segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Viagens, percentuais e livros...

Não é novidade para ninguém que só de pensar em viajar de avião, eu me pelo todo! Não vou mentir: a sensação de desconforto me incomoda sobremaneira! Tento fingir que está tudo bem, apresentando uma tranquilidade totalmente mentirosa! Mãos geladas fazem parte desse cenário, são uma marca registrada do meu medo! A tensão só acaba quando estou em terra firme, ufa, que alivio! Já mencionei, por aqui, a história de uma professora, colega de trabalho, que ao tomar conhecimento da minha primeira experiência aérea, sem nenhum pudor, fez uma afirmação nada lisonjeira, que, por constrangimento, não vou repetir! Contudo logo descobri que não era tão corajosa quanto dizia ou pensava! Vê-la assustada, no assento ao lado do meu, não nego que me trouxe uma sensação de grande contentamento, ouso dizer que dei uma olhada sutil para ver se não havia nenhuma mancha na sua poltrona! Na verdade, as viagens têm se tornado mais constantes ultimamente, mas isso não quer dizer que transito de forma mais tranquila do que antes por esses espaços. Fico torcendo desesperadamente para que a aeronave faça sua aterrissagem sem maiores complicações! Neste momento, estou escrevendo em meio a uma viagem entre Salvador e Florianópolis, tendo as turbulências como companheiras de viagem!
.
Neste ínterim, caiu em meu colo um exemplar da revista da companhia aérea. Nesta há uma pesquisa, realizada pelo Ibope e pelo Instituto Paulo Montenegro, sobre o hábito de leitura dos brasileiros. Não são nada animadores os percentuais apresentados! Apenas 55% de nós são leitores constantes, mas que apesar disso o número de livros lidos por habitante é de 4,7! Outro, dos números citados, sinaliza que pessoas que deixaram o banco das escolas lêem apenas 1,3 exemplar por ano! Entre os entrevistados, somente 21% costumam comprar livros e que esses indivíduos, os 21%, tendem a comprar 6 livros por ano! O argumento para essa quantidade tão pequena está relacionado com o valor dos livros! A média dos brasileiros é comprar, apenas, um livro por ano. Saber que 45% dos brasileiros não se mostram interessados em leitura deveria causar desconforto aos responsáveis pela implementação das políticas educionais! A pesquisa, no que se refere à questão do entendimento das idéias que compõem um texto longo, afirma que apenas 26%, com idade entre 15 e 64 anos, encontram-se em nível pleno de alfabetização! Mas os 38% que lêem, têm sua leitura focada em textos curtos e simples.
.
Não sei até que ponto esses dados podem ser traduzidos sem problemas, ou se são compreensíveis à primeira vista! Temos aí a questão das fontes, sabemos que as formas como esses dados foram coletados não estão isentas de erros, não obstante é possível que haja também muitos acertos. Percentuais se não forem decodificados de forma cuidadosa podem gerar todo tipo de preconceito. Números são sempre muito frios! Todavia não resta dúvida que são percentuais que desestabilizam. Se 45% de brasileiros não se mostram interessados pela leitura, se os livros não fazem parte do cotidiano de um número significativo de brasileiros, é preciso repensar os cursos de formação de professores espalhados pelo país, por conseguinte, criticar as universidades que continuam despejando, a cada ano, um número imenso de educadores no mercado de trabalho, mas que não têm avaliado a qualidade dessa formação. Há que se pensar em alternativas que estimulem as pessoas a cultivar o prazer de ler! Se elas não conseguem entender o que está escrito como podem adquirir uma cultura rica e diversificada? Basta um rápido passar de olhos nestes dados, para se perceber que a política de formação de professores no Brasil desabou, é preciso que se construam outras possibilidades, para não sucumbirmos aos seus escombros...

3 comentários:

Manuela Cassia disse...

Acredito que a leitura hoje tem diversos concorrentes. Talvez um dos maiores seja a tecnologia. Os livros precisam competir com msn, orkut entre outras novidades. Um dia desses eu conversava com uma senhora numa livraria sobre o valor dos livros. Ela me disse que eles não são caros, as pessoas é que não percebem seu valor. Preferem gastar 50,00 reais em roupas e não em livros.
Isso é relativo, eu acho que num país de poucos leitores como o nosso, o valor do livro acaba por não estimular a sua compra e nem. sua leitura. De fato, não somos estimulados. Concordo quando você diz que é preciso repensar os cursos de formação de professores. Analisando os frios números, podemos ter uma breve noção da multidão de educadores que continuam sendo jogados no mercado de trabalho sem um mínimo de qualidade em sua formação. Multidões de não leitores! Já que sabemos disso, o que vamos fazer?
Eis a grande questão...

Lauro Xavier Neto disse...

OI Mano e Manuela, tudo bom? Estou esperando vocês em Jampa. Pensei que o artigo iria apontar algumas possibilidade de superar o trauma do vôo. O último que fiz, deixei a viagem pela metade. Era Brasília, Salvador, Recife, Natal e finalmente João Pessoa. Depois de muitas turbulências e de um assento molhado resolvi descer em Salvador e continuar a viagem por terra!!!!
Tenho me dedicado à educação do campo nesses últimos anos. Como pode um ser humano gostar de ler, se seus pais camponeses, excluídos do processo não sabem ler? Como é possível gostar dos livros se é preciso "gastar" o mísero dinheirinho com comida e carro-pipa? "Não existe beleza na miséria". Enquanto este sistema econômico perdurar seremos um país de miseráveis em todos os termos da palavra. Saudações,
Lauro

Manoel Gomes disse...

Camarada Lauro,
saiba que sempre que "conversamos", fico menos infeliz! Tens toda razão, existem as necessidades essenciais, aquelas que se não realizadas, impedem a própria sobrevivência e tudo isso está em suas palavras!Falei na resposta a Manuela, de forma metafórica, que serão os miseráveis do mundo que arrebentarão os grilhões que nos aprisionam, eles não têm nada a perder...Quanto à saída para o medo de voar, sabes tanto quanto eu que a sensação é tão devastadora que o mais alentador é vermos que o avião já pousou e já podemos sair e respirar! Ah, estaremos em Jampa sim, nos aguarde!!!