segunda-feira, 5 de julho de 2010

Saúde do homem: falta educação?...

Há cerca de dois anos, mais ou menos, participei de uma conversa "informal" por demais interessante a respeito de determinada "disciplina" fazer ou não parte do currículo de um curso da área de saúde. Naquela ocasião perguntara qual a razão de o componente curricular saúde do homem não fazer parte da grade do tal curso já que havia um similar em relação à mulher. Dissera minha interlocutora que não havia necessidade no currículo de uma discussão com esse enfoque(?). A fala sugeria, em linhas gerais, que aquela não era uma temática relevante(?), penso eu, devido aos muitos "privilégios" que os homens já possuíam ou possuem na maioria das vezes! Todavia as campanhas do ministério da saúde demonstram claramente o quão aquela professora se enganara, além de, inadvertidamente, reforçar preconceitos!
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Não deve ser segredo para ninguém que muitos homens, indivíduos fanfarrões por natureza, desconhecem coisas importantíssimas sobre sua saúde e, para agravar a situação, alguns profissionais que poderiam contribuir na superação dessa ignorância agem ou pensam tal e qual o senso comum. O que parece claro, a partir da "discussão" sobre o currículo, é que a "displicência" na formação profissional no trato de assuntos  importantes, em alguns cursos, senão em todos da área de saúde, termina trazendo conseqüências desastrosas a quem mais interessa: aqueles que procurarão pelo sistema de saúde. É fato que a forma como a questão é tratada faz com que o senso comum permaneça soberano, levando a maioria dos indivíduos a pensar que não precisa saber ou que já sabe tudo a respeito do seu corpo! São tantos os tabus masculinos que muitos homens morrem ou por desconhecimento ou porque só procuram ajuda quando a situação já está quase sem solução, levados por uma "macheza" decadente! Um bom exemplo são os exames de próstata. Sabe-se que por causa de uma estupidez milenar, muitos "protelam" o quanto podem o tal exame e quando não há mais como evitar a pergunta que se fazem é: "PSA (antígeno prostático específico) ou Toque retal?" Na maioria das vezes, buscam mil alternativas para fugir do temível toque! Alguns chegam a mentir. Há os que afirmam em alto e bom som que por causa do seu PSA baixo não houve necessidade do toque retal, quando na verdade um sem o outro não se configura um diagnóstico completo, neste caso, por que mentimos então?
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Há uns três meses, mais ou menos, fiquei extremamente assustado quando uma das minhas mamas começou a crescer! O curioso é que muitos homens não sabem ou desconhecem que possuem duas! Perdoem-me, mas uma digressão, aqui, se faz necessária para mostrar o quanto  a falta de informação e a  ignorância independem do estrato social do indivíduo. Estou me referindo à declaração infeliz do então governador do Paraná, Roberto Requião de Mello e Silva, e sua ironia a respeito do câncer de mama?! A argumentação do governador, eivada de preconceito, mostra como o desconhecimento de questões fulcrais acompanha muitos daqueles que, em tese, deveriam estar contribuindo com ações educativas sobre o assunto! O que o governador desconhece é que  ele, assim como todos os homens, também está sujeito ao câncer de mama, e não apenas "aqueles" que ele preconceituosamente nomeou! 
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O fato é que o crescimento da mama, acompanhado de uma dor fortíssima, começou a me preocupar e muito (e olha que não fizera uso de nenhuma substância, ou qualquer coisa que o valha, que estimulasse seu crescimento). Na verdade, esse crescimento já acontecera, como é normal, quando estava entrando na puberdade, a essa alteração dávamos o nome de "pedra", embora o nome seja outro. Esse acontecimento era uma sinalização que estávamos "amadurecendo", esse fenômeno pode ser repetir a partir dos 40 anos e é conhecido  como ginecomastia! Estranhamente, sequer sabia a que especialista recorrer, não aprendera quando devia, embora isso não justifique minha ignorância! Alguém sugeriu que procurasse um urologista, aquiesci de imediato. Infelizmente, para mim, não, não era a um(a) urologista que eu deveria recorrer e sim a um(a) mastologista! A ironia é que a informação sobre a qual profissional recorrer me fora dada por uma pessoa comum! O que eu desconfiava era que, nestes casos, o percentual de mulheres pode chegar a 100% nas consultas! Para falar a verdade, em todas elas sempe havia pelo menos um homem (eu) o que derruba minha tese!
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Na realidade, a ginecomastia sugere alguns exames nada "interessantes" para efetivação de um diagnóstico! No primeiro momento, soube que deveria ser submetido a uma mamografia! Antes, que não sou bobo, perguntei a duas mulheres se era um procedimento assustador, porque o nome era! É isso mesmo que você está pensando: homens são medrosos, embora posem de valentes! Recebi duas respostas totalmente opostas: DOÍA muito e não!? Para minha surpresa, as duas estavam certas. O fato é que algumas mulheres sentem muita dor, enquanto outras, nem tanto! A dor está associada ao tamanho da mama, quanto menor, mais dor! Como as mamas dos homens costumam ser minúsculas, vá imaginando aí o meu sofrimento! Para mim a dor foi tão intensa que só não desmaiei porque o exame dura apenas alguns segundos, mas que parecem uma eternidade! "Senti" mais ainda ao saber que teria que repetir! Uma coisa não pode ser esquecida: no dia do exame é recomendável não usar desodorante, perfume ou talco, porque podem deixar resíduos que interferem no resultado! Encurtando a história, o segundo passo era fazer uma ultrassonografia (esse totalmente indolor!), para minha felicidade, os dois exames não constataram nada de grave, embora ainda esteja à espera do diagnóstico final, é que tive que trocar de mastologista, sabe como é a saúde no Brasil!? O fato é que hoje detenho um conhecimento sobre minha saúde que deveria ter adquirido lá na minha adolescência, mas como dizia minha avó: "antes tarde do que nunca", não é mesmo?...  

2 comentários:

Projovem Urbano Itaberaba disse...

Querido Manoel...

Saúde me interessa muito rs...Enfermeira já viu né???

Realmente lamento que essa "profissional" tenha usado esse argumento...durante minha formação muito ouvi as docentes abordarem o tema, ainda que não tínhamos uma disciplina para tal (que pena)...mas o Ministério da saúde que há tanto tempo discutia o tema, enfim criou a tão falada Política Nacional da Saúde dos Homens um grande passo para a saúde pública em nosso país...louvo a sua atitude frente a sua saúde, e que pena a maioria dos homens não pensar e agir como você. Esse tal "machismo" é um entrave tamanho para a situação da saúde dos homens, quebrar tatus nessa sociedade tão machista é sem dúvida um nó crítico para o cuidado em saúde. Mas acredito que a Política Nacional da Saúde do Homem seja um divisor de água na quebra de inúmeros preconceitos e que eles, os homens usufruam desse direito que o SUS tem o dever de garantir!

Abraços afetuoso!!! Lua!

Manoel Gomes disse...

Lua,obrigado, afetuosos abraços!!