domingo, 2 de setembro de 2007

Professores e Mercenários...

Em uma conversa informal, um estudante de forma incisiva afirmou que os professores eram mercenários, isso porque fizeram greve apenas por salários e no fundo estava "feliz" por ver que nenhuma das reivindicações foram atendidas! Em relação ao movimento docente, quando das suas "nobres" pautas, é comum colocar entre as suas reivindicações coisas que fazem parte das obrigações essenciais do empregador, sob o risco da realização do trabalho ficar comprometida caso eles não as cumpram! Exemplos? Mais salas de aula, ampliação de vagas, mais cursos, contratação de pessoal, entre outras obviedades! No modo de produção capitalista, cabe ao trabalhador lutar pela diminuição, quiçá exterminação, da exploração da sua força de trabalho, quem tem que promover condições para que ele aconteça é o patrão que cobra a produção e explora o trabalho! É isso mesmo, a condição sine qua non para que a categoria docente possa estar desenvolvendo de forma satisfatória suas funções é ter um salário digno que não paire à indecência que temos hoje, quanto às outras reivindicações é pura perfumaria!
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A greve é o instrumento de luta do trabalhador, chamá-lo de mercenário por cobrar pelo seu trabalho é de uma perversidade sem par, sem contar que o Estado termina colocando os estudantes contra os professores, alegando que o movimento paredista vai atrasar suas formaturas! Todas as vezes que os docentes entram em greve, seja quem for que esteja à frente do Estado Capitalista, o corte dos salários é a arma usada pelos governos para quebrar o movimento docente e fazê-lo retornar às salas de aula! Falando da última, estive à beira de um ataque de nervos no que se refere ao pagamento das contas, nunca vi, os credores aparecem todos no mesmo momento, por estranha ironia, a greve é ótima para os banqueiros que ganham, e muito, às custas dos docentes com seus juros escorchantes quando estes batem às suas portas! Com todo o constrangimento que tive que passar, desde a cobrança sutil de aluguel até ficar quase com zero tostão no bolso, ainda assim, se hoje houvesse uma assembléia, cujo objetivo fosse a decretação ou não da greve, saibam que votaria, sem pestanejar, a favor, porque quando eu não mais tenha direito de me indignar, não tenha mais nenhuma chance de dizer não ao não, aí sim, sei que estarei morto!
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Em relação ao sentimento de indignação, é só olhar para todos os lados e veremos que querem nos fazer crer que é melhor calar, existe uma frase que acho extremamente fascista que diz: "tanto barulho por nada", que no fundo nos impele à aceitação das maiores atrocidades com o silêncio. Estava numa clínica. Fora fazer um Hemograma. Uma mulher também queria! Não sei se o mesmo que eu! Contudo, a atendente descobrira que o documento que ela usara para ter acesso ao atendimento não lhe pertencia! Fora descoberta sua fraude e a atendente falava como se fora a proprietária do laboratório! Era "nós precisamos averiguar", "não podemos atender até que consigamos provar"! Em síntese, não foi permitido à "fraudadora" fazer os exames! Pensei cá comigo, se a saúde não fosse uma mercadoria, se a todos fosse permitido o acesso à saúde, era até possível que acreditasse nestes movimentos de solidariedade que acontecem sempre, os tais "Dê um cobertor a quem tem frio", dentre outros! Na verdade, essas ações não passam de hipocrisia! Enquanto damos cobertores a quem tem frio, quem tem frio não precisa apenas de cobertores, tem mais elementos nesta equação que, descaradamente, ficam sublimados em meio a tão belas frases de efeito! Os miseráveis em todas as estações precisam de algo para continuar vivendo sob a caridade e a benevolência das boas ações! Voltemos à questão inicial: quem é que é mercenário: o professor que entra em greve na briga por salários mais decentes ou aqueles que fazem da miséria seu negócio vendendo saúde em suas quitandas?...

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