sábado, 19 de março de 2011

O "palestrante"...

No sentido de demonstrar que o sucesso e o fracasso são uma responsabilidade individual, o "sistema de sociometabolismo do capital", para usar uma expressão de Mészáros, busca ingênuos(?) que possam referendar sua lógica. Dizem, os defensores dessa ignomínia, que sob essa forma de sociabilidade, o sol nasce para todos e aqueles que não conseguem o aquecimento necessário é porque não fizeram esforço suficiente para superar as adversidades. Isso quer dizer que, na melhor das hipóteses, cada um tem aquilo que merece e, neste caso, as questões meritocráticas funcionam como um avatar. Não se pode dizer que o sofrimento seja exclusividade de alguns poucos, sabe-se que até aqueles que nasceram em berço de ouro, como dizia minha avozinha, também têm sua história de dor! O óbvio é que os bem-nascidos resolvem com muito mais tranquilidade e menos agonia os seus problemas econômico-financeiros! Essas coisas me acossaram tão logo recebi um convite especial para ser palestrante numa comunidade carente! Era meu passado me condenando, minha história pessoal se impondo como exemplo: preto, pobre, filho de pais separados, egresso da periferia e, ainda assim, consegui estudar, entrar na universidade e construir uma carreira acadêmica! Meu interlocutor entendeu que era um bom exemplo para servir de espelho a pessoas com histórias parecidas, aliás, é preciso que se diga, histórias nada incomuns por essas bandas do nordeste e alhures! Estava escrito: se eu conseguira superar o que o destino traçara para mim encontrando aquilo que o sistema chama de sucesso, por que não transmitir essa experiência bem-sucedida?! No meu exemplo estava estampado com todas as letras que "quem acredita sempre alcança!" Essa expressão só reforça o "cada um tem aquilo que merece." Se nas condições mais desfavoráveis fora possível, a qualquer um seria e em relação à fórmula eu a possuía! 
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O que não está explicitado nas experiências bem-sucedidas é que muitos, inúmeros passam pelas mesmas dificuldades apresentadas, batalham, estudam sob as piores condições, contudo não conseguem ser o que o sistema precisa para mostrar que sob sua lógica tudo é possível, basta acreditar. Coisa de Poliana! O certo (ou errado?) é que os "derrotados" não aparecem, já que servem apenas para macular a esperança! Não está dito também o quão ideológico é o discurso por trás da boa intenção, aliás, o inferno está cheio de pessoas bem intencionadas. Não titubiei um só instante em dizer não ao convite. E não pensem que foi por medo dos concorrentes! Não me permiti enganar aquelas pessoas dizendo que se fizessem o que fiz a história se repetiria, mascarando a realidade, insinuando, nas entrelinhas, que é o esforço pessoal de cada um que faz o que somos. Os que não vêem o mundo com as expectativas de Poliana sabem que boa vontade e perseverança não significam que o sucesso mais cedo ou mais tarde virá. Minha história se confunde e se mistura com tantas outras que não tiveram a mesma "sorte"! Para o sistema é muito interessante ter esses ESPELHOS para mostrar o quão vigorosa é essa forma de sociabilidade e que basta seguir o que dizem essas LUZES que isso vai se refletir na vida daqueles que acreditam, os exemplos da foto acima confirmam essa regra... 

segunda-feira, 7 de março de 2011

Palavrão à beça...

