sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Esperando o futuro...


"Depois da chuva" viver da forma mais intensa cada segundo, valorizar cada momento da minha existência! Há uma questão que de forma recorrente "flutua" na minha cabeça: por que estamos sempre nos preparando para um tempo que só existe nas nossas cabeças, o futuro? Estamos sempre voltados para o amanhã!
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Hoje já encurtamos o tempo e a distância, queremos chegar naquele lugar que não sabemos bem onde; apressados, vivemos o cotidiano com ferramentas à mão que vibram, tocam; vivemos uma vida monitorada! O celular é o companheiro no bolso, na pasta, na blusa, em todos os lugares possíveis, até na "hora" de fazer amor esse senhor clama por atenção! Recentemente em um programa de TV, vi a força que esse aparelhinho tem quando tocou no ar e o entrevistado atendeu...em outro momento, ambos, entrevistado e entrevistador não conseguiam lembrar o nome de um grupo de teatro argentino, de novo ele foi usado no ar para "lembrar"!
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Elaborei a "teoria" do pernilongo, nesta usei a "perspectiva" do inseto para dizer que nada faz além de cumprir a sentença que a natureza lhe impôs, qual seja, sugar o sangue nada mais do que isso, enquanto nós, seres pensantes, nos armamos de penduricalhos e estabelecemos sentido para a vida, que é viver, tal e qual o inseto, sem grande pretensões, contudo cada um de nós, envolvido em seu sonho, vai vivendo para o futuro, vai se preparando para algo que está lá na curva daquela colina...a criança vai aprender a ler, depois vem o vestibular, vai cursar a faculdade, se isso for possível, por fim, diploma-se, quiçá arranjar um bom emprego, ganhar dinheiro, ganhar dinheiro, ganhar dinheiro...acumular! Para que no futuro tenha uma velhice digna, longe, bem longe, das filas do SUS!
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E o hoje como é que fica? Estamos sempre nos preparando para o tempo que está lá na frente. Quando vamos pensar no agora? Saborear as imagens do cotidiano; estamos engolindo o café da manhã, quando paramos para isso; não temos hora para o almoço, engolimos qualquer coisa; o jantar também não é diferente dessa roda viva, não sentimos o gosto das coisas; fazemos amor: acelerado! Neste momento, a "teoria" se materializa, o que temos? O inseto, mesmo escravo do instinto, segue sua sina bebendo gota a gota do nosso sangue, sem a preocupação de guardá-lo para ocasião vindoura, "o futuro", diz o inseto, "já chegou!" Mas nós respondemos: "Não!" No futuro vou estar fazendo aquilo que quero...vivemos nos preparando para um futuro, sempre futuro que desembocará na casa da felicidade suprema! Perdemos o controle, o piloto sumiu e lá na frente, bem lá na frente, o futuro nos acena sorrindo!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Pessoas Iluminadas II

