sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Doação de órgãos...

Sei o quanto este assunto é delicado, nem sei se é temática para ser discutida num espaço como esse, espero não cair na vala comum que muitas vezes terminamos caindo quando abordamos essa questão, mas a série de reportagens da TV Globo, na sua parcialidade, provocaram-me, por duas razões; a primeira é de ordem bem pessoal. Nunca fui muito a favor daquela "imposição" no documento de identidade, em que cada um era considerado como um doador em potencial, caso não se opusesse, o que não deixava de ser leviano; a segunda é de ordem política, todo mundo sabe que a saúde é uma mercadoria muito CARA aqui e alhures e que nem todos têm acesso a ela, embora o texto constitucional diga com todas as letras que é um direito de todos e dever do Estado, o atendimento oferecido aos usuários do SUS mostra que "há algo de podre no reino da Dinamarca". Olha, meu camarada, se você não tiver um planozinho de saúde alternativo, tenha certeza que suas chances de sobreviver às doenças, mesmo as mais comezinhas, estão bastante diminuídas.
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Há dois sentimentos básicos em relação aos transplantes, se por um lado é extremamente doloroso para quem perdeu alguém e ter que, racionalmente, ceder "partes" do ente querido para que alguém possa viver, por outro, torna-se uma abertura de novos horizontes para quem ganhou os órgãos! Existem histórias de todas as nuances, a referida emissora resolveu escolher os casos bem sucedidos, muito provavelmente para estimular as doações. Há um filme com Denzel Washington, Um ato de coragem, em que a questão é também discutida. Mostra um pai que não tem nem dinheiro nem plano de saúde. A alternativa que ele encontra é tomar como refém um grupo de pessoas em um hospital, para negociar a salvação do menino! Tanto lá, quanto cá, sem grana é preciso fazer malabarismos para ser tratado com dignidade! O filme começa mostrando uma imprudência na estrada, cuja conseqüência é a morte do futuro doador! Não há como negar que esse tipo de situação, traz em si, um desejo "assassino" de quem espera pelo transplante. Na realidade, aquele que está na fila de espera, fica "desejando", ardentemente, que apareça "alguém" para doar seus órgãos, e assim lhe dar a oportunidade de viver. Guardadas as devidas proporções, a situação é muito parecida com a que vive o agente funerário, ou seja, o negócio dele é a morte dos outros!
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Entre a série de depoimentos que a Globo selecionou, houve o de uma mulher que esperou por cinco anos. Seu contentamento era visível, já podia dirigir sozinha, ser uma pessoa, além da emoção por estar livre do sofrimento da espera pelo órgão, no caso dela, foram os rins e o pâncreas! Entre lágrimas, falava da felicidade e planos! Exceto o tom que era de emocionar a qualquer custo, a lição que fica é a de que é preciso mais que depoimentos para convencer às pessoas da importância do ato de doar, porque se por um lado, um corpo voltar a sorrir, volta a viver; por outro, têm aqueles que choram com a perda, isso para os casos em que os doadores têm que morrer! Um paradoxo difícil de ser superado, sem que caiamos na pieguice do choro fácil e/ou do incentivo à solidariedade barata! O mais grave nisso tudo é que como os serviços de saúde são precários, na maioria dos estados brasileiros, muitos nem conseguem o básico, ou seja, remédio para um simples resfriado, então, como é que zé ninguém terá à sua disposição a tecnologia de ponta e por conseguinte, condições de fazer um transplante? Não nos esqueçamos que nesta divisão em classes sociais, os mais privilegiados vão a Cleveland fazer check up do coração! A verdade é que temos uma luta perversa entre miseráveis, pobres,"remediados" e ricos e, mais uma vez, a classe social, embora muitos neguem a luta de classes, vai ser determinante para que a pessoa tenha acesso à vida ou morra por não ter um famigerado plano de saúde...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Mulheres...