Quando eu era pequeno, antigamente se dizia assim, o palavrão era tratado quase como uma instituição. Naquela época ainda não havia o tal do ECA, o estatuto da criança e do adolescente, que, por ironia, não deixa se ser um palavrão, eca é o mesmo que merda, para proteger os impúberes! Aquele que cometesse a tolice de dizer um palavrão corria o risco de receber uns tabefes pelas fuças! Os mais velhos tinham que ser respeitados, entre esses, os pais da gente, é claro! Hoje o respeito aos idosos, verdadeiros tiranos, se tornou uma imposição regada a inúmeros constrangimentos, mas isso não vem ao caso agora, vejamos como o palavrão perdeu/ganhou status nestes tempos onde tudo pode! Ou seja, antes uma palavra totalmente censurada, dita em momentos de muita cólera e sob muita solenidade e tensão, hoje, um tanto quanto banalizado, diria, sem medo de errar, que o palavrão vem sendo achincalhado a torto e a direito! Havia todo um protocolo para mandar alguém à porra, não era assim de qualquer jeito e a qualquer hora! Havia o momento preciso, você inflava o peito e berrava a plenos pulmões já se preparando para a briga! Chamar alguém de seu sacana, ainda que não soubéssemos literalmente o que aquilo queria dizer, dava uma confusão danada! E chamar alguém de viado? E corno? Tá rebocado, piripicado? Seu filho da puta? E vá se lenhar, então!? Lembro-me de um colega que me dissera qual o significado da marca FORD, o escroto me explicou direitinho enfatizando como o D soava na palavra, no fim das contas o resultado era mais ou menos Fodê. Feliz com a descoberta desse trocadilho infame, quase que imediatamente fui explicar essa pérola ao meu irmão caçula, para quê? Como todo caçula é tirânico esse não era diferente. Quando estávamos todos reunidos em volta da mesa ele abriu a boca para dizer a minha mãe a mais nova palavra que eu lhe ensinara! Por sorte, naquele preciso dia, a velha não estava muito atenta e não prestou atenção no que dizia o pestinha, porque se isso acontecesse, era porrada na certa!
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O palavrão anda tão em baixa que em partidas de futebol, transmitidas em rede nacional pela TV, parece que estamos nas arquibancadas. O certo é que com a inserção dos microfones de captação ambiente temos um campeonato à parte, pela quantidade de palavrões proferida durante o jogo fica muito difícil saber quem vai ser o campeão: a torcida, os jogadores ou os técnicos? Vanderlei Luxemburgo, um sério candidato ao título, passa o jogo inteiro gritando: caralho, caralho, filho da puta, caralho, porra! Lembro de uma vez que ele reclamou dos microfones, com o argumento de que as netinhas dele ficavam ouvindo  tudo aquilo! Eu adoro quando ele leva as netinhas para a coletiva, parece algo tão surreal quanto ele de paletó e gravata como se estivesse na Europa com a temperatura beirando os 15 graus positivos! Mais engraçado ainda são os comentaristas tentando amenizar a situação, dizendo coisas do tipo: "esse Vanderlei já gosta de um baralho", agem como se as crianças, que ingênuos, não soubessem do que se trata! Mas não é só o Luxa que pronuncia essas obscenidades! E a torcida? "Ei, seu juiz, vá tomar no...!" O pobre do palavrão está tão desmoralizado que uma sobrinha sem nenhum pudor mandou o tio tomar lá no olho, bem, deixa para lá, não preciso dizer que se fosse no meu tempo, minha nossa senhora, a madeira ia gemer, mas hoje com o ECA, se bater em criança os pais são logo intimados pelo conselho tutelar! Agora, falando sério, por que vamos censurar a sobrinha, uma criança pequena, se Eliana, a apresentadora do SBT, que neste carnaval comandou um bloco infantil no circuito Barra-Ondina, em Salvador, mandou todo mundo tomar no? Não acredita? olha ela aqui soltando a voz! Contudo quem realmente desmoralizou completamente esse sacrossanto palavrão foi Cris Nicolotti, ouça-a bem aqui, já que o "cantarolou" juntamente com Bob Dilan, em rede nacional, no programa de um dos gordos da globo, aliás, o gordo do domingo agora é magro! Para falar a verdade, essa "popularização" do palavrão trouxe algo extremamente interessante, acabou de vez com a hipocrisia que o cercava, afinal, todo mundo manda/va alguém tomar em algum lugar, só que "escondidinho", no entanto, esses "audaciosos" quebraram de vez as amarras da censura e soltaram os palavrões, que agora livres gritaram: vão tomar na pleura seus filhos da puta...