Em fins de 2007, escrevi o texto abaixo. Passados alguns anos e alguns meses, eis que alguém, em algum lugar, releu e, quase sem querer, fiz o mesmo. Ironicamente tentei resistir, mas terminei sucumbindo ao que a pessoas disseram e com aquilo que eu mesmo tinha escrito. Recentemente, uma das pessoas iluminadas ao saber que voltara a Jequié, falou-me numa conversa mais ou menos assim: "sinto que um ciclo terminou..." A princípio não concordei, mas depois percebi que era isso mesmo! Bem, como o meu sentimento não mudou uma vírgula, além de achar que o texto transmite toda a emoção que senti e sinto com o ciclo concluído, peço licença àquelas pessoas para repeti-lo e dizer que, assim como fiz a quatro anos passados, agradeço sobremaneira por ter vocês por perto, ainda que alguns estejam tão longe, mas sei que apenas geograficamente! Vocês, assim como as ESTRELAS e os DIAMANTES, continuam brilhando aqui e no universo!
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Há uma canção de Gonzaguinha que, na verdade, representa uma grande metáfora sobre pessoas que povoam nosso universo! Dissera ele que "somos as lições diárias de outras tantas pessoas!" Este é um verso belo e singular, além de nos tornar cientes de nossa humanidade, ele diz: sou? Não, somos! Outro poeta, esse baiano, fez uma indagação a respeito do sentido da vida: "existimos, a que será que se destina?" Sei que este não é o momento, mas não custa provocar, nem que seja a mim mesmo! Por que estamos neste planeta? Faço toda essa elucubração, aparentemente, fora de propósito, por causa de dois processos seletivos que participei. Momentos singulares, por isso, jamais serão esquecidos!
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O primeiro deles se deu quando, há dois anos, tentamos o doutorado na UFPB e sequer imaginávamos o quão doloroso seria e que as consequências posteriores deixariam cicatrizes profundas. Em síntese, ter participado do processo me deu, como "presente", um documento em que estava escrito que o projeto fora aprovado, mas que não fora selecionado! Um verdadeiro prêmio de consolação! Sem contar o tratamento recebido da banca que me argüira. Saibam que estava no Nordeste, mas me senti como se fosse um estrangeiro! Não estou dizendo com isso que devesse ser tratado de forma diferenciada, mas que pelo menos houvesse respeito e isso não percebi no processo, contudo aconteceu algo que me remete à metáfora de Gonzaguinha, lá do início. Quando vou saindo em direção ao portão do campus de João Pessoa, eis que vejo o amigo Lauro Xavier Pires Neto! Isso transformou o meu dia. Além de colocarmos a conversa em dia e almoçarmos, ainda tive o privilégio de assistir à defesa de sua dissertação! Todas essas emoções no mesmo dia! Ainda fui o único a registrar o acontecimento com uma máquina que era analógica, não sei bem por quê, mas queimou o filme, terá sido incompetência do fotógrafo?!
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As pessoas mais próximas a mim sabem que os últimos dois anos foram de recuperação! Nada de procurar assumir coisas que me levassem a um estresse maior do que eu pudesse suportar, embora saiba que não é possível mensurar qual a pressão limite que não devemos atingir, sob o risco de quebrarmos! O "presente de grego" que 2005 me deu foi, aliás já falei exaustivamente aqui, um acidente vascular cerebral que me fragilizou sobremaneira! Disse a mim mesmo que não faria mais seleções, não sei ao certo se por medo de perder ou por me sentir incompetente! Para aumentar a descrença em seleções acadêmicas, ouvi de um professor que sem acordos espúrios a coisa se complica e a aprovação dificilmente acontece! Não me lembro agora quando percebi que poderia participar de outra seleção, mas no início desse ano dei entrada na área pedindo liberação, muito mais para garantir a vaga do que com a certeza que teria coragem de enfrentar tudo aquilo de novo!
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Quando retornei de Santa Catarina, fui enfático ao elogiar o processo seletivo e a lisura no encaminhamento das questões. Disse a todas as pessoas com quem conversei que mesmo que não fosse selecionado, tinha me sentido acolhido, respeitado, como não fora na UFPB (embora ela esteja no Nordeste). Cheguei em Florianópolis sem conhecer ninguém, numa terra estranha e sem ter entrado em contato com qualquer pessoa do programa! Só fomos apresentados aos futuros orientadores no dia da arguição, na defesa dos projetos, já que tudo fora feito pelo número do CPF! Todos os meus amigos já sabem o resultado, mas queria dizer que processos como esses são muito iguais! Ficamos sob tensão doentia, às vezes, chega a ser desumano! Todas as fases, desde a prova até a arguição, foram me dilacerando aos poucos, sem contar o medo, é verdade, o medo de não conseguir! Para variar o resultado final demorou demasiado, aumentando mais ainda o estresse! Meus diletos amigos, saibam que ter conseguido só foi possível pela primeira força que vocês me deram, quando ainda me recuperando do AVC, disseram, sem falar, que eu estava vivo, que ainda não seria dessa vez que eu sucumbiria.
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Como somos "as lições diárias de outras tantas pessoas" e não conseguiria citar todas elas pela exiguidade de espaço, trarei duas figuras emblemáticas que representam muito bem o "início, o fim e o meio"! Rosenilton Santos, hoje um filho que a vida me deu, em outubro, primeiro momento da vereda, no dia da prova, com sua generosidade, ligou para mim, eu em Salvador, ele em Camaçari, e disse-me com a bondade que é característica do seu coração: "vai dar tudo certo, porque você merece, eu estou torcendo!" Ele não tem a dimensão de quanto aquelas palavras foram importantes para que naquele dia eu pudesse escrever e conseguir que o projeto fosse avaliado! O outro personagem dessa história com final feliz, chama-se Alysson de Gouvêa. Na rodoviária, lá em Curitiba, na hora em que pegaria o ônibus para Florianópolis, ele me abraçou, deu-me um beijo e disse-me: fique tranquilo, você vai ser aprovado! Saibam que havia tanta pureza nos seus olhos de menino que balancei e agradeci em silêncio, retendo as lágrimas na garganta! Hoje tenho plena consciência que nada poderia dar errado por estar rodeado de pessoas iguais a vocês: BRILHANTES E ETERNAS COMO OS DIAMANTES!...

domingo, 12 de agosto de 2012

Choro Olímpico e o escárnio...

