segunda-feira, 30 de julho de 2007

"Solidariedade"...

Existe uma frase do Nelson Rodrigues, que não comungo, mas que em determinados momentos ela se adere à pele do brasileiro de forma precisa e linear! Disse ele que o brasileiro só é solidário na dor; isso fica patente nos momentos de grande turbulência, muitos que ao longo da vida fizeram as coisas mais atrozes, tornam-se pessoas de primeira grandeza! Exemplos temos aos montes! Nunca esqueço de uma figura brasileira que fez acordos, botou polícia para bater em trabalhador e outras ações inqualificáveis, mas quando citado, sempre o chamam de grande estadista, foi ele quem criou o salário mínimo! Lembro que na casa de meus avós paternos, tinha um retrato de Getúlio Vargas, o pai dos pobres, será que ele merece mesmo esse aposto? Sem dizer tudo o que ele fez, basta lembrar que deu um golpe de estado e ainda fez acordo com os nazistas, todavia tudo isso foi esquecido, porque sua morte, e da forma como aconteceu, o tornou um mártir, apagou tudo que tinha feito de condenável!
.
Muito recentemente, faleceu uma figura das mais truculentas que a Bahia já produziu: Antonio Carlos Magalhães, partiu dessa para outra, diria a grande sábia que foi minha avó! A esse respeito, o professor Lauro Pires Xavier Neto, http://lauroxavierneto.blogspot.com/ no seu "Já vai tarde", de forma primorosa, conta com riqueza de detalhes uma "experiência", nada lisonjeira, que teve com o decrépito, hoje morto, senador baiano. O curioso é que houve por parte de alguns uma comoção, uma tristeza de se estranhar, já que eles sabem, e muito bem, do que ACM era capaz. A ficha do senador, dentre outras coisas abomináveis, conta com apoio irrestrito ao militares no golpe de 1964, só isso já lhe daria uma "menção nada honrosa"; quem esqueceu do escândalo do Painel do Congresso que o obrigou a renunciar para não ficar inelegível? Em um país como o nosso, o que vou dizer pode soar cínico, mas não tenho a mínima intenção de sê-lo, pelo menos neste momento, contudo o mais coerente dos políticos no episódio foi nada mais, nada menos que Jáder Barbalho, outra figura execrável, mas que procurado para falar a respeito do seu "adversário", fugiu do necrológio barato afirmando: "o que tinha que dizer, já disse em vida." Triste país onde a massa de políticos corruptos chama propina de "mimo", além de sangrar os cofres públicos com suas mamatas, suas GAUTAMAS, protegem-se uns aos outros na certeza da impunidade adquirida com os seus mandatos!
.
Acontece que a morte torna as pessoas muito mais diferentes do que são! Dá-lhes uma aura que antes não possuíam! Fico imaginando o que pensaram os familiares dos inúmeros presos políticos assassinados no período da ditadura militar vendo um dos responsáveis pela sua dor, morto é verdade, mas desfilando em carro aberto pelas ruas da cidade de Salvador, tendo parte da população aclamando e chorando a perda, enquanto muitos dos que mereciam a homenagem, sequer tiveram seus corpos encontrados! Não, essa não é uma conversa de ressentido ou qualquer coisa que o valha, não entendo que devemos perdoar a quem nos tenha ofendido, muito pelo contrário, a morte do senador não retira e nem atenua as maldades perpetradas contra os seus adversários, ademais alguns que não podiam se defender, já que o poder de fogo do senador era assustador! Minha única e exclusiva tristeza com a morte de ACM é que não vai com ele tudo o que representou, ficaram, o que é uma pena, as raízes...

Um comentário:

Lauro Xavier Neto disse...

Mano, mesmo que "o tempo e a distância" sejam implacáveis, vejo que estamos perto, felizmente, graças aos atributos da informática e da internet. Fico lisonjeado pela citação no seu blog, que é uma obra-prima das resenhas nacionais!
P.S. o sem-sal do insosso é mais que uma expressão culinária, sem tempero é uma maneira de dizer sem-graça também (bem cabido ao Sílvio Santos)!