terça-feira, 30 de junho de 2015

Sádicos e Masoquistas...

"Mandei uma foto bem bacana para você, veja aí", avisa um amigo pelo celular, isso às 7:00, horário de Brasília. Fico na dúvida, vejo logo ou continuo o que estou fazendo e olho depois? O "bem bacana" me obrigava a verificar o que teria sido enviado. Para minha surpresa, o que vejo não tem nada de bacana. Presos se rebelaram no município de Feira de Santana, na Bahia, e meu "amigo" teve a "gentileza" de compartilhar comigo a imagem dos que foram decapitados! Incrédulo, não acredito no que vejo, na realidade, o que me deixou desanimado é que não era ironia, quem compartilhou acredita que também faço parte desse grupo de pessoas que se "excitam" com esse tipo de material. Pensei que fosse um acidente de percurso, que não receberia outras iguais ou piores, mas percebi que se tornaram corriqueiras, "sabe de nada, inocente", diria aquele antigo "cantor" baiano.
Não são apenas as fotos que fazem parte dessa febre mórbida, os vídeos são um veículo que extrapolam com sua profusão de imagens, e como quase todo celular hoje tem uma resolução interessante, as tragédias chegam em alta definição! Falando nisso, uma pessoa significativa, de quem eu gostava muito, sofreu um acidente abominável, o carro em que viajava teve a infelicidade de estar próximo ao caminhão que transportava combustível; alguém, cheio de "solidariedade" enviou as imagens do carro e da pessoa sendo consumidos pelas chamas e quem fez essa "bondade", não satisfeita com a sordidez das cenas, se prontificava a "narrar" o que estava acontecendo; agora eu lhes pergunto: para que eu ia querer ver uma pessoa tão querida queimando no interior do veículo, já não me bastava a dor da perda? O que me acrescentaria enquanto ser humano? Será que a pessoa pensou que sou um masoquista? Ou o miserável não passava de um sádico na sua mais completa acepção?
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Na linha do que estamos dizendo, a bola da vez é Cristiano Araújo. Desde 24/06/2015, dia em que morreu em acidente automobilístico, há sempre um pormenor a ser acrescentado à "ópera" em que transformaram sua morte, sempre há um detalhe novo que deixou de ser percebido pelos peritos! A mídia ávida pela miséria nossa de cada dia descarrega uma profusão de imagens para o deleite de todos. Uma perda, "ele era tão jovem", isso quer deixar transparecer que há uma alma bondosa na rede televisiva, mas é tudo pela audiência! Como todos querem ver as "novidades", correm sequiosos para frente da TV para saber qual é o dado mais recente sobre a morte do cantor! Não satisfeitos com toda essa morbidez cadavérica, profissionais da saúde, que deveriam evitar esse constrangimento, tiveram a "curiosidade" de filmar, expondo descaradamente o corpo aberto no Instituto Médico Legal. Pensei com os meus botões: "isso é obra de pessoas insanas, pessoas que não dignificam a profissão que exercem, por isso, precisam urgentemente de tratamento psiquiátrico; na verdade, quem em sã consciência desejaria ver seu ídolo ou cidadão comum inerte, exposto de forma tão acintosa? Quem daria audiência a um "espetáculo" tão grotesco? Será que as pessoas gostam de imagens tão torpes? Nos tornamos tão insensíveis a ponto de tornar a exposição das vísceras de um cantor espetáculo circense? Sim, infelizmente, pela profusão em que são compartilhadas, deve ser um exercício extremamente prazeroso, as pessoas se deliciam em mostrar e falar a respeito. Não, por favor, não me digam que essa crueldade é parte intrínseca do ser humano, não, não somos assim, mas estamos cotidianamente aprendendo a ser...   

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Navegar é preciso, publicar não é preciso...

Ainda que meio hesitante, concordei em transformar a tese em livro, na realidade, temia que o ato soasse meio cabotino. Deixei-me convencer por entender que através desse formato o voo poderia extrapolar os muros da minha casa, embora não tenha tanta certeza disso, mas o controle não está mais comigo, o fato já está consumado. Por outro lado, não serei leviano a ponto de negar que não fiquei lisonjeado com a "honraria"! Neste momento, não tenho nenhuma intenção de enaltecer a qualidade do trabalho, mas não posso deixar de sugerir que deem uma olhada no livro, existem algumas provocações interessantes feitas a determinadas "certezas" que vigem na área, o livro faz uma imersão nos debates sobre a formação de professores, sem apologias ou ressentimentos, desse modo, critica a forma encontrada pelo Estado para aumentar o número de professores licenciados, "tapando" o buraco da carência apontada por suas estatísticas nada encorajadoras, enfim, mostra os estragos provocados pelo aligeiramento da formação, neste caso, analisa o espaço da sala de aula que fica centrado no binômio professor versus estudante, espaço restrito à busca insana do pólo responsável pelo aprender deficitário. Essa polarização inibe um debate aprofundado sobre o modelo de formação que estamos vivenciando, a proposta do livro é não secundarizar, sob quaisquer hipóteses, questões viscerais da formação de professores, ainda que o futuro destes seja sombrio.
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Prolegômenos à parte, o que me fez escrever sobre o livro, paradoxalmente, não foi o livro. O objetivo era "corrigir" uma imensa lacuna que já ocorrera tanto na tese e agora no livro, aí muito em função do espaço destinado a tal empreendimento. Espero que o que vou dizer agora não cause melindres naqueles que porventura se predisponham a ler a obra. Infelizmente tenho observado que cada vez menos pessoas fazem da leitura um exercício de reflexão, de aprofundamento de estudos, muito pelo contrário, o que se observa são "tarefeiros", aqueles que só fazem o que lhe mandam e com certa dificuldade no cumprimento daquilo que lhes foi pedido. Na verdade, ao dizer isso, sentencio que publicar, hoje, mais do que nunca, serve, apenas e exclusivamente, para "engrandecer" o currículo "lattes de cada dia", para quantitativamente avaliar se esse ou aquele programa é produtivo, se esse ou aquele pesquisador merece fazer parte da elite científica do país com seus livros e artigos, muitas vezes lidos apenas por especialistas, aliás, nunca se produziu tanto, porém o número de analfabetos funcionais cresce em proporção infinitamente superior. Dizia eu, inicialmente, que o objetivo não era criticar o modelo equivocado de ciência que estamos ancorados, porém corrigir uma lacuna percebida tanto na tese, quanto no livro.
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De novo, espero não causar suscetibilidades. O fato é que existem dois espaços que são visitados em publicações recorrentemente, quiçá os únicos realmente lidos. Dois são os motivos, penso eu, dessa "aleivosia" dos leitores. O afeto  e o "certificado" de importância dos que aparecem nos "créditos" da publicação. Muitos daqueles que gostamos e que estão ao nosso redor, na maioria das vezes, não entendem quando estamos no canto, solitários, com nossos alfarrábios e todas aquelas ferramentas necessárias para que possamos "rascunhar' alguma coisa, por não entenderem, somos interrompidos repetidamente, sem nenhum pudor, como se aquilo em que estamos envolvidos não tivesse a menor importância, pode ser até que ao nos "atrapalhar" pensem que estão nos prestando uma ajuda inestimável, quando, na realidade, impedem que escrevamos mais algumas dolorosas linhas. Aqui no caso, a relação é meramente afetiva, é a emoção que dirige o olhar.

