terça-feira, 31 de maio de 2011

sexto andar...

Não tenho dados empíricos para afirmar com convicção, mas usando a minha própria experiência posso dizer sem medo de errar que se tem algo que é difícil de administrar, sem que haja atrito em algum momento, é a relação com os nossos queridos vizinhos. Na verdade, para que essa relação não nos enlouqueça, é preciso pensar no outro e o outro pensar em você, caso isso não aconteça, ah, a briga é certa! É necessário muito jogo de cintura para que o vizinho não vire seu "inimigo". Comecei a pensar nisso de forma mais incisiva quando morei há dois anos, numa quitinete, em Florianópolis (está tudo relatado aqui no Térreo.). Os diversos barulhos me azucrinavam a vida e me deixavam uma pilha de nervos, havia momentos que atrapalhavam até os estudos! Quando me lembro do guri (que os paranaenses chamam de piá) do andar de cima jogando suas gudes no chão do apartamento, e isso nas horas mais impróprias, ainda sinto uma vontade danada de lhe dar uns cascudos! Porém é preciso não se fazer apenas de coitado e mentir: um dia, apenas um dia, eu fui um verdadeiro algoz. Aconteceu que certa noite, não sei se por ironia do destino, o lastro da minha cama arrebentou. Aliado a isso, tinha a mania de acertar meu relógio pela hora da Bahia, que não tem horário de verão! Naquela dita noite, sem perceber, estou eu martelando lá pelas 23 horas, sei que já tinha passado da hora, mesmo sem horário de verão! Ou seja, nos relógios dos moradores da ilha já era meia-noite e o martelo comendo no centro! Mais que de repente, apareceu um vizinho cheio de raiva e pela grade da janela fez um barulho retado, e sem nenhuma mesura, foi logo perguntando se eu sabia que horas eram, e eu cheio de razão, que vergonha, respondi: "meu lastro quebrou, você quer que eu durma no chão com esse frio?" Claro que a vontade era mandá-lo para aquele lugar. O cara por muito pouco não entrou pelas grades da janela e me deu uns sopapos, mas como um gentleman respondeu sereno: "eu preciso dormir!" Resmungando e ainda achando que estava com razão, aquiesci. Eu juro que não tinha noção do barulho que estava fazendo, não riam não que é a mais pura verdade, contudo se as gudes eram um verdadeiro martírio, imaginem as marteladas à meia-noite?
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Passou um tempo e hoje moro no sexto andar de um prédio de seis andares! O verdadeiro jardim das delícias comparado com minha vida de inquilino do térreo! Mas nem tudo são flores nesta vida. Sou um sujeito que, afora as marteladas infantis de Floripa, não é de fazer barulho. Saibam que tenho uma enorme preocupação com o bem-estar dos meus vizinhos, ainda que isso não seja uma coisa fácil, principalmente depois do incidente da meia-noite! Aconteceu uma coisa que mudou mais ainda a minha relação com os ruídos que porventura sou responsável, mesmo que sem nenhuma intenção. (re)Criei o hábito de correr todos os dias. Fazia isso tempos atrás, mas me tornei um verdadeiro sedentário com o passar dos anos. Agora tenho tirado onda nas manhãs de outono! Pois muito bem. Tinha por hábito, eu disse tinha, todas as vezes que voltava da corrida, realizar as tarefas cotidianas normalmente, entre essas tarefas, estava a de varrer, limpar a casa. O que eu não sabia era que o SIMPLES ato do correr da vassoura incomodava, e muito, o vizinho do quinto andar! Eu juro que nunca imaginei, é verdade! Eis que o interfone  toca às 6:45 de um dia de domingo! No primeiro momento não entendi nada. Quem interfonaria àquela hora? Atendi e do outro lado da linha (ainda se diz isso?) alguém sonolento pergunta: "quem está falando?" E eu encabulado pergunto: "você quer falar com quem"? Não vou negar que já meio aborrecido, ora, como é que alguém interfona para sua casa àquela hora da manhã e sequer sabe quem mora nela? Sei que não é bem assim, mas vá dizer isso a alguém que está aborrecido com alguém que resolve incomodá-lo numa manhã de domingo? O vizinho se identificou e me pediu, com toda a educação que lhe era possível naquele momento, que por favor parasse de varrer que o barulho da vassoura o estava deixando louco! Pirei de vez, e ele, me deixando mais deprimido ainda, falou que tinha uma filhinha! Nunca imaginara que todos os dias o vizinho de baixo, sua mulher e a filha pequena desejaram arrancar os meus cabelos e mais algumas outras coisas sem que tivesse a mínima idéia do que estava acontecendo! Saibam que a partir desse dia, perdoei todos aqueles que porventura me atormentaram com seus RUÍDOS INFERNAIS lá no meu térreo sossegado de Floripa e mais, desejei muitos e muitos anos de vida àquele guri/piá que jogava inocentemente suas gudes diuturnamente sobre minha cabeça, pois é, a vida tem dessas coisas... 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Eike Batista e os abaixo da linha de pobreza...

