sábado, 27 de março de 2010

Renato Russo...

O Trovador Solitário (27/03/1960) estaria fazendo, hoje, 50 primaveras! Se voltarmos no tempo, àquele ano da graça quando o perdemos,11/10/1996, veremos que o Poeta Russo nos "abandonou" quase uma criança, tinha apenas 36, ainda que tenha uma canção em que a personagem fenece com apenas 16! Tenho verdadeiro horror de necrológio, nada mais deprimente, há que se celebrar a vida e  não elogiar a morte como costumam fazer os hipócritas! Devemos comemorar pelas veredas que o poeta nos legou! O impacto das suas canções nos provocam, a todo o instante, a não OLVIDAR, em maiúsculas, aquele que fez o Descobrimento do Brasil! A verdade, que liberta, é que, passado algum tempo, ainda continuamos a nos perguntar, mesmo que ali não estivesse caracterizada uma questão: que país é esse que vibra com uma condenação como se fora um gol? Ontem, depois da sentença, houve fogos de artifício (!?) pelos anos de prisão dos Nardonis, por ironia da história, o poeta sentenciara, em outros tempos, de forma sarcástica: "vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos, tudo que é gratuito e feio, tudo que é normal, vamos cantar juntos o hino nacional, a LÁGRIMA É VERDADEIRA"...Vimos a morte da menina transformada em cerimônia vampiresca, sem o áudio, mais parecia um baile carnavalesco, e a ironia legionária diz: vamos "celebrar a juventude sem escolas,  as crianças mortas."
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Na perfeição de suas letras, o nosso caráter já fora descoberto, resumimo-nos a isso? A forma como foi explorada essa bárbarie infanticida me deixou com uma tristeza, muito parecida com aquela que anunciara que o Poeta se fora. Vejo claramente a fotografia em branco e preto. Subo apressadamente as escadas da faculdade de educação, noto que ao meu encontro vem o amigo Humberto, e, sem qualquer cerimônia, diz: "Renato Russo morreu!" O impacto de tal revelação foi devastador! Será essa uma notícia fácil de se assimilar numa manhã primaveril, ainda que o poeta estivesse doente? Não, não foi fácil! Mas olhando ao redor, vendo como o país se movimentou em torno de um julgamento, exaurindo-se em sua luta por justiça(?), fica cristalino que o Poeta Vive em toda a sua plenitude, está aqui e ali, espalhado pelos(as) quatro (estações?) cantos de nossas vidas! Celebremos, então, a sua existência infinita com sons, com música, como a obra-prima de sua pintura com tinta acrílica...
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É saudade, então 
E mais uma vez 
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez 
Os traços copiei do que não aconteceu 
As cores que escolhi entre as tintas que inventei 
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos 
De um dia sermos três 
Trabalhei você em luz e sombra 
E era sempre: "Não foi por mal" 
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste 
Sempre as mesmas desculpas 
E desculpas nem sempre são sinceras 
Quase nunca são 
Preparei a minha tela 
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar 
A armação fiz com madeira 
Da janela do teu quarto 
Do portão da sua casa 
Fiz paleta e cavalete 
E com as lágrimas que não brincaram com você 
Destilei óleo de linhaça 
E da sua cama arranquei pedaços 
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes 
E fiz, então, pincéis com seus cabelos 
Fiz carvão do baton que roubei de você 
E com ele marquei dois pontos de fuga 
E rabisquei meu horizonte 
E era sempre: "Não foi por mal" 
Eu juro que não foi por mal 
Eu não queria machucar você 
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez 
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição 
Às vezes é difícil esquecer: 
"Sinto muito, ela não mora mais aqui" 
Mas então, por que eu finjo 
Que acredito no que invento? 
Nada disso aconteceu assim 
Não foi desse jeito 
Ninguém sofreu 
E é só você que me provoca essa saudade vazia 
Tentando pintar essas flores com o nome 
De "amor-perfeito" 
E "não-te-esqueças-de-mim"...

terça-feira, 23 de março de 2010

A falsa democracia da Copa do Brasil...

