quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Prefácio...

Emprestaram-me um livro, esses dias, que bem que gostaria que me fosse presenteado, calma! Não estou querendo com isso forçar um "presente", não, não é isso que quero, mesmo porque o exemplar está com uma dedicatória muito carinhosa, ou seja, o livro está "assinado"! Na verdade, é a provocação que o livro traz que me faz escrever no intuito de estimular sua leitura. A obra é resultado de tese de doutorado, de Maria Cristina Soares Paniago, publicada pela Editora da Universidade Federal de Alagoas, (EDUFAL) que vale à pena ser lida. A linguagem é saborosa e o conteúdo denso, mas a escrita da autora facilita a caminhada, digo denso porque a tese se estrutura a partir da obra referência do István Mészáros, "Para Além do Capital", um calhamaço de mais de mil páginas! Trata-se do livro "Mészáros e a Incontrolabilidade do Capital", como não posso colocar o livro inteiro aqui, seria uma tarefa hercúlea e impossível, trago partes do seu prefácio, elaborado pelo Ivo Tonet, que é fascinante, posto que além de desvelar a organicidade da obra, estimula, sobremaneira, a sua leitura, passemos, então, a palavra a Ivo Tonet...
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"Vivemos, hoje, um tempo que eu chamo de 'tempo de covardia'. Covardia por parte da maioria dos intelectuais. Não uma covardia subjetiva, ainda que esse aspecto também possa estar presente. Mas, uma covardia objetiva, isto é, a admissão da derrota da proposta de transformação radical do mundo e, mais ainda, a defesa de que, na verdade, não foi uma derrota de uma causa real, mas simplesmente o reconhecimento de que se tratava de uma aspiração completamente descabida. Segundo esses intelectuais, a pretensão, surgida a partir do século XIX, de que a razão humana seria capaz de compreender o mundo na sua integralidade e de que a ação humana poderia transformá-lo radicalmente não passou de uma utopia sem fundamento real. Desse modo, a verdadeira e única alternativa seria o aperfeiçoamento, a humanização da ordem social capitalista.
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Trata-se de uma covardia porque significa abandonar causa - possível - da construção de um mundo efetivamente igualitário e livre e abraçar a causa - impossível - da construção desse mundo sob a lógica do capital ou mesmo admitir, simplesmente, que a desigualdade social é insuperável. Esta covardia se manifesta tanto entre os conservadores como entre os chamados progressistas. Entre os primeiros, porque, uns mais outro menos, assumiram, conscientemente, a defesa do caminho neoliberal, sabidamente produtor de imensas desigualdades sociais, como a única alternativa para a humanidade. Entre os segundos, de maneira ainda mais expressiva, porque advogavam, embora também com variantes, o socialismo como alternativa possível e superior para a humanidade. E, agora, diante dos monumentais problemas que a humanidade enfrenta, apequenaram-se e, para serem aceitos pelo establishment, isto é, para não serem chamados de 'jurássicos', de ultrapassados, de utópicos; para não estarem sempre do lado dos 'perdedores', passaram a defender o aperfeiçoamento dessa ordem social como a única e melhor alternativa.
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Defender, nesse momento de 'pensamento único' avassalador, a tese de que é impossível controlar o capital, de que não há força nenhuma no mundo capaz de impedi-lo de produzir cada vez mais desigualdades sociais, de que não é possível construir uma comunidade autenticamente humana sob a lógica do capital, exige uma grande dose de coragem intelectual e moral. maior ainda se considerarmos que as profundas e devastadoras derrotas sofridas por aqueles que assumiram a luta pela transformação radical do mundo e pela construção de uma sociedade comunista pareceram comprovar empiricamente a inviabilidade desse projeto. O preço pago por isso é alto, especialmente dentro da academia, mas também fora dela.
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Mas, felizmente, ainda há intelectuais que não se acovardaram nem diante das derrotas, nem diante da imensidade das tarefas. Intelectuais que não proclamam, mas buscam fundamentar, com profundidade e rigor, a possibilidade e a necessidade de superação radical do capital e de toda a sociabilidade que se ergue a partir dele. Entre esses encontra-se um, de enorme estatura intelectual, que teve a coragem de situar-se na linha de frente da luta pelo resgate do instrumental metodológico de caráter radicalmente crítico e revolucionário e pela defesa, racional e rigorosa, do socialismo como forma superior de sociabilidade. Este autor se chama István Mészáros.
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Do mesmo modo, e desde o pleno amadurecimento do capitalismo, no século XIX, inumeráveis tentativas têm sido feitas, por órgãos internacionais e governos de todos os países, no sentido de erradicar a fome, a pobreza, a miséria e as desigualdades sociais de toda ordem. Qualquer pessoa, que percorra, com olhos não preconceituosos, a história, do século XIX até os dias de hoje, perceberá a falência de todas essas tentativas e de como as desigualdades sociais não só não diminuíram, mas, ao contrário, tornaram-se cada dia mais amplas e profundas.
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Ao mostrar como capital, trabalho e Estado constituem uma unidade indissolúvel, comandada pelo primeiro, Mészáros desmonta toda a argumentação daqueles - e são ampla maioria - que pretendem atribuir ao Estado, aos próprios empresários e/ou a organismos da assim chamada sociedade civil a tarefa de impor limites ao capital, obrigando-o a atender as necessidades humanas e não aquelas da sua reprodução.
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A tarefa de expor, de modo sistemático e rigoroso, toda argumentação de Mészáros, em Para Além do Capital, contrapondo-a à de outros autores que sustentam a possibilidade de controle do capital, não é pequena se considerarmos que essa obra tem mais de mil páginas e é de uma grande densidade. Mas, essa tarefa foi realizada por Maria Cristina Soares Paniago com rara eficiência e felicidade. Por isso mesmo, é um livro que nos ajudará a eliminar as ilusões de que é possível construir um mundo igualitário e livre sem a superação radical do capital. Também nos ajudará a solidificar a convicção de que somente a erradicação do capital, através da luta da classe trabalhadora e de todos os que a ela se aliarem, e sua substituição pelo trabalho associado poderá ser o ponto de partida de uma forma de sociabilidade que permita a todos os seres humanos uma vida efetivamente digna"...

Um comentário:

Lauro Xavier Neto disse...

OLá Mano como posso ter acesso ao livro da Maria Paniago? Obrigado pelo envio de Reds. Neste momento estou em Mossoró e pedi para que você enviasse para o endereço de João Pessoa (casa da sogra), por isso ainda não sei se chegou por lá, mas vou verificar!!! Muito obrigado mesmo! Força SEmpre!