Pois bem, obra pronta e acessível, esses queridos, tão queridos caminham sôfregos para descobrir se foram lembrados na dedicatória e/ou nos agradecimentos, como já disse, todo o resto se torna irrelevante. Ser esquecido é uma falta difícil de ser "digerida". Lembro-me de um caso entre tia e sobrinha, esta dissera que considerava a parente como se fora sua mãe, ato contínuo, cometeu o deslize de não colocar o nome da referida senhora nem na dedicatória, tampouco nos agradecimentos. O ressentimento criou raízes tão profundas que desculpas posteriores não aplacaram a dor do esquecimento, observe o que disse a não homenageada: "você me considera como sua mãe, mas você não colocou meu nome nos agradecimentos da monografia!" De outro modo, aqueles que não são do ciclo familiar, mas acreditam que representam/representaram papel importante na trajetória do autor e/ou da obra também desejam ser lembrados, nada mais justo, por tudo o que fizeram, sem contar que esse é um "mimo tão barato"! Então, o que fazer quando pessoas que deveriam ser "citadas", foram sumariamente esquecidas? 
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Na verdade, não há nada mais que se possa fazer. De qualquer forma, pensei em "corrigir" a falha, usando esse espaço para prestar uma pequena e singela homenagem a todos que deveriam estar presentes, ou na dedicatória ou nos agradecimentos, mas que foram esquecidos, contudo, logo em seguida, declinei, por dois motivos: primeiro, estaria expondo os "esquecidos" com esse "prêmio" de consolação, tornando público que não lembrei deles, mesmo que isso não tenha ocorrido; segundo, muitos dos "esquecidos" ao serem lembrados poderiam raivosamente pedir a retirada dos seus nomes por uso indevido, ou, quiçá, por "assédio moral", reconheço que não deixa de ser constrangedor você ser lembrado quando desejaria ser esquecido. Neste caso, ainda que "a emenda possa ficar pior do que o soneto", queria agradecer a honraria de tê-los (os não-lembrados) presentes em minha vida, saibam pessoas queridas, mais que queridas, que, traído pela memória, lhes neguei aquilo que lhes é/era de direito, mas a tese e o livro só se materializaram pela(o) incomensurável/imprescindível ajuda, amizade, força, carinho, respeito, solidariedade, compreensão que recebi ao longo de todos esses anos, muitíssimo obrigado por serem uns "ausentes" tão presentes...

sábado, 6 de junho de 2015

E o futebol brasileiro?...

