quinta-feira, 19 de julho de 2007

Apupar ou aplaudir? Eis a questão...

Era uma assembléia de professores, mas um grupo de estudantes fora convidado a participar. A cada discurso inflamado, choviam palmas, um verdadeiro delírio para os que eram agraciados com a ovação! Alguns estavam se sentindo verdadeiras "celebridades"! Na realidade, a situação não mostrava nada de novo, não havia nenhum segredo: todas as manifestações que recebiam as salvas de palmas atendiam às expectativas da "platéia", era-lhe favorável! Tudo ia bem, até que alguém disse algo que desagradou aos estudantes presentes, era o que faltava para mudar o clima! Uma chuva de apupos se derramou pela sala, criando um grande embaraço! Houve uma mudança radical na postura dos docentes! Estes exigiram respeito e caso os estudantes continuassem com aquela postura que fossem retirados do recinto!
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Era a festa de abertura dos Jogos Pan-americanos. Uma movimentação de pessoas maravilhosa! Pura alegria, imponência e virtuosismo. Parecia que estávamos em outro mundo, em um país rico pela opulência do espetáculo! Beleza fulgurante para os olhos, sons deliciosos para os ouvidos, imagens brilhantes que jamais esqueceremos! Aplausos irrompiam a cada movimento, a cada manifestação cultural destacada! Pura beleza! Entretanto um fato curioso acontecia todas as vezes que a imagem do presidente Luís Inácio Lula da Silva aparecia no telão do Maracanã! Neste instante, explodiam apupos ensurdecedores, eram vaias de todos os lados e o nosso presidente não entendia a razão, afinal investiu muita dinheiro para que o brilhantismo da festa acontecesse! Deveria estar se perguntando: "por que essas vaias, meu Deus, fui tão pródigo com o povo da cidade do Rio de Janeiro, que ingratidão!" Quando somos convidados para um "aniversário" não há razão para uma receptividade tão ofensiva, diria o presidente mais tarde em seu programa de rádio!
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Os apupos são o fio condutor que aproxima as duas situações. Na verdade, embora tenha dito que fora convidado, o presidente foi o patrocinador, investiu muito dinheiro na festa; Lula era o "dono da festa", era o anfitrião. Neste caso, os cariocas eram os convidados em sua própria casa! Como convidados se mostraram extremamente "deselegantes" com tão ilustre figura! Na assembléia docente, também os convidados vaiaram os anfitriões, não respeitaram o espaço sacrossanto dos seus mestres! Mas estes, diferente do presidente, ameaçaram: caso as vaias continuassem os estudantes seriam retirados peremptoriamente do local! Não sei se este era o desejo de sua excelência, isto é, mandar retirar todos aqueles que o vaiavam! Os assessores ao perceberem que os "apupadores" não deixariam Lula falar, resolveram minimizar o constrangimento e o discurso oficial foi suprimido da agenda, sendo esta a primeira vez que esse fenômeno aconteceu na história dos Jogos Pan-americanos! O que até agora, nem o presidente nem os professores entenderam é que quem permite os aplausos, tem que permitir as vaias e não tem que se aborrecer com isso não, é um direito de quem está participando de um "espetáculo" demonstrar seu descontentamento! Quem não quer ser vaiado tem duas saídas: ou fala para si mesmo ou contrata uma claque. O apupo é a mais democrática das manifestações, não aceitá-lo é pensar em 100% de aprovação, é pura hipocrisia...

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