Era uma apresentação do contrabaixista Edwin Pitre, no canal SESCTV, e a primeira imagem mostrada é de uma mulher, cheia de energia, sorrindo, com uma felicidade transbordante, tocando percussão! Havia um prazer no toque das mãos no tambor que maravilhava! Uma delícia de se ouvir, lindo de se ver! Facilmente, poderia-se dizer que a mistura passeava por ritmos caribenhos, aportando no Brasil de forma tranquila e provocante! Sim, o jazz estava presente naquela onda de sons e melodias! Mas o som que a menina tirava dos instrumentos percussivos era muito belo e dava um colorido todo especial ao evento!
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Na realidade, gosto de ver mulheres fazendo aquilo que geralmente está "reservado" aos homens, negando aquele negócio de que a pessoa nasce com o dom para ser isso ou aquilo! Pense bem, se a Marta, considerada a melhor jogadora de futebol do mundo, tivesse nascido em Kabul, no Afeganistão, teria condições de fazer o que ela faz? Gostava de ir aos shows da Cassia Eller para vê-la cantar e tocar, mas também ouvir a Lan, percussionista da banda, "percussionar", havia uma intensidade tribal no "som" que ela fazia! No caso da percussão, é muito comum além de ser um espaço masculino, está reservado aos pretos, são eles os chamados para manusear os tambores e afins, culturalmente, são os que ficam na "cozinha" da música!
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Outrossim, é bom de se ver mulheres dirigindo caminhões! Vê-las manipulando e com desenvoltura, às vezes, superior aos homens é bárbaro! Quebra a lógica instituída pelas hordas masculinas. Para elas fazer determinadas coisas, dirigir caminhões é um bom exemplo, é um teste diário, têm que matar um leão a cada hora! Quando no trânsito há uma "barberagem" e quem cometeu o "delito" foi uma mulher, os defensores da tese do inato, vibram, afinal, há uma confirmação daquilo que eles acreditam ser a verdade absoluta: mulher não nasceu para dirigir! Contudo as estatísticas mostram que os acidentes causados por mulheres são muito pequenos, comparados aos causados pelos marmanjos! É bem provável que se diga que o número de mulheres dirigindo é menor, por isso essa evidência! Na verdade, quem trabalha com aprendizagem e desenvolvimento numa perspectiva histórico-cultural sabe que para além da força muscular, o meio social é o elemento fundamental na apropriação do conhecimento por parte do indivíduo, seja mulher ou homem!
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E por último, mas não a última, falemos de Cecília Kerche, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em entrevista na TVE, no programa Re(corte)cultural, ela falou de seu projeto de mundo, como deve ser a iniciação para a dança, quais devem ser os objetivos. Disse, ainda, que tinha como meta chegar no lugar em que chegou aos vinte e cinco anos e conseguiu! Na conversa, é perceptível que é uma apaixonada pelo que faz, mais do que isso, é uma apologista descomensurada, diria que é quase "cega"! Afirmou que as possibilidades de emocionar, entreter, fazer chorar, tudo isso sem enunciar uma palavra sequer, faz da dança a arte mais completa que existe! Em tom professoral disse uma coisa que venho tentando negar, incisivamente, nesta peroração: "Não é você quem escolhe o ballet, é o ballet quem te escolhe"! Será? Isso não parece uma certeza absoluta? Então, responda sem pestanejar: alguém escolhe ser gari ou é o lixo quem escolhe o sujeito? Geralmente os que têm "talento", dificilmente conseguem escapar desta percepção metafísica, são os "escolhidos", jamais, em tempo algum, percebem que as condições econômico-sociais são determinantes nas nossas escolhas, terminam na sua "santa ingenuidade", referendando o discurso perverso do preconceito: do mais ágil, mais forte, mais veloz, mal sabem eles que é por isso que filho de médico é "doutor"...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mônica Veloso, a balzaquiana nua...