Nada mais enganoso do que o apregoado espírito democrático da Copa do Brasil. Para aqueles que faturam alto com o evento esse é o "bordão" que tranqüiliza sobremaneira aos incautos. A desculpa é que só assim temos a oportunidade de conhecer times que se não fora essa competição jamais seriam vistos!? Por favor, entendam que não vai aqui nenhum preconceito, mas muitos dos times que a mídia afirma que devíamos conhecer, essa é a característica essencial da Copa do Brasil, é o que ela diz, não passam de um "bando" perdido que sai de lugar algum para lugar nenhum! Naviraiense/MS, Juventus/AC, Luverdense/MT, Cerâmica/RS, entre outros, são a prova mais cruel dessa verdade. Contudo a mesma mídia que afirma o caráter democrático da competição, não escapa do "ato falho" ao afirmar que a copa é o caminho mais curto para Palmeiras, Santos, Grêmio, Atlético Mineiro chegarem à Libertadores! Nem citei Botafogo e Vasco da Gama que alguns arautos colocam também na lista dos favoritos! A Copa do Brasil é o espaço de autopromoção que Ricardo Teixeira  e sua CBF usarão pelos próximos mil anos! Com ela atende a todos os seus eleitores sendo considerado um dirigente democrático já que consegue levar, aos rincões mais distantes, times de projeção nacional, garantindo com isso pelo menos um jogo nas duas primeiras fases na casa do time de menor ranking!
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Basta pegarmos  o placar agregado de Santos e Naviraiense, 11 a 0, para termos certeza de que a tal "democracia" não passa de balela e que os agonizantes times pequenos são meros coadjuvantes, neste teatro de vampiros! Por isso, o Atlético Mineiro também não se fez de rogado e aplicou 7 a 0 no pobre e miserável Juventus/AC. Até o Palmeiras, time que vem mal das pernas já faz algum tempo, encontrou o moribundo Flamengo/PI e aplicou um placar agregado de 5 a 0! O enfado causado pela repetição de que só por via da Copa do Brasil esses times, se é que podemos chamá-los assim, têm alguma visibilidade e chance de chegar à Libertadores, levou-me a procurar saber quantos dos considerados inexpressivos ganharam a tal disputa nas suas 21 edições realizadas (a vigésima segunda é a de 2010). Mesmo não sendo a matemática o meu forte, arrisquei uns cálculos rasteiros e cheguei à conclusão que apenas 23% dos nanicos conseguiram ser campeões! Ou seja, no universo futebolístico da propalada democracia, 77%  dos vencedores, a minoria, estão representados pelos times considerados grandes!
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Para piorar a situação da maioria que não manda nesta falsa democracia, todos os times sem expressão que ganharam a Copa do Brasil, uma verdadeira maldição, encontraram na segunda, terceira ou quarta divisão abrigo para seus infortúnios! Senão, vejamos. O Criciúma foi primeiro nanico a provar da exceção à regra, vai disputar a série C em 2010. O Paulista, se tudo der certo, conseguirá uma vaga na série D; os outros três times  pequenos que cometeram o deslize de vencer a competição estarão na série B deste ano: Sport Club do Recife, Santo André e Juventude! E os outros campeões dessa democracia às avessas? Bem, para confirmar à regra, tivemos: Grêmio(4), Cruzeiro(4), Corinthians(3), Flamengo(2), Fluminense(1) e Palmeiras(1). O que salta aos olhos, vendo esses números, é que a Copa do Brasil vem mantendo a lógica ao longo dos anos, os moribundos que ousaram vencer pagaram muito caro por tal proeza, os exemplos estão aí para confirmar, os cinco nanicos representam as exceções que fazem com que aquele torcedor do Naviraiense acredite que o time dele no ano que vem (não vai levar mais um chocolate) será o campeão dessa competição que,  não faz idéia, afinal é um simplório, foi feita para ajudar 77% dos grandes a garantir uma vaga na Libertadores...

domingo, 21 de março de 2010

Traduzir-se...

