domingo, 27 de janeiro de 2008

Tolos e Insensatos...

Os insensatos ainda acreditam que o futebol tem alguma magia e, nessa doce ilusão, torcem, vibram, gritam e choram nas derrotas e nas vitórias, afinal, tanto uma, quanto a outra pode levá-los às lágrimas! Torcedor que é torcedor vai não apenas aos jogos, mas está presente até nos treinos! Este é o aforismo máximo, estar nos treinos, ser tolo à quinta potência! Parte de suas vidas pertence ao clube do coração! Foi assim que numa conversa recente com um professor, disse-me ele, mostrando o escudo do time que torço, na minha pasta de trabalho, que ali estava a minha alienação! Tive que reconhecer que, para além da minha criticidade e percepção política, lá estava, de forma cristalina, o meu calcanhar de Aquiles! "Eu torço como o mais desvairado dos tolos, cercado por inúmeras superstições, temendo ser o 'pé-frio' daquela derrota que nos tirou o título!" O período é belo, mas a constatação é estúpida!
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Um jogador de futebol que saiu do Brasil aos 22 anos, treze anos depois retorna e é a mais nova contratação da Portuguesa de Desportos, para a disputa do campeonato paulista! Será que já não vimos esse filme em algum lugar? Depois de jogar na Europa todo esse tempo, resolveu "voltar" à pátria amada, e ainda por cima, para jogar num time de segunda categoria! Só faltava dizer que foi por amor à camisa do clube que o revelou! Esteve em um programa esportivo, neste perguntaram-lhe se não era a violência um dos fatores que tirava muitos atletas do futebol brasileiro tão cedo; respondeu que realmente o país é muito violento, coisa que não percebia na Europa. Lá, ele podia brincar em um parquinho com seus filhos, sem perigo, coisa extremamente arriscada por aqui! Fora assaltado no semáro às 19:00! Realmente, não é seguro estar no Brasil, nesta guerra civil não declarada! Só não disse que o fator principal da saída dos jovens talentos é o vil metal; todo jogador é mercenário e tem que ser mesmo, afinal, sob o jugo do capital, em que tudo é mercadoria, quem pagar mais terá o "produto"!
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Dissera que os campos são horrosos, por isso os jogadores mais habilidosos têm uma dificuldade maior para dominar a bola, enquanto os "pernas de pau" passam por um verdadeiro suplício! Levara o filho ao estádio, no último jogo da Lusa, e este ficara assustado com o que vira, não é para menos, afinal, o menino é europeu! Nada interessante para quem viveu treze anos no "primeiro mundo", não é? Onde tudo é maravilhoso! Os clubes pagam em dia! Ganha-se em euro além de outras facilidades! Diante do exposto, uma pergunta não queria calar! Se todas essas maravilhas estão do outro lado, por que então ele voltou? Os campos são ruins, os clubes atrasam! Não há segurança nos estádios! Vivemos uma "guerra civil não declarada" e o sujeito volta, abandona tudo isso para jogar na Portuguesa de Desportos? Quem é esse suicida em potencial? Seu nome é Zé Maria!
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Filme parecido foi exibido, por essa plagas, no ano passado. O palco também fora o campeonato paulista e o ator principal chamava-se Zé Roberto e, por estranha ironia, tinha a mesma idade de Zé Maria! O curioso é que os dois elogiaram a cultura européia, afirmaram que eram respeitados, enquanto atletas, não obstante isso não acontece por aqui. No discurso de Zé Roberto, a impressão que se tinha era que fora sua opção voltar a jogar no Brasil, o mesmo ocorrendo agora com Zé Maria. O que os Zés não disseram é que a volta se deu por falta de mercado, naquela oportunidade para Zé Roberto, hoje, para Zé Maria! Ele estava jogando num time da terceira divisão inglesa. No caso de Zé Roberto, bastou um leve aceno do FC Bayern München para que ele mudasse totalmente o que dizia, rejeitando até uma convocação da seleção, com a desculpa da idade! O que me surpreende é que nunca ouvi nem de Zé Maria nem de Zé Roberto nada sobre o "respeito" europeu para com eles no caso das bananas que eram atiradas no estádio quando os atletas negros, entre eles, os brasileiros, pegavam na bola. Zé Maria deve ficar na Lusa apenas se não houver nenhum time que o queira contratar lá do outro lado, mesmo que seja nos cafundós do judas. Enquanto isso, os tolos e insensatos torcedores alimentam a ilusão que esses atletas decadentes (Ronaldo vinha para o Flamengo, Adriano está no São Paulo), jogam por ter paixão pelos seus clubes ou que não é o dinheiro que regula a ação desses mercenários, mal sabem eles que é o deus mercado quem dita seus sonhos, suas vitórias, seus gols...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Cenas Cotidianas...

