sábado, 14 de julho de 2007

Esporte: um ópio à farta...

Quando Marx, lá no século XIX, afirmou que a religião era o ópio do povo, sequer imaginava que algo muito parecido com ela, por sinal originado também naquele século, o esporte moderno, trazia no seu bojo características muito parecidas com um credo! A forma de organização e estrutura desse fenômeno hoje nos leva a pensar no que falou o grande filósofo, sem perder de vista que a analogia é paupérrima, esperamos que Marx nos "perdoe" pela blasfêmia! Pode-se dizer que o esporte é o ópio do povo, com um poder catalisador que assusta, provocando uma alienação brutal, para essa percepção, basta um simples olhar nos estádios, vilas e outros rincões e teremos uma idéia geral da sua capacidade em nos transformar em bestas humanas, como faziam os romanos! Então, oremos, irmãos!
.
Tendo essa metáfora como referência, há um fato curioso, neste julho de 2007, entre nós, estamos recebendo uma carga de espetáculos esportivos que se assemelha muito com a maneira como a notícia é transmitida, como ela é trabalhada: um volume, uma quantidade absurda, contudo sequer temos tempo de pensar a respeito; por ser um número avassalador, ficamos apenas no âmbito da informação, jamais se poderá dizer que estamos falando de conhecimento, no caso da notícia e em se tratando do esporte, é pura alienação! A título de exemplo, temos: o início dos jogos Pan-americanos, a final da Copa América, a Liga Mundial de Voleibol e, concomitante a tudo isso, o Campeonato Brasileiro de Futebol, séries A, B e C! Tanta coisa para se assistir que não sabemos ao certo qual escolher, o importante é estarmos envolvidos, assistir ao máximo possível tudo que nos é oferecido neste banquete onde corremos o risco de nos empanturrarmos com tanta fartura, afinal beatos é o que somos!
.
Há uma coisa que torna todos esses eventos semelhantes entre si, existe um fio condutor que faz com que as pessoas se "irmanem", fazendo-as acreditar neste deus! Torcer é a oração dessa religião! A torcida alimenta a ilusão do crente de que é tão vencedor quanto os atletas que disputam as mais diversas modalidades esportivas! Há uma fé inabalável no esporte, em tudo o que ele representa, neste sentido, possui a força da religião que nada mais faz que domesticar as pessoas, prometendo-lhes o metafísico; tem que acreditar, a fé remove todos os adversários! Além da fé, para alguns, o esporte se transforma em elemento de ascensão social, independentemente de qualquer formação filosófico-político-cultural, esporte é educação, mas não é preciso estudar!
.
Vimos na abertura dos Jogos Pan-americano, no Rio Janeiro, o quanto essa religião moderna é capaz! Para quem está acostumado a fazer o espetáculo do carnaval, a beleza do espetáculo não traz nada de novo, o interessante é que até nisso há uma semelhança! O desfile das escolas de samba parece surreal, temos a impressão que a riqueza desce do morro, caindo belamente no asfalto, escondendo a miséria que envolve as comunidades que trabalham o ano inteiro para que a festa aconteça! O Pan é surrealismo puro, vemos luxo e riqueza em meio a uma cidade dividida! Foi possível "abafar" a manifestação que muitos cariocas fizeram negando o espetáculo circense, pegando o símbolo do Pan, o Cauê, fazendo uma paródia mostrando o Cauhô, que na gíria carioca significa mentira, mas não foi possível evitar que, em meio a tanto brilho, um dos colaboradores financeiros, o presidente da república, fosse copiosamente vaiado todas as vezes que seu nome foi citado ou quando apareceu no telão; ironicamente, diz-se que a voz do povo é a voz de Deus! Contudo os fiéis adoradores do esporte aplaudiram Carlos Arthur Nuzman acintosamente, mostrando o quão é contraditória a relação do crente com seu objeto de adoração! Ambos, Lula e Nuzman, estão muito mais preocupados com o credo religioso da competição do que com a outra banda da cidade, envolta em sombras, miséria e violência para que o "deus" Pan possa servir como cartão de visitas para que mostremos ao mundo que somos capazes de organizar as Olímpiadas, até lá, oremos, irmãos...

Nenhum comentário: