sábado, 5 de janeiro de 2008

Em tempos de George Orwell...

Estava no banco, sofrendo em uma fila que durou quase três horas, quando a TV (não sei por que os diversos espaços sociais: consultórios médicos e/ou odontológicos, bancos etc., quando têm um televisor na sala de espera, está sempre ligado na emissora dos "Marinhos"), anunciou que iria começar mais um "Big Brother". Fiquei pensando, cá com os meus botões, no que o autor do livro "1984", cujo programa se apropriou da idéia, sentiria, caso fosse possível aos mortos sentir, em relação àquela "atração"! Ele um anarquista convicto, vendo sua obra servir de modelo, desprovida de qualquer percepção crítica da sociedade. Ele que fora um crítico feroz de Stálin, hoje, é uma "referência", sua criação é objeto de desejo de pessoas ensandecidas que sonham em ganhar, mais ou menos, 500 mil dólares, fazendo todas as bizarrices sugeridas e imagináveis. Verdadeiros fantoches, pessoas bestializadas, mas que esperam e sabem que um, entre todos os imbecis participantes do programa, sairá com a "bolada", o resto não importa. Enquanto Orwell queria denunciar uma sociedade opressora, que impedia toda e qualquer "voz individual", o tal programa é a quintessência do individualismo e da vaidade; não é uma grande ironia? Seus ossos, se é que ainda existem, devem pulular no seu esquife, quando a cada janeiro a emissora, que imbeciliza 10 entre 10 pessoas, anuncia, junto com aquele sorriso idiota do Bial, sua atração, seu "Big Brother"! Além de tudo isso, sabemos que as gostosas do programa estarão mostrando, muito em breve, suas partes pudendas nas revistas masculinas, provocando um onanismo desenfreado!
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Em um dos semestres letivo, não me recordo qual deles, havia uma estudante que fez a inscrição, conseguindo superar algumas das etapas que antecedem à divulgação dos nomes dos participantes. Ele era um "quase brother"! Sua empolgação era extraordinária, eu ficava impressionado com a felicidade que demonstrava quando falava na possibilidade de fazer parte do "coro" dos tolos! Era a mais perfeita materialização do que dissera Andy Warhol em relação aos minutos de fama de cada um de nós! E olhe que ele já não era mais nenhum adolescente, mas sua reação era tão juvenil que me deixava constrangido! Não satisfeito, convidou-me para ver sua fita/exibição! Como era bombeiro, a fita mostrava suas habilidades na escada magirus, correndo para prestar socorro etc. Essas habilidades seriam seu passaporte para participar do programa! Tinha certeza que estaria entre os brothers, coisa que, infelizmente para ele, não aconteceu!
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As pessoas devem ficar se preparando o ano inteiro, como fazem com o carnaval, para tentar fazer parte dos escolhidos. Acreditam que são únicas e originais, espelhadas nas edições anteriores! Há um programa no canal multishow chamado "nem big nem brother", não sei se passa no canal aberto dos Marinhos, que mostra aqueles "infelizes", que como próprio nome já diz, não são nem uma coisa nem outra, estão na linha do nada, são os objetos descartados pelos selecionadores! Os "párias" são avacalhados da forma mais degradante possível! São ridicularizados em todos os aspectos. Desde a roupa escolhida, assim como nas suas tentativas de convencimento que são os melhores e que por isso, devem compor o grupo dos que concorrerão à grana! É degradante, não sei porque essas pessoas não processam a emissora por achincalhar suas dignidades! É provável que faça parte do contrato não berrar! Quem sabe na próxima edição aquele que foi preterido não será o contemplado, então, por que reclamar? Eu pensei que o programa não passasse da sua primeira edição por sua obviedade. É mais presumível que as novelas, o enredo foi o mesmo todas as vezes que esteve no ar, sempre! Nem o movimento negro pode reclamar, em todas as edições as cotas dos pretos esteve presente! Se é tão previsível assim, por que, então, o programa já chega ao seu oitavo ano? Por conta desse nosso gosto pelo bizarro, lembro de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que nos anos de 1960 cunhou a expressão: FEBEAPÁ - Festival de Besteira Que Assola o País e me pergunto: por que transcorrido tanto tempo, são os programs estúpidos e imbecis, como o big brother, que alimentam as opções "culturais" de um veículo de comunicação que é uma concessão pública? Como não somos Édipo, se não decifrarmos esse enigma seremos devorados? Em tempos de IOF tudo é possível...

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