Uma pessoa muito querida me enviou um torpedo, indignada, quando soube que o senador Renan Calheiros fora absolvido! Dissera ela que aquilo era algo indecente, inaceitável e que a partir daquele momento estaria entre aqueles que renegariam o status quo! O senado perdera o respeito dos cidadãos brasileiros com aquela atitude! Na realidade, imaginara que ela já estava entre aqueles que repudiavam as relações sob o manto capitalista! Contudo, surpreso fiquei eu quando, inadvertidamente, assistia àquele programa que deixa o domingo com um cara de ressaca, e vi e ouvi Mônica Veloso, a "namorada" de Calheiros, dizer que pousou nua e que ficou lisonjeada por ter sido convidada já que é uma mulher considerada "velha" para os padrões da revista! Não, não sou hipócrita! Não tenho nada contra as mulheres posarem para revistas masculinas como se fora pedaços de carne expostos no balcão do açougue, ali da esquina, ainda que se diga que o objetivo é "artístico", no fundo o que se quer é estimular a libido de homens e mulheres nos quartos, banheiros e afins, embora seja, neste caso, de extremo mau gosto, devido às circunstâncias do caso!
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Não bastasse a certeza de que há propina no caso, já que o amigo lobista era quem fazia os pagamentos, embora ele tenha sido "inocentado"! Quem sabe não pudéssemos ser preservados da encenação novelesca da relação extra conjugal do senador? No caso, a hipocrisia andou solta pois muitos daqueles que franziam o nariz para a situação, não podem ser considerados acima de qualquer "suspeita", muito pelo contrário, é bem possível que uma devassa mais intensa mostrasse o lado podre de muitos daqueles que posam de bons moços e que andaram atirando pedras no Renan! A Mônica já anunciou que gostaria de voltar a trabalhar na tv, mostrando os bastidores de Brasília, isso vai depender da saída do ensaio. Ela espera que a revista seja um sucesso, terá participação nas vendas! Fala-se tanto em ética, inclusive o senado tem um "lugar" em que ela é discutida, foi difícil suportar esse lenga-lenga, mas de escândalo em escândalo vamos nos acostumando, é bem possível que surjam, muito em breve, teses dizendo que somos um povo que temos o escândalo no sangue, quem já esqueceu o caso dos anões do orçamento! Todos sabemos que a filha fora do casamento era a ponta do iceberg, perdoem-me o lugar comum, o indecente e agravante é ter um senador da república usando abertamente um senhor para pagar suas dívidas (um advogado resolveria a contenda com conhecimento de causa, como o faz a Mônica Veloso!) que tem interesses financeiros no senado e que Renan Calheiros poderia beneficiá-lo! Dirão os aliados, entre eles o presidente da república: "nada foi provado, portanto, ele é inocente"!
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Mônica Veloso no meio de toda essa lama, o tempo inteiro parecia alguém que tinha sido vítima do lobo mau, mostrou a todo o país que Renan Calheiros era um farsante e mentiroso, negando grande parte dos seus argumentos, afirmando, inclusive, que não era amiga comum de Cláudio Gontijo, da Mendes Júnior, como dissera o senador! Sem querer posar de moralista, no fogo cruzado que se tornou essa "aventura" senatorial, ficava pensando na menina, na filha que ambos, no momento de prazer, geraram, e que em nenhum momento foi preservada. Fico me perguntando como vai ser sua relação com outras crianças, criança às vezes, é tão "cruel"! Que pessoa infeliz pode vir a ser essa menina bastarda! É filha de Renan Calheiros, e não bastasse isso, irá receber outro presente para fechar esse espetáculo dantesco, com chave de ouro. Sua mãe vai estar promovendo, por uns tempos, para ganhar uns "trocados", é verdade, um festival de masturbação pelo país afora! A não ser que tenha a "doce ilusão" de que as pessoas que tiverem acesso às fotos, façam isso por causa do caráter artístico e compre a revista para saber qual é a cor dos seus olhos e sequer olhem para os outros "olhos" da balzaquiana...

sábado, 15 de setembro de 2007

Comunistas...

Na canção "Mulheres de Atenas", de Chico Buarque e Augusto Boal, há um ultimatum para aqueles que não compactuam com as injustiças, os autores apontam um exemplo de estratégia para sobreviver aos que querem nos fazer aceitar o mundo como ele é, na realidade, uma bela metáfora! "Mirem-se no exemplo daquelas mulheres", é o que eles dizem! Uma analogia possível seria: mirem-se no exemplo de Marx, um burguês, que abriu mão de todas as comodidades que a vida lhe ofereceu para, a partir da dialética materialista, transformar o mundo, ao invés de apenas pensá-lo, neste sentido, alterar o curso da vida daqueles que, diferente dele, não tinham acesso à comodidade nenhuma!
