quarta-feira, 20 de junho de 2007

Saudosista? Nem tanto...

Acordei sobressaltado! A imagem do sonho era a do antigo Cine Jandaia (foto), em Salvador! A representação onírica era de alguém que o destruía a golpes de marreta. Olhando para a foto em destaque, temos a nítida impressão que o sonho se torna tão vivaz, ainda que esta destruição não seja a marretadas, a decadência do prédio é desconcertante, neste sentido, a pergunta que nos fazemos é: como um espaço cultural como esse se perde? Ainda deitado, as reminiscências vieram impetuosas e tão fortes que me vi obrigado a voltar no tempo! Como professor, estando em sala de aula, costumo brincar com a expressão: "isso lá em Salvador", querendo dizer que o tratamento para a questão lá seria diferente! Mas, aqui, ela não cabe já que nem lá, eles, os "cinemas de rua", que marcaram o fim da minha infância, início da adolescência, resistiram ao furor das mudanças! Foram todos fechados, já não se adequavam aos novos tempos, tempos esses em que o espaço é cada vez mais disputado pelas máquinas e uma delas, o carro, precisa de um lugar apropriado para estacionar. Salvador tem uma população aproximada de 2 milhões e 700 mil habitantes, desses, apenas 8% podem frequentar as salas, fico me perguntando qual é o percentual que frequenta, não nos esqueçamos que todos os cinemas hoje estão nos shoppings centers!
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Em Salvador, alguns cinemas de rua se localizavam na Baixa dos Sapateiros, que nada mais é que uma movimentada "avenida" (rua Dr. J. J. Seabra), onde grande parte da população de renda "curta" fazia, ou faz, suas compras; se pegarmos uma imagem contemporânea, poderíamos compará-la a um grande "shopping" a céu aberto, embora, por estranha ironia, lá, também, já existe um shopping center! É, sinal dos tempos, a Baixa dos Sapateiros que foi cantada em prosa e versos, em tempos áureos, por Ary Barroso, vive hoje uma angustiante ruína !
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Havia ali 4 cinemas em um espaço de pouco menos de 5 km; sei que parece brincadeira, se compararmos aos formatos atuais, mas é verdade, quase um cinema por km e com um agravante para os dias de hoje, sem espaço algum para estacionamento! Seria impossível naquele lugar, com aquelas dimensões, termos cinemas na forma como o espaço está organizado hoje em dia, muito provavelmente teríamos o caos instaurado! Três deles (chamados popularmente de "poeira", por seus ingressos serem mais baratos) ficavam, poderíamos dizer, no gargalo, no trecho de maior confluência de pessoas, misturados com lojas, veículos e camelôs.
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Infelizmente, os cinemas Pax, Aliança, Jandaia se transformaram em "peças" de museu, às avessas, enquanto o Tupy, o mais "elitista" deles, também não resistiu à falência da Baixa dos Sapateiros, caiu nas graças da Igreja Universal do Reino de Deus, como aconteceu a muitos dos cinemas de rua espalhados pelo Brasil! O interessante é que a forma como foram se acabando foi muito parecida. A degradação da cidade os acampanhou! Na realidade, talvez a retirada da Administração do Estado do centro da cidade, adicionada à "cultura" do shopping center sejam duas das causas do enfraquecimento do comércio naquela área! Nesta história, o Aliança virou loja de confecções; o Pax foi ocupado pelo movimento dos sem-teto, mas continua "abandonado". Bem, quanto ao Cine Jandaia, a foto destacada fala, infelizmente, mais que mil palavras, mas, o menino/adolescente em mim, gostaria que fosse diferente...

2 comentários:

Anônimo disse...

Manoel,
Sempre procuro dar uma passada pelo seu blog e tenho me deparado com uma série de textos importantes para nossa reflexão sobre a sociedade brasileira, mas ao ler este ultimo sobre seu sonho e o cinema de rua algo em mim se acendeu com uma velha lembrança, das salas de cinema da minha cidade Jequié, onde eu enquanto criança tive acesso a alguns bons filmes éramos levadas pela minha mãe geralmente aos sábados a tarde. De todas estas lembranças a que eu nunca esqueço foi quando a escola em que estudava nos levou pra assistir ao filme Marcelino pão e vinho, não pelo filme que acredito hoje que a influencia religiosa foi decisiva para que os professores nos lavassem, mas na minha cabeça de criança o que importava mais era por ser a primeira vez que eu estava indo ao cinema eu tinha 6 anos e o Cine Auditório foi impressionante o tamanho as dimensões da sala e a imensa tela eu jamais poderia esquecer, e as vezes eu sonho com este dia e quando passo por ele meu coração fica apertado de saudade. Um forte abraço Roxane

Manoel Gomes disse...

Bem, Roxané, infelizmente e isso sabemos bem, para o modo de produção capitalista o que sentimos quando vemos todas as nossas refências irem pelo ralo, não faz nenhum sentido, o que importa é o lucro, e tudo aquilo que sinto vendo o espaço em que muitas vezes fui e descobri mundos, não significa coisa alguma. O que aconteceu com os cinemas de rua de salvador, você muito bem percebe em Jequié, não é acidental, esse tipo de "sala" não servem para a nova estrutura e "diversidade" cultural, tornaram-se inviáveis! O que é estranho uma cidade como Jequié não ter, embora já tenha tido, um espaço digno de difusão audiovisual...O que fazer? Vamos ler de novo "10 dias que abalaram o mundo"...percebe?