Meus caros amigos, vocês não imaginam o tamanho da minha felicidade ao ler, num desses portais que gravitam pela web, que Eike Fuhrken Batista, brasileiro, 8º homem mais rico do mundo, em entrevista na conferência anual do Milken Institute's, centro de estudos sediado na Califórnia, nos EUA, anunciou que muito em breve será o number one! Infelizmente, para ele, a realidade hoje não é essa, no ranking da Forbes quem está no topo da pirâmide é o mexicano Carlos Slim Helú , mas não por muito tempo, deve ser superado muito em breve. "Preciso competir com o sr. Slim. "Não sei se vou ultrapassá-lo pela direita ou pela esquerda, mas vou passá-lo", afirmou o nosso brazuca quase alemão! Saibam que emoção igual só foi sentida por mim quando Obama se tornou presidente da maior nação da terra, afinal de contas, era o primeiro preto a conseguir tal façanha! Em relação à vitória de Eike, isso fez/faz muito bem a minha auto-estima! Dar para imaginar o que é ter um irmão, a vitória de Eike é a nossa vitória, que é dono da oitava fortuna do mundo? Isso deve ser motivo de orgulho e satisfação para todos nós! Com seu trabalho esse grande brasileiro dignifica esse país e, ao mesmo tempo, alça-nos à condição de vencedores ao mostrar para o mundo um povo capaz de superar reveses e ter um dos homens mais ricos  em suas fileiras!
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Perdoem-me pelo escárnio, mas não pude resistir à tentação logo após a leitura dos dados disponibilizados pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística - referentes à quantia necessária para que uma pessoa seja declarada abaixo da linha de pobreza: R$ 70,00 mensais! Como a matemática consegue um número tão exato para separar aqueles que sobrevivem(?) dos que são considerados classe média?! Neste caso, estima-se que uma pessoa cuja renda é de R$ 71,00 por mês está fora do perfil daqueles que passam a vida à míngua? Se R$ 70,00 mensais representam o valor que os declassificados percebem, usando da mesma lógica, os que ganham qualquer cifra acima disso, estão de fato abaixo de Eike Batista, mas não podem ser considerados miseráveis, são parceiros!? O certo(?) é que o mais miserável desse país não ganha nem R$100,00 mensais, enquanto na outra ponta existe uma fortuna estimada em torno de  US$ 30 bilhões! No anúncio do IBGE consta que 8,5% da população, cerca de 16,2 milhões de pessoas(?), são extremamente pobres, e desses, 4,8 milhões não tem nenhuma renda, enquanto 11,4 milhões tem rendimento per capita de R$ 1 a R$ 70 mês. É preciso repetir, 4,8 milhões de brasileiros não tem RENDA ALGUMA! Que paradoxo, não? Todos esses números me trouxeram à memória as recentes "revoluções" ocorridas no mundo árabe auxiliadas pelo Facebook e outras redes! Fiquei me perguntando quando os famintos daqui terão TAMBÉM o apoio dessas redes sociais e irão reivindicar de forma menos cordeira seu naco de carne independentemente desses programas de assistência social que apenas colocam band-aids nas chagas abertas? O oximoro mostra que aquela velha e decadente banda de rock "n" roll tinha razão: "miséria é miséria em qualquer canto, riquezas são diferentes." A MISÉRIA é de todos, mas as riquezas são singulares...