quinta-feira, 5 de abril de 2007

Vida de Professor


Estou perto de casa e aquela vizinha que mora em frente vem em minha direção, estranho e me pergunto: "o que será que ela quer?" Sim, estamos vivendo o período das desconfianças, nada está acontecendo de forma ocasional ou acidental, todo mundo quer alguma coisa e ela não seria diferente...Ela diz: "preciso de um favor", retruco, "se puder ajudar", no que ela responde, "pode, sim; é algo simples, preciso que o senhor faça uma redação!" No primeiro momento, não entendo nada, penso que deve ser uma daquelas cartas de apresentação ou qualquer coisa que o valha que são pedidas às pessoas quando elas estão à procura de trabalho!

Ela argumenta que precisa que eu faça uma redação simples e outra criativa! Na minha inocência, pergunto sobre o quê? Ela responde: "sobre uma redação simples e outra criativa!" Vida de professor é f...Entabulo uma conversa com meus neurônios no sentido de entender o que é que se passa, o que será que ela quer, Jesus? O que é uma redação simples e outra criativa? Que direção alguém deve tomar ao pensar uma temática como essa; só rindo, mas com meus botões para não causar nenhum constrangimento à minha interlocutora! O que fazer? Claro que a situação em apreço não chega nem aos pés da vivida por Lênin quando pensava naquilo que terminou na Revolução de 17, na Rússia! Mas juro que não sabia o que dizer, mas disse: "tudo bem!" Sei que posso ser confundido com a personagem Rosa do comercial de automóvel que aceita todas as situações contrárias aos seus desejos com essa expressão, porém como reagir numa situção como essa? Ela disse: "fique tranquilo que não é para agora, tem tempo", ufa! Que alívio! Com a situação postergada, consegui chegar em casa sem maiores atropelos!

Dia seguinte, volto cansado de um encontro em que esperei por 40 minutos e o estudante, que estou orientando na sua monografia de final de curso, não apareceu, reencontro a minha querida vizinha e ela quase que de chofre me interpela com essa: "professor, é para segunda-feira!" Olho para ela, olho para os arredores e não vejo nada que me ajude a entender aquela situação escalafobética! Imagina aí como é escrever algo para alguém, que você apenas saúda todos os dias com um bom dia, boa tarde, às vezes, até, boa noite, cujo tema se resume a uma redação simples e outra criativa?

Hoje é quinta-feira, já deu para perceber que o prazo está se expirando e não faço a menor idéia o que ela quer ou o que devo escrever para não "perder" o respeito da minha vizinha! Pelo amor de Buda o que é uma redação simples e outra criativa? Com a experiência acumulada nestes anos de magistério, fiz uma pequena elucubração e imaginei o seguinte: a professora, perdoem-me pela ironia criativa, deve ter solicitado como tarefa para o filho da referida pessoa uma redação sobre hábitos comuns e outra em que fosse estimulada a criatividade da criança e ela na sua humildade deve ter pensado: "não entendi, porra ninhua, mas como ele é professor, deve saber o que a outra quer saber, eles que são brancos que se entendam", mas logo eu que sou pretinho!!

A situação é de uma fina ironia, mas não sei se sem querer retoma a discussão anterior em que faço uma crítica aos currículos das escolas no ensino de história; eles são herméticos, fechados neles mesmos, não conseguem dizer qual a razão de determinados conteúdos/conhecimentos, penso no que falei sobre o latim ser a língua que originou a nossa e não termos uma percepção mínima que seja sobre ela e no caso citado, o grego, só vemos os radicais e ainda assim de forma confusa e equivocada; pela incumbência que a vizinha, na sua santa ingenuidade, me impôs dá para perceber que a escolas, digo os professores, continuam mandando para casa as tarefas mais sem sentido para os estudantes e no fim das contas quem faz as tais tarefas são os pais ou algum professor desavisado que mora perto!...

3 comentários:

Ricardo Pereira disse...

o pior é que muitas destas professoras que pedem redações simples ou criativas aos seus alunos mal sabem escrever elas próprias uma redação... tenho uma turma de pedagogia com a qual tenho sofrido bastante... mas nem na faculdade de letras tem sido diferente... quando dava aula no ensino médio, de literatura especificamente, pedia quase que toda aula uma redação para a seguinte, a pauta era sempre a própria vida mas eram livres para escreverem sobre o que quisessem dela, funcionava quase que como uma terapia no final, fiquei amigo de muitos alunos meus por conta disso, de certas confissões que me faziam via redação, até de uma aluna que se dizia apaixonada pelo professor de literatura dela, eu era bem novo à época, tinha acabado de terminar a faculdade, 22, 23 anos, dava para debater as confusões deles como se fossem minhas e muitas ainda eram as mesmas, sentava com eles e conversava sobre o que escreviam como se fosse da mesma turma, hoje ainda tento agir assim, não sei lecionar de outra maneira. Não gosto da distância em que muitos professores colegas meus se colocam dos alunos.

Rejane disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rejane disse...

Nossa....
q situação.
Vc deveria ter me dado, eu faria.
hehehehehehehe
Brincadeira Maninho.
Mas, q foi comico foi!!!