Traduzir o que nos reservam sons e imagens impressos nas palavras não se resume ao ordinário deslizar dos olhos nas superfícies onde estas desavergonhosamente copulam, parindo sentidos e significados! O ato de ler, na busca por elucidar o que está às claras, o que está oculto, o não dito, o que foi silenciado, aproxima-se daquilo que faz o artesão, é como esculpir a  pedra bruta que pouco a pouco se transforma em diamante, deslumbrando ao simples olhar! O primeiro encontro provoca desconforto, insegurança, são veredas nunca antes transitadas. Há um certo mal-estar que desestrutura e desequilibra e se traduz na metáfora do equilibrista e seu passeio na linha entre dois penhascos! No segundoé possível que haja alguma réstia de luz, o terreno torna-se menos árido, menos escarpado, menos áspero, mais aprazível; no terceiro, seus olhos faiscam com o deslumbre do acaso, da revelação...a partir desse ponto, é pura fascinação, vai-se descobrindo nuances e nuances nunca antes percebidas, o mais estranho é que tudo estava bem ali sob os nossos olhos... 

sábado, 20 de março de 2010

Lugar-comum...

Depois de quase sucumbir a um Acidente Vascular Cerebral, o velho professor não sabia, ao certo, de onde retiraria forças para mais uma empreitada. Nas nossas existências, dissera a si mesmo, depois da tempestade, é sempre bom ouvir Rô Rô dizer: "a vida é bela, só nos resta viver." Por isso, decidira que iria buscar novos desafios para iluminar a vida nova. Some-se a isso a sorte (será que ela existe mesmo?) de ter conseguido escapar ileso, sem nenhuma seqüela daquele transtorno neurológico. A medicina enfatizara que era algo raro para quem recebe no colo um AVC. Percebendo sua disponibilidade para emoções radicais, o médico que o curara fora implacável: "nada de excessos nos próximos dois anos, compreendeu?!" Sem esconder sua ansiedade, e meio a contra-gosto, seguiu à risca as sábias recomendações do velho esculápio! É verdade que no início daqueles "longos" dois anos teve que aturar perguntas de alguns chatos de galocha, que em outros tempos não causaria nenhum "dissabor", mas naquele instante, falar de corda em casa de enforcado, era uma total falta de sensibilidade. Houve momentos que o velho docente, para evitar o lugar-comum, sentira vontade de entortar a boca, a perna ou o pé, para não ouvir: "você está bem mesmo?" Era compreensível, afinal, o cara escapara incólume daquilo que era conhecido popularmente como derrame, mas ouvir isso a todo momento enchia o saco de qualquer cristão e também o do idoso professor! 
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Dois anos se passaram e o velho preceptor recuperado de todos, ou quase todos, os seus fantasmas resolvera fazer um longo vôo! Decidira que iria respirar novos ares, conhecer pessoas diferentes, em linhas gerais, sair um pouco do lugar em que vivera por mais de dez anos para aprofundar estudos! Quem sabe não iria para o sul fazer o doutorado? Percebera no gesto, não uma fuga, mas uma necessidade "espiritual". Dito e feito, lá se fora o velho escolástico em busca de "mares nunca dantes nevegados", como bem dissera o bardo lusitano! Seriam 4 anos para se revigorar, viver outros ambientes, conhecer outros sotaques, embora o velho mestre tivesse consciência que não tinha nenhum, e o que não poderia esquecer: escrever uma TEsE! Eis que surge o primeiro contratempo enfrentado por nosso "herói": um frio intenso, logo no primeiro ano a temperatura chegou aos 4 graus, também pudera, o sujeito sentia frio numa cidade cujas temperaturas beiravam os 40 e poucos graus! Mais que rapidamente, logo veio o segundo contratempo da série. Na primeira visita que fizera ao seu local de trabalho, no recesso acadêmico, seis meses depois, ouviu a pergunta que o perseguiria pelos próximos anos a todo momento que encontrava um velho conhecido ou um conhecido novo: " e a TEse, já terminou?" O quê? Seis meses depois?
Não, aquilo não estava acontecendo com ele! Percebera enraivecido que todo assunto, qualquer conversa, só se falava na "mardita"! Todos queriam saber se já estava concluindo a TeSE, uns mais ousados perguntavam quando seria a defesa! É óbvio que a situação só foi  piorando e o nosso velho professor começara a mudar literalmente de calçada todas as vezes que apontava, lá adiante, alguém que conhecia. Sim, porque havia momentos que queria saber de qualquer coisa menos que tinha uma tESE à espreita no meio do caminho, como a pedra de Drummond! Começara a sentir saudade dos chatos de galocha que perguntavam se ele estava bem mesmo. Pelo menos, naquela situação, poderia entortar a boca ou qualquer um dos membros e o chato se calava por pena ou dó, mas com a TESe isso jamais acontecia, todos queriam saber como estava a saúde da criatura! Precisamente ontem, o velho escolástico resolvera ir a um Seminário. Chegando ao campus, avistou, ao longe, uma professora muito querida que já fazia algum tempo não via. Sorrindo se aproximou feliz por reencontrá-la. Após os cumprimentos habituais, eis que recebeu, de chofre, ricocheteando em pleno rosto, o som daquelas palavras que não o abandonaram um só instante nos últimos tempos: "E a TESe, já terminou?"...Não se sabe ao certo o que os olhos do velho professor responderam, o fato é que na despedida, percebera que o encantamento se rompera definitivamente, porque aquele lugar-comum conseguira se impor em todas as frestas, em todos os interstícios obstaculizando os relacionamentos, provando que, em relação à tEse, somos todos iguais...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Calvário dos estudantes...

