quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Modelos plus size e o mercado...

 
Não é nenhuma novidade afirmar que, da forma como a obesidade vem crescendo no mundo, o horizonte é muito sombrio, estima-se que estamos diante de um dos mais graves problema do século XXI. Os dados oriundos da Organização Mundial de Saúde não são nada lisonjeiros, vemos que entre 1980 e 2013, o número de indivíduos obesos subiu de 28,8% para 36,9% em relação aos homens e de 29.8% para 38% no que se refere às mulheres! Não podemos negar que são dados estatísticos aterradores: temos uma epidemia e isso torna gordos e gordas os "escolhidos" para ser defenestrados! Alguns profissionais, entre eles, os da Educação Física, mas não nos esqueçamos que os da medicina também brigam pela parte que lhes cabe neste imenso latifúndio, estimulam a prática da atividade física como um dos "remédios" capazes de contribuir efetivamente no processo de emagrecimento, afinal, ser gorda ou gordo não é recomendável para a saúde, por isso, está aberta a temporada de caça aos mamutes, que o são, em parte, por causa da ingestão desenfreada de alimentos com alto teor de gordura e açúcar (dizem os especialistas) que tornam seus corpos esquálidos.
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Falando nisso, corpo bonito, segundo as "caricaturas" impostas pelas diversas mídias, é aquele harmoniosamente distribuído, cada coisa em seu devido lugar, sem excessos, é preciso que se diga que os corpos das modelos magérrimas, por um lado, e os  das musas do tipo Beyoncé, por outro, são o sonho de consumo das mulheres! Na sociedade do consumo desenfreado em que vivemos, onde o sonho eterno por um corpo perfeito se tornou algo doentio, gordas não têm vez!? Vale tudo para perder os quilinhos que comprometem a silhueta desejada. Para resolver esse impasse, proliferam as mais variadas dietas tendo como chamariz tanto famosos como "anônimos", que garantem a fórmula rápida e fácil para qualquer um ter o corpo desejado, para isso, basta a simples adesão a esse circo de horrores, onde "cada indivíduo está isolado dos demais, é um entre milhões, numa espécie de solidão em massa", já dissera o velho Marx, em meados do século XIX. Como o estereótipo vige e se impõe, à primeira vista, não é dada nenhuma chance ao gordo, esse ser que perdeu totalmente a percepção das suas dimensões corporais, já está condenado, sua pena é emagrecer a qualquer custo!
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Profissionais desavisados sequer analisam que muitos dos considerados obesos o são por questões endógenas e que ser magro não é necessariamente sinal de saúde! Há inúmeros magros que são verdadeiramente "gordos", assim como existe uma legião de gordos que são "magros", mas o estereótipo  faz com que pela simples aparência coloquemos o carimbo nas pessoas obesas, sem analisar as verdadeiras causas, somos uma sociedade preconceituosa, mas a hipocrisia nos garante imunidade! Isso não quer dizer que devemos fechar os olhos e fingir que a epidemia de obesidade não exista, há uma profusão de gordos e gordas que precisa ser orientada com muito cuidado pelos órgãos de saúde pública, mas sem o preconceito que é muito comum na Educação Física e, por que não dizer, na medicina também?!
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Se tudo isso é verdade, como se explica o boom das modelos Plus Size? Esse oximoro não é algo tão extraordinário neste modo de produção que "escolhemos" para orientar nossa vida, cujo ponto nodal é o lucro, ou seja, toda e qualquer coisa pode e deve ser transformada em mercadoria, é do "sistema" ser paradoxal. O mercado "descobriu" um nicho em que pode faturar milhões de dólares, mas não pode perder de vista o grave problema da obesidade que vem se alastrando por todos os quadrantes. O que fazer? Bem, meus caros, aí não há nenhuma relação com a inquietação que moveu o velho Lênin. O que queremos saber é: devemos acabar com o "mal" que assola a humanidade ou estimular a "engorda", já que há um mercado de proporções gigantescas em plena expansão? Percebe-se muito claramente que essa é uma pergunta de retórica. A decisão já foi tomada há algum tempo, está aí a moda plus size, com seus milhões de seguidores, que não nos deixa mentir. O fato é que temos uma quantidade incomensurável de gordas sequiosas por consumir os mais diversos produtos, é preciso explorar esse veio, apropriar-se dessa fatia do mercado que vinha sendo negligenciada; como já sabemos, o importante no modo de produção capitalista não são as pessoas, e sim o quanto é possível ganhar com o "produto"! "Não se envergonhe de ser gorda, os espaços que antes lhes eram negados, como a praia, por exemplo, agora são seus por direito e o mercado está pensando em você 25 horas por dia", não seria um belo slogan?! Isso contagia aquela mulher que foi discriminada ao longo de sua vida por ser gorda e a absolve da condenação, ser gorda já não é "crime"! O mercado sabe que é necessário muito mais material para a confecção de uma lingerie "plus size", logo, há mais rentabilidade na gordura do que na magreza, ou seja, é mais vantajoso estimular a obesidade ao invés de combatê-la.