Em tempos de masturbação olímpica, a "derrota" do vôlei é a derrota do povo brasileiro, será esse o sentimento de Ricardinho? O fato é que o esporte de performance é o pão nosso de cada dia e, para alegria geral, o circo também...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Marijuana...

Surpreendido, alguém aí deve me chamar de ingênuo, leio nas páginas sujas do jornal que cerca de 1,5 milhão de brasileiros são consumidores contumazes da maconha, quanta fumaça, hein?! Não que seja conservador e que vá sair por aí caçando os viciados, assim como não seria um usuário(sic) fazendo apologia do consumo, mas não resta dúvida que é muita gente chapada, vocês não acham?...

domingo, 29 de julho de 2012

Enquanto em Londres...

os Hypolitos choram suas quedas, Jade Barbosa...

terça-feira, 29 de maio de 2012

Sem preconceito...

Hoje fiquei perplexo com o cidadão responsável por amolar tesouras e afins, numa lojinha próxima à UESB. Calma que vou explicar. Saí de casa lá pelas 8:40, com o intuito de passar no amolador de tesouras, já que minha tesourinha necessitava dos seus serviços, qual não foi a minha surpresa quando o sujeito me saiu com essa: "bem, posso te entregar no dia 08 de junho!?" Nada mais, nada menos que 11 dias para amolar um artefato cujo tamanho não chegava a mais cinco centímetros! Estupefato, perguntei: quando? E ele, sem nenhuma cerimônia, repetiu: 08 de junho, mas se você quiser, venha amanhã cedo que te coloco na fila de espera!? Fila de espera para amolar tesoura e ainda tinha que chegar cedo? Não, aquilo era brincadeira, não podia ser verdade! Não pense você que está lendo isso agora que estou inventando a situação, isso aconteceu exatamente neste ano da graça de 2012, para ser mais preciso, hoje pela manhã. 
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Claro que pensei que o cara estava brincando, afinal, uma tesourinha não deve levar mais que cinco minutos para ser amolada. Contudo, sem fazer qualquer questão, o sujeito me deixou falando com os meus botões e foi fazer coisa mais importante. Mais que petulante, não estaria hipervalorizando seu ofício, aliás, seria amolador de tesouras e alicates um ofício? Sem preconceito, mas o cara estava me sacaneando, só podia ser. Não, era verdade. Em conversa com alguém que conhecia o indivíduo, descobri que o dito cujo tinha uma clientela exemplar, imensa o que lhe permitia esnobar alguns clientes da minha envergadura. Mesmo assim, minha tesoura já está amolada, como há/havia outro amolador na redondeza, recorri aos seus serviços, não levando mais que cinco minutos para realizar a tarefa, pois é, isso provavelmente só acontece na Bahia...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Bichos?

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato, 
Não era um rato
O bicho, meu Deus, era um homem
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Não sei bem qual a razão, mas estava almoçando em um restaurante na cidade de Jequié, lugar em que nasceu Waly Salomão, quando veio-me à memória este poema de Manuel Bandeira, denominado "O bicho". É que em dado momento apareceu um sujeito, preto, sujo, meio desdentado, implorando um pouco de comida, quase se debruçando em meu prato; ruborizei, se é possível um preto ficar assim! Não é uma situação das mais agradáveis, afinal, pedir comida, mendigar coloca o indivíduo no sopé da escala social, o que não deixa de ser algo excruciante, para ele e para alguns outros.
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Mais que de repente, o dono do restaurante bradou: "aqui não se dá comida, não, vá embora!" Claro que não deixa de ser uma contradição, como pode um lugar que tem um bocado de comida, não permitir que alguém sacie a sua fome? Meu constrangimento se ampliava a cada negativa justificada pelo proprietário. Enquanto isso, o "mendigo" insistia que estava com fome e que queria alguma coisa para comer! Na realidade, ele gritava e ao mesmo tempo blasfemava contra aquela aleivosia: "como era possível alguém negar alimento, tendo em excesso, a alguém que clama por comida?" Eu sei que você sabe, o modo capitalista de produção é excludente, Eike Batista está aí para confirmar esta tese, para que alguns possam viver em abundância, muitos outros têm que sobreviver com o bolsa família ou nada!
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A situação se deteriorou mais ainda quando alguém quis justificar a negativa, dizendo que se o possessor desse uma vez, todos os outros dias o faminto voltaria ali pedindo mais, possivelmente trazendo mulher e filhos! Em meus ouvidos ecoava os gritos do famélico que insistia em dizer que era um homem de bem, mas que não tinha dinheiro para comprar a comida que seus olhos viam em abundância. Quando eu era moleque, em Salvador, costumava ficar horas a fio admirando as guloseimas na vitrine da Padaria Paris, que ficava próxima à Ladeira da Praça, eu queria tanto aqueles doces, mas não fazia nenhum movimento no sentido de pedir a alguém que me desse ou pagasse algum, eu saciava o meu desejo apenas com o olhar. Ver o sujeito pedindo e sendo rechaçado com tanta veemência pelo dono do restaurante e "silenciosamente" por muitos dos seus frequentadores, demonstrava mais uma vez para mim que ainda estamos na "pré-história" da humanidade, não acredito que esse projeto histórico continue imperando por todo o sempre, porém minha agonia é a pasmaceira em que estamos imersos. É saber que estamos ficando a cada dia mais insensíveis, olhamos, mas não conseguimos ver o que está sob os nossos olhos! O fato é que ninguém, eu disse ninguém, se solidarizou com o esfomeado, muito pelo contrário, as pessoas presentes ou ficaram indiferentes ao que ocorria ou desejosas que o faminto desaparecesse o quanto antes de suas vistas, para que pudessem almoçar em paz...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Escola está morta...

