As "provocações" que vêm ocorrendo na América Latina constrangem, de certo modo, os protetores do "mundo livre"! As eleições de Evo Morales, Hugo Chávez e Rafael Correa, sob a égide da democracia, incomodam os reacionários e subservientes aos ditames de Washington, vontade teriam de chamá-los de ditadores! Some-se a isso os diversos golpes de estado a que fomos vítimas, entre os mais sintomáticos, se é que podemos mensurar, temos o de 1973, no Chile, que culminou com o assassinato de Allende e, mais recentemente, o de 2002, na Venezuela de Chávez! Estes golpes objetivavam uma política de alinhamento com os Estados Unidos, e, ao mesmo tempo, impedir a escolha de caminhos outros que não os definidos pelo "grande irmão do norte"! Já se disse, aqui e algures, que o que era bom para os EUA seria também para o Brasil e, por extensão, para todos "los hermanos" do lado de baixo do equador! Hugo Chávez ao assumir falou em Socialismo do século XXI, trazendo à tona uma discussão que o pós-modernismo pensou ter sepultado.
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O sociólogo lusitano, Boaventura de Sousa Santos, autor de livros como Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade e, mais recentemente, A gramática do tempo: para uma nova cultura política, em artigo publicado na Folha de SP, faz uma análise da situação atual, ponderando sobre a necessidade de se pensar outras alternativas societárias; enfatiza que o capitalismo neoliberal não conseguiu equacionar os problemas que haviam quando da polaridade capitalismo x socialismo, porque, nos últimos 20 anos, as desigualdades não diminuíram, muito pelo contrário, os períodos de guerras foram maiores que os de paz, a fome se agravou, a violência se intensificou, e aquilo que o pós-modernismo reconfortante ou de celebração disse que havia chegado ao fim, a história, não passou de um grave e colossal equívoco! Por outro lado, o pós-modernismo inquietante ou de oposição anunciou entre as suas demandas a estruturação de uma nova epistemologia e uma nova sociabilidade; o autor em tela se alinha justamente com essa perspectiva!
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"O que de mais significativo está acontecendo em nível mundial se realiza sem a intersecção das teorias dominantes e em contradição com elas", afirma o autor! Neste sentido, só reafirma sua convicção a partir do olhar pós-moderno que defende. Em seu Pela mão de Alice... afirmava que "todo socialismo era utópico ou não era socialismo", neste sentido, coloca no mesmo horizonte figuras como Robert Owen e Marx e Engels; o primeiro, queria humanizar o capitalismo com os seus falanstérios; os segundos, lutaram pela sua destruição! Sousa Santos em seu artigo discute a reinserção do socialismo na agenda política, mas enfatiza que este não deverá trazer a face do socialismo do século 20! Levanta algumas das características que este socialismo deverá ter no sentido de não cometer os mesmos erros. As proposições de Sousa Santos sinalizam nada mais que para um socialismo humanista, onde a convivência dos antípodas seja possível, um lugar onde a propriedade privada possa conviver com outros tipos de propriedade, onde não haja uma centralização estatal e que a transparência seja possível. Vemos muito do socialismo utópico nos argumentos do sociólogo lusitano, mas ele já afirmara que todo socialismo é utópico, portanto, não há incoerência em seu discurso. Na realidade, enxergamos nas ponderações de Sousa Santos uma aproximação com o discurso do autor dos falanstérios, contudo este fracassou por tentar humanizar as relações de exploração, Boaventura pressagia, seguindo sua perspectiva pós-moderna, que "não haverá, pois, socialismo, e sim socialismos do séc. 21. Terão em comum reconhecerem-se na definição de socialismo como democracia sem fim." Nem ruptura com a lógica do capital nem revolução, e sim a convivência hamoniosa entre a propriedade privada, a estatal e a coletiva, neste sentido, Boaventura de Sousa Santos e seus "socialismos", sem nenhum constrangimento, desaguam no mar de Thomas Morus, confirmando o que supostamente querem negar: a ordem capitalista...
Um comentário:
As vezes fico com medo destes discursos( como o relatado de Boaventura de Sousa Santos). O receio é que ao inves de contribuir para a conscientização acabem apenas reafirmando o sistema social vigente quando não propoe um rompimento radical de suas bases.
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