O Trovador Solitário (27/03/1960) estaria fazendo, hoje, 50 primaveras! Se voltarmos no tempo, àquele ano da graça quando o perdemos,11/10/1996, veremos que o Poeta Russo nos "abandonou" quase uma criança, tinha apenas 36, ainda que tenha uma canção em que a personagem fenece com apenas 16! Tenho verdadeiro horror de necrológio, nada mais deprimente, há que se celebrar a vida e não elogiar a morte como costumam fazer os hipócritas! Devemos comemorar pelas veredas que o poeta nos legou! O impacto das suas canções nos provocam, a todo o instante, a não OLVIDAR, em maiúsculas, aquele que fez o Descobrimento do Brasil! A verdade, que liberta, é que, passado algum tempo, ainda continuamos a nos perguntar, mesmo que ali não estivesse caracterizada uma questão: que país é esse que vibra com uma condenação como se fora um gol? Ontem, depois da sentença, houve fogos de artifício (!?) pelos anos de prisão dos Nardonis, por ironia da história, o poeta sentenciara, em outros tempos, de forma sarcástica: "vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos, tudo que é gratuito e feio, tudo que é normal, vamos cantar juntos o hino nacional, a LÁGRIMA É VERDADEIRA"...Vimos a morte da menina transformada em cerimônia vampiresca, sem o áudio, mais parecia um baile carnavalesco, e a ironia legionária diz: vamos "celebrar a juventude sem escolas, as crianças mortas."
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Na perfeição de suas letras, o nosso caráter já fora descoberto, resumimo-nos a isso? A forma como foi explorada essa bárbarie infanticida me deixou com uma tristeza, muito parecida com aquela que anunciara que o Poeta se fora. Vejo claramente a fotografia em branco e preto. Subo apressadamente as escadas da faculdade de educação, noto que ao meu encontro vem o amigo Humberto, e, sem qualquer cerimônia, diz: "Renato Russo morreu!" O impacto de tal revelação foi devastador! Será essa uma notícia fácil de se assimilar numa manhã primaveril, ainda que o poeta estivesse doente? Não, não foi fácil! Mas olhando ao redor, vendo como o país se movimentou em torno de um julgamento, exaurindo-se em sua luta por justiça(?), fica cristalino que o Poeta Vive em toda a sua plenitude, está aqui e ali, espalhado pelos(as) quatro (estações?) cantos de nossas vidas! Celebremos, então, a sua existência infinita com sons, com música, como a obra-prima de sua pintura com tinta acrílica...
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É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra
E era sempre: "Não foi por mal"
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são
Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do teu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte
E era sempre: "Não foi por mal"
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição
Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
E é só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"...
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra
E era sempre: "Não foi por mal"
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são
Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do teu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte
E era sempre: "Não foi por mal"
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição
Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
E é só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"...
3 comentários:
Mano, Renato Vive, nós é que estamos mortos... "vamos celebrar...", beijos, saudades!
Oh, meu camarada, saudades das nossas conversas, o tempo tem sido tão cruel, não é verdade? Estamos em março e nos vimos em julho do ano passado, já vai fazer um ano!?! Estou tentado a dizer que tem razão, mas como seres da contradição, acredito que alguns de nós estão muito vivos, até para que o poeta não MORRA, você é um desses, meu camarada, se assim não fosse, quem fará a revolução? Estou na Bahia, agora mais perto, é provável que possamos conversar um pouco mais...fique bem, beijos neste coração que é brilhante!!!
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