sábado, 8 de agosto de 2015

Pai...

Não sei se a razão de falar de pai tem alguma relação com a proximidade do dia que nos disseram que era o dia dele, mas com certeza a lembrança da música homônima de Fábio Jr terminou me induzindo a pensar a respeito. Penso que muito do que ele diz, e é muito provável que isso já tenha se tornado lugar comum, se reflete demasiadamente nas relações entre pai e filho(s). Neste momento, várias imagens da convivência meio turbulenta que tive com o meu tomam conta da minha memória, porém tem uma que quero compartilhar justamente porque se fora hoje, não seria considerada como algo a ser dito ou exemplificado por não ser tão politicamente correta assim! Hoje talvez meu pai fosse preso.
.
A idade vou omitir em razão de uma pessoa muito querida, que com certeza lerá esses caracteres mal traçados, por não acreditar que minha memória é capaz de voltar tão longe assim no tempo e com muitos detalhes, achar que é mentira! Estava eu na porta da minha casa a empinar periquito (para quem não sabe, a imagem à direita, lá em cima), ele, meu pai, ao sair de casa logo me avistou, era o fim de uma tarde de domingo, falou, tudo bem, mas já é hora de entrar, repliquei, depois eu vou, daqui a pouco. Ele sem alterar a fisionomia (engraçado como vejo tudo com tanta clareza), certo, mas amanhã vou lhe dar doze bolos por isso; bolo, para quem não sabe, não era nenhuma guloseima, e sim pancadas aplicadas na palma da mão ou com palmatória ou escova de lustrar sapatos; ah, como doíam!)
.
No dia seguinte, como ele saía cedo, retardei ao máximo levantar da cama, contudo ele não arredou o pé enquanto não apareci na sala, quando isso aconteceu, os doze bolos me foram "ofertados"! Sei que poderia apresentar algo mais alegre, mais exemplar para lembrar da figura do meu pai, mas resolvi trazer essa para mostrar que ainda que a experiência tenha sido muito dolorosa, fui entender bem mais tarde qual era a lição, não houve "perversidade" no ato, mas um "exemplo", não, não fiquei feliz, naquele momento, devo tê-lo odiado pelo castigo impingido, embora o "velho" quisesse me ensinar, e o mais interessante é que nunca mais uma ação como essa se repetiu, mas aprendi a lição, embora, é preciso deixar claro, que não estou fazendo apologia e nem dizendo que a violência educa.
.
Na música que serve de referência para essa conversa, há uma espécie de acerto de contas, o filho tentando dizer ao pai sua importância e que entendera a mensagem. No fundo, no fundo, filhos demoram a entender que os pais, mesmo que as vezes de forma tão cruel, só querem que eles vivam não os sofrimentos vividos por eles, mas as alegrias experimentadas, por que inventar de novo a roda? O chato é que quando conseguimos entender o que eles, os pais, querem nos dizer, eles já não estão mais aqui para ouvir nossas mais sinceras desculpas: "me perdoa essa insegurança é que não sou mais aquela criança", para conversar sobre nosso medos e angústias, porque eles sempre foram muito mais nós que eles mesmos, que seus passos nunca foram para suprimir as alegrias, mas os sofrimentos. Pensando nisso, ontem tinha uma filha, hoje tenho três filhos, e não sei se estou conseguindo dizer a eles sem magoá-los o que merecem ouvir, porém o meu desejo é que não precisemos de dia dos pais para expressarmos amor e carinho ou trocarmos presentes e que a lição eu aprendi, pois é, filhos, não, não quero ser herói, nem bandido, quero apenas ser o pai de vocês...  

Nenhum comentário: