sexta-feira, 16 de maio de 2008

Eu e Pierre Weil...

Esta não é, como pode parecer à primeira vista, uma proposição de diálogo com Pierre Weil. Muito pelo contrário! Trata-se de uma tentativa de desmistificação de coisas ditas por esse autor que se tornaram dogmas! Na realidade, ao vê-lo falando na TV ao tempo em que fazia as suas prescrições, muitas recordações me tomavam! Lembrava-me do tempo em que entrei na Universidade, na Faculdade de Educação da UFBA. Naquele tempo, não ter lido seu livro era sinônimo de está fora do tempo. "O corpo fala" era a referência, quem não lera tinha vergonha de dizer! Ademais tinha um outro ingrediente. Havia um colega, muito chato, embora eu gostasse dele, que lera tudo de Piaget, o que o aproximava de Weil, o indivíduo a cada cinco palavras ditas, cinco se referiam a dupla Weil/Piaget! Claro que estou sendo sarcástico, mas era uma verdadeira tortura conversar com algumas pessoas que se diziam críticas, mas que no fundo não passavam de papagaios de pirata!
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No momento atual da minha vida, sexta-feira é sinônimo de reunião, grupo de estudos etc. Na última, estava participando de um evento onde a maioria era da pedagogia e, para minha falta de sorte, tinha assistido, no dia anterior, Weil fazendo ilações na TV sobre o movimento corpóreo e o que esse movimento significava! As pessoas que me conhecem sabem o quanto sou friorento! Estou vivendo numa cidade que o termômetro teima em não sair da casa dos 12 graus na média! É frio demais para um baiano que morava na Cidade Sol, Jequié, cuja temperatura beirava a três vezes a que tenho vivido! Estou dizendo tudo isso, porque nunca "odiei" tanto o Pierre Weil como neste dia! Imagina aí, você com as imagens dele explicando o que cada movimento representa e por outro lado, seu corpo "falando": "me aqueça, estou com frio!" O movimento de cruzar os braços significa que você não está gostando do que está vendo, mas eu estava, só que estava com um frio danado! A todo momento eu me via tentado a cruzar os braços, mas dizia a mim mesmo: "todo mundo aqui leu o Weil e vai achar que você não está gostando". Para variar, a pessoa que falava eu gosto muito! Será que ela entenderia que os gestos do meu corpo, naquele instante, nada tinham a ver com as baboseiras anunciadas em "'O corpo fala"?
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Trabalhar na formação de professores significa provocar a apropriação da teoria, mas não se tornar escravo dela, é ter instrumentos para fazer a leitura crítica da realidade, o professor que não ler não tem muito a dizer! Essa arma é necessária para não se tornar submisso e ficar entregue! Será que tudo o que Pierre Weil anuncia em seu livro é a verdade? Todo movimento do meu corpo está codificado de forma tal que me proíbe de sentir frio já que a tradução do meu frio será algo que meu corpo não falou? Dizem que a nossa grande vantagem é que nossos pensamentos nos pertencem e isso nos tornam invisíveis, impenetráveis, todavia, com a perspectiva de Weil, cada movimento do meu corpo me desvela e me revela, ora! Será que em algum momento ele se deu conta que pode existir corpos "mudos"? Corpos que não queiram falar e que podem muito bem usar o movimento apenas para a dissimulação! E o que fazer no meu caso, que queria a todo momento cruzar os braços, mas me sentia tolhido pela presença, na minha cabeça, das suas elucubrações? A psicologização das nossas vidas nos tornam prisioneiros de mitos e dogmas! Quem disse que Weil não pode estar errado na interpretação dos movimentos dos corpos? Quem disse que cruzar os braços não pode ser outra coisa que aquela dita pelo estudioso francês? Para aqueles que são professores como eu, um pedido: redobrem os cuidados e não marquem, como fazemos com gado, os corpos das crianças, traduzindo seus movimentos a partir de Pierre Weil, porque ele pode estar falando uma coisa, mas os corpos delas estarem dizendo outra bem diferente...

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