sábado, 24 de março de 2007

Por que "House" me incomoda?


Tenho estado meio que inquieto porque, em determinada hora do dia, eu, que critico tanto a forma como as pessoas se relacionam com os meios de comunicação, com a programação televisiva, que sinalizo como estupifidicante, fico colado no aparelho acompanhando o desenrolar das ações realizadas pelo Dr. Gregory House e sua equipe, logo eu que "detesto" este formato! Na verdade, a descoberta da série foi acidental. Resolvi assistir à entrega do Globo de Ouro, já que gosto muito de cinema, e vi que entre as séries concorrentes, além do House, entre outras, havia aquela indefectível chamada 24 horas; pensei, dificilmente ela perde, já que é assumidamente americana, ou seja, mostra como o americano comum se vê, mas, para minha surpresa, quem ganhou foi justamente a que, isso descobri depois, não segue o padrão! Entretanto o que mais me chamou a atenção foi justamente o que o ganhador, Hugh Laurie, falou, sem afetação ou tentando a já famosa falsa modéstia, disse ele, mais ou menos isso: "eu não esperava!" Fiquei curioso e resolvi que assistiria para saber por que a série fora novamente a vencedora, óbvio que levando em consideração tudo o que rodeia esse tipo de premiação! Na realidade, o que temos na série, em linhas gerais, é o cotidiano de um grande hospital, médicos apresentados como pessoas comuns, com suas carências, defeitos e vícios, a medicina, na ótica de House, sendo apresentada sem a apologia que toma conta dos pais que desejam que seus filhos sejam médicos logo que eles nascem! O que vemos é um médico que, a princípio, não se preocupa com as comichões que assola a tal da ética médica, em alguns momentos chega a ser cruel nos seus diagnósticos, sendo um verdadeiro tirano com sua equipe, trata-a, às vezes, de forma "desrespeitosa", Contudo é uma verdadeira aula o processo de descoberta da doença, quando isso acontece, a prescrição dos medicamentos etc. Tem uma "ferramenta" que chamo de infográfico que mostra por dentro o quadro da anomalia que está acometendo o sujeito. Se eu fosse médico, seria parecido com ele! Por que, então, a série me incomoda tanto se me faz pensar e põe meus neurônios em ação? Na verdade, a razão deve estar situada no meu pré-conceito em relação ao "produto" enlatado americano. Veja bem, não temos nenhuma possibilidade de ver outros formatos feitos em outros lugares, haja vista o monopólio do audiovisual no mundo. Será que não tem algo tão interessante no Irã? Quem viu a Cor do Paraíso deve saber que estou dizendo, ou seja, se o cinema iraniano é capaz, perdoem-me a aleivosia, de fazer algo tão belo, sensível e inteligente, não teríamos um "médico" iraniano na tv? Poderia estar falando de outros lugares também. Todo "mundo" sabe que o melhor filme do ano, os infiltrados, foi "copiado" de um filme (Conflitos Internos) asiático! Então, o meu pré-conceito vai nessa linha, fico incomodado de admitir que eles são capazes de fazer algo interessante na televisão, que intencionalmente ou não, impõe modelos, atitudes, desejos, sem contar que me obriga a rever algumas coisas que tinha como certas, por exemplo, todas as séries americanas são uma porcaria, assim como todas as novelas da globo não devem ser vistas, embora não esteja dizendo que devam! Será que quando me sento às 19:00, impreterivelmente, frente à tv para assistir House, posso dizer que, por ser professor universitário, estou fazendo diferente do que dona Nena, dona de casa, lá no Paraná, faz ao sentar-se para ver sua novela preferida? Estou tentando dizer o quão sou pretensioso ao qualificar de excelente sob a minha ótica, esquecendo-me que ela está eivada de preconceito. Entretanto, uma dúvida atroz me azucrina, estou afirmando tudo isso, uma espécie de "mea culpa", só porque gosto desse "enlatado" americano? Estou refém por causa dessa atitude televisiva atual? Sei que existe muita coisa ruim na televisão e acho que, enquanto uma concessão, um bem público, ela tem por obrigação ir para além do mero entretenimento, da "imbecilização" das pessoas, mas, questiono-me, será isso possível num país de "diversos" idiomas", tão multifacetado como o Brasil?

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