domingo, 14 de fevereiro de 2016

Vingadora, Bell, Kannário, quem foi metralhado?...

"E aí! É nós, depois de nós é nós de novo..." De todas as bobagens que Carnaval da Bahia apresenta, talvez a mais hilária seja a "disputa" pela música vencedora. Já li as coisas mais estapafúrdias a esse respeito. O concorrente do Lepo Lepo afirmou, antes de ter sido anunciado vencedor, que ficara muito tenso com a espera do resultado, tinha receio que não fosse o escolhido! Como a festa se tornou extremamente pasteurizada, as tais músicas e o "concurso" seguem no mesmo diapasão. Aliás, em função do alto grau de artificialidade que a festa adquiriu, neste ano da graça, resolveram que deveriam voltar aos velhos tempos e a pipoca, que foi imortalizada na frase de Caetano, "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu", virou glamour, grande parte dos blocos eliminou a corda, pronto, liberou geral, a democracia voltou a reinar no carnaval baiano! É bom que se diga, no meio da "democrática pipoca", havia um turbilhão de isopores laranja(pipoca?), cujo conteúdo tinha que ser o da "patrocinadora", caso contrário, o ambulante/folião estava fora da "festa"! Inquirido sobre o "abandono" da corda, Bell  Marques soltou essa pérola: "A corda sempre existiu. Na minha opinião, em vez de separar, ela acaba unindo. Porque grande parte do povão acaba vendo de graça algo pago por uma parcela." Que perspicácia, não? Sem querer, imagino, faz uma aproximação com Hegel, afinal, não temos aí o escravo libertando o senhor?
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Havia um tempo em que o período momesco não tinha tanta visibilidade assim, era uma festa feita "para dentro". Na verdade, quando o produto carnaval era, em grande parte, "pipoca", muito diferente da estilizada mostrada este ano, a afiliada da Globo trazia "pedaços" da festa, enquanto a TV Itapoan (Record) transmitia o evento em tempo integral, porém isso não quer dizer que a segunda estava mais preocupada com o fortalecimento da cultura local, isso só acontecia muito mais por falta de opção, naquele momento, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro eram o acontecimento! Mas voltemos ao que discutíamos inicialmente, isto é, o "concurso" da música vencedora do carnaval de 2016. Não sei qual a razão, mas, o Portal R7 (Rede Record) divergiu da escolha feita pela TV Bahia (Rede Globo), não, não vou rir. Os internautas que votaram, não se sabe quantos, elegeram a música Depois de nós, É nós de novo, de Igor Kannário, como o hit do carnaval 2016 com 35,16%, já a música Minha Deusa (cabelo de chapinha) de Bell Marques ficou em segundo, com 34,86%, este já tinha dito que haveria algo errado, não disse onde, caso sua música, lá dele, não fosse a vencedora! Será que Bell ficou em segundo por causa da acusação de preconceito da letra que precisou ser alterada? E Kannário, qual teria sido o motivo de ser o escolhido? Será que a Record quis fazer "média" com os súditos do príncipe do gueto? Contudo, a terceira colocada, quase não dá para acreditar, em função do alvoroço provocado, só se falava dela, antes e durante, foi Paredão Metralhadora da Banda Vingadora, com míseros 20,49%. Qual teria sido o motivo de tão baixa votação? Embora não tenha mencionado o número de votantes, o portal R7 tem a seu favor a heterogeneidade já que o formato escolhido permite a participação de qualquer pessoa com acesso a rede, mas o percentual alcançado pela Vingadora não tem algo errado? O que você acha, Bell?!
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Meu WhatsApp dispara aquele som característico, verifico que é um áudio em que, nada menos que Caetano Veloso, confira aqui http://migre.me/sYDG6, canta a música Paredão Metralhadora; meio surpreso, embora não devesse, ele já cantara Tapinha, indago do amigo que enviara para o grupo, que não confirma, não acredita que seja o filho de Santo Amaro; outro, apressadamente, exalta Caetano por estar antenado com a contemporaneidade! Desconfiado de que podia ser um fake, descubro que são dois! Marcel Fiuza Pires é o nosso fake 1; o fake 2 é Roberto Neves. Provavelmente ambos estão mentindo; qual seria o motivo de dois sujeitos "brigarem" pela autoria de uma "cópia"?! Talvez, por causa da fama efêmera e dos views que se transformam em dinheiro em seus canais no You Tube, já que com os votos do G1 e mais a consulta a 400 foliões nas ruas, a TV Bahia anunciou que a ganhadora do carnaval foi a METRALHADORA! 
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Por alguma razão que a própria razão desconhece, não houve nenhuma menção aos dois primeiros colocados da concorrente, neste caso, uma pergunta se faz necessária, embora isso não tenha nenhuma importância para o Universo, afinal, qual foi a música vencedora do carnaval de Salvador em 2016? Igor Kannário, Bell Marques ou Vingadora? sabemos que hoje o mundo gira a partir das moedas virtuais denominadas "curtidas", "likes" e "views"; a "qualidade" de algo se baseia neste "dinheiro" que circula livremente na rede (principal fonte dos votos da "pesquisa") e transforma fracasso em sucesso. Levando isso em consideração, o You Tube decretou: Vingadora 60.736.687 views; Bell Marques 1.045.242 views; Igor Kannário 579.649 views. Enquanto essa disputa era travada em cima dos trios, lá embaixo, no meio da pipoca, isopores recebiam cacetadas e algemas, alheios aos rios de dinheiro que eles ajudavam os de cima a ganhar...   