A propósito do último concurso público, realizado pela Secretaria de Educação do Estado, gostaríamos de tecer algumas considerações a respeito da escola que temos e a que almejamos. O texto a seguir faz parte de uma inquietação que imaginamos não ser apenas nossa, mas de muitos outros professores, inclusive estes que estão entrando agora com o concurso referido acima.
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Durante muito tempo, a escola serviu como aprisionadora dos indivíduos, a sua função se baseava em preparar os estudantes para decorar coisas inúteis e sem sentido, e o "aprendido" nestas condições, era esquecido assim que transposta a soleira da porta. O professor era o detentor supremo do saber; o estudante? Um mero receptáculo onde o mestre depositava os ensinamentos; era, usando de "eufemismo", a absorção do vômito professoral. Aquilo que Paulo Freire, muito mais sensível do que nós, preferia chamar de educação bancária.
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E no final, esse tipo de aprendizagem se mostrou ineficiente, era preciso mudar, afinal (descobriu-se?) que se tratava de seres humanos, portanto diferentes dos animais por possuírem telencéfalo desenvolvido e polegar opositor, por isso mesmo, capazes de transcender ao meramente biológico, fisiológico e todos os outros "ógicos", mudou-se a escola. Agora, a figura do professor já não era a mais importante, o estudante passava a ser o responsável direto por sua aprendizagem, ou seja, o centro foi alterado, os vômitos professorais foram esquecidos e criou-se a possibilidade de a escola tornar-se algo agradável e interessante.
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Com essa mudança, visava-se atingir a maioria da população escolar; como essa nova abordagem conseguiria essa meta era o "x" da questão. O problema básico: se o estudante não tinha por hábito este "fazer diário" é lógico que terminaria se perdendo no emaranhado criado antes que esta prática fosse estimulada, e este tipo de concepção fracassou. A escola voltou a servir a uns poucos, pois quem viveu o tempo inteiro alimentado por migalhas, diga-se "vômitos professorais", não teria as mesmas chances que aqueles que tinham todas as condições a seu favor.
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Buscou-se, então, outra forma em que fosse possível alterar as condições, se o estudante não aprendeu a aprender, teria ele agora que aprender a fazer! Estaria dessa forma reservada a poucos o acesso a "culturas mais elaboradas", ou seja, uns iriam para a fábrica e outros para a universidade, em outras palavras, para uns, as atividades intelectuais; para outros, a linha de montagem, ironicamente falando, a volta às origens: filho de trabalhador trabalha, enquanto os originários da outra classe estudam! Embora alguns mais "ousados", às vezes, não respeitem os limites que lhes são impostos, e sem consulta prévia, adentram os muros  sacrossantos da universidade, desejosos de beber, também,  das tais "culturas elaboradas, mas, é preciso que se diga,  isso é exceção, não passa de gotículas no "oceano do conhecimento".
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A cultura é um bem construído pela humanidade, se é assim, todos devem ter acesso, exemplo clássico da negação desse direito vemos no Brasil, onde pretos e outros menos afortunados nas minas , nos canaviais, nos pelourinhos pagaram com seu sangue a construção de um país que lhes é negado quotidianamente. Mas voltemos ao que falávamos antes, o que a escola pode fazer para permitir que o estudante realmente sinta prazer em ir até ela? Por que não valorizar a "cultura da rua"? Por que ao entrar na escola é preciso esquecer o mundo que pulsa lá fora? Por que o conhecimento na sala de aula é tão abstrato que o estudante não consegue entender para que serve e, por isso mesmo, não consegue transcender ao quadrilátero em que está confinado ou o círculo vicioso que ela se tornou? "Um mais um é sempre dois?" Se o estudante tem medo, a escola, mais uma vez, falhou no que prometeu: servir de alavanca para o crescimento humano! Tentemos reconstruí-la a partir dos seus escombros, é isso mesmo, esta que aí está, morreu...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Anjos Pretos...

