quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Esporte (não) é vida...

Fomos "surpreendidos" mais uma vez com as mortes de atletas quase "dentro" das nossas casas! O fato é que a imagem do jogador camaronês Marc Vivien Foe, revirando os olhos, visto por milhões que acompanhavam a partida pela televisão em 2003, permanece na lembrança e ainda causa um certo desconforto! Mas os casos não pararam por aí, muitos outros semelhantes se seguiram! Aqui tivemos a morte de Serginho, do São Caetano, no jogo contra o São Paulo, que quase foi uma cópia do que aconteceu com o atleta camaronês, o jogador desabou em campo e as cenas que acompanharam o episódio, foram impactantes! O caso mais recente, e já nem tão recente assim, depois dele houve mais dois, foi o do lateral Antonio Puerta de 22 anos que morreu no hospital em que foi internado, após ter sofrido parada cardíaca numa partida, pela primeira rodada do Campeonato Espanhol! O tom trágico desses acontecimentos é que quando acontecem os holofotes da mídia, não sei se de forma sádica, localiza outros tantos, confirmando o perigo que ronda os estádios mundo afora, mas ao mesmo tempo que clama por providências, percebe-se nas entrelinhas que a mensagem, nem tão subliminar, é que o espetáculo não pode parar! No cotidiano, as certezas são as armadilhas que vamos acumulando e, quase sempre, nos tornamos reféns! Quando achamos que algo é bom para a nossa saúde ou qualquer coisa que o valha, referenciados nesta certeza, recomendamos imediatamente para os outros, entendendo que não há nenhuma chance de acontecer o inverso, é neste momento que entra o tal do discurso "científico" em que todo mundo se torna igual, ora, se serviu para beltrano, por que não servirá para sicrano? O exemplo típico disso, pode ser visto na automedicação. Se um remédio fez bem para alguém que teve dor de barriga, logo deverá servir para todos os sujeitos indistintamente! A nossa velha e conhecida indução, a partir de alguns casos faz-se a generalização!
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Um autor brasileiro, Dr. José Róiz, escreveu um livro chamado Esporte mata! que deveria estar em muitas escolas de Educação Física espalhadas aqui e alhures, em última instância, até para provocar o debate em torno de assunto tão polêmico, contudo, pelo menos por essas bandas, foi muito pouco divulgado, percebemos que muitos professores desdenharam, procurando desqualificar a obra, por essa estar fazendo uma afirmação contundente, num momento em que uma grande emissora de TV queria convencer que esporte era vida! Róiz era incansável na critica a essa exaltação sem medidas ao esporte de alto rendimento. Essa preocupação também está presente em um outro livro, cujo autor é Henry A. Solomon, intitulado "o mito do exercício", que assim como o primeiro, não tem sua leitura estimulada, é claro que as razões são óbvias, já que mete o dedo na ferida de um grande negócio que é a prática dos exercícios físicos como promoção de saúde! Entre outras coisas, diz o autor: "o estímulo ao lucro, a sedução da moda e do status e a legitimidade da medicina que apóia esse estranho fenômeno dos exercícios físicos. Uma carroça tão grande, movida pelo lucro, que transporta uma população preocupada com a saúde que acredita que encontrou a resposta, recebeu um impulso enorme. A simples verdade pode não ser bastante para fazê-la parar, mas deve ser dita: você pode apreciar os exercícios. Eles podem ser úteis socialmente, talvez façam você se sentir e parecer melhor. Mas o resto é mito. Os exercícios físicos não vão torná-lo mais saudável. Não vão prolongar sua vida. Preparo físico e saúde não são a mesma coisa", quer saber qual a página? está na 17.
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Na realidade, há uma confusão generalizada referente aos dois fenômenos aqui sinalizados! Esporte e exercícios físicos têm semelhanças, mas não são a mesma coisa, embora ambos mistifiquem e confundam a população em geral e muitos dos que estão na Universidade em relação à questão da saúde. Solomon descortina de forma didática a questão quando diz que "saúde e preparo físico não são a mesma coisa", embora nas entrelinhas, o discurso subliminar afirme que sim. Quando se fala em atividade física e promoção da saúde não é isso que se está querendo afirmar?! A prática do esporte necessita que o sujeito tenha um preparo físico adequado para que possa, medianamente, suportar às pressões do jogo, mas isso tem um custo altíssimo. Há um estresse brutal cujas respostas são as "contusões" rotineiras que perseguem os atletas! Quiçá joelho e tornozelo sejam os que mais sofram com as "novas demandas" do esporte! Não conheço nenhum estudo, é possível haja, que tenha calculado quantos dias, durante o ano, os atletas profissionais conseguem estar em condições de jogo e em quantos estão tratando alguma lesão! O fato é que há neste labirinto uma apologia às práticas corporais, colocando-as como receita e remédio para tudo, basta deixar de ser sedentário para que possamos dizer que temos saúde e aqueles que não fazem nenhum tipo de exercício físico é logo visto como uma pessoa deslocada, não saudável! Esporte não é saúde, muito pelo contrário, e não dizer isso é perverso, esconder os perigos que rondam a prática do esporte é desumano. O mais estranho de tudo isso é que apesar do número de mortes que acometem àqueles que comungam com o "mexa-se", (nos tempos da ditadura militar havia o "esporte para todos", que aqui no Brasil foi denominado de MEXA-SE) os seus "apóstolos" não abrem o jogo esclarecendo que como tudo há os pós e os contras e que em muitos casos ao invés de o sujeito estar ganhando saúde fazendo os exercícios físicos, ele pode estar adoecendo, como no caso do esporte de alto rendimento, mas se isso for dito, talvez o canto das sereias desapareça estragando a garantia dos seus negócios espúrios...

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