Cena 1 - Existem pessoas que não fazem outra coisa a não ser reforçar estereótipos. vivem em um mundo idealizado, têm o espelho como ponto de partida e também de chegada. Essas pessoas precisam, e muito, atrair a atenção, são "celebridades". Neste caso, estou me referindo àqueles sujeitos cheios de "músculos". Em frente onde moro, há uma "academia" a céu aberto, onde os "musculosos" se exercitam cotidianamente, tendo seus cachorros a tiracolo, cuja raça não é necessário dizer, não é mesmo? Anabolizantes e pitbull parecem que são irmãos siameses! Neste dia, um gato desatencioso resolveu utilizar a mesma via em que o dono e o cão se encontravam! O "grandão" não "conseguiu" segurar seu animal e este saiu em disparada no encalço do gato; este se bateu nas grades de um portão ali perto, mas por causa do desespero voltou para a rua, no que o pitbull seguiu-o. Por sorte, se é que posso dizer isso, não havia nenhuma criança por perto na hora, o que não é comum. O gato conseguiu fugir, pelo menos é o que parece; o "grandão" pegou seu animal e, como se nada tivesse acontecido, voltou para a "academia", sem pensar que por bem pouco não teria sido o causador de uma tragédia!
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Cena 2 - A condição social, numa sociedade dividida em classes, é determinante para a apropriação dos bens produzidos. Como estamos divididos em uma classe que trabalha e outra que se apropria do excedente produzido, é comum termos pobres e miseráveis, faz parte da lógica do sistema! Neste sentido, muitas pessoas utilizam o espaço em que ocupam na hierarquia social para colocar os que não fazem parte do seu círculo de poder, em seu devido lugar. Quando ainda era estudante da graduação, fazia questão de dizer onde morava, ou seja, que era oriundo da periferia de Salvador. Havia um colega que dizia que morava no Stiep, embora a sua casa estivesse na Brejal, localizada num bairro periférico da cidade! Estou dizendo tudo isso porque muitos dos que hoje têm uma condição "melhorzinha", a um certo tempo, eram pobres e que, por um "golpe do destino", foram alçados à condição de classe "média" (baixíssima, vivem presos às contas do cartão de crédito e do cheque especial), em um país onde o salário mínimo não chega a R$ 400,00, quem ganha cinco vezes isso, já começa a ficar se "sentindo". O discurso do opressor é de tal ordem que aquele "pobre miserável" de antes, não quer acabar com a pobreza, o que ele deseja é sair dela! Contudo ao sair, começa a fazer com os pobre e miseráveis o que o opressor fazia com ele! Usa os mesmos termos usado pelo opressor, do tipo: "aquele sujeito é gentinha". Utiliza o lugar que o sujeito mora para diminui-lo: "ele mora na favela, num barraco horroso". Como se morar na favela e no barraco desqualificasse a pessoa, como o "grandão" da cena -1, atira seu "pitbull" em cima dos gatos vira-latas!
