quarta-feira, 11 de abril de 2007

Vida de Professor II - Só a Poesia!

Não ia escrever sobre o resultado do pedido da minha vizinha, mas já que levantei a curiosidade e também para não passar por mentiroso, resolvi saciar possíveis curiosos. Uma amiga muito querida, muito recorrente por aqui, ligou-me na segunda-feira, pela manhã, para saber o resultado da empreitada! Disse-lhe que estava predisposto a cumprir a tarefa que me foi solicitada, juro, afinal, não é ensinar a função primordial do professor? Aquele que não consegue fazer isso está no lugar errado e irá pagar no purgatório, pelo pecado da omissão do conhecimento...
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Segunda-feira, à tarde, na volta da aula, ela reaparece, tinha organizado um pequeno discurso que resolveria o problema, porém ao me ver ela apenas sorriu e acenou contente! Não mencionou nada, nem uma vírgula sobre o pedido das duas redações, objetos que tinham me tirado o sono, na busca da solução daquela situação constrangedora, isso sem contar o medo de receber alguns adjetivos nada lisonjeiros!
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Na realidade, foi pensando na incumbência da vizinha, e ainda tendo na memória a prosa/verso do Raduan Nassar, no seu Lavoura Arcaica, que este professor na busca de inspiração e por achar que só a poesia nos salvará da total imbecilização a que estamos sendo empurrados, ("para ouvir o sapo, namorar a lua, dai-me direito ao acoite, ao ócio, ao cio, a vadiagem pela rua", canta o poeta Vander Lee) que me entreguei ao deleite de assistir uma vez mais ao filme iraniano "A cor do Paraíso" e a impressão de beleza provocada nas duas anteriores se intensificaram! Admito, fui fisgado pela emoção e sensibilidade transmitidas pelo pequeno Mohammad, um menino cego capaz de falar com os pássaros e "ver" a beleza das flores e o frescor das manhãs, em pouco mais de uma hora de filme; é pura poesia, vinda em profusão ao encontro das " minhas retinas cansadas"! As lindas imagens se nuançam numa profusão embriagadora, e neste momento, de profunda felicidade, percebo na forma mais crua e intensa que o poeta estava certo: "a humanidade é desumana, mas ainda temos chance"; sim, ainda temos chance! E embalado pela perturbação súbita e entendendo que são as mãos os veículos responsáveis pela comunicação de todos os sentimentos que os personagens emanam que me atrevi a escrever a "redação" criativa, a partir do êxtase provocado pelo filme, sem enviar, contudo, à destinatária final....
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Mãos que fascinam e fazem parte de uma arquitetura sublime e meticulosa;
tê-las em pinça nos tirou da posição telúrica para enxergar o firmamento;
mão humana, capaz de falar, sentir, sorrir, chorar, com ela é possível conjugar todos os verbos e com eles todas as línguas, dialetos, zumbidos, libras que é o "ouvido" do surdo;
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gosto quando deslizam sobre a minha pele, quando me acariciam de forma ousada, voluptuosa, indecente, imoral! Carinhosas, perfumadas tocam os meus lábios e me fazem calar, exigindo que o desejo prevaleça, que o gozo se anuncie, que o êxtase se irrompa!
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mãos que buscam com urgência remédio para curar/salvar do sofrimento;
gosto de admirá-las, vê-las em movimento, declamando, escrevendo, ensinando, amando assim como o gerúndio, observar seus contornos, suas linhas, suas texturas, seus cheiros, mãos dulçorosas que fazem amor comigo!

Um comentário:

Anônimo disse...

"dá-me leveza nas mãos...
...deixa-me perder a hora, pra ter tempo de encontrar a rima...
...dá-me o direito de dizer coisas sem sentido, de nao ter que ser perfeito, pretérito, sujeito, artigo definido...
de me apaixonar todo dia...
nunca perder o brilho...de me contradizer..denao ter meta...me reinventar...viver menino..morrer poeta..."

meu querido, essa canção é toda você, e como uma mensagem direta do coração, a primeira vez que a ouvi, senti com muita força tua nobre presença...entender?? não..
sentir,somente...e deliciar-me..
na paz que essa sensação me traz..
silencio e brisa..