sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Zeca Baleiro e os "ouvidos moucos"...

Ter frequentado um barzinho que há em Florianópolis, muito interessante por sinal, pode ter sido a causa do meu problema. A casa de dois andares em que o bar funciona, sem recorrer de forma mais incisiva ao concreto e aço, não tem estrutura acústica para o tipo de música que fui "obrigado" a ouvir quando lá estive. Talvez um "voz e violão" caísse como uma luva naquele ambiente, mas tocar rock'n'roll é, sem sombra de dúvida, um atentado aos desavisados tímpanos que "passeiam" por lá! Falando em bom português, o que se pode dizer é que é uma "zoeira", ainda que o repertório seja de primeira qualidade! São muitos decibéis além do fisicamente suportável. O fato é que como esses efeitos são cumulativos, é provável que muitos daqueles que ficam "em cima" das bandas, que por lá vicejam, sejam vítimas de uma diminuição da suas acuidades auditivas progressivamente, mas que só vão perceber quanto estiverem "atravessando" o cabo da boa esperança, oxalá não seja tarde demais!
.
Por ironia da história, passado um tempo de minhas "visitas" ao barzinho, comecei a perceber uns "sons" esquisitos no meu ouvido esquerdo. Era como se fosse uma repetição, um eco de tudo o que ouvia, só que meio "embaçado"! A sensação era insuportável quando passava perto de veículos com música "nas alturas"! Como temos por hábito a cultura da automedicação, não me fiz de rogado, comecei a usar Cerumin® achando que uma solução otológica resolveria o problema que já começava a me preocupar. Não resolveu, precisei de um especialista, no caso, só um otorrinolaringologista solucionaria o problema. Não havia dúvidas, o tamanho da especialidade do médico era proporcional ao tamanho do problema. Ele foi taxativo: "o tímpano direito está perfurado!" Repeti assombrado: "Perfurado, como assim? Mas não era o ouvido esquerdo que parecia com problemas?!" É que a sensação é invertida, se o problema fosse no esquerdo, seria no direito que sentiria o incômodo! A causa, ele disse, poderia ser desde a exposição a decibéis superiores à capacidade suportável, até o vício de "todos nós", isto é, coçar o ouvido com todo tipo de apetrecho: palito de fósforos, bocal de caneta! Vai me dizer que você nunca fez isso para resolver aquela conceirinha gostosa?!
.
Depois de algumas dores impostas pelo especialista, vi-me completamente curado da minha "surdez" repentina, resolvi, então, testar meus "ouvidos moucos" com uma suave e tranquila noitada de MPB da melhor qualidade! Fui ver o "showzão" de Zeca Baleiro na bela e "calorosa" Curitiba. De saída, percebi que fiz uma escolha infeliz entre a opções oferecidas para assistir ao espetáculo: a pista, não, não foi uma boa escolha. Esqueci que os "gigantes", quando pulam, ficam mais altos ainda, impossibilitando os mais baixos, como eu,  ter uma visão razoável do palco! Porém esse não foi o problema principal, afinal, o mais importante era ouvir o artista, vê-lo podia ser algo secundarizado. Como dizia, não foi esse o grande problema. Para quem não sabe, desde o primeiro disco "Por onde andará Stephen Fry", Zeca Baleiro já sinalizava sua veia roqueira, quem há de esquecer da faixa Heavy Metal do Senhor daquele disco? Pois é, a sabedoria popular já dizia que "quem avisa amigo é."
.
Lá estava eu "quente que estava abafando", como diria minha avó, quando ouço os primeiros acordes, para ser mais exato: "três pobres acordes" cuja descendência não apontavam para a MBP que fora procurar!? Como poderia um recém "operado" do ouvido mouco se jogar numa insanidade daquela? E se estourasse o tímpano de novo? Será que os dois suportariam mais de duas horas intensas de rock'n'roll? O som crescia na progressão geométrica do meu receio! Será que meus tímpanos iriam aguentar à exposição roqueira zecabaleiriana? Minha avó sempre dizia: "quem não ouve sossega, ouve coitado"! Se eu disser que o show foi ruim ou qualquer coisa que o valha, estarei sendo leviano. Foi sensacional! Uma noite e tanto! Não tinha sido a primeira vez que fora ver Zeca Baleiro, mas esta foi a primeira vez que percebi que, apesar das diversas fusões que há em sua música, o cara é roqueiro da ponta do pé até os últimos fios de cabelo da cabeça! Naquela noite, já amanhecendo, ao deitar para dormir, não tinha a menor idéia como se encontravam os meus tímpanos, o que percebia eram uns zumbidos  que me atanazavam o juízo acompanhados pela canção profissão de fé que ecoava dentro de minha cabeça: "fiz essa canção só para você, mas para quê? Se você só gosta de MPB e eu SOU PURO ROCK'N'ROLL", não se pode dizer que foi um ato falho, não é?...

Nenhum comentário: