quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mendigos e/ou moradores de rua...


Sempre sonhou em ter uma casa aprazível, que fosse grande e arborizada, para isso estudou muito. Tornou-se economista e, para completar a sua trajetória vitoriosa, fez carreira no Banco Central do Brasil. Vemos, aí, a recompensa por ter feito tanto esforço. Ganhou o suficiente para realizar o sonho de todos aqueles que (sobre) vivem sob o modo de produção capitalista: a casa própria! J.C. Filho, o "herói" dessa história, tinha mais que comemorar esse feito, ora se tinha! Resolvera dar uma grande festa e convidar as pessoas mais queridas e mais importantes, entre aquelas que faziam parte do seu círculo de amizades! Uma coisa já sabia: casa própria é sinônimo de distinção! Na realidade, entre todos os bens, esse é um que causa muita inveja, mas ao mesmo tempo, estimula a que todos lutem e obtenham esse sonho, não é assim que funciona a perspectiva da propriedade privada? Não tinha nenhuma dúvida, a festa seria estupenda e estava demasiado feliz por isso!

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Aquele dia amanhecera lindo, o sol estava tão feliz quanto ele, tudo caminhava para que aquela comemoração fosse inesquecível. J.C. Filho acordou em estado de graça, não poderia ser diferente. Além de tudo, não podemos esqueceer, a festa era para apresentação de sua casa nova, a casa dos seus sonhos! Preparou tudo, arrumou as comidas e bebidas, tudo estava nos conformes, como se diz na gíria, quando percebeu que havia algo estranho. Estranho, não, inaceitável. Notou que nas proximidades, nas cercanias, de sua mais recente aquisição havia dois moradores de rua, aliás, deixemos de lado esse eufemismo, eram mendigos, sujos, esfarrapados e malcheirosos! Esse negócio de moradores de rua traz a falsa impressão que esses pobres miseráveis moram em algum lugar, ninguém mora na rua, quem está na rua, não tem morada, por mais que os politicamente corretos queiram mascarar!
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A imagem dos mendigos, no entorno de sua propriedade, causava em J.C. Filho ânsias de vômito. Por que eles escolheram logo ali para ficar? Tantos outros lugares, por que aquela escória resolvera estar nas proximidades do seu sonho? O que fazer? Lógico que esse o que fazer?, não tinha nenhuma relação com aquilo que Lênin pensava. O que desejava era que aquelas pessoas estivessem o mais distante possível. Pensou muito, mas não encontrou nenhuma solução para aquele problema e, para piorar, a hora da festa se aproximava! Eis que teve uma idéia genial, pelo menos para ele,Negrito para nós, diabólica e perversa, não permitiria que mendigos maltrapilhos estragassem sua festa!
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No intuito de realizar seu plano, foi até seu quarto, pegou sua espingarda de cano longo e mira telescópica e dirigiu-se para um espaço em que houvesse melhor visibilidade! Mirou longamente e com dois tiros certeiros J.C. Filho matou sem dó ou piedade os mendigos que sujavam a paisagem do seu paraíso...infelizmente, a única ficção aqui é a "história", já que o cidadão José Cândido Filho, 48 anos, brasileiro, economista, residente em Brasília (lembram do índio?), confessou, sem mostrar qualquer remorso, que abateu a tiros dois moradores de rua, em Janeiro desse ano, apenas, vejam bem, apenas porque se sentia incomodado com a presença dos dois perto de sua residência! Não sei porque me lembrei daquele poema de Manuel Bandeira, O bicho, neste, percebe-se a incredulidade do autor ao ver uma coisa chafurdando no lixo! Aquilo não era um rato, aquilo não era um gato, aquilo, pasmem, era um homem...

Um comentário:

Manoel Gomes disse...

Ninguém se manifestou...