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Nascida por volta do século dezenove, a elaboração de Marx e Engels consegue fazer uma radiografia sem retoques do modo de produção capitalista, uma ruptura epistemológica de dimensões gigantescas! Tendo sofrido as mais variadas privações, convivido com toda espécie de desencanto e, ainda assim, não ter cedido um só milímetro naquilo que acreditava, deve, sim, ser um exemplo a ser seguido! Em seu projeto a humanidade era mais importante do que ter coisas, possuir objetos! Vemos muitos dos que dizem que querem outra possibilidade que não a que vivemos hoje, não ir além das "letras" escritas pelo Alemão. Ele disse, na 11ª tese sobre Feuerbach, que o mundo precisava ser transformado, não fazia um discurso, o discurso estava em sua pele, em seus atos e ações. O que vemos, hoje, são "comunistas" que não têm a fortaleza, para, assim como ele, ir além do texto! Quantos se dizem comunistas e não conseguem materializar sua ações mais corriqueiras, na verdade, são tão reacionários quanto aqueles que criticam de forma tão vociferante. Quantos se dizem comunistas e no fundo de suas consciências são os defensores mais ferrenhos da propriedade privada, quase sem "querer", são partidários da divisão social do trabalho, embora pensem que não!
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Muitos dos que se consideram comunistas não podem ficar apenas nas palavras, para isso, não podem perder de vista que pensar dialeticamente é entender a realidade como contraditória! Precisa-se voltar ao texto para entender o real e estar no real para entender o texto. Questiona-se: e qual é o texto que se torna fundamental neste momento? Muitos dos que se diziam de esquerda, hoje, estão fazendo o discurso em que não se sabe para onde eles apontam, ou seja, são pós-tudo, menos o que dizem que são! Passados mais de 150 anos da sua elaboração, não nos esqueçamos que foi escrito por volta de 1845/1846, é de fundamental importância estudarmos A Ideologia Alemã! Os que se dizem marxistas não podem deixar de estar sempre voltando a este texto. Está tudo lá. Nesta obra, Marx e Engels fazem a primeira exposição do Materialismo Histórico tendo os jovens hegelianos como anteparo para as suas mais finas ironias! Em todas as letras eles dizem: "O modo de produção da vida material determina o caráter geral dos processos da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens o que lhes determina a realidade objetiva, mas, ao contrário, a realidade social é que lhes determina a consciência". Voltemos, pois, ao texto antes de pensarmos que somos mais do que somos, antes de acharmos que já sabemos mais do que pensamos que sabemos, antes de afirmarmos que somos quando, na realidade, não passamos de crianças, pensando que somos revolucionários, mas que, no fundo, no fundo, não passamos de conservadores insignes...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Esporte (não) é vida...

Fomos "surpreendidos" mais uma vez com as mortes de atletas quase "dentro" das nossas casas! O fato é que a imagem do jogador camaronês Marc Vivien Foe, revirando os olhos, visto por milhões que acompanhavam a partida pela televisão em 2003, permanece na lembrança e ainda causa um certo desconforto! Mas os casos não pararam por aí, muitos outros semelhantes se seguiram! Aqui tivemos a morte de Serginho, do São Caetano, no jogo contra o São Paulo, que quase foi uma cópia do que aconteceu com o atleta camaronês, o jogador desabou em campo e as cenas que acompanharam o episódio, foram impactantes! O caso mais recente, e já nem tão recente assim, depois dele houve mais dois, foi o do lateral Antonio Puerta de 22 anos que morreu no hospital em que foi internado, após ter sofrido parada cardíaca numa partida, pela primeira rodada do Campeonato Espanhol! O tom trágico desses acontecimentos é que quando acontecem os holofotes da mídia, não sei se de forma sádica, localiza outros tantos, confirmando o perigo que ronda os estádios mundo afora, mas ao mesmo tempo que clama por providências, percebe-se nas entrelinhas que a mensagem, nem tão subliminar, é que o espetáculo não pode parar! No cotidiano, as certezas são as armadilhas que vamos acumulando e, quase sempre, nos tornamos reféns! Quando achamos que algo é bom para a nossa saúde ou qualquer coisa que o valha, referenciados nesta certeza, recomendamos imediatamente para os outros, entendendo que não há nenhuma chance de acontecer o inverso, é neste momento que entra o tal do discurso "científico" em que todo mundo se torna igual, ora, se serviu para beltrano, por que não servirá para sicrano? O exemplo típico disso, pode ser visto na automedicação. Se um remédio fez bem para alguém que teve dor de barriga, logo deverá servir para todos os sujeitos indistintamente! A nossa velha e conhecida indução, a partir de alguns casos faz-se a generalização!