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Uma modelo "plus", que acabara de ganhar um concurso, contava sua história de vida na TV, repleta de desilusões e sofrimentos, emocionando os presentes e muito provavelmente os milhares de gordos e gordas que tinham diante de si o espelho de suas existências, ali estava o passaporte que os libertava! A vitória no concurso de beleza "plus size" a deixara esfuziante, em estado de graça plena, afirmara que nem mais consultava a balança, coisa de que fora escrava quando adolescente, agora era livre! O que temos aí? Nada mais, nada menos que o mercado ditando moda e estabelecendo costumes, o oximoro é que mesmo sendo um grave problema de saúde pública, teremos mais e mais "plus" dizendo: "não permita que que cerceiem seu direito de ser como é, ser gorda é ser feliz"; saibam que falta muito pouco, se é que já não temos em gestação, os famigerados concursos masculinos "plus size" e aí vocês verão eu e meu amigo gordinho de sunguinha na TV...     

domingo, 27 de dezembro de 2015

Smartphone, WhatsApp e solidão...


 
Nestes tempos em que talvez o mais desejado dos smartphones tenha o nome de Iphone (ai de mim) e tudo parece tão claro, compreensível, à mão, resolvível num toque, que não há mais necessidade de reflexões filosóficas para entendermos nosso cotidiano. A minha ambição e a de 10 entre 10 pessoas é ter um celular cuja capacidade seja a de se apoderar do mundo num simples click, que atenda às necessidades mais comezinhas e que tenha a potência de tirar fotos com uma definição que me permita ver aquela ruga que o photoshop não conseguiu esconder, assim como, gravar vídeos em ultra definição. O papel do telefone inteligente é nos permitir ter tudo e todos à mão, agora o mundo nos pertence, é a realização do maior dos sonhos do big brother, de 1984, ter o domínio da vida a sua mercê. Estamos todos conectados, somos uma aldeia global, não há mais fronteiras a nos tolher, que coisa boa, não é? Observem, a tecnologia fez aquilo que levamos anos a fio e não conseguimos que era mostrar que independentemente do lugar em você esteja e por mais simples que seja o smartphone, basta um click, seja na África faminta ou no frio Canadá, a metáfora do Iphone se materializou, eu sou o celular e o celular sou eu. 
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Neste sentido, em razão de estarmos em período de confraternização, nas horas que antecederam a noite de natal, meu smartphone não parava de  emitir tantos sons que chegaram a me enjoar, nada mais eram que um tsunami de mensagens me desejando feliz natal e próspero ano novo se repetindo a cada minuto. Como sou popular, tenho milhares de contatos e quase todos, não serei pretensioso para dizer que todos, me desejando boas festas, muito iguais, pareciam os famigerados control c, control v. Neste momento, percebi o quanto ter o whatsApp instalado é importante, existem outros, eu sei, talvez até mais atraentes, porém esse pertence ao dono do facebook, o sujeito que dispõe de dados importantes sobre nossa vida em suas mãos, o que quero dizer é que esse aplicativo todo mundo tem, nesse caso, como todos pertencem à rede social do senhor Zuckerberg, o ciclo se fecha, estamos todos num só lugar, juntos e misturados, não, não vou aspear, somos todos um só corpo, o celular é um grande organismo, razão pela qual é chamado de inteligente, onde cada contato é uma célula que precisa pulsar para nos manter vivos, logo, conectados! Nós somos um celular em busca da vida eterna, que se resume em ter uma bateria incapaz de descarregar, esse é nosso maior medo, esse artefato insiste em nos tirar da "rede" todas as vezes em que inopinadamente descarrega, nossa capacidade de comunicação se cala, mas ela não perde por esperar, como a tecnologia se desenvolve a passos largos, é muito provável que a bateria infinita esteja por um triz e, em breve, teremos aquela que ao mesmo tempo em que se gasta simultaneamente se carrega, e aí, verdadeiramente, estaremos ligados não apenas 24 horas, mas todas as horas da vida!
