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Na realidade, gosto de ver mulheres fazendo aquilo que geralmente está "reservado" aos homens, negando aquele negócio de que a pessoa nasce com o dom para ser isso ou aquilo! Pense bem, se a Marta, considerada a melhor jogadora de futebol do mundo, tivesse nascido em Kabul, no Afeganistão, teria condições de fazer o que ela faz? Gostava de ir aos shows da Cassia Eller para vê-la cantar e tocar, mas também ouvir a Lan, percussionista da banda, "percussionar", havia uma intensidade tribal no "som" que ela fazia! No caso da percussão, é muito comum além de ser um espaço masculino, está reservado aos pretos, são eles os chamados para manusear os tambores e afins, culturalmente, são os que ficam na "cozinha" da música!
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Outrossim, é bom de se ver mulheres dirigindo caminhões! Vê-las manipulando e com desenvoltura, às vezes, superior aos homens é bárbaro! Quebra a lógica instituída pelas hordas masculinas. Para elas fazer determinadas coisas, dirigir caminhões é um bom exemplo, é um teste diário, têm que matar um leão a cada hora! Quando no trânsito há uma "barberagem" e quem cometeu o "delito" foi uma mulher, os defensores da tese do inato, vibram, afinal, há uma confirmação daquilo que eles acreditam ser a verdade absoluta: mulher não nasceu para dirigir! Contudo as estatísticas mostram que os acidentes causados por mulheres são muito pequenos, comparados aos causados pelos marmanjos! É bem provável que se diga que o número de mulheres dirigindo é menor, por isso essa evidência! Na verdade, quem trabalha com aprendizagem e desenvolvimento numa perspectiva histórico-cultural sabe que para além da força muscular, o meio social é o elemento fundamental na apropriação do conhecimento por parte do indivíduo, seja mulher ou homem!
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E por último, mas não a última, falemos de Cecília Kerche, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em entrevista na TVE, no programa Re(corte)cultural, ela falou de seu projeto de mundo, como deve ser a iniciação para a dança, quais devem ser os objetivos. Disse, ainda, que tinha como meta chegar no lugar em que chegou aos vinte e cinco anos e conseguiu! Na conversa, é perceptível que é uma apaixonada pelo que faz, mais do que isso, é uma apologista descomensurada, diria que é quase "cega"! Afirmou que as possibilidades de emocionar, entreter, fazer chorar, tudo isso sem enunciar uma palavra sequer, faz da dança a arte mais completa que existe! Em tom professoral disse uma coisa que venho tentando negar, incisivamente, nesta peroração: "Não é você quem escolhe o ballet, é o ballet quem te escolhe"! Será? Isso não parece uma certeza absoluta? Então, responda sem pestanejar: alguém escolhe ser gari ou é o lixo quem escolhe o sujeito? Geralmente os que têm "talento", dificilmente conseguem escapar desta percepção metafísica, são os "escolhidos", jamais, em tempo algum, percebem que as condições econômico-sociais são determinantes nas nossas escolhas, terminam na sua "santa ingenuidade", referendando o discurso perverso do preconceito: do mais ágil, mais forte, mais veloz, mal sabem eles que é por isso que filho de médico é "doutor"...
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