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Cena 3 - Não existe sentimento mais "comovente" que o sentimento das pessoas em relação à doença e à morte! Dizia Nelson Rodrigues que só nestes momentos o brasileiro é solidário! A morte dilacera, pois o sentimento de perda é insuportável. Saber que não mais veremos aquela pessoa desequilibra. Na última quinta-feira (17/01/08), morreu um professor da UESB e a universidade decretou 3 dias de luto, com a paralisação de todas as atividades no primeiro dia. Uma justa, embora pequena, homenagem. Tudo voltaria à sua santa tranquilidade, na manhã seguinte! Um grupo de professores havia organizado uma "festinha" para comemorar a aprovação em estudos de pós-graduação. Porém o professor foi morrer logo neste dia! O que fazer? Não. Essa questão não tem nenhuma vinculação com aquela de Lênin! A questão que "incomodava" aqueles professores era: como realizar a tal festa, sem "desrespeitar" o luto? Um dos professores encontrou a solução "salomônica"! Dissera ele: "vamos manter a celebração pois o professsor era apenas colega de trabalho". Os professores, como o "grandão" da cena 1, saltaram seus "cachorros", seguindo à risca os preceitos do modo de produção capitalista que nos ensina que a festa não pode parar!
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Cena 4 - No dia seguinte à morte do professor, havia um evento organizado pelos estudantes, cuja proposta era assistir e discutir aquele documentário que mostra o golpe de Estado perpetrado pelos meios de comunicação da Venezuela em 2002 contra Hugo Chávez, com a cumplicidade da mídia global, não esqueçam que estamos vivendo em rede! Afora uma professora substituta, não havia mais nenhum professor no evento! Há professores que nunca leram uma linha sequer de "O capital" de Karl Marx, mas que se arvoram em falar sobre a perspectiva do Alemão! Afirmam cheios de razão, aquele lugar comum repetido à exaustão, por todos aqueles que nunca leram a obra: "Não seria equívoco dizer que a perspectiva econômica é a mais importante?" Obviamente são leitores do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos! Não entendem nada de economia, mas repetem, como "papagaios de pirata", o aforismo da economia que julgam que está no livro de Marx, que, ironicamente, nunca leram! O estranho nesta história é a ausência daqueles que supostamente vão formar os estudantes! Mas estes estavam lá, preocupados com a situação da América Latina e com a humanidade! Naquela sexta-feira, aqueles estudantes recitaram o verbo "solidariedade", mas não essa solidariedade burguesa que decreta dias de luto e alguns vão para a festa. Tal e qual o "grandão" da cena 1, estão mais preocupados com seus cachorros! A solidariedade que os estudantes estavam propondo, naquela noite, vai para além da festa, afinal "a gente não quer só comida"...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Corpos II

