derradeira, que enfim, vai nos redimir, Deus lhe pague"...

domingo, 5 de outubro de 2008

"Separações"...

Um repórter, certa feita, perguntou a John Lennon qual era a possibilidade de reagrupamento dos Beatles e este, de forma sarcástica, respondeu: "basta comprar os discos de cada um de nós que as pessoas terão os Beatles em casa!" O fato é que há separações e separações, naquele caso, um ciclo havia terminado, nada mais poderia mantê-los juntos, o caso é que eles chegaram ao "limite" possível de convivência! Sem esquecer que toda unanimidade é enganosa, mas essa foi a melhor banda de todos os tempos! Reconheço que as comparações são sempre redutoras. Aquela separação, geradora de inúmeras frustrações, não tinha retorno, para além de todos os acenos do mercado, de todo e qualquer apelo midiático, John, emblematicamente, dissera: "o sonho acabou!"
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Essa talvez tenha sido a separação mais controversa do mundo fonográfico, afinal, eles chegaram a patamares quase intransponíveis, muitos dos que vieram depois seguiram, apenas, os seus passos! Tivemos outras zilhões de bandas que se desagregaram! Umas por mera vaidade daqueles que estavam à frente, talvez por acharem que eram mais do que aquilo que realmente eram! Outras (quem há de saber?), quiçá por uma jogada de mercado, por mera promoção. Em muitas, o sujeito que estava à frente, levava os outros às costas, razão de muitas carreiras solos, bem ou mal sucedidas! Não podemos esquecer que estamos falando daqueles que produzem e gravam canções para consumo de outrem. O que não pode ser omitido é que quem entra nesta seara que é a indústria fonográfica, não quer outra coisa que não seja vender discos, todos sem exceção, mesmo aqueles que gravam por "diletantismo"!
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Entre as bandas brasileiras destacadas, tem o caso do Charlie Brown Jr, cujo vocalista mandou todo mundo embora. Os motivos alegados não convenceram porque a qualidade dos músicos e a irmandade que havia entre eles eram enfatizadas em prosa e verso, por Chorão! O interessante nestas separações é o dia seguinte, o que vem depois! Como geralmente temos um vocalista com uma banda sem rosto atrás, raras são as vezes em que além daquele, outros se destaquem, a carreira solo termina sendo o estuário. Embora nem sempre o tão esperado sucesso se concretize! Há saídas para a carreira solo que não decolaram: Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, Paulo Ricardo, do RPM, Leoni, do Kid Abelha, Ras Bernardo, do Cidade Negra, embora o último não tenha saído, tiraram-no porque não concordava com a mudança de "perfil" da banda. Em síntese, as separações na maioria das vezes, salvo raras exceções, tem como objetivo carreira individual! Quando Arnaldo Artunes, primeiramente, e depois Nando Reis saíram dos Titãs, foram literalmente excluídos da "história" do grupo, seus nomes não constavam no livro comemorativo da banda, a separação deixou imensas cicatrizes!
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Quando os Beatles se separaram, traziam atrás de si uma longa e consolidada obra. Uma produção que até hoje, passados tantos anos, é referência. Neste caso, quando os pares se divorciaram a razão maior pode ter sido o desgaste, que ironia, da convivência, perceberam que não havia mais condições de juntos ir adiante. Por outro lado, e guardadas as devidas proporções, embora um dos Beatles, George Harrison, tenha gravado um dos sucessos da banda, a "renegada" Anna Júlia, quando um grupo, como Los Hermanos, que lançou apenas quatro discos ao longo de 10 anos de carreira, resolveu "dar" uma parada, aparentemente, chegara à exaustão um grupo que parecia que teria vida longa. Perceberam, os seus integrantes, que não era mais possível produzir nada diferente juntos. Continuar poderia ser um mero repetir-se. Ao ouvir o disco Sou, de Marcelo Camelo, fiquei me perguntando o tempo inteiro se era Marcelo Camelo ou Los Hermanos, não que possa precisar uma mudança significativa do que era feito antes e agora! Na realidade, o pouco tempo de "separação" não me permitiu desassociar a voz e as canções daquilo que era feito em grupo! Entretanto há uma coisa que é perceptível. Los Hermanos era (?) uma banda que intrigava e comovia pelo conjunto da obra. Que fazia um som que alguns tinham dificuldade de assimilar, e isso era provocador, embora afirmassem que gostavam das letras! O lado triste dessa história é que Marcelo Camelo poderá se transformar em mais um dos milhares de intérpretes da MPB, provavelmente, atrairá as pessoas, não pela voz, existem outras mais belas e brilhantes, porém por ser ex letrista, ex vocalista, ou seja, por ser um ex Los Hermanos, o que me leva a pensar: será que era apenas isso que pretendia ao gravar ?...