quinta-feira, 26 de abril de 2007

Escola e realidade: o que aprender?

Quando da sistematização do conhecimento entre os séculos VII e I, antes do que foi convencionado chamar de "era cristã", dois filósofos sinalizam cosmovisões que, pelo menos no lado ocidental do globo, serviriam de modelo para "nosotros". Heráclito, membro de uma importante família aristocrática, afirmava que tudo fluía, nada era imutável, uma visão ousada, diríamos, foi chamado de "obscuro", dizia ele: "Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos", uma percepção dialética muitos séculos antes de Hegel e Marx! O seu antípoda, se nos é dado o direito de dizer assim, Parmênides, tinha uma percepção em que anunciava que o ser era imóvel, fixo, indivisível! Atesta-se uma linearidade, caminhamos do simples para o complexo! É certo que o direito de pensar pertencia aos ociosos, aos filósofos !
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Queiramos ou não o "ordem e progresso" da bandeira brasileira, por estranha ironia, mostra que a percepção do linear foi a que se impôs, caminhamos sempre para frente! Entre Heráclito e Parmênides, escolhemos aquele que não nos "confunde", uma coisa vem sempre depois de outra, saímos do simples em direção ao complexo, afinal, "o sol nasce todos os dias", quem vai entender que isso é pura ilusão! E a Escola? Como ela se estrutura a partir destas ponderações?
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Há defensores, e muitos, que dizem que deve se aproximar da realidade, a Escola está distante da vida cotidiana, a teoria é bem diferente na prática, "o que vemos na escola não acontece necessariamente na prática"; ah, como os estudantes gostam de dizer isso! "Os livros dizem uma coisa, mas quando enfrentamos as turmas de estudantes nas salas de aula é uma guerra!"
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Curiosamente a forma de pensar de Parmênides se manifesta de forma tensa e cabal, por não concordar com o que sugeria o Obscuro, buscam na realidade um "retrato três por quatro" da teoria! Temos hoje diversos modelos de escola. Um que esteve/está muito na moda, por exemplo, é o da Ponte, lá de Portugal, onde a associação de pais é que escolhe os professores! Rubens Alves é um fã ardoroso e defensor desse modelo. O que a Escola deve ensinar e qual a relação entre ela e a realidade? Deve ela reproduzir a "realidade"? Tem que trazer o cotidiano para dentro dos seus muros? É possível alguém que não sabe, nunca estudou currículo, elaborá-lo? Não estamos vivendo nos "novos tempos" uma tal de Escola Nova Nova? O foco está no estudante, uma espécie de autodidatismo! Se os amigos da escola estão no caminho, então qualquer um pode ensinar, basta a boa vontade? O currículo para ser estruturado é só uma questão de desejo de cada um?
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Questões difíceis e "complexas", o que está claro é que se for para atender ao desejo de todos teremos uma verdadeira "colcha de retalhos"; para o que chamamos currículo, temos muitos olhares e direções variadas e nenhum consenso! Se trouxermos o dia-dia do estudante para dentro da escola, para que ela seja menos "sisuda", não seria um contra-senso? O lugar de Escola não é apresentar o conhecimento sistematizado, o conhecimento científico? Há momentos em que aprender não é "só alegria"! Esse negócio de dizer que se aprende a partir do lúdico sempre é de uma estupidez sem igual. Drumond elaborou o seu José sorrindo e cantando? Raduan Nassar escreveu Lavoura Arcaica sem "queimar" seus neurônios? O que está posto é que elaborar conhecimento, nem sempre é prazeroso, há momentos em que o rio permanece com suas águas calmas e tranqüilas, não vemos nenhuma marola!
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Passados tantos séculos, vemos como a forma de pensar de Parmênides é a que se estabeleceu: "movimento existe apenas no mundo sensível, e a percepção levada a efeito pelos sentidos é ilusória", por outro lado, "o que mantém o fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários", dita por Heráclito, continua incompreensível...

2 comentários:

wager matias disse...

boa reflexão prof. quando ñ existia escola conhecimento era construido apartir das necessidades dos homens, mas com ela, "surge" o conhecimento sistematizado e ai emerge uma série de questões dentre elas qual o conhecimento importante a ser ensinado? Mas existe o não necessário? E como fazer isto? Parmênides ou Heráclito?

Manoel Gomes disse...

Sabe,meu camarada, estamos vivendo o tempo em que tudo tem que ser "prático" e rápido, portanto, o tempo é alma do negócio e isso tem nos tornado autômatos, verdadeiras máquinas, cujo sentimento está ficando tangencial, a sua pergunta exige uma resposta, vou correr o risco de cair em uma armadilha,mas faz parte do pensar que acredito...Parmênides está em toda parte, mas Heráclito é a saída para a humanidade!