quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O criador de porcos...


 
Sua casa, se comparada com o que temos hoje, não podia ser chamada de morada, resumia-se a um pequeno quadrilátero coberto com folhas de coqueiro! Na sua infinita melancolia, não sabemos se por comungar com a perspectiva de que ESTAMOS TODOS MORTOS, ajudava o pai do seu pai, um velho analfabeto, na criação de porcos. Mesmo o avô sendo iletrado, considerava-o dotado da mais infinita sabedoria. Ora, nos perguntávamos, em um mundo cercado de imagens e letras utilizadas intensamente (que se diga, as imagens e não as letras), isso não seria um paradoxo? Poderíamos, do alto da nossa arrogância e prepotência, questionar de onde tirara, aquele velho analfabeto, tal sabedoria? Sem a interlocução com a linguagem como fora possível apreender as lições do mundo? Ou (quem sabe?) não somos nem arrogantes nem prepotentes e aquilo que o neto chamava de sabedoria se resumisse a conselhos calcados na experiência cotidiana e no afeto? Porém, nesta conformação social em que a EXPLORAÇÃO e o LUCRO são os seus pilares, essa "sabedoria" não serve para absolutamente nada! Resumindo, aqui é assim: D- M-D’, ou seja, dinheiro, mercadoria, mais DINHEIRO, e, se isso não ocorrer, toda e qualquer empresa, sob o guarda chuva capitalista, quebra! No fundo, o neto retirava de coisas ditas ao acaso, muito mais do que elas representavam, em outras palavras, reverenciamos, às vezes, tanto a alguém que costumamos valorizar demasiadamente conselhos vãos! O curioso é que mesmo com o quadro apresentado, e o que termina por fazer com que TODOS, ainda que sejam todos contra todos, acreditem que seu sonho é possível, o criador de porcos se transformou em algo improvável, virara escritor e o único em língua portuguesa a ganhar o MAIOR dos prêmios. Foi laureado com o Nobel de Literatura! Observem a fina ironia da História: quem tinha no pai do seu pai a “ausência” das palavras, passa a dominá-las de forma contundente e obtém a láurea suprema! O criador de porcos tornara-se "maior que si mesmo", porém o que o torna mais brilhante é que, diferentemente do Plantador de Repolhos, não perdera o contato com suas raízes, Saramago, esse é/era o nome de José, lutara toda a sua vida por outra formação social, muito, mas muito diferente daquela que o BAJULARA e que o plantador de repolhos reverencia...

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