sexta-feira, 19 de junho de 2015

Navegar é preciso, publicar não é preciso...

Ainda que meio hesitante, concordei em transformar a tese em livro, na realidade, temia que o ato soasse meio cabotino. Deixei-me convencer por entender que através desse formato o voo poderia extrapolar os muros da minha casa, embora não tenha tanta certeza disso, mas o controle não está mais comigo, o fato já está consumado. Por outro lado, não serei leviano a ponto de negar que não fiquei lisonjeado com a "honraria"! Neste momento, não tenho nenhuma intenção de enaltecer a qualidade do trabalho, mas não posso deixar de sugerir que deem uma olhada no livro, existem algumas provocações interessantes feitas a determinadas "certezas" que vigem na área, o livro faz uma imersão nos debates sobre a formação de professores, sem apologias ou ressentimentos, desse modo, critica a forma encontrada pelo Estado para aumentar o número de professores licenciados, "tapando" o buraco da carência apontada por suas estatísticas nada encorajadoras, enfim, mostra os estragos provocados pelo aligeiramento da formação, neste caso, analisa o espaço da sala de aula que fica centrado no binômio professor versus estudante, espaço restrito à busca insana do pólo responsável pelo aprender deficitário. Essa polarização inibe um debate aprofundado sobre o modelo de formação que estamos vivenciando, a proposta do livro é não secundarizar, sob quaisquer hipóteses, questões viscerais da formação de professores, ainda que o futuro destes seja sombrio.
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Prolegômenos à parte, o que me fez escrever sobre o livro, paradoxalmente, não foi o livro. O objetivo era "corrigir" uma imensa lacuna que já ocorrera tanto na tese e agora no livro, aí muito em função do espaço destinado a tal empreendimento. Espero que o que vou dizer agora não cause melindres naqueles que porventura se predisponham a ler a obra. Infelizmente tenho observado que cada vez menos pessoas fazem da leitura um exercício de reflexão, de aprofundamento de estudos, muito pelo contrário, o que se observa são "tarefeiros", aqueles que só fazem o que lhe mandam e com certa dificuldade no cumprimento daquilo que lhes foi pedido. Na verdade, ao dizer isso, sentencio que publicar, hoje, mais do que nunca, serve, apenas e exclusivamente, para "engrandecer" o currículo "lattes de cada dia", para quantitativamente avaliar se esse ou aquele programa é produtivo, se esse ou aquele pesquisador merece fazer parte da elite científica do país com seus livros e artigos, muitas vezes lidos apenas por especialistas, aliás, nunca se produziu tanto, porém o número de analfabetos funcionais cresce em proporção infinitamente superior. Dizia eu, inicialmente, que o objetivo não era criticar o modelo equivocado de ciência que estamos ancorados, porém corrigir uma lacuna percebida tanto na tese, quanto no livro.
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De novo, espero não causar suscetibilidades. O fato é que existem dois espaços que são visitados em publicações recorrentemente, quiçá os únicos realmente lidos. Dois são os motivos, penso eu, dessa "aleivosia" dos leitores. O afeto  e o "certificado" de importância dos que aparecem nos "créditos" da publicação. Muitos daqueles que gostamos e que estão ao nosso redor, na maioria das vezes, não entendem quando estamos no canto, solitários, com nossos alfarrábios e todas aquelas ferramentas necessárias para que possamos "rascunhar' alguma coisa, por não entenderem, somos interrompidos repetidamente, sem nenhum pudor, como se aquilo em que estamos envolvidos não tivesse a menor importância, pode ser até que ao nos "atrapalhar" pensem que estão nos prestando uma ajuda inestimável, quando, na realidade, impedem que escrevamos mais algumas dolorosas linhas. Aqui no caso, a relação é meramente afetiva, é a emoção que dirige o olhar.

Pois bem, obra pronta e acessível, esses queridos, tão queridos caminham sôfregos para descobrir se foram lembrados na dedicatória e/ou nos agradecimentos, como já disse, todo o resto se torna irrelevante. Ser esquecido é uma falta difícil de ser "digerida". Lembro-me de um caso entre tia e sobrinha, esta dissera que considerava a parente como se fora sua mãe, ato contínuo, cometeu o deslize de não colocar o nome da referida senhora nem na dedicatória, tampouco nos agradecimentos. O ressentimento criou raízes tão profundas que desculpas posteriores não aplacaram a dor do esquecimento, observe o que disse a não homenageada: "você me considera como sua mãe, mas você não colocou meu nome nos agradecimentos da monografia!" De outro modo, aqueles que não são do ciclo familiar, mas acreditam que representam/representaram papel importante na trajetória do autor e/ou da obra também desejam ser lembrados, nada mais justo, por tudo o que fizeram, sem contar que esse é um "mimo tão barato"! Então, o que fazer quando pessoas que deveriam ser "citadas", foram sumariamente esquecidas? 
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Na verdade, não há nada mais que se possa fazer. De qualquer forma, pensei em "corrigir" a falha, usando esse espaço para prestar uma pequena e singela homenagem a todos que deveriam estar presentes, ou na dedicatória ou nos agradecimentos, mas que foram esquecidos, contudo, logo em seguida, declinei, por dois motivos: primeiro, estaria expondo os "esquecidos" com esse "prêmio" de consolação, tornando público que não lembrei deles, mesmo que isso não tenha ocorrido; segundo, muitos dos "esquecidos" ao serem lembrados poderiam raivosamente pedir a retirada dos seus nomes por uso indevido, ou, quiçá, por "assédio moral", reconheço que não deixa de ser constrangedor você ser lembrado quando desejaria ser esquecido. Neste caso, ainda que "a emenda possa ficar pior do que o soneto", queria agradecer a honraria de tê-los (os não-lembrados) presentes em minha vida, saibam pessoas queridas, mais que queridas, que, traído pela memória, lhes neguei aquilo que lhes é/era de direito, mas a tese e o livro só se materializaram pela(o) incomensurável/imprescindível ajuda, amizade, força, carinho, respeito, solidariedade, compreensão que recebi ao longo de todos esses anos, muitíssimo obrigado por serem uns "ausentes" tão presentes...

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