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O caso curioso que aconteceu recentemente quando a justiça brasileira suspendeu a utilização do WhatsApp por 48 horas, que, por questões óbvias, não chegaram a tanto, comprova a "importância" desse aplicativo em nossa comunicação diária, sem ele, ficamos literalmente mudos, aliás, isso é tão significativo que repercutiu em todos os quadrantes do universo, obrigando o dono do facewhatsApp a se manifestar e, o que mostra o quão esse cara é poderoso, exercer pressão decisiva sobre a justiça do país! Vejam vocês como as ironias vão se avolumando neste mundo do telefone inteligente, as pessoas ficaram desesperadas porque foram impedidas de trocar mensagens com seus contatos, esqueceram que bastava ligar, o que para alguns "betas" se resume a parcos centavos ou estamos tão sem dinheiro ou sem nenhuma afetividade que nem gastar centavos com os "amigos" somos capazes?! Tenho um filho que mora, mais ou menos, a 3 ou 4 km de distância, não o vejo desde o dia 07/08/2015, não nos falamos a cinco meses, porém temos trocado mensagens via whatsApp regularmente, curtas, é verdade, algumas sem sentido, percebo que neste mundo cheio de tecnologia, estamos cada vez menos vendo os olhos das pessoas, não as escutamos mais, elas não ligam, e, caso o WhatsApp seja bloqueado por um tempo, esqueceremos que elas existem!? Um poeta dissera certa feita, "há mais solidão no aeroporto que num quarto de hotel barato", e eu, pensando cá comigo, digo, temos o mundo em nossas mãos, mas estamos tão sozinhos com nosso aplicativo gratuito no celular...  

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Cenários de Terror...


Quando éramos criança, na maioria das vezes em que faltava energia, a luz salvadora era a que vinha das velas, isso nos levava a ficar observando o movimento das imagens refletidas nas paredes; brincar com as sombras formadas nos alegrava sobremaneira, porém, como tudo que é bom não dura pra sempre, quando adormecíamos o terror tomava o lugar da alegria! Sonhando, a brincadeira de criar figuras a partir das sombras se tornava um pesadelo devastador, muitas eram as tentativas malsucedidas de acordar. Ver as imagens criadas nos perseguindo noite a dentro e não termos consciência de que aquilo era apenas um "sonho" era assustador. Muitas foram as noites em que o jogo divertido à luz de velas, tornara-se nosso maior suplício, o "brinquedo" nos atemorizava, virava máscaras gigantescas, tão assustadoramente reais, que acordávamos encharcados dos líquidos mais diversos!
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À medida que crescíamos, fomos sendo abandonados pelos pesadelos provocados pelas sombras à luz de velas. O terror foi ficando mais concreto, mais palpável. Calçar os sapatos era doloroso, porque, inevitavelmente, teríamos que unir os cadarços em forma de laço, o medo de não acertar fazê-lo nos aterrorizava! Minha irmã pacientemente nos mostrava o como fazer, parecia tão simples, que boa professora que ela era, o problema era o aluno! As palavras se rompiam no ar como bolhas de sabão, o gesto motor não conseguia transformar aqueles dois pedaços de "cordão" em um laço. Parecia que jamais conseguiríamos, infelizmente, o velcro ainda não fora inventado!