Embora haja sintomas característicos quando estamos (lá ele!) prestes a ter um AVC (que os mais doutos chamam de AVE: Acidente Vascular Encefálico) no meu caso, não tive noção alguma quando o dito cujo estava "chegando", absolutamente nada, o mais estranho, para mim, é que dizem que conversei mais que "o homem da cobra"! Parecia que tudo estava bem. Na realidade, por essa razão, muitos não entendem depois de algumas demonstrações de que está tudo bem, tipo, um piscar de olhos, apertar a mão de alguém conhecido, etc., mais que de repente a pessoa perece, é um assombro para os que estão no entorno, "como isso pode acontecer", é o que dizem. Sou um bom exemplo por ter sobrevivido. Muitas das conversas que tive no período não ficaram registradas na "caixa laranja", nada! Quando disse isso para minha irmã Marta recentemente, ela, quase aborrecida, me deu detalhes da nossa conversa, não acreditando que aquilo era possível.
O AVC (AVE) leva quem foi acometido para um estágio, digo isso a partir da minha experiência pessoal, não sei se a ciência concordaria com tal disparate, entre estar vivo e morto simultaneamente, sei que algo mais paradoxal do que isso parece impossível, porém foi isso o que aconteceu comigo. Fica-se no fio da navalha, acho que essa metáfora ajuda um pouco a se entender o que é passar por um acidente vascular cerebral! Internamente, o nada, é um dormir sem sonhar; externamente, tudo parece bem para aqueles que têm uma prova de que estamos vivos e sãos. Na realidade, estou voltando a falar sobre o AVE (AVC) por dois motivos; o primeiro está relacionado com o caso do tio de uma amiga. Por ter sobrevivido sem sequelas, sirvo de "exemplo", sou levado a responder sobre impressões que, dependendo da minha resposta, tranquiliza a família, afinal, sou a prova viva de que é possível sair daquela situação, aparentemente, incólume, sem grandes problemas, quiçá, bem melhor do que antes! Voltamos sem querer à lógica formal que parece governar a nossas relações, isto é, se Manoel sobreviveu a tal situação, logo...  
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Isso me leva ao segundo motivo.Voltando a Jequié, reencontro Maurícia, (que você que está lendo esse destempero provavelmente não conhece) uma amiga que compõe o núcleo dos técnicos administrativos da UESB. Ela meio que rindo me pergunta se já havia eu saído do "tubo". No primeiro momento, não entendi muito bem o que queria dizer com aquilo, mas insistia e ria: "então, já saiu do tubo?" Como outras pessoas também ficaram curiosas, explicou que na primeira conversa que tivemos depois que me recuperei, dissera eu que o AVC fora como se eu tivesse entrado em um tubo; juro que não faço a menor ideia onde fui buscar essa figura de linguagem para explicar a sensação de morte que tivera. Mas Maurícia me chamou atenção para algo que não vinha percebendo. Ao usar a minha experiência, sem perceber, estava generalizando meu caso, ou seja, era como se todos os que tivessem um acidente vascular cerebral, o popular derrame, passassem pelos mesmos estágios que passei, reagissem da mesma forma. A prova mais cabal de que isso não era verdade se relacionava ao fato de sair dele sem nenhuma sequela, enquanto grande parte das pessoas não têm a mesma sorte. O certo é que o AVC é plural, cada experiência é única, individual, como sempre falei, não senti absolutamente nada, embora tenham me dito que me queixei muito de dor de cabeça, coisa que não lembro, não ficou nenhum registro. Para encurtar a história, alguém no meio daquela conversa, de forma irônica, me perguntou se eu não vira nenhuma luz me mostrando o caminho de volta. Nestes momentos, a religiosidade se manifesta até para aqueles que se dizem ateus (aliás, Millôr Fernandes já dissera que todo ateu deixa de sê-lo quando o avião levanta voo), a única coisa que me veio à cabeça, naquele momento, foi: "os anjos eram pretos e estavam de olhos bem fechados"... 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O mar quebrando em Salvador...

