segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Cenas Cotidianas...

Cena 1 - Existem pessoas que não fazem outra coisa a não ser reforçar estereótipos. vivem em um mundo idealizado, têm o espelho como ponto de partida e também de chegada. Essas pessoas precisam, e muito, atrair a atenção, são "celebridades". Neste caso, estou me referindo àqueles sujeitos cheios de "músculos". Em frente onde moro, há uma "academia" a céu aberto, onde os "musculosos" se exercitam cotidianamente, tendo seus cachorros a tiracolo, cuja raça não é necessário dizer, não é mesmo? Anabolizantes e pitbull parecem que são irmãos siameses! Neste dia, um gato desatencioso resolveu utilizar a mesma via em que o dono e o cão se encontravam! O "grandão" não "conseguiu" segurar seu animal e este saiu em disparada no encalço do gato; este se bateu nas grades de um portão ali perto, mas por causa do desespero voltou para a rua, no que o pitbull seguiu-o. Por sorte, se é que posso dizer isso, não havia nenhuma criança por perto na hora, o que não é comum. O gato conseguiu fugir, pelo menos é o que parece; o "grandão" pegou seu animal e, como se nada tivesse acontecido, voltou para a "academia", sem pensar que por bem pouco não teria sido o causador de uma tragédia!
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Cena 2 - A condição social, numa sociedade dividida em classes, é determinante para a apropriação dos bens produzidos. Como estamos divididos em uma classe que trabalha e outra que se apropria do excedente produzido, é comum termos pobres e miseráveis, faz parte da lógica do sistema! Neste sentido, muitas pessoas utilizam o espaço em que ocupam na hierarquia social para colocar os que não fazem parte do seu círculo de poder, em seu devido lugar. Quando ainda era estudante da graduação, fazia questão de dizer onde morava, ou seja, que era oriundo da periferia de Salvador. Havia um colega que dizia que morava no Stiep, embora a sua casa estivesse na Brejal, localizada num bairro periférico da cidade! Estou dizendo tudo isso porque muitos dos que hoje têm uma condição "melhorzinha", a um certo tempo, eram pobres e que, por um "golpe do destino", foram alçados à condição de classe "média" (baixíssima, vivem presos às contas do cartão de crédito e do cheque especial), em um país onde o salário mínimo não chega a R$ 400,00, quem ganha cinco vezes isso, já começa a ficar se "sentindo". O discurso do opressor é de tal ordem que aquele "pobre miserável" de antes, não quer acabar com a pobreza, o que ele deseja é sair dela! Contudo ao sair, começa a fazer com os pobre e miseráveis o que o opressor fazia com ele! Usa os mesmos termos usado pelo opressor, do tipo: "aquele sujeito é gentinha". Utiliza o lugar que o sujeito mora para diminui-lo: "ele mora na favela, num barraco horroso". Como se morar na favela e no barraco desqualificasse a pessoa, como o "grandão" da cena -1, atira seu "pitbull" em cima dos gatos vira-latas!
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Cena 3 - Não existe sentimento mais "comovente" que o sentimento das pessoas em relação à doença e à morte! Dizia Nelson Rodrigues que só nestes momentos o brasileiro é solidário! A morte dilacera, pois o sentimento de perda é insuportável. Saber que não mais veremos aquela pessoa desequilibra. Na última quinta-feira (17/01/08), morreu um professor da UESB e a universidade decretou 3 dias de luto, com a paralisação de todas as atividades no primeiro dia. Uma justa, embora pequena, homenagem. Tudo voltaria à sua santa tranquilidade, na manhã seguinte! Um grupo de professores havia organizado uma "festinha" para comemorar a aprovação em estudos de pós-graduação. Porém o professor foi morrer logo neste dia! O que fazer? Não. Essa questão não tem nenhuma vinculação com aquela de Lênin! A questão que "incomodava" aqueles professores era: como realizar a tal festa, sem "desrespeitar" o luto? Um dos professores encontrou a solução "salomônica"! Dissera ele: "vamos manter a celebração pois o professsor era apenas colega de trabalho". Os professores, como o "grandão" da cena 1, saltaram seus "cachorros", seguindo à risca os preceitos do modo de produção capitalista que nos ensina que a festa não pode parar!
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Cena 4 - No dia seguinte à morte do professor, havia um evento organizado pelos estudantes, cuja proposta era assistir e discutir aquele documentário que mostra o golpe de Estado perpetrado pelos meios de comunicação da Venezuela em 2002 contra Hugo Chávez, com a cumplicidade da mídia global, não esqueçam que estamos vivendo em rede! Afora uma professora substituta, não havia mais nenhum professor no evento! Há professores que nunca leram uma linha sequer de "O capital" de Karl Marx, mas que se arvoram em falar sobre a perspectiva do Alemão! Afirmam cheios de razão, aquele lugar comum repetido à exaustão, por todos aqueles que nunca leram a obra: "Não seria equívoco dizer que a perspectiva econômica é a mais importante?" Obviamente são leitores do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos! Não entendem nada de economia, mas repetem, como "papagaios de pirata", o aforismo da economia que julgam que está no livro de Marx, que, ironicamente, nunca leram! O estranho nesta história é a ausência daqueles que supostamente vão formar os estudantes! Mas estes estavam lá, preocupados com a situação da América Latina e com a humanidade! Naquela sexta-feira, aqueles estudantes recitaram o verbo "solidariedade", mas não essa solidariedade burguesa que decreta dias de luto e alguns vão para a festa. Tal e qual o "grandão" da cena 1, estão mais preocupados com seus cachorros! A solidariedade que os estudantes estavam propondo, naquela noite, vai para além da festa, afinal "a gente não quer só comida"...

4 comentários:

Anônimo disse...

oi prof, nunca tinha passado aqui, mais hoje resolvi passar e adorei..bjus fique com deus..
ah ..boa viagem que Deus te abençoe e te proteja nessa nova etapa!parabens!

Anônimo disse...

oi prof, nunca tinha passado aqui, mais hoje resolvi passar e adorei..bjus fique com deus..
ah ..boa viagem que Deus te abençoe e te proteja nessa nova etapa!parabens!

Anônimo disse...

meu pai eterno, eterno pai, se vc demorar pra ir lá deixar um recadinho vou fazer igual o "grandão" da cena 1...
saltar o cachorro.
Beijos meu camarada te amo
cenas cotidiana é a cara do Brasil

Manoel Gomes disse...

Está certo, anônimo! Mas dê uma olhada lá no orkut,rs,rs,viu?