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Pensamos que vencidos aqueles medos, todos os outros que viessem seriam facilmente eliminados,  achávamos que tínhamos construído uma couraça indestrutível (não foi Nietzsche quem disse que aquilo que não nos mata nos fortalece?), porém crescer nos fez ver que o medo não fora eliminado, apenas mudara de face, sabíamos que não bastava acordar para que as "sombras" se dissipassem como nos pesadelos de criança. O medo ganhara outras cores! Certa feita, o ano deveria ser 1967, se não estamos enganados, nos deparamos com cartazes espalhados por diversos espaços solicitando à população que delatasse imediatamente as pessoas ali mencionadas, a preocupação era com nossa segurança, aqueles indivíduos estavam envolvidos em atos terroristas, eram bandidos, precisavam ser presos, quiçá, torturados, para que o Brasil fosse salvo! Tinha medo de dar de cara com algum deles e não saber o que fazer. O lado perverso dessa história é que os "terroristas" que os cartazes anunciavam eram aqueles que se rebelaram com a ditadura civil-militar, implantada em 1º de abril de 1964; entre os "bandidos e terroristas", muitos eram professores, estudantes...essa ditadura, que nos quartéis era chamada de revolução, durou mais de vinte anos! Os militares, com a cumplicidade de parcela da sociedade civil, torturaram e mataram uma quantidade imensa de pessoas, muitos sequer sabiam o que estava acontecendo, o que nos mostra que o terror não ataca apenas os seus alvos!
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Nem tão longe e nem tão perto, chegamos a 2015 e à sexta-feira 13 de Paris, com suas bombas e mortos a granel! O fato é que o furor causado pelos ataques de 7 de janeiro de 2015, aos humoristas do jornal satírico francês Charlie Hebdo, voltou com intensidade à mídia e esta, "sem querendo", estimulou a busca por justiça a qualquer custo, mais uma vez! A palavra terrorismo vem sendo repetida à exaustão, na mesma medida em que a sigla E.I. se tornou o alvo a ser destruído pela humanidade! Os membros do "Estado Islâmico" assumiram que os atentados foram executados por eles. Esses são os terroristas, se forem eliminados, voltamos ao nosso antigo estado de bem estar, em que não ocorriam nem ataques a inocentes e nem assassinatos em massa! Perdoem-nos a ironia! Mas é muita hipocrisia no ar. É importante frisar que existe um mercado internacional de armas que sobrevive dessas ações e das diversas guerras que ocorrem no mundo, ou alguém aí acha que as armas, assim como as bombas usadas pelo E. I. são produzidas por ele? Não estou dizendo que os membros daquela organização são bons camaradas, muito pelo contrário, mas afirmando que as ações de bombardeios à Síria e ao Iraque não são tão diferentes dos atos terroristas pois pessoas são mortas mesmo não estando envolvidas com as ações dos militantes do Estado Islâmico, entre elas crianças, que não têm nada a ver com a briga a favor ou contra Alah!
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Dizem que o terrorismo se caracteriza porque suas ações tem os civis como um dos seus alvos. Observem que George Bush afirmou que precisava "invadir" o Iraque porque havia armas de extinção em massa, ou seja, a humanidade corria sério perigo! Os EUA para nos salvar bombardearam aquele país Árabe, morreram centenas de milhares e o Iraque ficou esfacelado, o mais cruel é que as tais armas não foram encontradas, embora se existissem, nada autorizaria tal massacre, um erro nunca justifica o outro! Naquele momento, não havia o que conhecemos hoje como Estado Islâmico! Mas o terrorismo não ataca apenas seus alvos, não é mesmo? Embora muitos possam achar uma aleivosia chamar de terroristas aqueles que despejam suas bombas com o objetivo de extirpar o mal e salvar a humanidade, esse ato não difere em nada daquele perpetrado na sexta-feira 13 de Paris! Já fizeram algo semelhante com o Japão, os civis das cidades de Hiroshima e Nagasaki foram agraciados com duas bombas atômicas sobre suas cabeças, mas o objetivo era acabar com a guerra, dirão os defensores de tais atos.
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O lado perverso dessa tragédia é que os verdadeiros responsáveis por essas atrocidades assistem de camarote o circo pegar fogo. Os verdadeiros responsáveis ganham turras de dinheiro vendendo armas aos militantes das mais diversas origens, para que estes possam cometer os atos mais atrozes. Que tal, ao invés de matar civis inocentes, já que o objetivo é extirpar os terroristas, se os líderes de todos os países decretassem o fim da fabricação de armas e a extinção de todos os arsenais? Destruição de todas as armas do mundo e suas fábricas legais e clandestinas! Sabemos que isso jamais acontecerá porque envolve cifras astronômicas, a guerra é um grande negócio seja ela de que tipo for! E aqui, sob o guarda-chuva do modo de produção capitalista, o importante é o lucro não as pessoas ou uma paz entre os povos, por isso, as crianças e idosos daqueles países em que os terroristas têm seu quartel general que que se cuidem, suas vidas serão o preço que terão que pagar para nos salvar do mal, amém...