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O criador de porcos...


 
Sua casa, se comparada com o que temos hoje, não podia ser chamada de morada, resumia-se a um pequeno quadrilátero coberto com folhas de coqueiro! Na sua infinita melancolia, não sabemos se por comungar com a perspectiva de que ESTAMOS TODOS MORTOS, ajudava o pai do seu pai, um velho analfabeto, na criação de porcos. Mesmo o avô sendo iletrado, considerava-o dotado da mais infinita sabedoria. Ora, nos perguntávamos, em um mundo cercado de imagens e letras utilizadas intensamente (que se diga, as imagens e não as letras), isso não seria um paradoxo? Poderíamos, do alto da nossa arrogância e prepotência, questionar de onde tirara, aquele velho analfabeto, tal sabedoria? Sem a interlocução com a linguagem como fora possível apreender as lições do mundo? Ou (quem sabe?) não somos nem arrogantes nem prepotentes e aquilo que o neto chamava de sabedoria se resumisse a conselhos calcados na experiência cotidiana e no afeto? Porém, nesta conformação social em que a EXPLORAÇÃO e o LUCRO são os seus pilares, essa "sabedoria" não serve para absolutamente nada! Resumindo, aqui é assim: D- M-D’, ou seja, dinheiro, mercadoria, mais DINHEIRO, e, se isso não ocorrer, toda e qualquer empresa, sob o guarda chuva capitalista, quebra! No fundo, o neto retirava de coisas ditas ao acaso, muito mais do que elas representavam, em outras palavras, reverenciamos, às vezes, tanto a alguém que costumamos valorizar demasiadamente conselhos vãos! O curioso é que mesmo com o quadro apresentado, e o que termina por fazer com que TODOS, ainda que sejam todos contra todos, acreditem que seu sonho é possível, o criador de porcos se transformou em algo improvável, virara escritor e o único em língua portuguesa a ganhar o MAIOR dos prêmios. Foi laureado com o Nobel de Literatura! Observem a fina ironia da História: quem tinha no pai do seu pai a “ausência” das palavras, passa a dominá-las de forma contundente e obtém a láurea suprema! O criador de porcos tornara-se "maior que si mesmo", porém o que o torna mais brilhante é que, diferentemente do Plantador de Repolhos, não perdera o contato com suas raízes, Saramago, esse é/era o nome de José, lutara toda a sua vida por outra formação social, muito, mas muito diferente daquela que o BAJULARA e que o plantador de repolhos reverencia...