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Um autor brasileiro, Dr. José Róiz, escreveu um livro chamado Esporte mata! que deveria estar em muitas escolas de Educação Física espalhadas aqui e alhures, em última instância, até para provocar o debate em torno de assunto tão polêmico, contudo, pelo menos por essas bandas, foi muito pouco divulgado, percebemos que muitos professores desdenharam, procurando desqualificar a obra, por essa estar fazendo uma afirmação contundente, num momento em que uma grande emissora de TV queria convencer que esporte era vida! Róiz era incansável na critica a essa exaltação sem medidas ao esporte de alto rendimento. Essa preocupação também está presente em um outro livro, cujo autor é Henry A. Solomon, intitulado "o mito do exercício", que assim como o primeiro, não tem sua leitura estimulada, é claro que as razões são óbvias, já que mete o dedo na ferida de um grande negócio que é a prática dos exercícios físicos como promoção de saúde! Entre outras coisas, diz o autor: "o estímulo ao lucro, a sedução da moda e do status e a legitimidade da medicina que apóia esse estranho fenômeno dos exercícios físicos. Uma carroça tão grande, movida pelo lucro, que transporta uma população preocupada com a saúde que acredita que encontrou a resposta, recebeu um impulso enorme. A simples verdade pode não ser bastante para fazê-la parar, mas deve ser dita: você pode apreciar os exercícios. Eles podem ser úteis socialmente, talvez façam você se sentir e parecer melhor. Mas o resto é mito. Os exercícios físicos não vão torná-lo mais saudável. Não vão prolongar sua vida. Preparo físico e saúde não são a mesma coisa", quer saber qual a página? está na 17.
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Na realidade, há uma confusão generalizada referente aos dois fenômenos aqui sinalizados! Esporte e exercícios físicos têm semelhanças, mas não são a mesma coisa, embora ambos mistifiquem e confundam a população em geral e muitos dos que estão na Universidade em relação à questão da saúde. Solomon descortina de forma didática a questão quando diz que "saúde e preparo físico não são a mesma coisa", embora nas entrelinhas, o discurso subliminar afirme que sim. Quando se fala em atividade física e promoção da saúde não é isso que se está querendo afirmar?! A prática do esporte necessita que o sujeito tenha um preparo físico adequado para que possa, medianamente, suportar às pressões do jogo, mas isso tem um custo altíssimo. Há um estresse brutal cujas respostas são as "contusões" rotineiras que perseguem os atletas! Quiçá joelho e tornozelo sejam os que mais sofram com as "novas demandas" do esporte! Não conheço nenhum estudo, é possível haja, que tenha calculado quantos dias, durante o ano, os atletas profissionais conseguem estar em condições de jogo e em quantos estão tratando alguma lesão! O fato é que há neste labirinto uma apologia às práticas corporais, colocando-as como receita e remédio para tudo, basta deixar de ser sedentário para que possamos dizer que temos saúde e aqueles que não fazem nenhum tipo de exercício físico é logo visto como uma pessoa deslocada, não saudável! Esporte não é saúde, muito pelo contrário, e não dizer isso é perverso, esconder os perigos que rondam a prática do esporte é desumano. O mais estranho de tudo isso é que apesar do número de mortes que acometem àqueles que comungam com o "mexa-se", (nos tempos da ditadura militar havia o "esporte para todos", que aqui no Brasil foi denominado de MEXA-SE) os seus "apóstolos" não abrem o jogo esclarecendo que como tudo há os pós e os contras e que em muitos casos ao invés de o sujeito estar ganhando saúde fazendo os exercícios físicos, ele pode estar adoecendo, como no caso do esporte de alto rendimento, mas se isso for dito, talvez o canto das sereias desapareça estragando a garantia dos seus negócios espúrios...

