Quando meus olhos te fitaram já não me pertenciam, eu perdera tudo aquilo que me era mais caro, naquele momento, entrei no mundo da tirânica heteronomia;
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Você se apossou do meu corpo tão voluptuosamente que o gozo me escorreu por entre os dedos, nem saberia dizer se era paixão ou um simples flerte, não obstante senti uma dor lancinante e tão pavorosa que perdi o domínio de sentir a mim mesmo;
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Não encontrei lugar onde pudesse me esconder de sua sanha desmedida, do seu desejo despudorado; da sua vontade de me assassinar;
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Fui envolvido em silêncio profundo, em sono desprovido de sonhos e imagens, um vazio absoluto se estabeleceu ao meu redor;
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O medo já não fazia parte do meu universo, entrei sem perceber no nada, e o nada passou a ser o meu tudo;
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Dor não era um substantivo abstrato, mas, ainda que todo o meu corpo a reverberasse, eu nada sentia, eu já era insensível a tudo;
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Quando me tornei um zumbi ao penetrar no seu mundo, minha consciência escorrera pelo ralo, perdi a possibilidade de ver a luz com meus próprios olhos;
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Deixei de lado tudo o que era meu, penetrei num vazio profundo e avassalador, onde não havia nem sombras, nem nada, só meu corpo e o seu;
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Estaria morto ou vivo por permitir seu mais completo domínio sobre mim? Sei que estar contigo não significava estar no paraíso;
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Entretanto, seu abandono por não mais me desejar em seus braços, em suas entranhas, por mais contraditório que possa parecer, iluminou os meus olhos;
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Saiba, porém, que deixar de me querer, não me fez te odiar ou desejar sua destruição, nunca te amei, mas também é provável que você nunca me amou;
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Mas saiba que ser abandonado por você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida, dizem que homem não chora, mas naquele dia chorei...
3 comentários:
Gente, que bárbaro. “Você se apossou do meu corpo tão voluptuosamente que o gozo me escorreu por entre os dedos”... queria saber escrever, descrever assim. Adorei!!
Obrigado, parente querida!
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