"Quem não reage, rasteja!" Essa frase, dita de forma apaixonada pelo cineasta pernambucano Cláudio Assis, diretor do aclamado "Baixio das Bestas", mostra que existem pessoas fazendo cinema para além da formatação do consumo, outrossim que temos que acreditar em nossa potencialidade, o cinema brasileiro não precisa viver submisso ao modelo industrial hollywoodiano! Cinema é muito mais que mero entretenimento, é para meter o dedo na ferida e é isso que esse brasileiro faz de forma intensa e avassaladora! Não quer falar sozinho, mas não quer subserviência, quer a reação do outro, afirma que viver sem perguntar o porquê das coisas é viver vida de gado! Precisamos reagir! Neste seu segundo longa, anuncia com todas as letras que é um cineasta que quer discutir os problemas brasileiros, sem ocultar nada, é favorável à "fratura exposta"! O jeito de falar, as provocações que faz podem chocar àqueles que adoram a pasteurização da cultura brasileira, que vivem a vida à margem da história!
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O impacto de seu primeiro filme, só foi minimizado por algumas manifestações do diretor, por não "entender" certas atitudes de elementos que julgaram seu "Amarelo Manga"! Exemplo disso aconteceu naquele Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro, em 2004, cujo vencedor foi "O homem que copiava" de Jorge Furtado; seu filme levou apenas a fotografia. Naquela noite, num rompante quando Babenco subiu ao palco para receber o prêmio pela co-direção, chamou-o de imbecil, criando um certo "embaraço" com essa atitude, mas dentro da hipocrisia social que premiações desse tipo oferecem, quem diria aquilo, mesmo que sentisse vontade? Pois é, esse brasileiro quer fazer cinema que "respire" e diz em alto e bom som: "eu não faço concessão a nada nem a ninguém". O filme de Assis tem o cheiro do Recife, tem o cheiro do mundo, não há nenhuma relação com o formato da Globo Filmes cujo objetivo final é levar a novela das oito para a telona!
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Ouvir Cláudio Assis falar de cinema, é ouvir alguém que pensa e faz arte para além da caixa registradora! A cultura discutida sem vinculação com o consumo puro e simples! Neste sentido, o diretor fez algo que derruba as teses que hierarquizam a arte, colocando-a no lusco-fusco erudita e popular! Promoveu uma sessão e, diferente dos R$ 18,00 reais cobrados pelos cinemas da vida, cobrou apenas 1 real, é isso mesmo, apenas um real...treze mil pessoas foram assistir o "Baixio das Bestas"! E ele ainda ironizou: "se fosse de graça, dobrava!" Pensando bem, fala-se que o povo não gosta de música clásssica, teatro...como pode gostar se não é possível pagar! Num cálculo aproximado, chega-se a conclusão que para assistir a um filme, o sujeito gasta em média, se levar a companheira, R$ 60,00 reais; para quem ganha R$ 380,00 reais, isso representa cerca de 16% do seu salário, imaginem aí, gastar esse percentual em apenas um final de semana e só no lazer! O que podemos depreender do fato? Simples, o sujeito não tem acesso, portanto, as teses hierárquicas vencem sempre! Coisas ruins são feitas e coloca-se o rótulo de popular! Fica mais fácil conversar com as "minorias" se essas não têm poder de escolha, dando-lhes aqueles "filmes" da Xuxa em doses cavalares, tirando-lhes qualquer possibilidade de comparação e escolha...O cinema de Assis não rasteja, muito pelo contrário, reage, coloca na mesa da classe que dirige e determina o cheiro fétido que vem das entranhas da sociedade, desnudando a hipocrisia e subserviência que grassam na arte e cultura brasileiras...
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