Uma frase é lugar comum em campeonatos brasileiros: caiu mais um técnico! Você certamente falará, em algum momento, sobre as demissões e seus equívocos; no caso de alguns, lamentará o amadorismo dos dirigentes; no de outros, dirá que era/foi a melhor solução para a equipe sair da inércia! Na verdade, maus resultados são demolidores para qualquer técnico, seja ele o do bicampeão brasileiro (que caiu na última terça-feira - 02/06) ou o do Joinville (que caiu nesta quinta-feira - 04/06), embora o contrário também seja verdadeiro, por essas plagas, que o digam Enderson Moreira e Oswaldo de Oliveira sobre suas demissões do Santos. No futebol brasileiro, o estereótipo mais repetido é aquele que diz que existe em cada um de nós um técnico, na realidade, isso nos torna utópicos quando o assunto é a supremacia nesse esporte, que, de forma arrogante, afirmamos que somos os melhores do mundo, que entendemos do riscado e que as copas que "ganhamos" nos referendam e ponto final; ao ouvir isso, um incauto germano ousa nos perguntar: "e os 7 a 1 da Alemanha em 2014, na copa jogada aí no Brasil?" -Aquilo foi um raio e raios não caem duas vezes no mesmo lugar! O que fingimos desconhecer, ou não, é que os raios costumam cair duas ou mais vezes no mesmo lugar!
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"Estranhamente", países como Ucrânia, China, Turquia e Arábia Saudita têm o poder de nos tirar jogadores extremamente talentosos, e a dura realidade é que não temos condições de deter essa "evasão", em alguns casos, precoce; nosso campeonato maior e os menores são "mantidos" por uma rede de televisão, os craques e os medíocres não querem jogar em gramados tupiniquins, sonham com Espanha, Alemanha, Inglaterra ou Itália, não necessariamente nesta ordem, mas se isso não for possível, pode ser qualquer um dos citados no início, os que ficam, ficam unicamente por não ter mercado! Continuamos vivendo um "sonho", basta olhar ao redor, observem a linha de sucessão da CBF, não é por acaso que Marin está preso na Suíça, enquanto isso, esperamos ansiosamente o início da Copa América, blindamos Dunga e seus comandados, afinal, eles nada têm a ver com isso, ainda que tenham sido contratados por dirigentes sob suspeita de corrupção, as aparências ainda devem enganar. Devemos dar apoio irrestrito às mudanças efetuadas depois do desastre da copa, o intuito é o soerguimento do futebol brasileiro." Não, não cairemos mais no mesmo erro, tenham certeza disso. O "novo" treinador (espera aí, não era Dunga o técnico na copa  de 2010?) nos conduzirá ao lugar do qual nunca deveríamos ter saído, ainda produzimos os atletas mais talentosos do planeta, diria um dirigente corrupto qualquer. Curioso é que os "melhores do mundo" não jogam mais aqui, estão na Europa, Asia, Oceania, mas, "se for para o bem de todos e felicidade geral da nação", de quando em vez, esses "desterrados" se misturam para defender a pátria! Este é um país curioso, pede-se o impeachment da presidenta da república, mas não se discute se o país deve participar da Copa América, depois dos escândalos de corrupção envolvendo os dirigentes da CBF; uma coisa não tem nada a ver com a outra, dirão os "especialistas"! 
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Voltando às demissões dos treinadores, acredito que se hipervaloriza a importância deles, não tenho dúvida que técnico não passa de coadjuvante no resultado final. Na verdade, o exemplo mais consistente dessa assertiva é/foi o time do Cruzeiro, bicampeão brasileiro. Há dois anos tinha-se o time dos sonhos e mais um de reserva e seu técnico, Marcelo Oliveira, era considerado um estrategista, um articulador, afinal, o sujeito ganhou dois campeonatos seguidos, você há de convir que não é uma proeza para qualquer um! O fato é que muito time da série A gostaria de ter alguns dos seus reservas no seu time principal! Porém como "não há mal que dure para sempre nem bem que nunca se acabe", eis que a Arábia Saudita e a China resolveram colocar água no chopp cruzeirense e levaram seus dois principais jogadores,  mas não ficou só nisso, os dirigentes, só pode ter sido eles, desmontaram o time quase todo! Alguém aí pode dizer: "e ainda assim o time chegou longe na Libertadores, o que denota certa qualidade do novo elenco e do técnico", correto, mas não percamos de vista a trajetória oscilante da equipe ao longo da competição, de um time excepcional, passou a ser comum. Se antes as estrelas eram Everton e Goulart, agora Leandro Damião e Marquinhos se tornaram os protagonistas! E, vamos combinar, essa troca não foi das melhores. Pensei cá com meus botões,  "se Marcelo Oliveira repetir o feito ou chegar perto, tenho que admitir que estava redondamente enganado sobre a questão, diria que os treinadores não são elementos secundários para seus respectivos clubes.
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O resultado entre Cruzeiro e River Plate, na Argentina, foi "surpreendente", o empate já estava de bom tamanho para o time brasileiro, quando veio o gol que, supostamente, lhe garantiria a vaga. Tudo estava a favor, mas convenhamos que Marquinhos não é Everton Ribeiro, assim como, Leandro Damião não é Ricardo Goulart, porém Marcelo Oliveira é Marcelo Oliveira! O fato é que com a derrota para o fraco Figueirense, dias depois da tragédia "argentina", selava-se o destino do "grande" estrategista cruzeirense, tudo o que fizera, até então, foi esquecido sumariamente, sem contemplação ou compaixão, e, talvez, o mais significativo em relação ao respeito que o clube tinha pelo seu então comandante, é que horas depois a direção já anunciava Vanderlei Luxemburgo como seu substituto natural. Contra maus resultados não há técnico que resista. Com o time que tinha e seus reservas de luxo tudo ficava mais fácil, difícil seria não ganhar, porém nos momentos em que teve que tirar leite de pedra, o treinador se mostrou igual à maioria! O que surpreende é sua demonstração de surpresa com a demissão. Técnico vive de resultados e não passa de coadjuvante, alguns são apenas entregadores de camisa, nada mais que isso, a propósito, Tite e Doriva já foram demitidos?...