A vez primeira que meus olhos se viram no mar de Salvador, embora nem sintaxe e nem oração sejam inéditas, fui tomado por um sentimento de estupefação e medo, como algo poderia ser tão simples e simultaneamente tão complexo? Paradoxal, não? Que imaginação fora capaz de desenhar algo tão mais que perfeito! Essas e outras reminiscências se apossaram dos meus pensamentos justamente por estar todos os dias, em minha imaginação, a contemplar as águas azuis-esverdeadas que ricocheteiam as pedras que transformaram em morada os declives do Porto da Barra! Mas não posso esquecer de lembrar, ainda que não haja nada de original nem na sintaxe, nem na oração, o que um baiano insigne já dissera, o mar quando quebra na praia é bonito, é bonito! Simples tanto mar, mas complexo como as ondas de Caymmi...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Era dia de Índio...

Mas eles estão tão diferentes que podem ser confundidos com suas caricaturas...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Tudo será cinza...

No futuro, tudo será em preto e branco e todos os automóveis serão cinza/prata...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Intimidade...


No coração da mina mais secreta, 
No interior do fruto mais distante, 
Na vibração da nota mais discreta, 
No búzio mais convolto e ressoante, 

Na camada mais densa da pintura, 
Na veia que no corpo mais nos sonde, 
Na palavra que diga mais brandura, 
Na raiz que mais desce, mais esconde, 

No silêncio mais fundo desta pausa, 
Em que a vida se fez perenidade, 
Procuro a tua mão, decifro a causa 
De querer e não crer, final, intimidade... 

José Saramago, “Os Poemas Possíveis"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ah, essas Mulheres II...

"Dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda. Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas, satisfaz meu ego se fazendo submissa, mas no fundo me enfeitiça." Estou na fila do supermercado, sintonizado numa rádio chamada Brasil Fm, ouvindo essa pérola dos anos 1980, composta e interpretada por Erasmo Carlos! Na verdade, ouvir homem falar de mulher é risível, se existe algo inescrutável, indecifrável, esse algo se chama Mulher, oh, dificuldade de entender essas criaturas! Porém cheguei a conclusão que um lugar-comum repetido por elas, é a mais pura das verdades: os homens são todos iguais! Somos óbvios, caricatos, inseguros, uns tolos, embora a grande maioria não assuma! Parafraseando Fernando Pessoa, pegamos todas, nunca apanhamos, chegamos ao absurdo de contar quantas passaram pelas nossas camas, vide Elton, Jogador do Corinthians, que já pegou mais de quinhentas! Renato Gaúcho também está neste time e outros menos famosos! Nunca vi ou ouvi em papo entre amigos que algum tenha levado corno ou ejaculado precocemente! Todos somos bons de cama! Existem alguns que conseguem dar cinco a dez em uma noite apenas, eu sei, a fisiologia não explica esses excessos, mas tem algo pior: eles acreditam!
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Se somos óbvios e patéticos, elas, por uma estranha ironia, têm o espírito materno elevado ao infinito quando o assunto são seus namorados e maridos, costumam ser mães dos seus parceiros, nem sei se percebem isso, querem que vistam a roupa que elas compram, usem os perfumes que elas presenteiam, e costumam se mostrar burras só para que seus parceiros não percebam que os burros são eles! Isso é tão verdade que eles acreditam que elas não estão entendendo nada! A natureza no aspecto sexual foi pródiga com as mulheres! Nós, os homens, não temos uma arma no sexo tão poderosa quanto elas! Não acredita? Qual é a maior insegurança do homem? Eles nunca sabem se elas conseguiram chegar ao orgasmo, é preciso que elas digam, não existe um sinal visível e palpável, como no nosso caso. Ah, meu camarada, como elas fingem! Tenha certeza que a sua já fingiu também e muito! Eu sei que você  não acredita em mim, afinal, você é o máximo, o verdadeiro Don Juan! E como acredita