quarta-feira, 15 de novembro de 2006


No último post, que na realidade foi o primeiro, falei de uma pedra que encontrei pelo caminho, fazendo um trocadilho com o poema de Drumond!A idéia de hoje é apresentar o texto que fiz para uma turma de formandos de Educação Física, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, quando ainda convalescia daquela pedra. O interessante no texto é que ele, por si só, faz uma síntese de tudo o que passei e mostra, meio que por acaso, o meu olhar para a vida nova que estava se apresentanto para mim...ei-lo:
Carta aberta aos Formandos

Caros Formandos,

Gostaria de começar afirmando que me sinto não só honrado, mas também lisonjeado por vocês me terem escolhido para patrono da turma, tenho a clareza que essa escolha se deu pelo coração e é isso que torna esse momento tão especial e inesquecível para mim e para própria UESB, vocês não foram venais! Espero que a emoção me permita ir até o fim dessa missiva. Juro que pretendo ser o mais conciso possível, não quero correr o risco de vê-los bocejando e, por conseguinte, dormindo; sei muito bem que hoje é um dia único em suas vidas. Nesta carta, quero conversar um pouco sobre o que está acontecendo no Brasil, sobre o que aconteceu comigo e fazer um pedido a vocês, esse é, na realidade, o motivo principal dessa missiva.
Diante do descalabro político e moral que se está abatendo sobre o Brasil, neste momento, refletido no mensalão e derivados, dois questionamentos iniciais se fazem necessários: o que fazer? Que caminhos seguir já que aqueles que deveriam dar exemplo não dignificam os cargos que ocupam, muito pelo contrário, os enxovalham?
Se nos referenciarmos no salário do trabalhador, que hoje é de $300,00 reais, as cifras anunciadas pelos Dudas, Jefersons, Valérios e Delúbios nos causam perplexidade. São cifras tão astronômicas que o cidadão comum, por mais que consiga viver, jamais vai ter acesso à tamanha dinheirama. O montante, cujas origens ninguém sabe, embora, pistas já apontem para os fundos de pensão, para as estatais, para os paraísos fiscais, é assombroso: milhões e bilhões de reais. Neste sentido, podemos nos perguntar: que horizonte se projeta para uma turma de formandos em Licenciatura em Educação Física de uma Universidade do interior da Bahia? Vão aparecer os salvadores da pátria? Veremos outros Collor? Será ACM Neto o escolhido? Ainda resta alguma esperança? Será que vale à pena ser honesto neste país de Delúbios, Silvios, Dirceus, Jefersons e outros?
Permitam-me uma digressão, para falar de algo que me tocou de perto e a vocês de forma tangencial, haja vista a minha ausência hoje aqui. Fui surpreendido no dia sete de julho, do corrente ano, por algo que vocês conhecem muito bem que é o AVCH. Para encurtar a conversa, apaguei, fiquei sem ver a luz por seis dias; foi assustador acordar e nada do que aconteceu estar registrado em minha memória, nada. Aquele dia e os cinco posteriores não “existiram”. Vocês podem estar se perguntando: “o que isso tudo ter a ver com a nossa colação de grau, com a nossa formatura?”
Na realidade, muitos de vocês devem estar lembrados que vinha falando muito que estamos vivendo o tempo dos homens rápidos. Neste tempo, queremos fazer tudo o mais depressa possível, é quantidade se impondo nos tornando máquinas. Falamos muito em saúde, esse substantivo “abstrato”, nas salas de aula, nos corredores, no departamento da Universidade, contudo não sabemos muito bem o que é isso, pensem no percurso que vocês fizeram para chegar até aqui e me digam se foi saudável. Tentei fazer tudo ao mesmo tempo, que ironia, não? E o corpo exigiu que parasse, mas sabendo que não o faria espontaneamente, usou a dor como remédio, tive que parar forçosamente. Dizem as pesquisas que o AVCH, em 95% dos casos, tem suas origens no emocional...
Vocês agora estão deixando de ser estudantes, há uma mudança formal; neste momento, recebem o título e isso traz uma carga de responsabilidade que, muitos, senão todos, já têm, afinal estão na lida, já trabalham, mas esse trabalho ganha outros contornos. Enquanto estudantes podiam tudo, afinal estavam aprendendo, porém com o título de professor em mãos, outras cobranças lhes serão colocadas.
Se puder pedir algo mais a vocês, já que me deram o presente de poder falar nesta despedida, quero pedir que não permitam que tudo aquilo que citei na primeira parte dessa carta seja obstáculo para os seus projetos, que tudo aquilo que falei não impeça que sejam profissionais respeitados; que tudo aquilo que falei iniba os seus vôos; que tudo aquilo que falei mate a esperança dos seus corações; que nada do que eu tenha falado sirva como desculpa para a inércia. Vocês são o futuro, vocês são a seiva que pode e deve alterar tudo isso; vocês são o sal da terra.
O mensalão e seus derivados, a falta de decoro, o desrespeito pela coisa pública não devem ser um óbice para que vossos filhos possam sonhar, tenham suas utopias. Não é por causa de uns sujeitos sem escrúpulos que nos tornaremos desesperançados e secos, embora muito do que sonhamos não tenha acontecido. Acho que tudo continua em nossas mãos, mas também lhes peço, vão devagar, não deixem que a velocidade das coisas embote suas sensibilidades! Comam devagar, amem devagar, permitam-se ver a beleza do pôr do sol, da luz da lua, do vigor da noite iluminada pelas estrelas!!!
E por último, mas não o último, muito obrigado, mas muito obrigado mesmo, pelo privilégio de tê-los conhecido e termos sido, juntos, professores e estudantes. Tenho muito claro em mim que devo tê-los machucado, assim como também fui machucado por vocês, mas sei também que na nossa caminhada, às vezes, dizemos e ouvimos o que não queremos, porém devemos ser capazes de entender que o caminho também é feito de pedras e que elas são fundamentais em qualquer construção; espero que entendam que essa missiva não tem nenhuma conotação moral, mas apenas quer dizer uma obviedade: viver é maravilhoso, devemos aproveitar cada segundo da nossa existência para projetar um mundo em que os homens, as mulheres e as crianças usufruam daquilo que a humanidade construiu, que os bens humanos pertençam à humanidade e não a nenhuma classe... Antes que comece a chorar, um beijo, um, não, muitos beijos em seus corações que são tão belos, e estão carregados pelo fulgor da juventude, não tenho nenhuma dúvida que nos encontraremos pela vida e saibam, desde já, que estou muito orgulhoso e me sinto um privilegiado por ter sido professor de vocês e, por favor, não esqueçam, em nenhum momento das suas trajetórias, que vocês muito me ensinaram, ser-lhes-ei eternamente grato por isso, eu os amo,
Manoel dos Santos Gomes
Professor Assistente do Departamento de Saúde da UESB

domingo, 12 de novembro de 2006


Na verdade, há muito tempo pensei em criar um Blog, ou seja, ter um espaço onde pudesse estar "conversando" com muitas pessoas ao mesmo tempo, loucura? Não, talvez buscar um meio, um espaço para uma falar daquilo que gosto de fazer, para uma reflexão diária. Lembro-me que em 2005, em Belém, cidade que gosto muito, escrevi na agenda que quando retornasse a Jequié, outra cidade que gosto muito, elaboraria um!Aconteceram algumas coisas no caminho, falando como o poeta, diria que havia uma pedra no caminho, mas não vou falar dessa pedra agora, neste primeiro encontro, só quero dizer que foi muito bom ter "passado" pela pedra do caminho...