sábado, 8 de setembro de 2007

Tinha uma kombi no caminho...

Não estou fazendo nenhum "comercial" do veículo, mas ao tomar conhecimento que a Kombi estava fazendo 50 anos, quase que imediatamente me veio à memória cenas de um "filme" muito antigo, porém jamais esquecido! Esse veículo, que muitos chamam de "perua", (coitada, que apelido infeliz!) foi personagem de um acidente que me deixou algumas perebas e um trauma presente cada vez que atravesso uma via de grande e/ou pequena circulação de automóveis! Não vou dizer que ela é minha Julieta, mas que vivemos um drama à Shakespeare, não tenho nenhuma dúvida!
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Quando criança morei ora com minha mãe, ora com meu pai! Na verdade, pode-se dividir essa "caminhada" em quatro fases bem distintas! A primeira, a família, enquanto uma instituição, ainda existia; a segunda, a separação dos pais, muito ruim para um garoto de apenas 4 anos, embora não saiba se a separação houvesse acontecido mais tarde os efeitos fossem menos dolorosos; a terceira se caracteriza como uma fuga da casa paterna para ir morar com a mãe, uma manhã de domingo para não ser esquecida jamais; por fim, a morada com o pai, no início da puberdade até a entrada na idade adulta. Você pode estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com a Kombi! Para que falar desse "vale de lágrimas"! Não há aí a intenção quase descarada de comover, mexer com seus sentimentos mais nobres, meu caro e oculto leitor? Não seria uma intenção velada de aumentar o número de acessos, fazendo graça?
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Se você está acompanhando com a devida atenção, meu oculto e culto interlocutor, deve ter percebido que logo no início avisei que a Kombi tinha me deixado algumas marcas indeléveis e perebas já cicatrizadas! Pode ser que tenha achado que era brincadeira da minha parte, mas saiba que não! Quem anda comigo sabe que tenho verdadeiro pavor de semáforo. Só atravesso uma rua se tiver 100% de certeza que não serei atropelado! Às vezes, a pessoa já está do outro lado da rua e eu ainda esperando o melhor momento! Se não vi a mudança do sinal e ele está verde para mim, aí é que não atravesso, não sou louco! Saiba, meu caro e desavisado leitor, que o trânsito mata e muito nas grandes e pequenas cidades! As causas variam desde a falta de atenção até chegar no sujeito que não sabe o que é beber com moderação! Nas pequenas cidades e também nas grandes muita, mas muita, gente "dirige" sem habilitação! Aliás, prezado camarada, diga-me uma coisa, se saem quatro pessoas para a balada e as quatro bebem com moderação quem é que deve dirigir na volta para casa?
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Vamos acabar logo com essa história que já está mais longa do que devia! Na realidade, acho que se não fosse criado ora na casa da mãe, ora na casa do pai, dificilmente estaria me deslocando em ruas de grandes movimentações sozinho! Filhos criados como fui, tendem a ficar auto-suficientes muito cedo. Tendem a queimar etapas, por conta da criação mais "liberada", recorrentemente, calculam muito mal os riscos! A aprendizagem acontece muito com os erros, com a empiria das ruas! Na minha infância, em Salvador, a Kombi era um veiculo de transporte de passageiros regulamentado e padronizado! Talvez para facilitar a visualização tinha a cor laranja muito intensa, via-se a sua aproximação a distância, contudo, por ironia do destino, só vi essa cor berrante quando ela já estava quase em cima de mim, tentei correr o mais rápido que pude, mas não deu! Ela me pegou de jeito! Rapaz, vi estrelas e mais estrelas em pleno dia! É claro que no final tudo acabou bem, caso contrário, não estaria contando essa história. Uma coisa aprendi, embora da maneira mais dolorosa possível: quem pára veículo não é o sinal de trânsito e sim os freios...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Falando sobre o AVC...