nisso! Existem os mais inseguros que perguntam se elas conseguiram assim que terminam de fazer ozadia! Agora me digam, caso esteja tudo bem com o casal, alguma mulher vai dizer ao seu parceiro amado e querido que foi horrível o sexo aquela noite e em outras também? Que não via a hora de tudo aquilo acabar? NUNCA! O espírito materno nestes momentos protege o homem não permitindo que sua autoestima saia pelo ralo! Homem não chora, é? Só se for à frente de outro homem para mostrar que é forte e destemido, como nos filmes de mocinho e bandido! Qualquer mulher já viu seu homem chorar,  eles choram e muito, principalmente, quando elas vão embora!
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Sei que algumas mulheres podem torcer o nariz para tudo o que disse até agora! Conheço algumas que dizem que não é bem assim! O mal é que por causa da nossa formação nas ciências humanas, negamos a biologia! Tudo bem! Que tal algo palpável? Tenho duas amigas queridas, uma já não vejo faz um bom tempo, a outra está mais próxima, o fato é que tudo o que disse acima, se encaixa como uma luva na história delas. Não quero com isso dizer que tenho dados empíricos e, com isso, afirmar que é/foi sempre assim. Não, não é sempre assim, não obstante, na maioria dos casos o comportamento é exatamente esse! Eliane, de tão lindos olhos, sensível, extremamente inteligente. Uma mulher belíssima, poderia namorar, casar, ficar, o diabo a quatro com qualquer sujeito, mas escolheu logo um brucutu de quatro costados. Quando estava longe do brucutu que achava que estava apaixonada, era criativa, inteligente, cheirosa, gostosa, uma delícia! Mas quando ele estava perto, não era a mesma pessoa, parecia uma idiota, fazia tudo para agradar e não deixar que o idiota percebesse que era ele o idiota. Para encurtar a conversa, precisou que o brucutu lhe acertasse um safanão no rosto, para que ela percebesse que aquilo que ela achava que amava só amava a si mesmo! Eliane saiu para vida, viu que o amor nada mais é que uma construção social, amamos quem queremos amar, simples assim! 
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Helena, a outra mulher dessa história, tive que esperar que passasse pelas suas cinco fases da dor para poder desabafar esses garranchos! Quando uma mulher é traída, recebe de "presente" a primeira fase, a raiva; nesse ínterim, é acometida de uma vontade incomensurável de esmagar quem está causando aquele sofrimento, produz muito radicais livres durante o processo. A traição tem o poder de fazer a pessoa passear pelos estágios da dor, diferentemente da morte em que se vai eliminando a fase a fase. A negação é a fase do, "não pode ser", "não acredito", para logo em seguida entrar na fase da barganha, tipo, "eu esqueço tudo, finjo que não fui enganada, em troca, volta para mim, por favor?" Como dificilmente o amado retorna, entra-se na fase mais perigosa, a depressão, não encontro um bom exemplo capaz de traduzir, mas geralmente, a dor é tão grande que, para amenizá-la, pula-se de volta para a fase um e recomeça todo o ciclo! Helena passou por esse sofrimento por longos e dolorosos meses! Ouvi seu choro, vi seu sofrimento, mas não existe nada que se possa fazer, isso não quer dizer que não tenha sentido vontade de matá-la quando percebia suas fases de barganha! Agora, Helena encontra-se na última das fases: a aceitação, dá seus primeiros passos em direção a novas experiências, sim, de todos os tipos, por que não? Quem sabe não encontra um sapo? Ela ainda não sabe que a melhor coisa que lhe aconteceu na vida foi ter sido traída, que ironia, não? Se livrar do peso morto que era o cara que achava que amava, do cara que levou nas costas como uma burra de carga por anos a fio, levantando sempre sua autoestima, entendia que era preciso fazer isso para que não desmoronasse, o coitado! Pois é, Helena ainda não sabe nada disso, mas vai descobrir, como já descobriu que quem morre sempre é o amor,  se é que em algum momento essa doce ilusão existiu... 

