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Em Salvador, alguns cinemas de rua se localizavam na Baixa dos Sapateiros, que nada mais é que uma movimentada "avenida" (rua Dr. J. J. Seabra), onde grande parte da população de renda "curta" fazia, ou faz, suas compras; se pegarmos uma imagem contemporânea, poderíamos compará-la a um grande "shopping" a céu aberto, embora, por estranha ironia, lá, também, já existe um shopping center! É, sinal dos tempos, a Baixa dos Sapateiros que foi cantada em prosa e versos, em tempos áureos, por Ary Barroso, vive hoje uma angustiante ruína !
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Havia ali 4 cinemas em um espaço de pouco menos de 5 km; sei que parece brincadeira, se compararmos aos formatos atuais, mas é verdade, quase um cinema por km e com um agravante para os dias de hoje, sem espaço algum para estacionamento! Seria impossível naquele lugar, com aquelas dimensões, termos cinemas na forma como o espaço está organizado hoje em dia, muito provavelmente teríamos o caos instaurado! Três deles (chamados popularmente de "poeira", por seus ingressos serem mais baratos) ficavam, poderíamos dizer, no gargalo, no trecho de maior confluência de pessoas, misturados com lojas, veículos e camelôs.
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Infelizmente, os cinemas Pax, Aliança, Jandaia se transformaram em "peças" de museu, às avessas, enquanto o Tupy, o mais "elitista" deles, também não resistiu à falência da Baixa dos Sapateiros, caiu nas graças da Igreja Universal do Reino de Deus, como aconteceu a muitos dos cinemas de rua espalhados pelo Brasil! O interessante é que a forma como foram se acabando foi muito parecida. A degradação da cidade os acampanhou! Na realidade, talvez a retirada da Administração do Estado do centro da cidade, adicionada à "cultura" do shopping center sejam duas das causas do enfraquecimento do comércio naquela área! Nesta história, o Aliança virou loja de confecções; o Pax foi ocupado pelo movimento dos sem-teto, mas continua "abandonado". Bem, quanto ao Cine Jandaia, a foto destacada fala, infelizmente, mais que mil palavras, mas, o menino/adolescente em mim, gostaria que fosse diferente...
2 comentários:
Manoel,
Sempre procuro dar uma passada pelo seu blog e tenho me deparado com uma série de textos importantes para nossa reflexão sobre a sociedade brasileira, mas ao ler este ultimo sobre seu sonho e o cinema de rua algo em mim se acendeu com uma velha lembrança, das salas de cinema da minha cidade Jequié, onde eu enquanto criança tive acesso a alguns bons filmes éramos levadas pela minha mãe geralmente aos sábados a tarde. De todas estas lembranças a que eu nunca esqueço foi quando a escola em que estudava nos levou pra assistir ao filme Marcelino pão e vinho, não pelo filme que acredito hoje que a influencia religiosa foi decisiva para que os professores nos lavassem, mas na minha cabeça de criança o que importava mais era por ser a primeira vez que eu estava indo ao cinema eu tinha 6 anos e o Cine Auditório foi impressionante o tamanho as dimensões da sala e a imensa tela eu jamais poderia esquecer, e as vezes eu sonho com este dia e quando passo por ele meu coração fica apertado de saudade. Um forte abraço Roxane
Bem, Roxané, infelizmente e isso sabemos bem, para o modo de produção capitalista o que sentimos quando vemos todas as nossas refências irem pelo ralo, não faz nenhum sentido, o que importa é o lucro, e tudo aquilo que sinto vendo o espaço em que muitas vezes fui e descobri mundos, não significa coisa alguma. O que aconteceu com os cinemas de rua de salvador, você muito bem percebe em Jequié, não é acidental, esse tipo de "sala" não servem para a nova estrutura e "diversidade" cultural, tornaram-se inviáveis! O que é estranho uma cidade como Jequié não ter, embora já tenha tido, um espaço digno de difusão audiovisual...O que fazer? Vamos ler de novo "10 dias que abalaram o mundo"...percebe?
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