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A segunda coisa que me causou incômodo, é saber que cada vez mais o Brasil é um país de grandes contrastes. Se por um lado existe um projeto para a implantação da banda larga nas escolas públicas para promover a inserção digital, temos um grupo de brasileiros que além de não fazer idéia do que seja banda larga, computador, Internet, mercado virtual, ganham valores que pelo desgaste por que passam, são suficientes apenas para "sobreviverem", talvez da forma mais cruel que se possa imaginar! Trata-se daqueles trabalhadores que cortam cana nos canaviais da vida para que sejamos auto-suficientes em combustível! Sim, os cortadores de cana vivem em condições tão desumanas que muitos sequer imaginam o que isso representa. Fala-se tanto na sociedade do conhecimento, que o acesso à tecnologia representa a emancipação dos indivíduos, que a força bruta já não é mais necessária, a falácia de que o trabalhador moderno só precisa apertar botão, aqui, neste caso, não passa de um grande engôdo! O cortador de cana ganha $ 20,00 por dia, por oito horas de trabalho, grande parte delas, sob sol ou chuva, pois que não existe "tempo bom" para esses brasileiros, são escravos livres!.
O último censo acusou que já superamos a casa dos cento e oitenta milhões de habitantes, o país já tem cerca de 45 milhões de pessoas com acesso à Internet, não obstante temos trabalhadores que ganham um sub salário para que veículos automotivos tenham combustíveis e possamos dormir tranquilos, porque há álcool na bomba e estamos inserindo mais e mais pessoas na manipulação das máquinas, mas não estamos atentos para as "máquinas" humanas que gastam sua energia para gerar energia! Estes "brasileiros" que produzem Etanol, sequer conseguem ter acesso ao mínimo necessário à sua sobrevivência, ganham, se trabalharem todos os dias, incluindo os domingos, seiscentos reais! Sim, meus camaradas, já somos auto-suficientes no que se refere ao combustível, mas não conseguimos olhar os cidadãos que no campo "morrem" para que o motor viva! Thomas Morus, o autor de Utopia analisando o que a produção de lã causou aos camponeses que foram expulsos de suas terras a ferro e fogo, metaforizou: "os carneiros comeram os homens". Se fizermos uma paráfrase perversa, podemos dizer: a cana está comendo os homens para que os motores possam funcionar e 45 milhões possam navegar, porque navegar é preciso...
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