Estudar no Brasil, pelo menos por enquanto, ainda é um privilégio para poucos. São tantas as dificuldades a se enfrentar que as desistências não são poucas. Hoje vemos como o Estado, através do Sisu (sistema de seleção unificada), tenta minorar essa situação usando o subterfúgio do ENEM (exame nacional do ensino médio) e sua ciranda: as vagas aparecem, desaparecem e reaparecem como num passe de mágica, essa instabilidade deixa os estudantes apavorados! As siglas citadas nada mais são que um remédio "novo" para uma doença incurável chamada vestibular! Estamos falando do primeiro momento desse grande funil que é a entrada na universidade. Logo, logo, o estudante vai  perceber que ser aprovado no vestibular, ou seja lá o que for que "eles" usem como mecanismo de entrada na universidade, é parte mais fácil dessa ópera bufa! Na verdade, a maior dificuldade é se manter no curso escolhido com qualidade! A grande ironia é que alguns dos que defendem as famigeradas cotas raciais dizem que os estudantes que entram por esse artifício se saem melhor do que aqueles que entram pelo vestibular, ora, por que ao invés da defesa do privilégio da reserva de vagas esses arautos não pregam a extinção do exame?
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Por outro lado, depois que a etapa da graduação é superada, não acabam aí os problemas, em breve, surgem outros que já se manifestam nos momentos finais dos estudos universitários, entre eles o mais agudo é o medo de não conseguir uma colocação rentável que possa proporcionar uma vida com "vacas nem tão magras" como aquelas do período da formação inicial! A pergunta que persegue o estudante o dia todo e todo dia é: "será que vou conseguir um emprego decente quando sair?" O fato é que poucos são aqueles que conseguem realizar o sonho da colocação perfeita, na sua grande maioria, vemos que para se ganhar uma renda razoável é preciso fazer diversos "bicos" para atingir o tão sonhado padrão pequeno-burguês, cantado em prosa e verso como a meta humana! Além de tudo isso, ainda existe a situação esdrúxula que se tornou comum nestes tempos acelerados: os estudantes pensando na sua afirmação no mercado de trabalho e na possibilidade de garantir os tais "bicos", iniciam os estudos de pós-graduação em plena graduação!?!? É isso aí, no Brasil o absurdo tem precedente!!
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Na verdade, a falácia da inserção em curso superior encobre o grande engodo que é vendido a todo momento: vencer na vida depende, em grande parte, de esforço individual! Não nos esqueçamos que muitos daqueles que acreditam nas cotas raciais afirmam que a entrada via reserva de vaga supre parte da reparação devida aos pretos, mas a que pretos eles se referem? Aos que vivem nas periferias das grandes e pequenas cidades e (sobre)vivem no subemprego e em suas moradias precárias ou àqueles que de alguma forma têm voz e podem custear um curso superior? Estudar no Brasil, infelizmente, não é para qualquer um! Haja vista os valores de livros e outros apetrechos necessários aos estudos. Há um discurso hipócrita que sinaliza que as cotas estão endereçadas a todos! Na verdade, só os "bem-sucedidos", pretos ou brancos, chegarão ao tão sonhado "sucesso"! Os que não fazem parte desse séquito que lograrem ter acesso à universidade, são a exceção que confirmam a regra, é a doação de alguns anéis para não se perder os dedos...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Nuas...