domingo, 29 de janeiro de 2012

Carta aberta para a aniversariante Daniela A.A.


Salvador, algum dia de janeiro de 2012
Sob a (Ir)responsabilidade de Manoel dos Santos Gomes,
aquele que um dia foi seu professor.
Caríssima ex-orientanda, já faz algum tempo que não tenho notícias suas, o que não deixa de ser uma pena, não para você, talvez, mas com certeza para mim, (tudo bem, NÃO TENHO ORKUT, MSN, facebook et al, como se diz na academia, na verdade, me auto-exilei das redes sociais), saiba que existem pessoas que nem quero lembrar que elas existem ou passaram sob meus olhos, mas há outras, você com certeza está entre elas,  que quando me vêm à memória me trazem um contentamento infindo e uma saudade inexorável, e a razão não é porque estou longe de casa, são marcas que essas figuras deixaram em meu coração como se fora tatuagem! Quando soube que haveria uma homenagem e que poderia ser enviada por vídeo, exultei, porém logo percebi que minha câmera estava emprestada e (a propósito, quando ela volta para casa, Manuela?) que por essa via seria impossível. Então, foi-me sugerido que escrevesse e que uma emissária poderia ser minha porta-voz, oh, não perdi tempo e aproveitei imediatamente a oportunidade! Na verdade, era para você está me vendo/ouvindo agora, mas fui “substituído”, por razões de ordem tecnológica, como já expliquei. Porém, com certeza, alguém muito especial está lendo essas coisas para outro alguém muito especial, agora. Nestes longos quatro anos afastado da sala de aula e de alguns poucos amigos que fiz pela vida, (não sabia que sentiria tanta falta) de vez em quando me lembrava daqueles estudantes que estudaram (permita-me a redundância, aceite-a como se fora liberdade poética!) comigo e me ensinaram muito mais que eu a eles! Você se lembra que sua entrada na UESB, era minha saída de um AVC? Pois é, nosso encontro se deu nestas circunstâncias: eu fragilizado, quase sem energia, ao lado, na frente, sei lá, aquelas coisas todas que fazia nas aulas para provocar vocês, e, por outro lado, um bando de pessoas querendo beber o mundo de um só gole, sequiosas por saber como ensinar esporte a criança pequena e coisa e tal e tal e coisa! A ironia disso tudo é que eu adorava ir para UESB sabendo que aquelas pessoas estariam lá, pois a convivência com algumas figurinhas iluminadas me fortalecia. Neste momento, você deve estar cercada de pessoas queridas, numa felicidade plena e, provavelmente, a última coisa que desejaria era estar ouvindo todas essas coisas, prometo que serei breve! Olha, antes de encerrar esses mal traçados caracteres, queria pedir para guardar para mim um pedaço desse bolo aí perto de você, não sei se sabe, mas essa é uma guloseima que nunca deixei de gostar, lembra do bolo delicioso que fiz para nós quando fomos àquele evento em Guanambi? Mas voltando ao encerramento, soube que esse é seu aniversário de número 0, mulher nunca diz a idade, mas descobri, uma passarinha me contou! Seja bem vinda, Dani, espero que esse mundo seja tão belo e solidário quanto você, para que possa se sentir sempre em casa! Saiba que foi um privilégio ter te conhecido e ter aprendido coisas que agora eu sei, minha professora! Oxalá que além desse aniversário, comemore mais uns dois milhões? Quiçá, cinco trilhões? Não importa, que sejam muitos, mas que jamais em tempo algum esqueça que, assim como seus olhos, você é uma pessoa BRILHANTE e rara como um DIAMANTE! FELIZ NATAL e que felizes sejam todos os NATAIS que vierem e que VOCÊ renasça em cada um deles...Daniela A.A., dois beijos, Mano...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Feliz ano velho...

As paredes estão cheias de teias de aranha, os móveis todos cobertos, manchas de ferrugem em alguns utensílios, como aquele cantinho da torneira que insiste em pingar vagarosamente, por mais que tente detê-los, os pingos continuam sem parar! Esperem, é/era esse o verbo! Está tudo parado ou fui eu quem parou em algum canto daquele longínquo ano da graça de 2011? A casa, a princípio, parece a mesma, embora a solidão esteja em cada canto...não ouço vozes inquietas ou incomodadas, ninguém perguntou nada, absolutamente nada! Aliás, não foi bem assim, recebi um telefonema, direi que inesperado, no primeiro dia do ano que já não é mais novo, ou será que foi no segundo? Ah, que importância isso tem agora?! O fato é que o sujeito do outro lado da linha falou alguma coisa da casa, dissera ele que não batera nunca na porta, mas que passava em frente continuamente, observava as coisas, lia um pouco, depois ia embora! Eu jurara que nunca mais voltaria a colocar qualquer adereço naquela casa, não por mim e nem por aquelas que me visitaram ao longo dos anos! Jurara que não adornaria nunca mais a casa por conta do que acontecera com um blogueiro de Santa Catarina. O nome do camarada era Hamilton Alexandre, apelidado o Mosquito. O sujeito que denunciou um caso de estupro em Florianópolis, envolvendo o filho de um diretor da poderosa RBS, afiliada da Globo no estado de Santa Catarina, como num passe de mágica, fora encontrado morto em seu apartamento em Palhoça, no dia 13 de dezembro de 2011! Suicidou-se com um lençol, que forma mais BÁRBARA de acabar com a vida, não? Seria mais fácil e menos doloroso enfiar um punhal no coração, não é mesmo? Um suicídio muito parecido com o de Vladimir Herzog, não só na forma, como nas justificativas das autoridades policiais...Coisas como essa continuam sendo jogadas na vala do esquecimento e olha que não estamos mais em 1964, estamos?! É preciso que se diga: somos todos cúmplices com o nosso silêncio! Continuamos fingindo que está tudo bem, mandando mil mensagens de boas festas, agora em forma de SMS, o popular torpedo, desejando Feliz Natal, Feliz Ano Novo! Ato contínuo, podemos sair para ver a queima de fogos que abrem o ano novo brincando, parafraseando Los Hermanos, que somos felizes como nossos narizes pintados! Tem alguma coisa errada com a gente, sim! NÃO, antes que me digam, NÃO, NÃO foi sempre assim...