Sua casa, se
comparada com o que temos hoje, não podia ser chamada de morada, resumia-se a
um pequeno quadrilátero coberto com folhas de coqueiro! Na sua infinita
melancolia, não sabemos se por comungar com a perspectiva de que ESTAMOS TODOS
MORTOS, ajudava o pai do seu pai, um velho analfabeto, na criação de porcos. Mesmo
o avô sendo iletrado, considerava-o dotado da mais infinita sabedoria. Ora, nos
perguntávamos, em um mundo cercado de imagens e letras utilizadas intensamente
(que se diga, as imagens e não as letras), isso não seria um paradoxo? Poderíamos, do alto
da nossa arrogância e prepotência, questionar de onde tirara, aquele velho analfabeto, tal
sabedoria? Sem a interlocução com a linguagem como fora possível apreender as
lições do mundo? Ou (quem sabe?) não somos nem arrogantes nem prepotentes e aquilo que o neto
chamava de sabedoria se resumisse a conselhos calcados na experiência cotidiana
e no afeto? Porém, nesta conformação
social em que a EXPLORAÇÃO e o LUCRO são os seus pilares, essa "sabedoria" não serve para absolutamente nada! Resumindo, aqui é assim: D- M-D’, ou seja, dinheiro,
mercadoria, mais DINHEIRO, e, se isso não ocorrer, toda e qualquer empresa, sob
o guarda chuva capitalista, quebra! No fundo, o neto retirava de coisas ditas
ao acaso, muito mais do que elas representavam, em outras palavras, reverenciamos,
às vezes, tanto a alguém que costumamos valorizar demasiadamente conselhos
vãos! O curioso é que mesmo com o quadro apresentado, e o que termina por fazer
com que TODOS, ainda que sejam todos contra todos, acreditem que seu sonho é
possível, o criador de porcos se transformou em algo improvável, virara escritor
e o único em língua portuguesa a ganhar o MAIOR dos prêmios. Foi laureado com o
Nobel de Literatura! Observem a fina ironia da História: quem tinha no pai do
seu pai a “ausência” das palavras, passa a dominá-las de forma contundente e
obtém a láurea suprema! O criador de porcos tornara-se "maior que si mesmo", porém
o que o torna mais brilhante é que, diferentemente do Plantador de Repolhos, não
perdera o contato com suas raízes, Saramago, esse é/era o nome de José, lutara
toda a sua vida por outra formação social, muito, mas muito diferente daquela
que o BAJULARA e que o plantador de repolhos reverencia...
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