Descobri que a maneira mais simples de me livrar dos meus "fantasmas" em relação ao AVC, não é outra senão falar dele, desmistificá-lo, em outras palavras, colocá-lo para fora! Funciona como catarse! Como foi uma experiência das mais dolorosas, a "lembrança" do acidente vascular cerebral é algo que me incomoda, já que me fragilizou, mas, ao mesmo tempo, e essa é a ironia, alivia-me. Quando o tema é assunto de conversa, explico que, afora aqueles chatos que por não perceberem nenhuma sequela aparente, ficavam me perguntando repetidamente se eu estava bem, foi muito bom ter sobrevivido, e o que é melhor, sem nenhuma sequela! O fato é que o avc é uma doença das mais "democráticas", atinge a todos quase que indistintamente, embora medidas de prevenção estejam ao alcance de quase todos! Sim, pois comer frutas, verduras e legumes, evitar alimentos com gordura saturada, ter acesso à saúde decente, entre outras coisas, é um direito de todos, mas não para inúmeros brasileiros que (sobre)vivem na periferia do "sistema", no desemprego, na pobreza, esse direito não passa de letra morta!
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Quem está prestes a ser acometido por um acidente vascular cerebral pressente uma fraqueza ou dormência na face, braços ou nas pernas, geralmente afetando apenas um dos lados do corpo. Tem dificuldade de articular as palavras ou compreender o que se diz. Tem uma dificuldade súbita e transitória de enxergar com um dos ou ambos os olhos. Sente uma dificuldade de caminhar, tontura, perda do equilíbrio ou da coordenação, dor de cabeça repentina e intensa sem nenhuma causa conhecida. Por tudo isso, a velocidade no atendimento é algo fundamental para que os danos sejam minimizados ou eliminados, mesmo porque, nos dois tipos de AVC, tanto o hemorrágico como o isquêmico, quanto mais cedo for possibilitado o acesso de nutrientes às áreas atingidas, maiores são as chances de o indivíduo sobreviver! Segundo dados da Academia Brasileira de Neurologia, o AVC é a segunda causa de morte mais comum em todo o planeta, logo atrás da doença cardíaca! Todos os anos, a quantidade de pessoas atingidas no mundo gira em torno de 15 milhões. Destes, 5 milhões perecem, outros 5 milhões sofrem danos duradouros, às vezes, irreversíveis, trazendo para si e suas famílias sofrimento e dor! Neste jogo perverso, fiquei entre aqueles cinco milhões que escapam, quase que incólumes. A verdade é que existem algumas "neuras" que é preciso superar para que se possa voltar à "normalidade", talvez a mais comum seja, superar o medo de dormir! Por tudo isso, embora tenha colocado de forma organizada os sintomas que precedem um AVC, não lembro absolutamente nada do dia e nem dos seis posteriores ao acontecimento!
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Quando realmente tive consciência de que estava em um hospital, perguntei imediatamente o que estava fazendo ali, mal sabia eu que já fizera essa pergunta uma quantidade absurda de vezes! E a resposta que me foi oferecida ecoou como uma bomba nos meus ouvidos: "você teve um AVC"! Agora tinha plena consciência que tivera um "derrame". A imagem que construíra fora sempre aquela em que a pessoa possui dificuldade motora, de fala, labios tortos, problemas de memória e mais alguns outros assustadores! Pois é, foram seis dias na mais absoluta escuridão, três dos quais na UTI! Era a minha páscoa e ver a luz outra vez foi algo que não existem palavras que possam traduzir o sentimento de euforia, foi delicioso saber que estava vivo, mesmo naquele momento tendo uma das pernas totalmente paralisada! Quão estranhos somos nós os humanos! Queremos viver ardentemente, mas essa percepção se torna muito mais aguda quando estamos sob risco de morte! Passados dois anos, totalmente restabelecido e encorajado por ter atravessado rio tão tortuoso, ganhei alguns amigos, perdi outros, é verdade, outros se foram, alguns outros se reaproximaram, porém o mais importante de tudo isso é ter percebido que cada segundo da nossa existência é para ser vivido intensamente, não como um piloto de Formúla 1, mas com toda a sabedoria da tartaruga...