Uma antiga amiga, quase "ex-amiga", ao vir me visitar certa feita, notou, decepcionada, que nas paredes da "minha" casa não havia nada além das cores com as quais foram pintadas! Sentiu-se traída e não escondeu sua indignação por tal fato. Como poderia alguém como eu, isso são palavras dela, permitir que os olhos navegassem por oceanos tão desnudos? (isso são palavras minhas). As paredes deveriam estar repletas de  infinitos quadros, gravuras e tantas outras "ilustrações" que refletissem o meu suposto bom gosto, quiçá minha afetividade, caso houvesse, por exemplo, a fotografia do meu pai! Juro que não entendi, naquele momento, sua "raiva", afinal de contas, por que todos temos que "enfeitar" as paredes da casa com outras "cores"? Quem disse que  "sujá-las" é sinônimo de sensibilidade à arte? Para não ficar "mal na foto" argumentei que dessa forma protegia aos que me visitavam, e a mim também, da intensiva exposição à "poluição visual"! Além disso, tornava desnecessário o elogio barato que o meu suposto bom gosto provocaria! Mas minha interlocutora não aceitou essas ponderações, alegando que no fundo, no fundo, essa atitude nada mais era do que um desejo sub-reptício de parecer diferente, de atrair mais atenção! Embora não pudesse colocá-la entre aqueles que se julgam entendidos nas questões da estética, nem das Artes de uma forma geral, fiquei me perguntando se ela não teria alguma razão, já que, embora não acredite em hipótese alguma em horóscopo, sou do signo de Leão!
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Passados poucos anos, essa conversa emergiu em minhas reminiscências. Ato contínuo, lembrei-me do que dissera a outra, neste caso, ex-amiga sobre o ocorrido. Esta discordara veementemente do que eu dissera. Sabia muito bem qual a razão de suas, as dela, paredes estarem repletas de imagens, além de "peças" de madeira e de barro espalhadas pelos quatro cantos da casa! Explicou-me que em cada objeto que o visitante e ela própria deitava o olhar havia algo mais que apenas aquele sentimento de "arrebatamento" que a imagem provocava! Entendiam, ela e o visitante, muito bem o que o autor da obra queria transmitir, ou seja, não era apenas para ENFEITAR! A minha tese é que muita gente coloca todas aquelas "coisas" nas paredes, entre elas cópias baratas de pintores famosos ou fotos dos entes queridos, sem-noção alguma do que está fazendo. Essas pessoas agem assim porque existe em suas cabeças uma tola convenção de que as paredes não podem ficar "desquadradas", perdoem-me por esse bizarro neologismo, sob pena de tornar o ambiente "feio", sem cor, ou usando da linguagem trivial: soturno!  Quadros, gravuras e afins foram feitos para serem apreciados em galerias e nas paredes das casas tornando esses lugares cheios de alegria!
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 E o que dizer, então, daqueles que deixam as paredes completamente despidas, sem brilho, sem nenhuma imagem para lhes tornar mais atraentes? Para além das convenções, o que se percebe é que saturado o olhar, os quadros e imagens posto nas paredes não passam de balangandãs, ornam, enfeitam, tiram-lhe apenas a NUDEZ! As pessoas andam pela casa e sequer se aproximam de tais quinquilharias, as imagens ficam "invisíveis'! As fotos amarelecidas, os quadros e as gravuras ficam esperando que apareça alguém interessado naquilo que na casa tem o mesmo valor que tem aquela planta lá na varanda! Gosto de paredes NUAS, totalmente despudoradas para que meus olhos possam vesti-las do jeito que eu quiser, e depois, como um voyer, imaginá-las se despindo apenas e exclusivamente para mim...