Na imensidão pós-moderna
Concreto e ferro: simulacro
Corpos, corpos, corpos que calam!
Corpo pensando, corpo falando, corpo silenciando...
Corpo que toca um instrumento...
Corpo que canta
Corpo silente.
Corpos, corpos, corpos que fumam
corpo tenso, corpo reprimido, corpo sábio,
Corpo que sabe que não sabe!
Corpos, corpos, corpos que partem, que vão!
Corpo isolado, corpo que se isola e
Corpos que isolam corpos
São corpos arrebentados!
AONDE andam nossos corpos?
Que corpo sóis vós?

sábado, 5 de janeiro de 2008

Em tempos de George Orwell...

Estava no banco, sofrendo em uma fila que durou quase três horas, quando a TV (não sei por que os diversos espaços sociais: consultórios médicos e/ou odontológicos, bancos etc., quando têm um televisor na sala de espera, está sempre ligado na emissora dos "Marinhos"), anunciou que iria começar mais um "Big Brother". Fiquei pensando, cá com os meus botões, no que o autor do livro "1984", cujo programa se apropriou da idéia, sentiria, caso fosse possível aos mortos sentir, em relação àquela "atração"! Ele um anarquista convicto, vendo sua obra servir de modelo, desprovida de qualquer percepção crítica da sociedade. Ele que fora um crítico feroz de Stálin, hoje, é uma "referência", sua criação é objeto de desejo de pessoas ensandecidas que sonham em ganhar, mais ou menos, 500 mil dólares, fazendo todas as bizarrices sugeridas e imagináveis. Verdadeiros fantoches, pessoas bestializadas, mas que esperam e sabem que um, entre todos os imbecis participantes do programa, sairá com a "bolada", o resto não importa. Enquanto Orwell queria denunciar uma sociedade opressora, que impedia toda e qualquer "voz individual", o tal programa é a quintessência do individualismo e da vaidade; não é uma grande ironia? Seus ossos, se é que ainda existem, devem pulular no seu esquife, quando a cada janeiro a emissora, que imbeciliza 10 entre 10 pessoas, anuncia, junto com aquele sorriso idiota do Bial, sua atração, seu "Big Brother"! Além de tudo isso, sabemos que as gostosas do programa estarão mostrando, muito em breve, suas partes pudendas nas revistas masculinas, provocando um onanismo desenfreado!
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Em um dos semestres letivo, não me recordo qual deles, havia uma estudante que fez a inscrição, conseguindo superar algumas das etapas que antecedem à divulgação dos nomes dos participantes. Ele era um "quase brother"! Sua empolgação era extraordinária, eu ficava impressionado com a felicidade que demonstrava quando falava na possibilidade de fazer parte do "coro" dos tolos! Era a mais perfeita materialização do que dissera Andy Warhol em relação aos minutos de fama de cada um de nós! E olhe que ele já não era mais nenhum adolescente, mas sua reação era tão juvenil que me deixava constrangido! Não satisfeito, convidou-me para ver sua fita/exibição! Como era bombeiro, a fita mostrava suas habilidades na escada magirus, correndo para prestar socorro etc. Essas habilidades seriam seu passaporte para participar do programa! Tinha certeza que estaria entre os brothers, coisa que, infelizmente para ele, não aconteceu!
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As pessoas devem ficar se preparando o ano inteiro, como fazem com o carnaval, para tentar fazer parte dos escolhidos. Acreditam que são únicas e originais, espelhadas nas edições anteriores! Há um programa no canal multishow chamado "nem big nem brother", não sei se passa no canal aberto dos Marinhos, que mostra aqueles "infelizes", que como próprio nome já diz, não são nem uma coisa nem outra, estão na linha do nada, são os objetos descartados pelos selecionadores! Os "párias" são avacalhados da forma mais degradante possível! São ridicularizados em todos os aspectos. Desde a roupa escolhida, assim como nas suas tentativas de convencimento que são os melhores e que por isso, devem compor o grupo dos que concorrerão à grana! É degradante, não sei porque essas pessoas não processam a emissora por achincalhar suas dignidades! É provável que faça parte do contrato não berrar! Quem sabe na próxima edição aquele que foi preterido não será o contemplado, então, por que reclamar? Eu pensei que o programa não passasse da sua primeira edição por sua obviedade. É mais presumível que as novelas, o enredo foi o mesmo todas as vezes que esteve no ar, sempre! Nem o movimento negro pode reclamar, em todas as edições as cotas dos pretos esteve presente! Se é tão previsível assim, por que, então, o programa já chega ao seu oitavo ano? Por conta desse nosso gosto pelo bizarro, lembro de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que nos anos de 1960 cunhou a expressão: FEBEAPÁ - Festival de Besteira Que Assola o País e me pergunto: por que transcorrido tanto tempo, são os programs estúpidos e imbecis, como o big brother, que alimentam as opções "culturais" de um veículo de comunicação que é uma concessão pública? Como não somos Édipo, se não decifrarmos esse enigma seremos devorados? Em tempos de IOF tudo é possível...