domingo, 2 de setembro de 2007

Professores e Mercenários...

Em uma conversa informal, um estudante de forma incisiva afirmou que os professores eram mercenários, isso porque fizeram greve apenas por salários e no fundo estava "feliz" por ver que nenhuma das reivindicações foram atendidas! Em relação ao movimento docente, quando das suas "nobres" pautas, é comum colocar entre as suas reivindicações coisas que fazem parte das obrigações essenciais do empregador, sob o risco da realização do trabalho ficar comprometida caso eles não as cumpram! Exemplos? Mais salas de aula, ampliação de vagas, mais cursos, contratação de pessoal, entre outras obviedades! No modo de produção capitalista, cabe ao trabalhador lutar pela diminuição, quiçá exterminação, da exploração da sua força de trabalho, quem tem que promover condições para que ele aconteça é o patrão que cobra a produção e explora o trabalho! É isso mesmo, a condição sine qua non para que a categoria docente possa estar desenvolvendo de forma satisfatória suas funções é ter um salário digno que não paire à indecência que temos hoje, quanto às outras reivindicações é pura perfumaria!
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A greve é o instrumento de luta do trabalhador, chamá-lo de mercenário por cobrar pelo seu trabalho é de uma perversidade sem par, sem contar que o Estado termina colocando os estudantes contra os professores, alegando que o movimento paredista vai atrasar suas formaturas! Todas as vezes que os docentes entram em greve, seja quem for que esteja à frente do Estado Capitalista, o corte dos salários é a arma usada pelos governos para quebrar o movimento docente e fazê-lo retornar às salas de aula! Falando da última, estive à beira de um ataque de nervos no que se refere ao pagamento das contas, nunca vi, os credores aparecem todos no mesmo momento, por estranha ironia, a greve é ótima para os banqueiros que ganham, e muito, às custas dos docentes com seus juros escorchantes quando estes batem às suas portas! Com todo o constrangimento que tive que passar, desde a cobrança sutil de aluguel até ficar quase com zero tostão no bolso, ainda assim, se hoje houvesse uma assembléia, cujo objetivo fosse a decretação ou não da greve, saibam que votaria, sem pestanejar, a favor, porque quando eu não mais tenha direito de me indignar, não tenha mais nenhuma chance de dizer não ao não, aí sim, sei que estarei morto!
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Em relação ao sentimento de indignação, é só olhar para todos os lados e veremos que querem nos fazer crer que é melhor calar, existe uma frase que acho extremamente fascista que diz: "tanto barulho por nada", que no fundo nos impele à aceitação das maiores atrocidades com o silêncio. Estava numa clínica. Fora fazer um Hemograma. Uma mulher também queria! Não sei se o mesmo que eu! Contudo, a atendente descobrira que o documento que ela usara para ter acesso ao atendimento não lhe pertencia! Fora descoberta sua fraude e a atendente falava como se fora a proprietária do laboratório! Era "nós precisamos averiguar", "não podemos atender até que consigamos provar"! Em síntese, não foi permitido à "fraudadora" fazer os exames! Pensei cá comigo, se a saúde não fosse uma mercadoria, se a todos fosse permitido o acesso à saúde, era até possível que acreditasse nestes movimentos de solidariedade que acontecem sempre, os tais "Dê um cobertor a quem tem frio", dentre outros! Na verdade, essas ações não passam de hipocrisia! Enquanto damos cobertores a quem tem frio, quem tem frio não precisa apenas de cobertores, tem mais elementos nesta equação que, descaradamente, ficam sublimados em meio a tão belas frases de efeito! Os miseráveis em todas as estações precisam de algo para continuar vivendo sob a caridade e a benevolência das boas ações! Voltemos à questão inicial: quem é que é mercenário: o professor que entra em greve na briga por salários mais decentes ou aqueles que fazem da miséria seu negócio vendendo saúde em suas quitandas?...